Lua Nova do Eduardo escrita por AmandaC


Capítulo 9
Carona




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Dei mais um passo para frente.

- Volte para eles. – a voz maravilhosa estava irritada. Eu sorri, sem me importar em parecer louco. Ela estava preocupada. Eu sabia que ela se preocupava comigo.

- Eduardo, você está louco? – Mike perguntou, caçoando de mim.

É, acho que eu estava louco sim. Mas quem se importa? A voz maravilhosa se importava comigo. Isso era bom.

Ouvi o barulho de uma moto se aproximando. Mas não me movi. A voz ficou mais frenética.

- Sai do meio da rua Eduardo. Saia. Agora!

Por que ela não me pega e me tira? Hein? Vou esperar. Ela vai fazer isso. Eu sei que vai.

Eu não me importo que ela me salve. Não. Pode fazer isso. Desde que volte... Volte para mim.

O barulho da moto foi ficando ensurdecedor. E vinha, frenética, em minha direção. A qualquer momento, agora... Logo, logo ela viria... Ela iria me salvar...

- Saia Eduardo! Saia! – a voz estava furiosa.

- Eduardo! – ouvi meus amigos gritarem, enquanto o terrível som de pneus arrastando nos asfalto penetrou em meus tímpanos.

Olhei para o lado, a moto vinha, freando. O motoqueiro virou a moto para não me acertar. Ainda freando.

Logo ela vem. Falta pouco...

E então a moto parou, pouco centímetros antes de me alcançar, de lado, como se fosse um amigo me oferecendo carona. O motoqueiro tirou o capacete, era uma mulher, cabelos longos e negros, bonita, talvez, nem olhei para ela direito.

- Está querendo morrer? – ela rosnou, um pouco assustada.

Dei de ombros. Eu já não sabia mais o que eu queria.

Meus amigos se aproximaram.

- Você é louco? Quer se matar? Vamos logo comer. – chamaram, brigando comigo. Ninguém briga comigo. Ninguém manda em mim.

Eu acho.

Olhei para as garotas que acompanhavam eles. Não queria ficar vendo aquilo.

- Eu quero ir para casa. – comentei, minha voz um pouco irritada.

Eu iria, nem que fosse andando. Ela não veio me salvar... Não veio...

- Quer uma carona? – a motoqueira me ofereceu.

Olhei bem para ela. Notei os olhares dos meus amigos, pareciam com inveja. Isso me lembrava alguma coisa. Algo que deveria me deixar animado. Mas eu não sentia nada.

Até pensei em recusar. Mas...

- Fique com seus amigos. Pode ser perigoso. – a voz maravilhosa ordenou.

- Quer saber. Eu quero uma carona sim!

- Sobe ai! – ela voltou a ligar a moto, recolocando seu capacete. Para mim não tinha, o que tornava tudo muito mais perigoso.

- Não Eduardo. Não!

- Cala a boca! – rosnei, enquanto a jovem acelerava a moto e eu apenas via os rostos espantados de meus amigos ficando para trás.

- Disse algo? – a motoqueira perguntou.

- Vai mais rápido! – comentei. Sentindo a adrenalina percorrendo minhas veias. Eu estava agarrado na cintura dela e não me incomodava.

A voz rosnava em minha cabeça.

Deus, eu estava louco!

Depois de andar alucinada por algumas ruas, a jovem pediu meu endereço. Gritei para ela, mais animado do que nunca.

- Isso é loucura! – a voz rosnava em minha cabeça. Aquela linda voz.

Eu sei, eu sou louco mesmo. Loucos fazem loucuras.

A moto se inclinou um pouco numa curva. E então, senti que a voz se distanciava. Não... eu não queria perder a voz... não...

Não... Não podia perdê-la de novo.

A jovem parou diante da casa e desligou sua moto, retirando o capacete.

- Pronto. Está entregue.

Desci da moto, triste. Eu queria muito a voz de novo em minha cabeça. Mas a lembrança da voz era ótima.

- Foi muito divertido. Valeu pela carona. – comentei, havia uma sutil mudança em minha voz.

- Que isso. Só não fique mais no meio da rua beleza? Hoje foi por pouco. – ela comentou.

- Eu posso pensar em outra forma de me matar. Não se preocupe. – tentei ser bem humorado.

Acho que consegui, a jovem motoqueira riu enquanto recolocava o capacete.

- Boa sorte então! Tchau.

Eu a observei partir. Entrei em casa, sabendo que ainda tinha que enfrentar minha mãe.

Entrei em casa. Eu pensei muito no assunto proibido. Tive alucinações com o assunto proibido. E sabia que teria que pagar por isso.

- Oi, Renata.

- Onde você esteve? – ela apareceu. Mas congelou ao me ver, suas sobrancelhas se erguendo.

- Sai com uns amigos. Como eu disse que faria. – comentei.

Ela me analisava, parecendo espantada com o que via.

- Que ótimo. Você se divertiu?

- Sim. Tinha zumbis que comiam gente o filme inteiro. – comentei.

Renata fez uma careta.

- Ok.

- Vou dormir. – e dito isso, subi as escadas, direto para o meu quarto. Joguei-me no chão, sentindo a dor que eu sentia desde que... bem, tudo acabara.

Era como se eu tivesse arrebentado. Como se algo estivesse morto dentro de mim e infectasse o resto que estava intacto.

Em geral eu me bloqueava para isso. Para a dor, a desolação.

Largado no chão, destruído, esfarrapado, eu esperei que o bloqueio viesse. Mas não veio. A dor ainda era insuportável. Mas eu conseguia sobreviver. Eu estava mais forte. E não conseguia bloqueá-la.

O Eduardo morto dentro de mim dava um ar pútrido para todo o resto. Infelizmente, um resto inteiro, alerta...

Fiquei largado, assimilando a dor.

Algo me fizera perder meu bloqueio. Talvez as alucinações. Por que eu devia estar maluco. Completamente maluco.


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