See The Light escrita por Junebug


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Capítulo de natal para aquecer os corações... :3



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If the lights draw you in

Se as luzes o atraem

And the dark can take you down

E o escuro pode derrubá-lo

Then love can mend your heart

Então o amor pode consertar seu coração

But only if you're lucky now

Mas só se você tiver sorte agora

(Lucky Now – Ryan Adams)

~

— Nico.

— Hm?

— Está tudo bem? – Hazel perguntou a ele. – Você está aí só olhando para a comida de um jeito estranho.

Nico tratou de levar algo do prato à boca. Ele, o pai e as irmãs estavam no restaurante grego preferido do pai. E, há alguns minutos, comiam em silêncio, só ouvindo o burburinho do restaurante lotado. O pai, que estava num de seus momentos de querer tentar agir como pai, decidiu puxar assunto:

— Então... Bianca, onde mesmo você esteve no verão?

Nico levantou os olhos a tempo de vê-la olhar em sua direção, antes de responder meio hesitante:

— Eu... fui com umas amigas para o leste... Croácia... Hungria... Passamos um tempo na Polônia...

— Ah, Polônia... – seu pai parecia ter ótimas recordações do lugar. - Lembro de um vilarejo com uma capela que foi decorada com os crânios de vítimas da cólera e da guerra...

— Ahn... Acho que eu não... passei por esse lugar... – disse Bianca com a testa franzida.

— E os antigos campos de concentração nazistas? Você visitou? Auschwitz?... Não?

— É... Eu estive em Auschwitz... Mesmo no verão, o lugar é bem triste.

Nico reconheceu o tom repreensivo que Bianca usava para indicar que alguém estava falando de algo que a desagradava. Seu pai apenas assentiu com um ar de solene satisfação diante da descrição que ela tinha dado.

Mas Nico não conseguiu manter sua atenção naquela conversa. Para sua surpresa, ele nem chegou a se sentir incomodado com a narrativa do aparentemente incrível verão de Bianca no leste europeu. Obviamente sua cabeça já estava bem ocupada.

Ele se perguntou se a cabeça de Will também estaria assim. Provavelmente não. Nico devia estar fazendo um grande caso de tudo aquilo. Will provavelmente achava que não era nada de mais. Talvez ele até estivesse pensando que preferia ter recebido um beijo de natal de Steve Calendar... Nico de repente se lembrou que Will tinha lhe contado sobre ter se declarado para “o garoto russo” no natal passado... E desejou não ter engolido os pedaços de carneiro, que agora pareciam estar formando um bolo quente em seu estômago.

Como Nico podia ter esquecido disso? Ele teria logo desconfiado que Will só estava se sentindo carente por causa da época do ano... Isso explicaria tudo perfeitamente. Afinal, de que outra forma tudo poderia ser explicado? Essa pergunta passou a tortura-lo.

Ele chegou até a voltar a se incomodar com seu ainda constante companheiro fantasma Timothy Avery. Aquela presença pálida e cada vez mais pacata que habitava seu quarto e, no que devia ser um sinal de desesperança, já nem mais o seguia para toda parte, fazia com que se sentisse mais inquieto.

Quando desceu do quarto na manhã do dia seguinte, véspera de natal, ele encontrou as duas irmãs na cozinha, mexendo com vários ingredientes de cheiro convidativo.

— Bianca está me ensinando a fazer zelten – disse Hazel, que tinha farinha de trigo na testa.

— E eu estou aprendendo uma receita de cheesecake de bananas foster – acrescentou Bianca, embora sem parecer estar se dirigindo a Nico.

— Sem lactose.

— Sem lactose.

Nico temeu que ver as duas rindo juntas o faria ter algum sentimento ruim, como quando as ouvira no dia anterior, mas na verdade aquela cena o aqueceu por dentro, fazendo seu coração amolecer.

Na aparência, a única coisa que Hazel e Bianca tinham em comum era o modo meio antiquado de se vestir, um estilo que não daria muito certo em qualquer garota, mas que nas duas caía muito bem, de um jeito... fofo. Nico pensou que gostar das pessoas o fazia usar palavras idiotas.

— Ei, já que você está aí, deveria ajudar.

Bianca se dirigiu a ele naquele velho tom que ela costumava usar para fazê-lo obedecer.

— Ahn... O que eu posso fazer? – ele decidiu que não ia protestar só porque era véspera de natal.

— Aqui. Pique essas nozes para Hazel – ela colocou uma tábua com as nozes e uma faca na bancada bem diante de onde ele estava sentado.

— Nico, como era mesmo o nome daquele doce japonês que você preparou com Will daquela vez? – Hazel perguntou.

— Hmm... Ohiga... Ihago... Algo assim – respondeu Nico, perguntando-se se algum dia seu coração pararia de reagir de maneira tão exagerada à simples menção do nome de Will.

— Esse Will... você o mencionou ontem... – Bianca comentou enquanto mexia algo numa tigela.

— É. O amigo de Nico. Ele era o urso polar na peça. Lembra?

— Ah... sim – Nico viu um sorriso se abrir no rosto de Bianca.

