Lua Nova do Eduardo escrita por AmandaC


Capítulo 8
Despertar




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O tempo passa... mesmo quando seu mundo é um verdadeira bosta.

O tempo passa... mesmo que seu maior motivo de orgulho lhe deixa no maior vexame.

O tempo passa... mesmo que se deseje morrer.

Ele passa, ainda que eu finja que está tudo bem. Ele passa...

Mas queria que fosse mais rápido.

 

A voz de minha mãe penetrou meus devaneios.

- Eu acho que você deve voltar para casa. – embora, nos meses que se seguiram após a partida dela, eu conseguisse fingir bem, morar com uma mulher decididamente não era um bom pedido.

Elas observam demais para o meu gosto.

E não seria a primeira vez que discutiríamos sobre esse assunto.

- Por que? Eu não fiz nada. – rebati, irritado.

Depois da primeira semana, onde quebrei e chutei muitas coisas, e fiquei preso no meu quarto, os quatro meses que se seguiram foram do comportamento mais exemplar que eu tive em toda a minha vida. Não sai de casa, não tirei nota baixa, não fiz nada errado.

- É esse o problema. Você não faz mais nada! – ela comentou, seus olhos femininos me observando, lá no fundo.

Desviei meu olhar.

- Queria que me comportasse mal?

- Não. Apenas queria você vivo. Parece morto!

Droga, achei que tinha disfarçado bem. Bom, pelo que vejo falhei.

- Foi mal. – e foi então que notei o quanto o tom arrogante estava ausente de minha voz.

- Não quero que se sinta assim. Eu quero te ajudar. Talvez voltar para seu pai...

- Não. – meu Deus, era assim que eu falava agora? Tão sem... vontade. – Eu sei que você me quer aqui. – comentei, sabendo que era golpe baixo.

- Quero. Mas não você assim. Não desse jeito. – seus olhos se encheram de lágrimas.

Geralmente aquilo me irritava, mas eu não senti nada.

- Eu vou sair. Hoje. É isso. – e levantei, peguei minha mochila e sai de casa. Eu não queria falar sobre esse assunto.

Ele era proibido. Renata sabia.

Não olhei para o carro. Ele havia ficado – não sei por que. Não importa. Passei reto. Andei rápido até a escola, procurando não pensar. Cheguei cedo.

A escola estava sendo meu maior refugio ultimamente. E olha que realmente isso é incomum para mim. Alertado por Renata, percebi como andava sozinho, como ninguém me notava. Era como se eu não estivesse presente.

Eu estava fingindo tão mal assim?

Na sala de aula prestei muita atenção. Era a melhor forma de manter a mente ocupada. Encontrei Mike na aula seguinte e sabia que tinha que fazer algo.

- Oi. – cumprimentei, o tom sonso na minha voz continuava.

- Você falou comigo? – ele se surpreendeu.

- Claro cara, vamos marcar algo essa noite? Um cinema? Preciso sair. – sugeri. Mas não havia animação na minha voz.

Mike me olhou, surpreso.

- Sério?

- Tenho cara de que estou brincando?

Ele me analisou. Pela minha voz eu sabia que não tinha cara de nada. Mike parecia preocupado.

- Não sei cara. O que pretende ver?

- Qualquer coisa. – dei de ombros. – O que você indica? – perguntei, percebendo que minha indiferença não estava ajudando.

Ele comentou alguns filmes em cartaz. Fingi animação.

- Tudo bem. Vou convidar alguns colegas ok? Nós vemos mais tarde. Passo na sua casa? – ele perguntou.

- Claro. – concordei, tentando lembrar como se mostrar animado nesses momentos. Não me veio nada. Então puxei os lábios no que parecia um sorriso.

Mike ergueu sua mão.

- Até cara.

Levei alguns segundos para entender. Bati em sua mão.

- Até. – eu havia feito planos. Mas a voz ainda era morta.  

Quando notei, estava em meu quarto sem realmente lembrar-me de ter chegado ali. Mudei de roupa rapidamente, os presentes jogados abaixo de uma pilha de roupa bagunçada. Eu não olhei naquela direção. Nunca olhava.

Assim, logo eles haviam chegado, Mike e outros dois do time do futebol. Eu mal olhei para eles. Sentei no banco de trás.

- De quem é o carro? – Mike apontou, para o carro, todo sujo no fundo da garagem.

Eu nem olhei naquela direção.

- Da minha mãe. – comentei, sem nenhuma entonação.

- Por que você não dirige?

- Eu... gosto de caminhar. – inventei, apressadamente.

Três pares de olhos pousaram em mim. Mike voltou sua atenção para a direção.

- Por que decidiu... sair?

- Eu não aguento mais ficar em casa. Preciso me divertir um pouco. – a voz não acompanhava as palavras.

- Ótimo. É isso ai cara. Vamos ver se encontramos algumas gatinhas. – Mike comentou, e logo eles começaram a discutir suas atuais peguetis.

Eu não tinha o que falar. E não queria ouvir. Só voltei a prestar a atenção quando entramos na sala de cinema. Mike nos puxou para um local onde havia algumas garotas, eu nem vi como elas eram. Sentei no canto e esperei o filme acabar.

Ao final, todos meu companheiros tinham uma companhia. Combinamos de ir fazer um lanche, embora eu pensasse em fugir daquele momento "casais". Saímos do cinema e começamos a caminhar – quero dizer, eu fiquei mais atrás, bloqueando qualquer som que eles fizessem, a mão em meu bolso, olhando para o asfalto.

Foi então que o som de música e gargalhadas me chamaram a atenção. Olhei para o lado, provavelmente pela primeira vez em meses.

Haviam muitos jovens encostado na parede de algum tipo de bar. Uma jovem estava com eles. Eu sabia que era um lugar completamente diferente, ainda assim, não pude deixar de parar e olhar para eles.

- Eduardo? – ouvi Mike me chamar. – O que você está fazendo?

Não lhe dei atenção. Minha mente queria desesperadamente repassar o acontecimento de quase um ano atrás. Sem realmente pensar, eu ia em direção a eles.

Nem que fosse para arranjar alguma briga. Isso, eu queria brigar.

Senti algo familiar correndo em minhas veias. Adrenalina.

- Eduardo? – Mike me chamou, parecia ansioso e até curioso.

Não lhe dei atenção. Continuei encarando os jovens, dando passos em direção a eles.

- Eduardo? Vamos logo. – agora Mike estava impaciente.

Eu fiquei impaciente. Olhei para eles e todos me olhavam.

- Podem ir. – resmunguei, continuando a andar.

- Eduardo, pare. Agora! – eu parei. Congelei. Morri no meio da rua. Por que aquela voz não era de ninguém que estava por perto.

Era a voz mais linda que eu conhecia. A voz mais perfeita e doce e aveludada. Era a voz dela.

Finalmente eu tive consciência da noite, dos sons, dos barulhos, de tudo. Era quase como um sopro de vida em mim. Olhei para meus amigos, pareciam impressionados comigo.

Mas o que importava era a voz. A linda voz que me afundou e me despertou.


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