Fabulosa Inconsistência escrita por Something Ville Citizen, Hope


Capítulo 9
R: Free Fall


Notas iniciais do capítulo

Esqueci de postar ontem, me mata! ahuahauhauauh mas, pelo menos, aqui estou. Esse capítulo é a exata continuação do sexto (So now you're dead). Acho que as linhas temporais dessa fic estão ficando meio confusas, perdão XD
Allons-y!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/645511/chapter/9

* Daniel’s POV *

“Infelizmente, seu pai também foi encontrado morto.”

Morto. Simples assim. A palavra ecoou na minha mente por alguns segundos, até que se perdesse no corredor imaginário da dúvida. Como eu ficaria de luto por ele? Como reagir? No fundo, eu já cogitava a possibilidade que agora se mostrara real, mas, ao mesmo tempo, eu senti como se uma calota polar tivesse despencado sobre a minha cabeça e derretido, congelante, ao longo do meu corpo. Ah, queria eu que uma geleira realmente tivesse caído em cima de mim agora. O impacto me livraria da realidade...

– Dan? – Malu murmurou, ainda abraçada comigo, me tirando do transe. O sinal para a entrada nas aulas finalmente tocara. – Você... bem, você tem o direito de voltar pra casa, eu faria isso no seu lugar. Quer passar comigo na secretaria?

– Casa? Que casa? – respondi, olhando desolado para o chão, paredes, qualquer coisa além dos olhos dela. – Porra. Eu acho que vou sair sim, mas... só pra não ter que encarar essas criaturas da sala, porque literalmente não sei onde ficar. – fiz o favor irritante de repetir “ficar” sete vezes ao final, mas ela não se importou.

– Olha, você sabe que a minha está sempre aberta pra você, não sabe? – ela me soltou e sorriu fracamente. – Eu ainda vou ficar por aqui por causa da aula de Inglês, mas você pode ir direto pra casa. É só chamar e a minha mãe atende. Vamos subir ali rapidinho.

Concordei e fomos até a secretaria. Os alunos já tinham se dispersado e ido para suas respectivas salas, então foi um caminho relativamente tranquilo, a não ser pelos pêsames que recebi até chegar lá. Fiz o “check-out” e voltei pelo corredor.

– Malu, avisa a Sofia que fui embora, okay?

– Certinho. Também te passo o assunto quando chegar em casa.

– Muito obrigado por tudo, sério. Até logo – sorri, meio melancolicamente, mas com sinceridade, a beijei na bochecha e saí enquanto ela seguia para a sala.

Na metade do caminho, enquanto passava pela quadra, simplesmente pensei – certo, me livrei da massa de interação social que é a minha turma, mas como vou lidar com isso sozinho? Que escolha inteligente, Daniel. Mas talvez a minha vida se resuma a isso: não conseguir socializar nem ficar sozinho. Ter de aguentar a mim mesmo gaguejando, ou ter de aguentar os meus pensamentos.

– Ei, Dan – reconheci imediatamente essa voz, vinda direto do pátio. Era Josué, nosso professor de História, com quem eu já tive uma relação bem mais íntima do que parecemos ter hoje em dia, mas, pelo menos, resultou em amizade novamente.

A figura estava sentada debaixo do pé de castanhola, em todo o seu glamour. É, glamour é a palavra quando se reúnem cabelos longos, pele morena e um pouco de gloss nos lábios, levando em conta que o ser humano é um professor de história de 24 anos. Acenei de volta e fui até ele, sentando-me ao seu lado.

– Jovem, fiquei sabendo do que aconteceu, mas não vou dizer que sinto muito, já devem ter dito isso pra você o dia inteiro. Vou dizer que... independentemente do que saia dessa investigação, eu sei que você é tão incapaz de matar alguém quanto eu sou de quebrar um CD da Halsey.

– Pera... investigação? – olha o que a falta de dois minutos assistindo TV causa numa pessoa. – Além de tudo eu sou suspeito, agora? Isso é simplesmente fantástico.

– Não especificamente suspeito, mas você foi o único na cena do crime e a polícia já sabe disso. No máximo vão te chamar pra depor na delegacia. Relaxe. – ele concluiu, me dando dois tapinhas no ombro. – Mas pode ter certeza, os alienados da Universal não vão querer acreditar que o dicionário se matou.

– Ah, ótimo. É assim que se tranquiliza alguém que quase presenciou um assassinato, um suicídio e ainda levou um tiro de raspão de brinde – ataquei com sarcasmo, apontando para o meu curativo no pescoço.

– Não precisa agradecer, sei que foi uma performance incrível da minha parte. – ele entrou na onda, sorrindo e jogando o cabelo pro lado. – Mas, só pra constar, eu não vou desistir de ser o teu psicólogo. Estou aqui sempre que der merda. – ele declarou, e eu sabia que era verdade.

– E eu não vou parar de te encher o saco, não se preocupe. – sorri, encostando-me nele de lado e recebendo um abraço desajeitado em troca.