— Ele chegou à Argo II no outono. Está no clube de tiro com arco junto com Frank. Ele... – ela, então, deve ter percebido que estava prestes a falar em voz alta sobre a característica mais importante de Will em relação aos fantasmas e que talvez não coubesse a ela contar aquilo. Mas pelo que ela disse depois, Nico preferia que ela tivesse deixado escapar o que tinha pretendido. – Ele... e Nico passam bastante tempo juntos.

Maravilha. Valeu mesmo, Hazel, pensou Nico, voltando-se para suas nozes, tentando transferir toda sua concentração para corta-las em pedaços bem pequenos e fingir que não percebia Bianca olhando em sua direção.

Apesar de tudo, para ele, que há algum tempo tinha deixado de acreditar em natais felizes, aquele acabou sendo ligeiramente agradável. Eles quase pareciam uma família feliz na ceia aquela noite. Nico só precisava ignorar boa parte da conversa à mesa, e isso foi bem fácil.

Depois que todos já tinham se retirado, ele continuou na sala, sentado num canto do sofá, mudando distraidamente os tipos de fogo disponíveis na lareira elétrica com o controle remoto.

Ele ouviu os passos que se aproximaram vindo das escadas, mas não se incomodou em verificar quem era.

— Lembra de quando mamãe tocava piano e a gente ficava cantando músicas de natal até a meia-noite? – Bianca falou atrás dele. Ela estava apoiada no espaldar do sofá ao seu lado. - Tomando leite e comendo biscoitos recém assados...

— Eu procuro não me lembrar dessas coisas – retrucou Nico.

Sem dizer mais nada, Bianca deu a volta para sentar na outra ponta do sofá e ficou observando a distração compulsiva de Nico com as telas da lareira à frente.

— Ainda não se acostumou com o fuso-horário, mana? – Nico perguntou, querendo soar sarcástico.

Ela só continuou calada. Estava com um roupão por cima do pijama e tinha soltado os cabelos. O jeito como eles escondiam parte do rosto dela era muito familiar, como se a velha Bianca tivesse voltado.

Antes que Nico pudesse se conter, acabou disparando:

— Eu realmente não entendo por que você está aqui – seu tom acabou saindo mais cansado do que zangado. – Você já tinha se livrado de tudo isso, não é? Por que não está aproveitando férias europeias perfeitas com suas amiguinhas perfeitas?

Bianca balançava levemente a cabeça ao dizer, ainda olhando para frente, para a lareira que no momento exibia toras incandescentes quase sem chamas:

— Eu entendo que você sinta raiva por eu ter ido embora.

— A questão não é você ter ido embora. Você sabe muito bem. Agora não dá para voltar assim de repente e achar que pode agir como se o tempo não tivesse passado!

Bianca finalmente virou o rosto para encara-lo e Nico percebeu pela primeira vez um certo arrependimento.

— Eu me dei conta de que quanto mais eu procurava manter contato, mais a separação era difícil para você. Foi por isso que... eu procurei lhe dar mais... espaço.

— Ha! Puxa, é muito tocante toda essa consideração... Você quer me convencer de que só estava pensando no meu bem?

— Não – Bianca afirmou, desviando novamente os olhos. – Quando eu decidi ir, eu estava pensando em mim. Eu estava cansada. Cansada de ser a irmã mais velha responsável. Eu não podia ser sua mãe, Nico! Sei que isso soa terrível da minha parte... Por isso digo que entendo que sinta raiva. Mas eu estava convencida de que seria o melhor para você também. Nós dois merecíamos vidas mais normais, aprender a confiar em outras pessoas...

Nico não podia acreditar em como ela dizia isso com tanta naturalidade e firmeza. Ele queria xingá-la até fazê-la se sentir tão mal quanto ele tinha se sentido aqueles anos. Mas o que ele acabou dizendo saiu numa ridícula voz meio falhada:

— Eu nunca vou poder ter uma vida normal.

Ao ouvir isso, Bianca se levantou para sentar mais próximo dele.

— É verdade. Eu estava errada quanto a isso – ela disse. Nico, que estava tentando não encara-la, teve que virar o rosto, sem acreditar que ela não ia mesmo começar a dizer que ele estava errado. Ela sorriu para ele com o canto dos lábios antes de continuar: - Você é uma pessoa muito especial para ter uma vida comum.

— Ah, não me venha com essa!

— É verdade! – Ela ergueu uma mão para acariciar um lado do rosto dele e depois dar uns tapinhas, dizendo: - E eu só desejo que você tenha uma vida incomumente feliz.

Nico ia dizer para ela parar de falar bobagens, mas antes ela levou a mão ao bolso do roupão e puxou uma minúscula caixa de presente.

— Eu queria dar isto a você.

— Um presente? – Nico realmente não estava esperando aquilo.

Estendeu a mão um tanto hesitante para pegar a caixinha que ele ficou encarando antes de começar a abrir.

— Não se zangue – pediu Bianca, enquanto ele desfazia o laço. – Não precisa usar se não gostar, mas também não precisa atira-lo em mim nem nada assim...

