Questão de Química escrita por DrixySB


Capítulo 3
Capítulo 3: O Primeiro Beijo




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A sensação era estranha. Agradável, porém estranha.

Eles se conheciam há séculos, é verdade. Possivelmente sabiam mais um do outro do que de si mesmos.

Em alguns momentos, era inevitável que acabassem enveredando por tópicos científicos, esquecendo-se que tratava de um encontro pessoal. Mas já era tão comum conversarem recorrendo à ciência que eles demoravam a notar o que estavam fazendo. E quando percebiam, baixavam o olhar, um tanto sem graça, finalmente se lembrando do propósito daquele jantar e deixando de lado os elementos da tabela periódica.

Era estranho, mas era como se estivessem saindo juntos pela primeira vez.

Quando não esbarravam em alguma questão relativa à física quântica, eles permitiam se abrir um com o outro. Fitz falou, pela primeira vez, mais abertamente acerca do casamento de sua mãe, de como era sua relação com o padrasto e como as coisas pareciam mais estáveis agora que sua mãe havia finalmente conhecido alguém e não se sentia mais tão sozinha. Jemma falou de sua família também. Mas a situação era bem mais simples. O único dilema em casa era o fato de seus pais serem superprotetores, de modo que ela tinha de manter em sigilo sua real função na S.H.I.E.L.D. Para eles, ela apenas executava sua tarefa como bioquímica. Mas não faziam ideia de que ela estava em constante risco.

– E se algo acontecesse, o que felizmente não aconteceu... Mas se um infortúnio tivesse ocorrido daquela vez em que você se jogou do avião? Ou quando estávamos no fundo do oceano...?

Eles nunca falavam a respeito do que aconteceu no fundo do oceano. Sequer faziam alguma referência discreta ao assunto. Mas ele havia ficado curioso e preocupado acerca de seus pais não terem conhecimento algum de que ela corria perigo no cargo em que exercia.

Simmons respirou fundo, olhando para um ponto qualquer na mesa, evitando fitá-lo à menção daquele tópico.

– Diriam que foi algum acidente... algo inesperado.

– Não seria justo com eles, não é?

– Não, mas eu não posso revelar o que realmente sou, você sabe. Perderia o propósito...

Ele estava ciente disso. Sua mãe também não entendia muito bem o que ele fazia. E provavelmente enfartaria se soubesse.

Depois disso, preferiram tratar de amenidades. Falaram sobre a gastronomia do local. Sobre suas manias e preferências. Falaram sobre o tempo...

Uma fina e constante garoa caía naquela noite. Mas eles não se importaram em caminhar pela rua depois do jantar. Estavam protegidos do frio, afinal, dentro de seus pesados e aconchegantes sobretudos.

Coulson havia dado uma folga para toda a equipe. E o que eles faziam com seu tempo livre não era de interesse dele. Porém, defendia a ideia de que colegas de trabalho não deveriam se envolver romanticamente. Já bastava a inevitável afeição que surgia entre eles por trabalharem diariamente juntos, algo impossível de conter ou refrear. Mas formar um casal era perigoso, um passo muito além do que deveria ser permitido. Isso os tornava pouco objetivos; muito mais passionais do que racionais, o que poderia comprometer as missões. De qualquer forma, não havia lei que os proibisse. Era uma regra, dizia-se rígida, mas regras foram feitas para serem descumpridas e, eventualmente, quebradas. Coulson apenas os alertava. Se eles seguiriam seus conselhos ou não, era problema deles.

Fitz não estava mais disposto a seguir aquele conselho. Não tinha certeza, contudo, se Simmons pensava como ele ou se obedeceria Coulson.

Ele não tinha dúvida acerca dos próprios sentimentos. Sempre soube que não era recíproco da parte de Jemma, pois ela deixava claro que o via apenas como um amigo. Porém, estava agindo diferente de uns tempos para cá. Sequer passou pela sua cabeça que ela começara a agir assim desde o incidente com o aparelho que permitia ver o futuro. Como ela disse que não se lembrava do que havia sonhado, ele descartou completamente aquele episódio da memória. Mas ainda não compreendia inteiramente os propósitos dela com aquele encontro. De modo que a olhava de soslaio de vez em quando, como se tentasse ler seu rosto a fim de identificar o que estava pensando só de fazer uma breve análise de sua expressão.

Hesitante, Simmons devolveu seu olhar, deixando-o sem jeito.

Eles já haviam relembrado histórias da época da Academia e partilhado inúmeras risadas naquela noite. E adiaram o quanto puderam o momento de ter uma conversa realmente franca. Mas, aparentemente, não havia mais como adiar.

– Jemma, espero não arruinar a noite com o que vou dizer agora...

O rosto dela se contorceu em um esgar de contrariedade.

– Já não gostei de como isso começou...

