Fabulosa Inconsistência escrita por Something Ville Citizen, Hope


Capítulo 8
T: Don't Worry, Peter Got The MADcines, Wendy - pt. 2


Notas iniciais do capítulo

Volta o cão arrependido... Bom, parece que eu me formei na EAACGRRM (Escola de Atrasos e Adiamentos Contínuos do George. R. R. Martin) ou então este tenha sido o sábado mais longo da história e nós ainda estamos em 2015.
Eis que a sexta, que antes era chamada Domingo, chegou e aqui esta o capítulo, dividido em duas partes, não uma como anteriormente eu havia dito. ´
Mesmo que neste praticamente o Daniel não apareça, alguns detalhes aqui, não exatamente explícitos, mas espalhados por todo o capitulo, são um tanto importantes para a continuidade da trama. Alías, um pouco da minha intenção nele foi funcionar como um primeiro capitulo, visto que na minha cabeça marca uma espécie de nova fase estória.
Aí está, eu não sei se tão aguardado, capitulo. Espero que se divirtam na leitura :3



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* Lana's POV *

São cinco da manhã, luto para conseguir me levantar. Eu preciso de um banho para me libertar dos meus demônios.

Coloco os meus pés no chão e uma pontada de dor latente ataca a minha cabeça. Não é exatamente uma dor causada por algum tipo de fratura - eu só encontrei três arranhões após a batida -, e sim algo mais próximo da dor de cabeça de quando estamos doentes. A dor me acompanha até o banheiro, me fazendo ter pequenos espasmos a cada passo que eu dou. Quando entro na banheira, tropeço e derrubo alguns objetos do balcão ao lado. Deixo a água encher tudo até eu ficar submersa, e, só então, relaxo.

Eu já tive esse sentimento antes, o desejo de me perder e afogar. Não há estruturas para me sustentar e eu sou fraca até para mover os meus próprios pés. Tenho balas apontadas para a minha cabeça, e não sarcasmo para combater a indiferença dos outros. Eu tenho desejos, mas não observo a vida por vontade e sobrevivo por conveniência.

Quando olho para cima e vejo as últimas bolhas do meu ar flutuando, me precipito e sinto ficar mais agitada que a superfície da água. Um sonho, a ternura da morte. Eu o recuso, como os adultos sempre recusam sonhos. As lembranças desta noite não se estenderão mais até aqui.

Continuo com o meu banho. Termino e me e ergo, tanto físico quanto mentalmente. Passo pela tesoura e giletes espalhados pelo chão como passo pelo desejo de voltar atrás. Mesmo assim, não os tiro do chão e, trinta segundos depois, me esqueço da sua existência. De volta para o quarto, me visto e novamente no banheiro quase piso em uma lâmina que caiu mais ao longe, próxima à pia. Ignoro-a evitando pisar nela, que poderia cortar o meu pé inteirinho com facilidade.

Victor não passou para deixar a comida aqui hoje então decido ir direto para a escola sem lanche. Tomo duas xícaras de café, um pão e sigo para a escola (onde antigamente eu dormia, mas hoje só exerce para mim a função tradicional). A escola se tornou somente o meu local de estudos quando finalmente me arranjaram um apartamento praticamente no mesmo bairro.

Às 6h30m da manhã as ruas estão completamente vazias. Coloco os meus fones de ouvido e me imagino num cenário pós-apocalíptico mais do que em um lugar monótono. Uma longa nuvem de frente fria se aproxima no horizonte, semelhante a uma muralha em ondas, e Blue Velvet de Bobby Vinton começa a tocar.

Na escola, aparentemente ninguém além de mim e o zelador havia chegado. De primeiro impulso quase sentei no pé de castanhola, tão convidativo, quando vi um certo movimento que com certeza não era da faxineira, acima do muro, no andar que dá de frente com a piscina.

Victor aparentemente liga mais para o seu trabalho com dois clientes – eu e Jéssica, é claro. Nunca reclamei por ela ter esse nome, mas, agora, principalmente depois de ontem, dói um pouquinho mais o fato dela ter o mesmo nome que a minha mãe - do que para alimentação. Talvez ele saiba do racha de ontem, mas castigo sem comida não faz o estilo dele.

