Questão de Química escrita por DrixySB


Capítulo 2
Capítulo 2: O Terceiro Elemento




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– Eu gosto de ler bobagens – disse Skye, procurando chamar a atenção da amiga que estava estranhamente desconcentrada naquela manhã – às vezes é melhor ler new adult do que Philip K. Lovecraft ou H.P. Dick - ela virou mais uma página de Toda Sua.

Simmons, que até então estava com o olhar fixado em um ponto qualquer no chão, virou o rosto bruscamente na direção de Skye.

– É ao contrário.

– O que é ao contrário? – indagou Skye genuinamente confusa.

– É Philip K. Dick e H.P. Lovecraft – Corrigiu.

– Ah, eu já sabia – ela agitou as mãos no ar – só estava testando você.

– Sabia mesmo? – Simmons achava difícil de acreditar.

– Sim. É que você parece tão avoada hoje. A despeito de estarmos dentro de um avião, claro... Aconteceu alguma coisa?

Simmons suspirou.

– Não... não aconteceu nada.

– Nem tente me enganar. Você não é assim. É agitada, falante, inquieta... – Skye arregalou os olhos de repente, como se estivesse em choque – não me diga que está com dificuldades em resolver alguma equação algébrica?

A outra revirou os olhos.

– O dia em que alguma equação algébrica tirar meu sono, pode ter certeza de que estamos presos em uma realidade alternativa.

– Ok! - ela agitou uma mão no ar, como se espantasse um irritante inseto voador – esqueci que você e Fitz já tinham doutorado desde o berçário.

À menção da palavra berçário, Simmons sentiu um incômodo nó na garganta e seu estômago pareceu se contorcer.

– Isso é impossível – Ela revirou os olhos.

– Alô, Jemma Simmons! É só uma brincadeira. Mas que eu acho que vocês dois já nasceram com um diploma de bacharel, isso eu acho mesmo. E ninguém consegue me convencer do contrário.

Um sorriso discreto crispou os cantos dos lábios de Simmons.

– Então me diga o que está tirando seu sono?

Não havia como driblar Skye. Ela a pressionaria até que dissesse o que a estava incomodando. E Simmons não era a melhor em disfarçar seus sentimentos. De forma que qualquer um poderia perceber que havia algo de errado com ela.

Deu outro suspiro, frustrada, antes de falar.

– Você sabia que Fitz criou um aparelho que nos permite ver o futuro?

– Fala sério! – Skye riu, totalmente incrédula – eu sei que vocês dois são brilhantes. Mas máquinas que viajam no tempo é muita viagem.

– Olha a redundância!

– Nah, pare de me corrigir e me conte a verdade.

– Estou te contando a verdade. Ele não lhe falou nada a respeito de viagens no tempo recentemente?

– Bem... na verdade, ele parecia obcecado com essa ideia quando falei com ele alguns dias atrás. Mas não imaginei que estivesse projetando um DeLorean.

– Não é um DeLorean. Na verdade, é um aparelho bem pequeno que você coloca na cabeça...

– Espera, você tá falando sério mesmo? Você viu o aparelho?

– Não apenas vi... como vivenciei a experiência...

Se Skye tivesse levado o copo com água à boca, que era a sua intenção antes da última sentença de Jemma, teria se engasgado. Mas como algum desses pequenos e inexplicáveis milagres cotidianos interveio, ela apenas arregalou os olhos e escancarou a boca.

– Como assim? Você viu mesmo o futuro? Como era? Você me viu no seu futuro?

– Calma - disse Jemma colocando as mãos à frente do corpo - uma pergunta de cada vez, pois eu já estou suficientemente perturbada pelo que vi.

– Perturbada? É tão ruim assim?

– Não - Simmons se apressou em dizer - não necessariamente. Eu quis dizer perturbada porque não sei exatamente o que fazer com essa informação... é uma loucura ver o futuro. Como disse o Doc em De Volta Para o Futuro, ninguém deve saber muito sobre o próprio destino.

– Acredita em destino?

– Não sei... tenho pensado nisso ultimamente, questionado e confrontado minhas próprias convicções...

– Jemma Simmons, cientista, crendo em destino? Estamos mesmo em uma realidade paralela...

– Olha, não é bem assim, Skye. Eu acredito que podemos escolher nosso próprio destino.