– Eu só preciso saber... Por que de repente me convidou para jantar?

Ela fitou o horizonte com os olhos vazios, sem saber como lhe responder. Respirou profundamente e procurou ser prudente em sua escolha de palavras.

– Tenho pensado muito sobre nós dois...

Nós dois. Ambos gostaram da forma como aquilo soou, mas procuraram não demonstrar.

Finalmente ela o olhou nos olhos. Nenhum deles desviou o rosto. Precisavam se encarar, bem de frente, desta vez. Com passos relutantes, ela cobriu a pouca distância que havia entre eles.

– Fitz - ela começou com o tom de voz mais firme e resoluto que conseguiu - Por muito tempo eu não consegui vê-lo como mais do que um amigo.

Ele quis abaixar a cabeça, mas resistiu. Tinha a sensação de que ela vacilaria se ele afastasse o olhar do dela.

– Não conseguia pensar em você de outra forma. Mas... - ela engoliu em seco, tomando coragem. Precisava dizer agora - eu penso todos os dias naquilo que me disse no fundo do oceano.

O assunto espinhoso. O tópico que eles tinham evitado e relutado em discutir por mais de um ano. O elefante que sempre esteve presente na sala de estar.

Fitz expulsou violentamente o ar para fora de seus pulmões, como se aquilo lhe causasse alguma espécie de dor física.

– O que eu disse no fundo do oceano...

– Sim - ela o cortou - eu sei como você se sente. Ou pelo menos se sentia em relação a mim...

– Eu ainda sinto, Jemma - falou com rapidez e convicção. Sua expressão indistinta.

Um segundo de silêncio se abateu sobre eles. Ambos sabiam, em seu íntimo, que se tratava de um momento decisivo.

– Eu sinto o mesmo - ela lhe assegurou finalmente. Os olhos de Fitz se estreitaram e ela se viu confusa. Não esperava aquela reação dele. Esperava ver um novo brilho se acendendo em seu rosto...

– Está falando sério? - ele indagou, ainda inseguro dos sentimentos dela.

– Sim, Fitz - ela respondeu com seu tom de voz mais gentil.

– É só que eu... Huh! eu... - ele fez esforço para não gaguejar, mas não estava sendo bem-sucedido em sua tarefa - eu estou surpreso... Sempre achei que você não sentia por mim o que eu... - ele agitava as mãos, gesticulando de maneira ansiosa e impaciente.

– Eu demorei a perceber... ou talvez tive receio de admitir para mim mesma. Mas agora... eu tenho certeza.

Ele sorriu negligentemente mais para si mesmo do que para ela. Ainda não conseguia crer no que havia acabado de ouvir.

– Isso muda tudo...

– Com certeza - agora ela afastara o olhar, quebrando seu intenso contato visual. Fitz lamentou por isso, então ergueu a mão para lhe tocar o rosto. O fez involuntariamente, contudo; sem consciência de seu ato, como se sua mão tivesse adquirido vontade própria. Só atentou para o que estava fazendo quando Jemma voltou a lhe encarar nos olhos, surpresa com o gesto. O toque dele era suave como uma pluma.

Durante um longo segundo, ela permaneceu imóvel, paralisada. Como se qualquer movimento fosse arruinar aquele instante. Ele compreendeu errado, no entanto. Talvez porque a expressão dela não dava nenhum indício, nem uma singela pista, do que estava realmente pensando e sentindo. Quando ele intencionou afastar a mão, ela segurou seu pulso, de maneira gentil, mas firme. A mensagem silenciosa de que era assim que as coisas deveriam ser.

Como se pudessem se comunicar telepaticamente, desta vez ele entendeu e se aproximou ainda mais, levando sua outra mão à nuca dela. Simmons estremeceu levemente com aquele novo toque e tudo o que houve depois não poderia ser melhor se houvesse sido planejado. Nem mesmo suas melhores expectativas foram capazes de antecipar. Fitz, que havia idealizado tanto aquele momento, acabara de constatar que a realidade era infinitamente superior a qualquer sonho que tivera. Seus lábios se tocaram levemente a princípio, mas não demorou muito para que evoluísse para um beijo intenso. Era terno, porém apaixonado. Havia uma tênue linha entre o puro e o ardente. Entre a expressão de um sentimento genuíno e o indelével arrebatamento que tomava conta de seus seres por inteiro. Era a plena constatação de que queriam um ao outro, de que era mútua a necessidade que sentiam de estarem próximos, juntos, no mesmo compasso.

Era como estavam agora. Em sincronia. Eles envolveram um ao outro em seus braços, apreciando o calor que seus corpos emanavam. O beijo prosseguiu em um ritmo cadenciado, tal qual o da batida de seus corações.


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Notas finais do capítulo

Um capítulo mais curto, mas extremamente fofo. Um dos que eu mais gostei de escrever :)



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