Exchanged. escrita por shondabia


Capítulo 3
3.


Notas iniciais do capítulo

Maior cap q eu ja escrevi na vida djnkjndfn espero q gostem



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/646073/chapter/3

Educação Física nunca foi o meu forte.

Eu não tinha a aptidão necessária para chutar, quicar ou coisas do tipo. O máximo que eu conseguia fazer era levantar um peso ou outro, pois ajudava meu pai a consertar carros velhos, a paixão dele, e correr. Eu corria um pouco bem, eu acho.

Desço para o campo aberto em que seria a aula de Educação Física, provavelmente seria futebol ou atletismo, e eu torço para que seja a segunda opção. Chegando lá encontro algumas pessoas que fariam a aula comigo, mas nenhuma delas se aproxima.

Eu não existia.

O pofessor apita para chamar a nossa atenção e então eu a vejo. Regina sai do vestiário com os cabelos curtos presos num coque mal feito, deixando fios soltos pela nuca, usando um short de lycra que marcava o seu corpo e uma blusa de Ed. Física do colégio que deixava um pouco da sua barriga chapada de fora.

Arregalo os olhos e tento afastar os pensamentos pecaminosos da minha cabeça, mas é em vão, principalmente porque ela corre, animadamente, ao meu encontro. Faço uma nota mental de entender a natureza daqueles pensamentos e sorrio para a intercambista.

– Oi. – diz ela.

– Oi. – Sorrio.

Regina se aproxima de meu ouvido e sussurra, como se fosse um segredo.

– O professor disse que hoje vamos jogar futebol porque eu sou brasileira. – Faz uma pausa e olha para mim. – E você vai ficar no meu time.

– No seu? – pergunto. – Eu não sei jogar, Regina.

– Eu não me importo. – Ela já tinha se afastado de mim e agora se alongava do meu lado.

O professor dá algumas instruções básicas. O time seria dividido por Regina, A Brasileira, e Ingrid, conhecida como Rainha de Gelo porque parecia não ter sentimentos. Cada time seria composto da capitã e mais 10 meninas, escolhidas por cada capitã.

Comentário rápido sobre Ingrid: ela era uma loira alta, corpo no estilo Taylor Swift, um pouco rude demais. Conhecida no colégio por praticar todos os tipos de esporte, ela se achava a melhor em tudo e não aceitava ninguém que pudesse pôr em risco o seu reinado.

Sou a primeira a ser escolhida no time de Regina. O resto das meninas, eu não entendo o motivo para ela ter escolhido, afinal, ela não conhecia ninguém. Claramente, o time de Ingrid era melhor que o nosso, ela sabia como escolher.

Cada uma vai para seu lado e a intercambista designa alguém que diz não ter medo da bola para o gol.

– Regina, a gente vai perder.

– Você confia em mim? – pergunta com um sorriso.

– Confio, mas...

– Mas nada. Relaxe que de 7 a 1 a gente não perde. - Ela pisca um dos olhos de avelã para mim e explica para o resto das meninas como ela quer que o time funcione.

– Eu faço o quê? – pergunto?

– Me proteja, você consegue fazer isso?

– Eu acho que sim... – Gaguejo um pouco. – Eu espero que sim.

– Então está tudo certo.

O professor apita e o jogo começa. Ingrid é uma boa jogadora, não posso negar isso, mas Regina é muito melhor. Eu a seguia de perto, tentando fazer com que ninguém chegasse perto dela.

O problema era que Regina era sozinha. A única boa jogadora que tinha no time, então, a cada gol que ela fazia, a gente recebia um gol também. Eu já estava cansada e rezando para que o jogo acabasse, estávamos empatadas.

Ingrid provocava. Eram dribles, jogadas, chutes, tudo para tentar intimidar a capitã do meu time. Regina era mais calma, gostava de brincar, sorria quando levava falta, ajudava as meninas do outro time a levantarem quando caíam no chão.

Acho que Regina era a definição de Fair Play.

– Ingrid. – grita Regina para a capitã do outro time. – observe e aprenda.

Eu levanto a cabeça a tempo de ver Regina com a bola, e, o que ela faz, é digno de filmagem. Regina ficou cara a cara com duas meninas, que tempos depois eu vim a saber que eram zagueiras, e, milagrosamente, consegue passar pelas duas.

Regina colocou a bola debaixo dos pés e fingiu que ia para frente, mas não foi. Trocou a bola de pé e passou por debaixo das pernas da zagueira número 1. A zagueira número 2 se afastou dela, provavelmente para defender o gol, e Regina correu em sua direção. Quando eu achei que ela fosse se bater com a menina, a intercambista prendeu a bola entre os dois pés e, com um movimento muito complicado para ser descrito, ela jogou a bola por cima da cabeça da zagueira. O resto foi fácil, ela simplesmente chutou em direção ao gol e, calmamente, voltou para o nosso campo sorrindo.