– Então, seja lá o que você tenha visto, você pode fazer algo para mudar esse destino se tá te perturbando tanto.

Simmons a fitou, em silêncio, por alguns segundos. Seus olhos denunciavam a confusão em que estava envolta.

– ... Ou não?

– Eu não acho que queira mudar algo do que vi... e é isso que está me tirando o sono.

– Gostou do que viu? - indagou Skye em um tom conspiratório.

– Acho que sim... Mas me deixou... Eu não sei explicar, me deixou confusa.

– Me conte!

Simmons revirou os olhos, ao mesmo tempo em que suas bochechas se tingiam de um tímido tom de vermelho.

– Eu não sei se quero compartilhar isso...

– Qual é? Somos amigas, Jemma! Eu te diria... - Skye deu um sorriso ardiloso - e pela cor que seu rosto ficou, o negócio deve ser bom mesmo.

Simmons enrubesceu ainda mais.

– É melhor colaborar comigo, Jemma! Eu não vou te deixar em paz enquanto não souber o que você viu no seu futuro.

Simmons suspirou, derrotada. Era inútil lutar contra Skye.

– Está bem - ela pensou por um momento antes de falar, como se estivesse reunindo forças e procurando as palavras certas - vou ser mãe de um casal de gêmeos.

Skye abriu um amplo sorriso, surpresa.

– Whoa! Gêmeos fofos e apertáveis?

– Eu os vi já pré-adolescentes.

– Own... idade difícil...

Elas ficaram em silêncio apenas por um instante, no qual Simmons conseguiu identificar um lampejo de malícia e excitação nos olhos de Skye.

– Quem era o pai dos gêmeos?

Simmons sentiu seu coração acelerar.

– Seu marido aparecia no sonho? Preciso saber disso.

– Oh, Skye!

– Não me venha com "Oh, Skye", pensei que isso se limitasse ao Fitz e seus "Oh, Fitz".

Simmons desviou o olhar e inspirou profundamente o ar para seus pulmões, tentando se concentrar para que seu rosto não ficasse ainda mais vermelho. Mas sabia que era uma tentativa em vão.

Não passou despercebido por Skye o instante de silêncio sepulcral em que Simmons mergulhou à menção do nome de Fitz.

– Espera... Quem era o pai dos seus pré-adolescentes gêmeos? Não me diga que um certo engenheiro de cabelos claros e encaracolados...?

Simmons encarou Skye longamente antes de recuperar a própria voz.

– O garoto dos meus sonhos tinha cabelos claros e encaracolados... e o mesmo sorriso de Fitz...

– Ah, eu não acredito! - Skye deu um grito e bateu as mãos.

– Shhhh! Quer que todos ouçam?

– Oh, meu Deus! Eu shippo tanto vocês dois... Não é possível que vocês vão ficar juntos depois de tudo.

Simmons abaixou a cabeça com um sorriso melancólico estampando sua face. Skye a fitou, complacente.

– Você não gosta dessa ideia? De ficar com ele?

– Não é isso... é que eu acho que nunca tinha passado pela minha cabeça. Eu estou tão confusa.

– Claro, eu entendo... - a expressão de Skye mudou repentinamente, de compreensiva para atrevida - Mas quem diria, hein? Gêmeos? Fitz é bom...

– Skye!

– Ok! - Skye colocou as mãos em frente ao corpo, como se clamasse por calma - de qualquer forma, você deveria questionar a precisão dessa máquina.

– Por quê?

– Como esse negócio funciona?

– Ele usou o aparelho em mim enquanto eu dormia.

– Sério?

– Sim. Depois, tive a impressão que sonhei tudo isso...

– E é provável que tenha sido apenas um sonho mesmo.

– Por que diz isso?

– Fitz não tem nenhuma garantia de que você teve mesmo um, digamos, vislumbre do futuro, não? Ele acha que o tal aparelho a transportou para alguns anos mais tarde. Mas não tem certeza, certo?

Simmons não quis lhe contar a respeito de Coulson e May, como Fitz havia lhe revelado mais cedo.

– Não...

– Então pode ter sido apenas um sonho... e talvez um desejo muito secreto, não? - novamente aquela expressão maliciosa estava lá.

– Ora, Skye...

– De qualquer forma, não é impossível, mas bastante difícil de acontecer... Quero dizer, Fitz nunca teve sequer um encontro na vida.