Antes de adentrar no prédio, olhei para o zelador balançando as minhas chaves.

– Eu tenho as chaves porque eu trabalho, você tem porque é louca! - ele disse, enquanto eu revirava os olhos. Boatos sobre a minha insanidade correm depois de um relacionamento quase duradouro com uma esquizofrênica e consultas constantes com o psicólogo da escola, além do fato de eu ter duas mães adotivas.

– Prefiro ser louca do que uma lavadora de vasos sanitários, sem ofensas! - rebati, logo em seguida soltando um beijo. Ele revirou tanto os olhos que eu pensei que eles fossem saltar para fora pela pressão. Eu realmente não gosto de lembrar às pessoas a sina que elas têm que aguentar pelo resto da vida, principalmente se ela se referir a dejetos de adolescentes na puberdade. Sei como é o pesadelo do banheiro masculino, já vi ele uma vez – MDS Q HORROR –, mas a oportunidade de ver aquela personificação de todos os efeitos trash de filmes de terror dos anos oitenta que é o revirar de olhos do zelador, sem contar com nenhum efeito, é uma coisa que eu não posso perder.

Chego na sala de Victor e eis que aqui se encontra o dito cujo, acompanhado por Jéssica. Um misto de culpa e frustração me pegou: como eu iria explicar para ela o porquê de eu tê-la deixado solta por aí logo depois de quase atropelá-la sem nem pedir desculpas? Victor sabe que eu sou do tipo de avestruz que enfia logo a cara num buraco quando avista algum perigo, mas desta vez ele não me repreendeu.

Há algo estranho no ar que eu senti desde que eu vi o zelador, mas, agora, está muito mais evidente nos dois. And I still can see blue velvet through my tears... Eu pausei a música e me sentei.

– Bom dia – eu disse, com a maior pokerface da minha vida. Quando eles me responderem ficou claro o que realmente estava acontecendo.

Jéssica virou-se para mim e falou como se respondesse os meus pensamentos:

– O pai do seu amigo, Daniel, se suicidou ontem à noite. - Foi simples para ela de dizer. – Encontraram o corpo da namorada, eu acho, dele, no quarto dos dois.

Eu não poderia dizer se estou chocada ou não. Não sinto nada além de uma coisa que não consigo explicar. Um longo arrepio passa por todo o meu corpo. Quando matam um dos seus demônios ele se torna eterno? Aurélio poderia ser um pesadelo para mim, mas era um pilar, mesmo que quebrado, para o Daniel.

– Mas qual é o porquê disso tudo? Ele não é do tipo de pessoa que faria isso, muito menos que siga uma doutrina para tanto...

– É ai que está o problema – disse Jéssica -, alguns fiéis simplesmente não querem acreditar que ele se matou, ou que tenha levado alguém junto. - Ela fez uma pausa. – ... e eles estão acusando o Daniel por isso, mas a polícia é muito mais esperta que eles, espero...

– Nem a policia é tão burra pra tanto, o problema é que... - Victor fez uma pausa precipitada. Parecia realmente estar preocupado e, entre os movimentos nervosos que ele fazia numa busca por uma distração no meio de uma pilha de papéis na mesa, seus olhos notaram a nossa espera por uma continuação e ele deu um pulo de sua cadeira, como se tentasse fugir. - ... é só que, há mais com o que se preocupar do que isso, há coisas muito mais... perigosas, eu acho. – continuou falando, de costas para nós duas enquanto encarava a enorme estante de carvalho da sua sala.

Jéssica permaneceu como estava e eu, olhando diretamente para os dois, me senti reprimida. Ela olhou para mim, melancolicamente angustiada. Há aqui uma atmosfera de compreensão mútua da qual eu não participo. Isso é evidente, principalmente pelos papéis de análises e consultas pertencentes à Jéssica dos quais agora pouco, o próprio Victor usava como um material de escape.

Continuo não o culpando, fugir desse ambiente é o que eu mais quero agora. Por acaso, há uma edição com capa de tecido de um conjunto de obras de Victor Hugo, a minha favorita, na mesa. Pego-a, só para folheá-la e ignorar, como de costume, e disfarçar um pouco o interesse que eu tinha nos outros.