Gol de Regina.

– Aprendeu? – piscou para Ingrid que só faltava soltar fumaça pelos ouvidos. Eu sorrio encarando o chão e balanço a cabeça.

– Brasileiros... – murmuro, apenas para que eu ouça e saio correndo para comemorar com minha nova amiga.

– Viu que eu disse para você confiar em mim? – Diz Regina num tom brincalhão. Seu rosto pingava de suor, e alguns fios de seu cabelo se prendiam a seu rosto.

– Você. Joga. Muito. – Eu arfava pois não tinha costume de praticar exercícios físicos.

– Eu não jogo nada. – afirma. – Acredite em mim, eu nem chego perto de ser boa.

– Eu quero ser ruim como você.

Nós duas andávamos em direção ao vestiário, para tomarmos banho e podermos ir para casa.

– Nós podemos treinar juntas. – Sugere.

– Ah, obrigada, mas eu passo. – Respondo, segurando a porta do vestiário para que ela entre. As outras meninas ficaram para trás conversando com o treinador. – Não nasci para isso.

Nós remexemos nas nossas bolsas em silêncio e a morena o quebra.

– A água daqui é fria? – pergunta.

– É sim. – faço uma careta.

– Tem problema se eu for assim para casa e tomar banho lá?

– Eu estava esperando você sugerir isso. – Começo a fechar a minha bolsa. – Eu não queria sugerir e fazer com que você pensasse que eu sou porca.

– Ótimo. – diz ela. – Então vamos embora.

Henry não foi com a gente para casa, então éramos apenas nós duas dentro do carro. Peço para que Regina coloque mais de suas músicas pois gostei bastante delas. Fazemos o percurso para casa em silêncio, sendo entoadas pela voz de Gilberto Gil.

A intercambista me explica que aquela música era um afronto à ditadura militar, como a maioria das musicas daquele período. Explica, ainda, um pouco da história da ditadura, e eu me sinto triste pelo meu país ter ajudado a financiar um período tão ruim da história do Brasil.

– Mas essa não é aquela música de Bob Marley? – questiono.

– Sim, o Gil apenas pegou a musica e adaptou para o português. - Ela explica. – Não é uma tradução, ele mudou a letra também.

– Eu gostei, embora não saiba nenhuma palavra que ele está falando. – Digo e ela solta uma leve risada.

– Eu não consigo traduzir tudo direitinho. – se desculpa. – Mas, um dia qualquer que você estiver livre, a gente pode procurar na Internet.

A música que tocava acaba e outra começa. Malmente ouço os primeiros acordes e Regina a muda, passando para a próxima.

– Mudou porque?

– Lembranças não tão legais. – seu tom de voz é fraco.

– Quer falar sobre isso?

Ela sorri de forma fraca e balança a cabeça olhando para as pernas. Percebo que, se ela falar, vai começar a chorar.

– Ah, você não precisa falar se não quiser.- digo. – Eu entendo o seu silêncio.

Regina se limita a sorrir de lado e passamos o resto da viagem sendo embaladas por uma música animada, na voz de Caetano Velloso. Segundo a intercambista, o nome da música é Não Enche.

Dou de ombros e apenas bato no volante com o ritmo da música, não demorando muito para chegar em casa.

– Regina, Emma. – ouço a voz de minha mãe nos chamando lá debaixo. – O jantar está pronto.

Tínhamos chwgado em casa e tomado um merecido banho. Eu agora estava coberta por um pijama de flanela, que me deixava muito aquecida. Desço para jantar e encontro Regina já sentada a mesa.

– Hey. – chamo e me sento ao seu lado.

– Cansada, não é? – pergunta e eu faço que sim com a cabeça. Coloco o jantar no prato e começo a comer.

– Cansada de quê, Emma? – Minha mãe entra na conversa. – Você não faz nada.

– Emma jogou futebol hoje, Mary. – Explica Regina. – Muito bem por sinal.

– Eu só vou acreditar porque é você que está falando. – Diz Mary, fazendo com que eu me ainta ofendida.

– Valeu aí, mãe. – digo. – Quem joga bem mesmo é Regina. Driblou umas vinte meninas lá.

– Me contem mais sobre isso. – Minha mãe se mostra interessada. Senta ao meu lado na mesa e cruza as mãos por baixo do queixo, demonstrando que queria ouvir mais sobre a nossa tarde.