Simmons não soube o que falar. Mas começara a ficar desconfortável com aquela conversa.

– E, você sabe, ele é... bem...

– O quê?

Skye fez uma longa e reflexiva pausa antes de prosseguir. Era como se estivesse escolhendo as palavras certas.

– Fitz é virgem!

Simmons arregalou os olhos e entreabriu a boca. Não estava esperando por essa.

– Como?

– Ah, Jemma! por favor... Como se você não soubesse. É tão óbvio.

Simmons levantou-se, perplexa.

– Está me dizendo que isso nunca, nunquinha, passou pela sua cabeça? Mesmo, mesmo?

– Eu nunca parei pra pensar em Fitz desse modo, tendo um relacionamento...

– Uma relação sexual, você quer dizer - completou Skye.

– Que seja - disse Jemma, ruborizando, sem conseguir evitar - nunca liguei esses termos ao Fitz. Ele é tão...

– Nerd? antissocial? assexuado? todas as alternativas anteriores?

– Definitivamente não. Ele é romântico... do jeito dele.

– Ok! Não sei se essa conversa é apenas uma desculpa para você me revelar seus reais sentimentos por Fitz.

– Não é...

– Ou se você ficou balançada com esse sonho, essa viagem no tempo, o que quer que tenha sido...

– Não fiquei... - ela fez uma súbita pausa - Ou fiquei?

Skye sorriu, compreensiva, para sua amiga.

– Se quer sair com Fitz... por que simplesmente não diz isso a ele?

– Eu não sei se quero... Nem sei o que, de fato, sinto por ele.

– Não sabia, não é? Talvez agora você saiba.

Skye piscou de modo sagaz. Simmons revirou os olhos, mas um sorriso brotou inevitavelmente em seu rosto.

Talvez Skye estivesse certa.

Por mais incrível que pudesse parecer.

* * *

Ela o contemplou demoradamente, sem muita consciência do que estava fazendo.

Coulson havia pedido para que eles analisassem um novo elemento alienígena que haviam encontrado em uma antiga instalação da Hydra. Já estava se tornando rotina.

Pois bem, se deuses provenientes de Asgard; homens poderosos que permaneceram congelados por quase 70 anos; cientistas comuns que se transformavam em furiosas criaturas verdes; e seres aprimorados faziam parte de sua realidade todos os dias, por que viagens temporais não poderiam ser possíveis? De fato, diante de tudo o que ela havia presenciado, se deslocar no tempo não parecia algo, assim, tão incomum.

Fitz moveu a cabeça vagarosamente na direção de Simmons e então franziu o cenho.

– Está tudo bem, Jemma?

– Oh... sim! - ela afastou o olhar do dele e voltou a se preocupar com o elemento alienígena - por que a pergunta?

– Bem... - Fitz parecia temeroso em dizer - segunda vez que te pego me encarando - ele ficou ligeiramente ruborizado, ao mesmo tempo que voltava sua atenção novamente para o trabalho.

Simmons não soube o que responder. Nem ela havia se dado conta de que estava lhe encarando. Estava totalmente imersa em divagações...

– Você ainda está chateada pelo que eu fiz? - os olhos dele se recusavam a encontrar os dela - eu pedi desculpas... não gosto de ficar brigado com você.

Ela não sabia precisar o que golpeou mais seu coração. Se o tom de voz dele ou as palavras que usou. Jemma deu um sorriso tímido.

– Já passou, Fitz. Não estou mais brava. Não se preocupe.

– Ainda bem - ele respondeu, simplesmente.

Ficaram em silêncio durante um minuto ou mais. Um silêncio desconcertante.

– Mas tem alguma coisa errada, não tem? - ele insistiu, ainda sem conseguir fitá-la.

– Não é bem isso...

– Significa que tem algo que quer me dizer, certo? Já passamos dessa fase, Jemma. Pode me dizer o que quiser. Eu vou saber lidar.

Pobre Fitz, ela pensou. Estava tão acostumado com notícias ruins que pensava que ela estava próxima de lhe dar mais uma.

– Não é nada de mais, na verdade - ela começou, ainda sem coragem de prosseguir - é que... bem, eu acho que você...

Agora ele estava olhando para ela, finalmente. E isso fez a pequena dose de coragem que estava reunindo se dispersar e esvair. Ela vacilou por um momento.