Victor olhou para trás e riu, languidamente: seu nome, Victor Dumas, saiu da ideia de sua falecida mãe de nomeá-lo com os seus escritores franceses favoritos.

"Não estava em voga chamar um filho assim, e foi exatamente o que eu fiz. Não sou a Madonna para seguir o que está em voga". Ele imitaria a mãe, antiquada diriam os outros - por estilo próprio. Mas, hoje, eu já havia visto o suficiente para concluir que não era um dia para isto.

O nível de sufocamento atmosférico chegou ao ponto de sermos dispensadas por Victor. Ele não olhou para nós quando partimos da sala.

No corredor, nos esbarramos novamente com a Regina George em forma de zelador. Strike a Pose, disse sem falar para Jéssica e ela concordou perfeitamente. Sermos popularmente consideradas como mentalmente depravadas nos dá a oportunidade de sermos tão más na escola sem, necessariamente, sermos plásticas.

Ele estava parado, prestes a revidar agressivamente levantando os punhos, quando, de repente, se deu conta de que iria fazer merda. Ele se virou, resmungando que a nossa loucura era contagiável, enquanto o seu braço tremia como o de um velho com Parkinson.

– Infelizmente, acho que a tua loucura deve-se a ninguém menos que você. Nós somos apenas crianças, imagino o que você faz com as crianças que te irritam do prezinho! - dois tiros certíssimos, Jéssica estava on fire e o zelador, sem nenhuma reação aparente, seguiu virando o corredor, quase correndo. Antes que ela literalmente gritasse, segurei a mão dela.

– Já acabou, Jéssica? - eu disse. – Calma, ele não seria capaz de fazer nada, não é tão tolo assim. Vamos chamar o Victor...

– Mas ele levantou a mão para nós duas! Ser louca não é motivo para ser um saco de pancada e você nem é! - Na verdade, acho que sou sim, como vocês já podem ver, mas prefiro não comentar. – Eu já vi isso antes! E o Victor não seria a melhor opção... agora.

Antes que eu perguntasse o porquê, eis que o sinal toca e os primeiros zumbis (chamados de escravos, digo, de professores) já estão entrando nos corredores. Pensei que eu já tinha superado a fofoca de que eu dormia na escola – continuo dormindo, mas é como você ou qualquer pessoa, no meio da explicação da sala de aula -, mas, reviver esse boato através dos professores, que muito provavelmente iriam comentar sobre o fato de terem me encontrado zanzando com a louca, como nos velhos tempos, colocaria o olho imperdoável e implacável de alunos do Ensino Médio (que não sequer estudavam na escola na época) novamente sobre mim, que já não estou nada confortável. Só de pensar na ideia senti a vontade de enfiar a cara no lixo – o que também não é nada agradável, diga-se de passagem.

Jéssica olhou para mim, aparentemente pensando a mesma coisa que eu, pegando no meu braço e arrastando-me direto para o que eu descobri depois ser a quadra da piscina da escola. Mesmo que alguma coisa me impedisse de adentrar na relação entre ela e Victor, parecia que a nossa voltava a vida, mesmo que ontem eu tenha sido cúmplice no seu quase atropelamento. Quase três anos depois, agora estávamos pulando o muro da escola, como se fosse nos velhos tem... pera, nós ESTAMOS PULANDO O MURO DA ESCOLA!

Antes de qualquer coisa, escapei da minha inércia da maneira mais ridícula possível: ficando parada estaticamente com a boca aberta. Eu realmente não queria ficar hoje na escola, mal dormi essa noite e a minha cabeça está prestes a explodir; acredito que eu seja boa em lidar com o luto, tenho experiência, mas não com o dos outros. Mesmo assim duvido que o Daniel venha para a escola hoje. Mais um bom motivo.

Antes de qualquer coisa, puxei as minhas chaves da pequena porta escondida num canto da quadra a céu aberto. Nós saímos da escola e, no momento em que pensávamos que iriamos seguir caminhos diferentes para as nossas respectivas casas, Jéssica me parou e perguntou se eu poderia acompanhá-la até sua casa. "Vai ser um longo dia", respondi. Ela me prometeu contar tudo o que estava rolando e eu aceitei, por mais que nós nos sentíssemos tão distantes uma da outra. Eu estendi a minha mão para o passado, e nós seguimos para casa juntas. Os velhos tempos são um bom remédio.

