Pov Dallas

Gemi de dor quando minha cabeça bateu no chão. Alguns caras começaram a comentar que eu tinha apanhado de uma garota. Bufei de raiva.

Ally era, realmente, um tipo diferente de garota. Ela não implorava por atenção, ela só tinha naturalmente. Ela sorria e nem percebia os olhares que os caras lançavam para ela. Ela andava despreocupadamente sem notar que todos olhavam sua bunda. Ela ficava bem em qualquer roupa, nem precisava mostrar muito.

– Austin, eu vou para casa. Você vai comigo ou...? – Ouvi a voz doce, porém madura, de Ally perguntar.

– Eu vou. – Austin disse. Senti meu sangue ferver. Me levantei do chão e fitei as pessoas que me encaravam.

– O QUE VOCÊS ESTÃO OLHANDO?! – Gritei nervoso, sentindo a raiva subir. Vi que Piper estava boquiaberta, segurando um copo ‘’sei-lá-de-que’’. Peguei o copo e joguei no chão, a maioria das pessoas deram um passo para trás, assustadas. Eu bufava e sentia meu rosto quente.

Austin tinha ido com a minha Ally para casa. Minha.

Saí da festa e comecei a andar pela rua, indo para a minha casa, eu estava com mais raiva do que tudo.

Antes de conhecer Ally, eu queria desesperadamente a Piper. Ela era linda, gostosa, simpática. Toda vez que um cara chegava perto dela eu marcava o território, é claro!

Mas aí a Ally apareceu e, cara, ela era melhor que a Piper. Certo, Piper tinha mais peito e bunda, mas Ally era diferente. Piper utilizava do seu corpo, Ally apenas brincava de sorrir.

Ally tinha alguma coisa a mais que Piper, e isso me atraia, muito.

Eu vi hoje nos olhos de Piper a decepção quando eu dei um fora nela. Se ela não tivesse se feito de difícil, talvez eu ainda estivesse querendo-a. Me lembrei de Ally, sorri.

Ally tinha me batido hoje, imagina como ela é na cama? Cara, nosso namoro vai ser ótimo.

Estava na cara que Ally gostava de mim, dava para ler isso nos olhos dela. Sorri.

Com certeza eu gostava mais de Ally do que já tinha gostado de Piper.

Coloquei as mãos nos bolsos, enquanto continuava rumando para minha casa.

– Have you no idea that you're in deep? – Cantarolei olhando a escuridão da rua.

Ally Dawson seria minha, e essa ideia verdadeira me fazia sorrir.

Isso não demoraria muito.

Pov Ally

Logo o beijo calmo entre mim e Austin tinha se transformado em algo selvagem, bruto e urgente. Austin estava por cima de mim no sofá, suas mãos passeavam livremente pelo meu corpo. Meus braços estavam em volta do pescoço dele, puxando-o cada vez mais para perto.

– Eu esperei tanto por isso, Ally. – Ele sussurrou ofegante quando o beijo cessou. Arregalei os olhos o fitando, o que eu tinha acabado de fazer?

– Saí de cima de mim. – Pedi quase num sussurro.

– Ally...

– SAÍ DE CIMA DE MIM! – Eu gritei, meus olhos estavam marejando. Austin saiu imediatamente de cima de mim. Eu me levantei. – Não venha atrás de mim.

E saí correndo. Isso mesmo, eu saí correndo. Subi as escadas e adentrei no quarto, trancando-o em seguida. Comecei a puxar os meus cabelos.

– Não, não, não! – Eu repetia, me arrependo pelo ocorrido. Entrei no banheiro que tinha no quarto e me olhei no espelho. Meus olhos estavam marejados, minha roupa amassada, meu cabelo completamente assanhado, meus lábios inchados. Engoli seco.

Senti tudo vindo á tona: Raiva, mágoa, arrependimento... Paixão, amor.

– NÃO! – Gritei com os dois últimos pensamentos, eu sei que se eu não sentisse nada por Austin eu não teria retribuído o beijo, mas... Eu não podia me deixar sentir, não depois de tudo. Anos atrás, mascarar os sentimentos com ódio foi a melhor opção, mas agora isso parecia impossível. Olhei para o meu reflexo no espelho, eu realmente estava péssima.

Uma única lágrima saiu do meu olho.

Uma lágrima, uma promessa quebrada.

Eu tinha prometido, eu tinha prometido para mim mesma que eu nunca mais choraria por Austin Moon. Fitei o espelho novamente. Meu coração batia acelerado, agora lágrimas rolavam livremente pelo meu rosto, meus soluços eram baixos, mas existentes.

Eu estava sentido tudo de uma vez: Raiva, negação, ódio, paixão, amor, mágoa.

FlashBack On

Olhei para o espelho, para minha barriga. Toquei nela. Nenhum movimento, nenhum chute. Olhei para o vaso. Nenhuma vertigem. Voltei para o espelho, encarando-me.