– Ah, Fitz... - ela desistiu de olhá-lo nos olhos e respirou fundo - eu estava pensando... Gostaria de ver você feliz.

Ele arqueou as sobrancelhas. Não havia compreendido aonde ela queria chegar.

– Não entendi...

– Sabe, deve ser um tanto triste passar pela vida sem viver determinadas experiências.

Ok, agora que ele não estava entendendo mesmo.

– Hmmm... você pode me explicar aonde quer chegar com tudo isso?

– Oh, Fitz! - ela disse já perdendo a paciência, mas sabia que não era culpa dele.

– Você e os seus oh, Fitz! eu só estou tentando entender... Você ficou estranha a manhã toda e agora me vem com essa...

– Ok, eu vou explicar - ela o cortou, finalmente com coragem para encará-lo. Havia decidido subitamente que fazer rodeios não ajudava em nada - Skye e eu estávamos conversando...

– Sobre...?

– Sobre você! - ela disse de uma vez, antes que sua voz vacilasse novamente.

– Sobre mim? - Fitz pareceu surpreso. Mas não de um modo bom...

– Sim... Que seria legal você ter vida pessoal de vez em quando.

Agora ele parecia repentinamente irritado.

– Espera aí! Vocês duas estavam falando sobre a minha vida pessoal?

– Sobre a falta dela, na verdade.

Ops! Ela percebeu tarde demais que havia sido um erro dizer aquilo.

Fitz olhou para ela de uma forma como nunca havia feito antes. Parecia indignado.

– E qual era o objetivo dessa conversa? - Ele cruzou os braços em frente ao corpo. Era como se estivesse fazendo um esforço enorme para manter o controle.

Simmons inspirou profundamente antes de prosseguir.

– Você não tem nenhum direito de ficar irritado comigo depois do que fez.

– São situações diferentes, Jemma...

– O que você fez foi pior...

– Mas eu não estava me metendo na sua vida.

– Oh! E do que exatamente você chama aquilo?

– Desde quando falamos um do outro pelas costas?

– Ok! - ela colocou as mãos em frente ao corpo, pedindo calma - eu não quero que isso vire uma nova discussão entre nós.

– Já não é mais uma simples discussão, Jemma. Discutimos muito a vida toda. Desde que nos conhecemos. O que está havendo entre nós, agora, são brigas mesmo. Como fomos ficar assim?

Aquilo fora aterrador. Ele estava certo. E era preocupante.

– Tudo bem, me desculpe. Nós não deveríamos ter tocado no assunto. Foi um erro. E eu jamais vou falar disso novamente com Skye. Só diz respeito a você, afinal.

Ela tentou passar por ele a fim de sair do laboratório. Mas ele a segurou pelo braço. Simmons não esperava por isso. De repente, se viu próxima demais dele. Seu coração acelerou.

– Temos trabalho a fazer. Esqueceu? - ele não a encarava, olhou para baixo, mas ela conseguiu perceber como seu rosto estava nublado.

– Não estou com cabeça pra isso agora.

– Então pelo menos me diga o que Skye e você falaram a meu respeito. Tenho o direito de saber.

Foi a vez de Simmons baixar o olhar.

– Se você quer mesmo saber... Skye disse que... Disse...

– Pode parar com as reticências e falar de uma vez?

Ela respirou fundo, outra vez, agora mais irritada do que nervosa.

– Skye disse que você nunca saiu com ninguém.

Fitz a encarou finalmente. Surpreso com aquelas palavras.

– Foi isso mesmo que ela disse?

– Não foi só isso - ela recomeçou, o rosto afogueado - disse mais uma coisa...

Fitz soltou o braço dela e levou as mãos à cintura. Não percebera que ainda estava lhe segurando.

– O quê?

– Disse... que você é virgem.

Ele abriu ligeiramente a boca, mas não disse nada. A expressão de assombro em seu rosto era pública e notória. Fitz não estava crendo no que ouvia.

– Você só pode estar brincando.

Jemma desviou o rosto, constrangida. Não deveria ter dito.

Fitz riu, sem humor, no entanto. Virou as costas para ela por um minuto e começou a andar de um lado para o outro do laboratório, exasperado.

– Fitz...

Ela queria lhe pedir desculpas por invadir sua privacidade daquela forma. Não havia se dado conta, até então, do quão rude aquela conversa com Skye havia sido.