– Foi assim. – faz uma pausa. – O treinador, ao saber que eu era brasileira, quis que nós jogássemos futebol.

– Aí Regina ficou como capitã de um dos times, e me colocou no time dela.

– Isso, e Emma ficou me “protegendo” – faz aspas com as mãos – para não chegarem perto de mim enquanto eu estivesse com a bola.

– E Regina, mãe, fez três gols e deixou todo mundo boquiaberto.

A intercambista me olha amavelmente e eu sorrio, ela murmura um “para com isso”, mas eu continuo.

– Não duvido nada que ela entre para o time da escola. – Finalizo.

– Uau... – diz Mary. – Quero ver essas habilidades, viu?

A morena faz que sim com a cabeça, deixando a promessa que, se chamassem ela para o time, todos nós estaríamos convidados para assistí-la.

Já estava pronta para dormir quando minha mãe apareceu na porta do meu quarto, trazendo a intercambista ao seu lado.

– Emma? - chamou ela. Tiro os fones de ouvido para poder escutar o que tinha a me dizer. - Tem problema se Regina dormir com você esses dias? Ainda não colocamos o aquecedor do quarto dela.

– Não tem problema nenhum, e você sabe disso, Regina. - digo, olhando diretamente para a morena.

– Se você quiser podemos trazer o colchão do outro quarto e colocar aqui no chão, assim eu não tomo tanto o seu espaço na cama. - dá de ombros.

– Que nada. - Eu chego para o lado e mostro o outro livre para ela. - é uma cama de casal. - pisco, repetindo o que ela tinha me dito na noite anterior.

– Fico feliz que vocês estejam fazendo amizade. - Diz minha mãe. - Eu vou descer, David não chegou até agora e eu estou preocupada. Qualquer coisa chamem, e, por favor, tomem cuidado com o horário.

– Certo, mãe. - respondo. Regina se joga ao meu lado na cama e pega o celular.

– Hey, quer conhecer a minha família do Brasil? Vou fazer sessão de skype com eles.

Faço que sim com a cabeça.

– Mas, não está tarde para ligar?

– Devido ao fuso horário, lá é mais cedo do que aqui. - Explica.

Não demora muito na ligação e duas mulheres sorridentes aparecem, uma ruiva mais nova e uma de cabelos castanhos, que nem os de Regina, mais velha.

Ela começa a conversar com elas em português e eu me sinto perdida ao seu lado, tentando, em vão, entender algumas das palavras ditas durante a conversa.

– Eu acabei de dizer quem é você, Emma. - Fala para mim, em inglês. - Se você quiser, a gente pode conversar em inglês.

– Não precisa. - sorrio para a câmera e aceno para elas. Elas acenam de volta. - Você tem o direito de matar a saudade de sua família em sua língua natal.

Recebo um sorriso largo de Regina como resposta.

– Ah, essas são Cora e Zelena. Minha mãe e minha irmã mais velha.

– Eu sou Emma. - digo num português fajuto e arranco risadas das três. - Eu falei certo?

– Falou. - Regina diz. Olha para o celular e fala para a mãe a irmã a palavra “gringa”.

– Ai, o que significa isso? - questiono. Elas dão risada, pois entendiam o que eu estava falando. - Parem de rir de mim, por favor. - Eu peço e elas riem mais ainda. Finjo estar indignada.

– Gringo é gente de fora do Brasil. - Explica a irmã de Regina, Zelena. - Mas, você me parece ser uma gringa legal.

– Obrigada. - Agradeço. - Você também me parece ser uma estrangeira legal.

– Minha filha está se comportando? - Pergunta Cora.

– Tirando me chutar de madrugada, está se comportando sim, senhora. - Digo. Regina dá um tapa de leve em meu ombro.

– Mentirosa, ela disse hoje de manhã que eu não chuto.

– Você chuta sim, Regina. - diz Zelena. - Aposto que a Emma só estava sendo educada.

A morena ao meu lado dá língua para a irmã. A conversa dura mais alguns minutos e Cora diz para irmos dormir, pois já estava tarde em nosso país. Com vários sorrisos e uma palavra nova nos despedimos.

Regina sentia saudade.

– Regina? - Chamo. As luzes já estavam apagadas e estávamos deitadas lado a lado em minha cama.

– Oi.

– Acordada?

– Se eu estou te respondendo, é óbvio que eu estou acordada. - Brinca. - Quer que eu chegue mais para o lado?

– Precisa não… é que eu estava com uma dúvida.

– O que foi? - Sinto ela se mexer na cama e ligar o abajur que tinha do seu lado. Ligo o que tinha do meu lado também.