– Oi bebê. – Eu sorri, vendo meu reflexo com as mãos na barriga. – Todos dizem que você não está mais aí, que eu perdi você. Mas fique tranquilo, mamãe não acredita neles. Eu sei que você está aí, bebê. Eu nunca vou te abandonar. – Senti um chute e lágrimas saíram dos meus olhos. Médicos estúpidos, tinham dito que meu bebê tinha morrido, que eu o tinha perdido, mas ele tinha acabado de chutar! – AUSTIN! – Gritei pelo meu noivo.

– Ally, você está bem? – Ele apareceu na porta do banheiro em menos de cinco minutos. Eu sorri para ele. – Você estava chorando? – Seu tom era preocupado, eu sorri.

– Eu estou bem, Austin. Nosso bebê também, ele acabou de chutar! – Disse animada. Austin suspirou, parecia cansado.

– Ally, você viu o ultrassom, não tem mais nenhum bebê aí. Você perdeu o bebê, nós perdemos nossos bebê, amor. – Austin disse, sua voz e seus olhos demonstravam tristeza. Bufei.

– Não sei porquê você está sem esperança, Aus! – Exclamei, ele acreditava mais em médicos do que em mim? Eu estava com o bebê no meu útero, eu saberia se ele tivesse ido embora!

Olhei para Austin, vi que ele não ia acreditar sem ver. Dei um sorriso convencido e peguei suas mãos, pondo-as sob a minha barriga. Coloquei minhas mãos ao lado das dele. Senti o bebê chutar e sorri.

Olhei para Austin, sua expressão estava exausta e deprimida.

– Você não sentiu ele chutar? – Perguntei confusa. – Ele acabou de chutar!

– Ele não chutou, Ally. – Austin disse calmamente. Virei a cabeça de um lado para o outra, sentindo o bebê chutar de novo.

– Ele acabou de chutar de novo, Austin! – Exclamei.

– Ele não chutou, Ally. Não tem mais nenhum beb...

– Claro que tem, ele chutou duas vezes! Oh, a terceira! – O interrompi. Por que ele estava fazendo aquela brincadeira sem graça comigo?

– DAWSON, NÃO TEM NENHUM BEBÊ AÍ, PORRA! ELE MORREU, MORREU! SABE O QUE É ISSO?! – Austin tirou as mãos da minha barrigada. Recuei alguns passos, deixando minhas mãos protetoramente sob minha barriga. – VOCÊ PERDEU O BEBÊ, NÓS PERDEMOS O NOSSO FILHO! – Ele colocou as mãos nos meu ombros, balançando-me. – EU SEI QUE ESTÁ SENDO DIFÍCIL PARA VOCÊ, MAS TAMBÉM ESTÁ SENDO PARA MIM! ENTÃO PARA DE ESTAR NESSE ESTADO ESTÚPIDO DE NEGAÇÃO, DAWSON! EU TAMBÉM PERDI UM FILHO POR UM FUDIDO ERRO MEU! EU ATIREI, A CULPA FOI MINHA, EU SEI! VOCÊ ERA A GAROTA CERTA NO LUGAR ERRADO, EU MATEI O NOSSO BEBÊ NUM ACIDENTE. EU SOU UM FUDIDO FILHO DA PUTA, E VOCÊ ESTAR TENDO A PORRA DE UMA GRAVIDEZ PSICOLÓGICA NÃO AJUDA EM NADA!

– Austin, por que você está dizendo isso? Os médicos se enganaram, o tiro que você deu não matou nosso bebê. Eu sei que foi um acidente, eu não devia ter ido lá sem avisar para você, mas você não matou nosso bebê, ele está aqui. – Eu disse calmamente. Os médicos tinham convencido Austin, suspirei.

Austin me soltou e deu um soco no espelho do banheiro, eu me encolhi. Agora eu estava com medo. Vi os cacos no chão e a mão de Austin sangrando. Olhei em seus olhos, eu nunca tive medo dele, nunca pensei que ele pudesse me machucar, mas agora... Eu não temia só por mim, temia pelo meu filho. Engoli seco. Eu era uma agente treinada, mas eu tinha medo de algo sair do controle e acabar mal, afinal eu estava grávida. Não poderia lutar como de costume.

A expressão de Austin era assustadora, ele olhou para suas mãos, para o espelho e depois para mim. A fúria em seus olhos se transformou em medo.

– Você não está grávida. – Ele disse frio. – Vai ter que aceitar isso mais cedo ou mais tarde.

– Austin eu...

– Eu atirei, eu não sabia que era você. – Ele disse calmo. – E o bebê morreu.

– Não, Austin...

Ele suspirou, cansado.

– Amanhã vamos ao psicanalista, quer me provar que você tem um bebê? Então vamos. – Assenti, Austin estava consumido pela culpa. Ele precisava perceber que eu e seu filho estávamos lá.

Austin me fitou uma última vez e saiu do quarto.

FlashBack Off

Antes que eu pudesse notar, minha mão estava sangrando e o vidro estava quebrado. Engoli seco o que eu tinha feito, eu tinha me perdido em lembranças e tinha feito algo estúpido, sem nem ao menos perceber ou controlar. Me encostei na parede, descendo até minha bunda tocar o chão. Fitei os cacos no chão, eu estava chorando, tanto pela dor na minha mão quando pela dor emocional.