Ele se sentou e levou uma mão ao rosto, massageando as têmporas com o indicador e o polegar.

– Como Skye poderia saber disso? Por acaso está escrito na minha ficha da S.H.I.E.L.D.? Ela hackeou arquivos contendo informações confidenciais?

– Não, Fitz!

– Olha só - ele a cortou, erguendo um dedo em sua direção - se eu souber que vocês duas discutiram minha intimidade novamente...

– Não vai acontecer de novo. Me desculpe! Eu não havia percebido o quanto isso foi ridículo e grosseiro.

Ele a encarou por um momento, então desviou o olhar. Respirou bem fundo antes de tornar a falar.

– Ok... eu te desculpo até porque ficar irritado agora não vai levar a nada mesmo.

Simmons suspirou, aliviada.

– Skye está parcialmente certa, afinal... - disse, levantando-se e seguindo na direção dela, o rosto baixo - eu nunca saí com ninguém... se isso se refere a encontros românticos.

Ele foi se aproximando cada vez mais, mas sem levantar o olhar. Por um instante, ela pensou que ele ia parar na sua frente e olhar para ela. E Simmons teve medo do que poderia encontrar em seus olhos. O sentimento de confiança quebrada estampado em seu rosto, talvez?

Mas ele parou próximo à mesa do laboratório, tornando a analisar o material que Coulson lhes havia trazido.

– Mas está errada quando diz que sou virgem.

Simmons não pode evitar ficar boquiaberta com aquelas palavras. Antes da conversa com Skye, jamais havia pensado nisso. Ou talvez não havia se permitido pensar. Mas, depois, percebera que fazia sentido. Ele era tímido, socialmente inapto, jamais havia visto ele com ninguém além dela mesma. E quando eles saiam juntos (exceto pelas missões da equipe), era para ir a planetários, exposições científicas, museus de ciência, congressos e simpósios. Ele nunca havia falado sobre alguma garota de que gostava, revelado que nutria esse tipo de sentimento por alguém. Aliás, falara disso uma única vez. Quando eles estavam no fundo do oceano...

– Como é?

Fitz desviou a atenção do que estava fazendo e olhou na direção de Simmons. Ela se arrependeu de perguntar.

– Acha inacreditável?

– Não... não é isso... é que eu não sabia que havia tido alguém...

Ele deu de ombros.

– Não foi nada de mais.

– Jura? E por que nunca me falou a respeito.

– Você nunca me falou sobre os babacas com quem você saia durante a Academia. Achei que era uma área que deveríamos manter para nós, em sigilo, a despeito de passarmos o tempo inteiro juntos e sabermos praticamente tudo a respeito um do outro.

– Em primeiro lugar, foram apenas dois encontros que tive. E eles não eram babacas.

– Eram sim...

– Eu não falava sobre eles porque você não gostava deles. Nem de Charlie, nem de Thomas.

– Saiu com o Thomas? Ele era escroto a nível executivo. Eu estava falando do Neil.

– Oh, me esqueci deste. É fácil esquecer. Ele era... esquecível.

Um sorriso sorrateiro brincou nos lábios de Fitz.

– Claro que era.

Na época, Simmons não havia percebido que Fitz, na verdade, sentia ciúmes dela com outros caras. Agora, era mais claro do que água.

– E quem era a garota? - ela não conseguia refrear sua curiosidade. Sabia que estava fazendo um papel patético. Mas ele não pareceu se importar com a pergunta.

– Lembra de Hailee Sherman?

– Ah, sério? - ela revirou os olhos - não pode ter sido com ela. Ela era repulsiva.

– Não foi com ela, Jemma. Também a achava repulsiva...

– Então...?

– A melhor amiga dela, lembra?

– Ah, claro... Qual era mesmo o nome? - ela tentou puxar pela memória, estalando os dedos - Nat... Natalie Barnes.

– Ela mesma.

Simmons estacou de súbito.

– Natalie Barnes? Você saiu com ela?

– Não saí, necessariamente... é uma longa história.

Ela tentou recordar Natalie. Morena, alta, olhos castanhos esverdeados, mais velha do que ele. Do tipo que chamava a atenção de todos à sua volta. Realmente linda. E brilhante. E isso que incomodava. O fato de ser realmente inteligente. Do nível de Fitz. Agora ela queria ouvir essa longa história.