Do nada, simplesmente dois policiais brotam pela entrada da escola e começam a vir em nossa direção.

– Perfeito, chegaram na hora certa. Certa. Certa... – não me aguentei e dei um tapa na minha própria cara, atingindo ainda um corte provocado ontem, durante o acidente. – AAAI!

– Hm... Daniel Costa? – disse um deles, visivelmente desconcertado pela cena que acabara de presenciar.

– Eu mesmo, senhor.

– Você foi intimado a comparecer hoje à delegacia – o mesmo anunciou, estendendo o papel da intimação para mim. O peguei e comecei a ler. Era uma intimação para esclarecimento (o que significa prestar depoimento, creio eu) marcada para as 15h de hoje.

– ... eu gostaria de ir agora mesmo. É possível? – essa é claramente uma tentativa minha de evitar o sofrimento por antecipação: me jogar sem nem planejar o que dizer na hora.

– Ah... – os dois olharam um para o outro e confirmaram. – É possível, sim. Por favor, nos acompanhe.

Dei de ombros, pensei no fato de eles precisarem do meu depoimento e, automaticamente, me imaginei escrevendo no Orkut: “Cara delegada que mal conheço, mas já considero pakas...”. Levantei-me do chão, sacudindo a poeira na parte traseira da calça e acenei para Josué, que se despediu com uma piscadela.

Estacionado em frente à escola estava um carro preto que nem sequer placa tinha, e logo ao lado da viatura. Pergunto-me se os policiais não tinham percebido isso...

* * * * *

Foi até um pouco melhor do que eu pensei – a delegada era razoavelmente simpática. Eu gaguejei, suei frio, mas consegui relatar tudo com riqueza de detalhes. Passeei pelos fatos, desde a minha chegada em casa à noite – casualmente omitindo a batida de Lamborghini num poste de onde eu havia saído –, seguida da chegada do meu pai e sua amante (ainda acrescentando que eles tinham esse relacionamento desde o tempo em que ele era casado).

Descrevi a discussão, e, logo, minha saída para a avenida. Uma câmera de segurança a 5 metros da entrada de casa comprovava tudo isso, apesar da péssima iluminação da rua. Depois um vulto alto, que, no caso, era eu, aparecia entrando, às 21h21m, um tanto quanto hesitante, e ficava dentro da casa até as 21h34m. Depois, ao sair, aparentemente olhava para os lados e disparava correndo até desaparecer de vista.

A parte mais importante era: qual a minha versão, como única testemunha, sobre o que aconteceu lá dentro durante esse intervalo de 13 minutos? Aurélio matara a mulher, isso eu tinha visto. Eu levara um tiro de raspão enquanto discutíamos novamente e tinha a ferida sob o curativo para provar isso. Durante a “fuga”, eu ouvira mais um, que significava que ele havia se suicidado, obviamente. Os detalhes colhidos pela perícia, como a posição em que os tiros foram dados e digitais na arma, tudo comprovava isso.

Ao chegar à casa da Malu, pude finalmente ter algum contato com a internet (santo wi-fi roubado). Meu celular estava desligado desde ontem, jogado no fundo da minha mochila e, ao voltar à vida, virou um caos de notificações e mensagens de todos os tipos. Até as minhas tias lembraram-se de mim.

Em suma, vi que os noticiários estavam atualizando a população sobre o andamento da investigação, mas ainda sem economizar nas manchetes sensacionalistas e dando ênfase na dúvida sobre o que realmente acontecera, em algumas fontes. É como se existisse uma guerra ideológica até dentro das redações dos jornais, e eu conseguia imaginar as pessoas que trabalhavam nelas se dividindo em dois grupos: o grupo dos que se levavam pelas evidências reveladas pela polícia, e o grupo de quem, por alguma influência religiosa, talvez, escolhia acreditar que havia mais por trás daquilo. Acreditar que aquele pastor neopentecostal, super conservador, não poderia ter uma amante, e ainda ser capaz de matá-la e suicidar-se depois.

De alguma forma eu era um suspeito, e esse grupo de mente fechada viria atrás de mim; a Lei estava ao meu lado, mas quem disse que isso me traria paz?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

#partiuguerra -q
Genteney, perceberam o personagem novo? Então, eu comecei a trabalhar numa fic nova que é uma espécie de spin-off disso aqui, e se passa um ano antes. Nela, os protagonistas são o próprio Josué e um boy chamado Eduardo, unidos por uma colônia de férias. Daí a turma do Daniel está lá e o responsável é o Josué e tals. É um complemento interessante, mas o foco da coisa é yaoi, então... se curte, se joga: https://fanfiction.com.br/historia/670858/You_Me_in_the_Woods/
Desculpa a propaganda ahuahauhauha
Ainda não comecei o próximo capítulo, mas acho que consigo postar na sexta que vem. Haja treta. Espero vocês aqui, até lá :3