– O que significa 'saudade'? - tenho um pouco de dificuldade em pronunciar a palavra.

– Saudade é algo mais forte do que sentir a falta de alguém ou algo. - responde. - Essa palavra só existe no português.

– Sério?

– Sério. - diz ela. - Aqui vocês apenas dizem que sentem a falta.

– E você sente 'saudade' de alguém?

– Claro, da minha mãe, da minha irmã, dos meus amigos… - agora ela já estava sentada de frente para mim na cama.

– Só deles? - pergunto. Ela faz um silêncio longo e eu sinto que fui longe demais. - Ah, não precisa falar.

– Eu sinto saudade de uma pessoa em especial, mas não quero nem lembrar dele. - sorri fraco. - um filho da puta.

– Ué, porque?

– Quando eu soube que viria para cá, nós fizemos a promessa de que esse ano longe não separaria a gente. - Faz uma pausa e engole em seco. - Então, como dois adolescentes idiotas, eu resolvi que perderia a minha virgindade com ele.

Eu arregalo os olhos, mas me mantenho calada, esperando ver o que ela terminaria de contar.

– A noite foi mágica, jantamos à luz de velas, ele fez com que eu me sentisse uma verdadeira rainha. - Explica. - Isso foi mais ou menos duas semanas antes de eu embarcar para cá.

– Sim, mas o que houve depois disso? - tento não soar tão curiosa.

– Ele ficou sendo um fofo comigo e tudo o mais, mas eu acabei descobrindo que ele estava me traindo. - Mesmo com a pouca iluminação, vejo que seus olhos estão cheios d'água. - Quando eu fui perguntar a ele o que estava acontecendo, a resposta foi que ele não aguentaria ficar um ano sem “nada” - faz aspas com as mãos e eu entendo que esse “nada” significava sexo. O filho da puta usou Regina.

– Isso é horrível em muitos níveis. - Digo. A essa altura as lágrimas já desciam pelo rosto dela.

– Eu fui muito idiota, Emma. Eu acreditei nele, eu acreditei que o que havia entre nós era verdadeiro.

– Eu nem sei o que falar. - junto os lábios num bico e os movo para o lado, uma mania que eu tinha que aparecia quando eu não tinha o que dizer.

– Tem que dizer que eu fui uma idiota, que perdeu a virgindade com um filho da puta.

– Não é bem assim. Idiota foi ele que te perdeu.

Ela funga.

– Você acha isso mesmo?

– Claro. Olha, você é inteligente, engraçada, joga futebol bem, e, em um dia, já fala inglês melhor do que muito americano por aí.

A morena na minha frente dá uma risada leve, seguida por um aceno de cabeça.

– Eu não entendo como você não tem amigos, você é uma pessoa maravilhosa, Emma. - diz. - Nunca deixe ninguém te dizer o contrário.

– Eu sou tímida.

– Não parece.

– Mas sou, eu juro.

– Você é doida, isso sim.

– Doida, e antissocial. - completo. Sua risada dessa vez é mais alta.

– Eu perdi o sono. - diz ela, se jogando na cama com a barriga para cima. - E bateu uma fome…

– Eu tenho comida não tão saudável escondida debaixo da cama. - confidencio.

– Mentira…

– Te juro. - com um pulo desço da cama e pego uma caixa de plástico embaixo da cama. Coloco entre nós duas. - Olha aqui, meu paraíso particular.

Ela abre a caixa e arregala os olhos para mim. Dentro da caixa tinha chocolates, gelatinas, chicletes e salgadinhos.

– Como você não é gorda com isso tudo?

Dou de ombros.

– Eu guardo para quando eu vou assistir algum filme triste.

– Isso aqui é maravilhoso. - Ela pega um pacote de M&M's. - posso comer?

– Fique à vontade. - respondo. - mas, por favor, lembre de escovar os dentes antes de dormir. Não quero formigas aqui na cama, de inquilina já basta você.

Pela primeira vez na noite, ela sorri genuinamente. Meu trabalho estava feito, nada que chocolate não resolvesse.

– Você não vai querer? - Sua boca já estava cheia com os chocolates.

– Não, obrigada. - recuso. - Quem precisa do consolo da glicose é você.

Depois de algum tempo comendo e dando risada, Regina escova os dentes e se deita ao meu lado.

– Obrigada, Emma.

– Pelo chocolate? Isso não é nada.

– Pelo chocolate. E por, em pouco tempo, se tornar uma amiga de verdade.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

1) Gostaram? Pfvr, me deixem saber o q vcs estão achando.
2) Mais um pouco da amizade swen



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Exchanged." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.