– Você havia saído com Neil naquela noite. E eu fui ao dormitório em que Natalie ficava para lhe devolver o livro que ela havia esquecido, não sei por que cargas d'água, na minha mesa no laboratório de química.

Oh, na noite em que ela havia tido um encontro com o cara esquecível. Ela teve uma péssima noite. E Fitz, uma noite inesperada, pelo visto.

– Quando cheguei lá, ela me convidou pra entrar. Não era minha intenção passar da porta... quer dizer, ela era intimidante.

Era mesmo, Simmons pensou consigo.

– Eu entrei... não sabia como recusar. Na verdade, não iria recusar. Ela era incrível. Não digo por ser fisicamente atraente. Ela era... impressionante em todos os sentidos.

Simmons sentiu um incômodo nó na garganta. Nunca antes, Fitz havia expressado atração por alguém daquela maneira.

– A minha intenção era unicamente devolver o livro pra ela. Mas Natalie disse que estava entediada naquela noite e que nenhum de seus amigos quis sair com ela. Mesmo Hailee havia lhe dispensado. Como ela estava sozinha e queria que eu ficasse, sentasse e conversasse, assim o fiz. Descobri que Nat era fascinada por discutir métodos de energia sustentável. E ficamos falando sobre isso, sobre diferentes possibilidades. Quando eu finalmente decidi sair, pois já estava tarde, ela me puxou de volta, disse para eu ficar, eu não soube o que responder. Então não falei nada. Ela me beijou... foi inesperado, mas eu retribui. De repente, quando dei por mim, estávamos na cama dela e bem... - ele ruborizou levemente - creio que você não quer saber o restante - concluiu, pousando as mãos na cintura e olhando para baixo.

– Oh! - ela se lembrava de ter sentido falta de conversar com Fitz naquela noite. Neil era tão enfadonho, pouco interessante e muito prepotente. Ela bateu na porta do quarto de Fitz, mas ele não atendeu. Então presumiu que ele estava imerso em um sono muito pesado e profundo e foi para o seu quarto.

Mas não era isso...

Na manhã seguinte, ele estava sorrindo. Em excesso. Mas ela não o questionou.

Ficou subitamente impressionada com o quanto se lembrava daquela noite e do dia seguinte, sendo que, na época, não tinha nem uma vaga ideia do que havia acontecido realmente com seu melhor amigo.

– Então você passou aquela noite com ela...? - Jemma concluiu, um tanto contrariada.

– Algumas, na verdade...

Simmons não compreendeu.

– Como?

– Eu voltei lá duas ou três vezes... - disse, encarando o nada com um sorriso leviano - E teve uma vez que ela que veio até mim e... - ele interrompeu a si mesmo quando olhou para Simmons. Identificou um lampejo de ciúmes nos olhos dela que o surpreendeu. Disfarçou o sorriso que ameaçara brotar em seu rosto diante da constatação de que ela também sentia ciúmes dele. Desviou o olhar, abaixando a cabeça - Eu... sinto que não deveria ter dito isso...

Simmons, entendendo de imediato, foi rápida em mudar de expressão, disfarçando o incômodo causado por aquelas revelações. Cruzou os braços em frente ao corpo, se fazendo de indiferente.

– Por quê? Não há nada demais - disse, no melhor tom despreocupado que conseguiu imprimir em sua voz - eu não esperava por isso, mas que ótimo pra você.

Era óbvio que a aparente indiferença dela não o havia convencido. De modo que ele acenou bruscamente com a cabeça, com um sorriso presunçoso.

– É, não é? - o sorriso foi desvanecendo - até hoje não entendo o que ela viu em mim...

Natalie havia dispensado ótimos partidos. Caras bonitos e interessantes que não disfarçavam sua atração por ela. Mas eram donos de belezas padronizadas. E esse não parecia o estilo de Natalie. Ela preferiu um cara tímido, inquieto e fofo.

Não era incomum as garotas preferirem os fofos aos heartthrobs. Os gênios solitários e introspectivos aos atletas extrovertidos e populares.

– Não se subestime - Simmons se apressou em dizer - você tem inúmeras qualidades que conquistam facilmente uma garota.

Seus olhos se focaram abruptamente nela, o cenho franzido. Então, um meio-sorriso formou-se em seus lábios. Ela retribuiu, sorrindo docemente.

– Fitz - ela recomeçou a falar - o que não deu certo?

Ele deu de ombros, casualmente.