Na entrada da escola, antes de irmos, vi o que parecia ser o carro do irmão da Sofia, que vinha carregando a própria e Daniel. Havia outro carro, negro, mas ninguém saía dali. Pensei em ir falar com os dois, mas eu poderia ser vista, tecnicamente, fugindo. Nos vemos depois, Dan.

* * * * *

Eu deixei o copo de vodca de lado. O gosto é bom, mas a culpa de ter mentido para o barman sobre a minha idade dava a impressão de que aquele copinho médio seria a porta na minha vida para uma perdição sem precedentes que levaria a mesma à ruína. Calma, garota, é só um copo. Eu chequei a hora no meu celular: 21h20m e +99 mensagens não respondidas de Sofia, que eu continuaria a ignorar. Eu encarei o copo, novamente. Jéssica saiu por um instante para resolver algumas coisas com um dos "amigos" dela, e a música estava tão ruim... tão ruim, talvez, quanto fora o dia de hoje.

Eu dormi na casa de Jéssica, mesmo com a leve suspeita de que o meu corpo poderia ser abusado enquanto sonho – ela é tão lésbica quanto eu –, mas não consegui achar nem meios ou vontade de ir para casa e continuei lá, durante toda a tarde que se seguiu. Nós comemos, bebemos, conversamos e foi assim que eu soube do diploma falso de psicologia de Victor. Até que, enfim, às sete, resolvemos desestressar na balada. Eu precisava, alguma coisa nas palavras de Jéssica me incomodava.

Mais falso que o diploma e talvez tão fracassado quando a carreira de química que o meu querido tutor resolveu levar antes de ficar em quase último no vestibular...

– Ele nem tentou, a própria mãe dele disse quando ela estava de visita na escola, no meio do horário da minha consulta, o Victor estava atrasado. - Jéssica comentou enquanto comíamos Doritos na varanda, - Quando ela não conseguiu convencê-lo, aparentemente resolveu denunciar para a polícia, mas ele estava envolvido com uma espécie de máfia, sei-lá, e ela ficou longe dele até descobrir que ele trabalhava na escola. A velha me fez prometer que eu não contasse nada para ele, pois ela queria fazer as pazes.

...e seguir na vida da falsificação eram, respectivamente, a voz forçada e a tentativa do garoto que sentou ao meu lado de dar em cima de mim. Eis que a heroína Jéssica surge, com o sotaque mais rouco e masculino possível:

– Garoto, nós não estamos afim de um threesome não! - dava para ver ela segurando o riso, mordendo a parte de trás do lado esquerdo do lábio inferior – XISPAAA!

Eu ri, enquanto o abiscoitado saía, constrangido.

– Foi ótimo, nós não encenávamos assim desde a quarta série!

Deveria ser o efeito da bebida, mas eu estava tão exaltada quanto qualquer garota popular de colegial. Jéssica colocou uma das bebidas que segurava em cada uma das mãos na mesa.

Ela me ofereceu,

eu aceitei.

Talvez a primeira regra em uma festa, balada, ou qualquer evento envolvendo adolescentes fosse simplesmente não aceitar a bebida de fontes desconhecidas. Mas eu conhecia Jéssica, que mal ela faria? Eu tomei o primeiro gole e, apesar de ter um leve gosto azedo de antibiótico, ela estava surpreendentemente boa.

Eu parei e, antes que eu perguntasse para Jéssica que bebida seria esta, um arrepio atravessou todo o meu corpo. A música turbulenta que tocava antes havia parado, dando lugar para um silencio arrebatador. Eu conhecia aquele silêncio, aquelas notas iniciais distorcidas. Bebi outro gole e olhei para Jéssica. Um arrepio mais forte ainda me invadiu.

Antes do violino, eu já estava pronta para atravessar o espaço. Era Space Oddity, do David Bowie.

Ground control to Major Tom

Ground control to Major Tom

Take your protein pills and put your helmet on.