– Eu não gostava dela de verdade... Nat era linda, atraente, inteligente. Eu não consegui entender o motivo de não gostar dela. Quer dizer, não da forma como deveria gostar para estar com ela. E eu lhe disse isso. Disse que não queria que se enganasse comigo ou que saísse magoada. Achei que Nat ia dizer que estava tudo bem, que para ela também era somente algo passageiro, uma aventura... mas ela ficou realmente triste.

– Você quem terminou com ela?

– Oh, Jemma! Não use esse tom de quem acha impossível acreditar que um cara como eu terminaria com alguém como ela. Isso fere ainda mais minha autoestima...

– Não é isso, Fitz...

– De qualquer forma, eu não chamaria de terminar. Uma vez que nunca começamos nada efetivamente... Enfim, mesmo assim, eu fiquei mal por ter dito aquilo a ela. Me desculpei, mas Nat disse que não precisava, que entendia e que estava feliz por eu ter sido sincero. Que realmente não havia se enganado comigo. Que eu valia a pena - ele sorriu ao recordar-se, o olhar vago e distante - fiquei feliz em saber que eu valia a pena. Então voltamos a nos tratar de maneira casual, nos cumprimentando apenas e sorrindo um para o outro.

Realmente, Natalie sorria muito para Fitz... Simmons nunca atentou para esse fato. Isto é, nunca percebeu que havia algo por trás daquele supostamente inocente compartilhamento de sorrisos.

– E nunca saiu com ela, de fato?

– Não...

– Também não se sentiu em nenhum momento... sei lá, apaixonado? Ou que poderia se apaixonar?

– Não... E não entendi a razão, sabe? Dispensar alguém legal e que realmente parecia gostar de mim. Mas...

Ele pausou bruscamente. Fechou e abriu a boca várias vezes. Evitou olhar para ela, como se estivesse tomando coragem para falar. Recostou-se à mesa do laboratório, puxou fôlego por entre os dentes e cruzou os braços em frente ao corpo, buscando uma postura rígida, firme e confiante.

– É difícil...

– O que é difícil?

– Só muito tempo depois desse ocorrido que fui entender...

– O quê?

– Que não queria estar com ela... pensando em outra pessoa. Não era justo com uma garota tão maravilhosa - ele olhou para o chão.

– Oh! - Simmons compreendeu, enfim.

Um silêncio constrangedor se abateu sobre eles. Um instante em que ambos evitaram trocar olhares. Por fim, quando um decidiu falar, o outro optou pelo mesmo, de modo que ambos falaram ao mesmo tempo, o que era bem comum quando se tratava deles. Mas, naquele momento, só lhes causou mais desconforto.

Era estranho um se sentir desconfortável na frente do outro. Isso nunca havia acontecido.

Ambos riram, sem jeito e sem se encararem, quando recomeçaram a falar ao mesmo tempo.

– Ok, fala você primeiro - Fitz disse, fazendo um gesto vago com a mão, ainda de cabeça baixa.

Ela respirou fundo antes de falar.

– Bem... - seus olhos iam de um canto ao outro, mas não focavam de maneira nenhuma em Fitz - você nunca saiu com ninguém, certo?

– Não - ele respondeu simplesmente. Seu rosto impassível, imutável.

– Sairia comigo?

– Eu sempre saio com você... - Fitz falou de maneira ingênua, sem compreender que se tratava de um convite.

Simmons revirou os olhos.

– Não dessa maneira...

– Oh! - ele foi pego de surpresa - Você quer dizer... um encontro? Com você?

– Não use esse tom de quem acha impossível que eu esteja te convidando - ela o parafraseou, rolando os olhos.

– Não é isso. É só que... bem, foi inesperado - ele coçou ligeiramente a nuca, antes de tornar o olhar para ela. Finalmente seus olhos se encontraram e eles permaneceram em silêncio por um longo momento.

– E então...? - ela indagou

– Ah, é... Esqueci de responder - ele riu timidamente e só então respondeu, com certa simplicidade - sim.

Sorriram ternamente um para o outro, felizes por estarem dando aquele passo, finalmente.

– Só me diga que seremos apenas nós dois e o terceiro elemento não vai.

Terceiro elemento? - Jemma indagou, confusa.

– Skye...

– Ah, não! Claro que não - Ela deu uma risada sonora - apenas nós dois.


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