9. Minha cabeça estava leve demais, livre, quando eu olhei para trás e vi Jéssica pela ultima vez antes de atravessar a multidão de pessoas.

8. Ela estava branca de tão pasma, alguma coisa estava acontecendo, mas eu não conseguia pensar direito.

7. Eu já estava presa no meio da multidão de pessoas.

6. Todas as pessoas para quem eu olhava e passava estavam presas numa espécie de marasmo, ou eu mesma estava.

5. Nada conseguia me tocar, então eu estava finalmente no centro da pista e todos estavam afastados de mim.

4. Eu não conseguia pensar, mas o ritmo me acompanhava, como um único instinto, uma única parede para apalpar no escuro.

3. Não havia outras pessoas, eu comecei a crer. Como poderia haver alguém, próximo a mim, no vácuo do universo?

2. Eu tenho uma missão, mas não acho a porta. Eu preciso, preciso...

1. O copo caiu da minha mão, eu caí também.

Liftoff.

* * * * *

O céu é azul, mais azul que o veludo. Minha convulsão, mais dolorosa que a minha mente. E virei o rosto para o lado e Jéssica estava lá. Ela estava chorando, tão convulsiva quanto eu. Senti enfiarem uma agulha no meu braço, não vi o que era. Então parei de tremer.

– On... onde estamos? - eu murmurei.

– Me desculpe! ME DESCULPE!– eu não entendi o porquê daquilo. Foi quando o quarto tremeu que eu entendi que, na verdade, estávamos numa ambulância. - Lana, eu não... era pra mim!

Ignorei-a e olhei ao redor. Minha mão apertava forte o que eu descobri ser uma maca hospitalar. Deu para ver o uniforme de um policial a minha esquerda, antes que eu dormisse novamente.

* * * * *

Eu passei um dia no hospital, para a desintoxicação. Por todo o caminho até o meu apartamento eu não olhei nos olhos de Jéssica. Um enfermeiro, chamado Augusto, seguia conosco. Victor não esteve comigo em nenhum momento e ela aparentemente sabia o porquê.

Segundo as minhas contas, hoje é o dia do enterro do bendito Aurélio, como eu me esqueci da morte o diabo?

Na porta do apartamento, eu corri em direção ao meu quarto, como quando eu tinha nove anos. Tranquei a porta, caso a minha homicida culposa quisesse entrar. Eu fui para o banheiro. Preciso da água. Eu não consigo ver as lágrimas debaixo d'água. Não preciso respirar.

Eu me olhei no espelho, de relance. Cada olheira, o olhar fatigado, a aparência irreconhecível, se deviam apenas à ela; não Jéssica, mas à sombra que se apossou tanto de mim quanto dela. Não fosse o estado degenerativo, a loucura excedente em sua mente, Jéssica não teria tentado se matar. O único copo, que quase me levou a overdose, era para ela, não para mim. Ela me queria como testemunha e último contato. O enfermeiro não veio por mim, mas por ela.

Eu dei dois passos em direção a banheira e tropecei. A queda foi lenta, e o mundo girou, novamente, mesmo eu estando completamente sóbria.

No chão, o cheiro metálico do sangue se espalhou e eu gritei por ajuda quando vi ele saindo de um corte no meu pé. Eu me arrastei até a porta do quarto e destranquei a porta. O rastro de sangue que eu deixei para trás era espesso e aguado. Augusto me pegou pelos braços e deu para ouvir o seu "Graças a Deus" por não ter sido suicídio, a não ser que eu fosse burra o bastante para cortar o pé ao invés do pulso.


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Notas finais do capítulo

Ufa! Foi longo, viu! Deu para suprimir as semanas (maybe meses) sem ele?
Comente à vontade o que você gostou e não gostou no capítulo, eu aprecio muito a sua opinião.
Eu gostaria de me alongar aqui sobre alguns detalhes do capitulo, como o porquê dessa aproximação com o mundo da Lana ou talvez sobre as intenções sobre a Jéssica, que eu omiti um pouco para não ficar tão longo, mas isso tudo aqui já está tão grande e talvez esses detalhes nem sirvam muito para a trama principal. Talvez fique para a próxima (ou para os comentários, se quiserem :p)

— T. D. S. Domício