Nico parou depois de rasgar o papel para dizer a ela:

— Será que eu posso primeiro ver o que é?

— Claro – ela falou, mas continuou enquanto ele abria a caixa: - Não é nada de mais. Só uma coisinha que eu vi numa feira de antiguidades. E... me fez lembrar de você.

Dentro da caixinha havia um anel grosso de prata com uma caveira. Bianca se calou, esperando uma reação. Nico pensou que devia esnobar aquilo em nome de seu orgulho, mas realmente não conseguiu se forçar a isso. Ele ainda procurou, mas a raiva não estava ali naquele momento. Então, pigarreou e disse:

— Bem... Eu diria que é bem... apropriado para o seu irmão esquisito que vê gente morta.

Bianca suspirou.

— Como eu já disse, não precisa...

Ela se calou de novo, vendo-o colocar o anel na mão esquerda e observar o efeito sobre a pele pálida.

— É... acho que combina comigo. Não vou precisar atira-lo em você – brincou ele.

Bianca sorriu de leve, dizendo:

— Buon natale, fratellino.

— Buon natale, Bianca – ele respondeu, talvez não totalmente livre de ressentimentos, mas sentindo-se bem naquele momento por ela estar ali.

===============

Na noite do dia de natal, um idoso do outro quarteirão que morava sozinho escorregou e caiu na frente da própria casa. Acabou morrendo por causa da forte pancada na cabeça. Nico ficou sabendo disso porque o velho Sr. Fielding apareceu em seu quarto reclamando de frio. Para ver se o ajudava, Nico deixou o aquecedor ligado no máximo, quase cozinhando a si mesmo durante a noite.

Os dias que seguiram ao natal foram os mais frios registrados em algumas décadas naquela época. Caía muita neve. As pessoas foram orientadas a só sair de casa se fosse estritamente necessário. Nico acabou algumas vezes se juntando a Hazel e Bianca para assistir a algum filme da coleção de filmes da década de 40 de Hazel.

Antes que pudesse evitar, lá estava ele se sentindo extremamente patético ouvindo um pianista cantar que “um beijo é só um beijo” e “um suspiro é só um suspiro” ou um cara comentando que “quando ele não está por perto, deixa um terrível buraco, não é?”.

Will tinha dito que voltaria antes do ano novo, por isso, Nico se sentiu animado quando a neve deu uma trégua depois de uns quatro dias e a manhã surgiu com o céu mais limpo, embora houvesse uns trinta centímetros de neve acumulados na rua. Felizmente o corpo do Sr. Fielding foi finalmente encontrado debaixo dela, fazendo com que ele deixasse o quarto de Nico.

Nem sinal da volta de Will, embora mais tarde uma pilha de correspondência tenha chegado, trazendo um postal com a foto de uma ponte sobre um rio não muito largo, com árvores nas duas margens e prédios baixos mais atrás. A legenda dizia “San Angelo, Texas”.

Com um sorriso idiota estampado no rosto e dedos trêmulos, Nico virou o postal. Tinha sido enviado no dia 26, e havia só uma frase escrita: “Pensando em você”. Ele virou o pedaço de papel de um lado para o outro umas dez vezes procurando por algo mais, qualquer coisa, uma data e horário de chegada por exemplo, até se convencer de que não havia mais nada. Não que aquilo não fosse alguma coisa, mas...

Sim, ele sabia que não fazia nenhum sentido se apegar a correspondências e uma espera vaga e duvidosa num mundo em que existiam telefones e internet. Acontece que essa não era a questão.

Sua inquietação só crescia e ele não estava conseguindo disfarçar muito bem. Hazel perguntou se ele estava se sentindo doente. A mãe de Perséfone sugeriu que ele estava subnutrido e devia comer mais cereal. O pai quis saber se Nico estava indo à terapia. Bianca o olhava como se estivesse constantemente se decidindo se devia dizer alguma coisa, mas continuou sem tocar nesse assunto, pelo que Nico ficou grato.

Assim foi com alívio que ele se viu sozinho em casa na noite de ano novo. Os adultos saíram para algum tipo de jantar elegante. Hazel e Bianca foram para alguma comemoração em algum lugar com Frank. Elas insistiram, mas nunca tinham mesmo alimentado muita esperança de que Nico as acompanhasse.

Deitado em seu quarto, ele ouviu à distância os fogos estourarem nos céus à meia-noite.

— É, Tim, parece que o ano acabou – Nico disse, afundando o rosto no travesseiro.

Ele realmente não podia acreditar que Will não tinha mesmo voltado. Seus sentimentos eram uma mistura de raiva causada pela vozinha constante em sua cabeça alimentando a confusão e a dúvida, mas também preocupação de que algo ruim tivesse acontecido e Will nunca mais voltasse, ou pior, voltasse como o fantasma de sua mãe só para se despedir. Essa possibilidade paranoica fazia seu sangue gelar de medo.

Nico pensou que talvez devesse ir até o apartamento onde ele morava. Jason saberia se algo tivesse acontecido, mas... era ano novo... Com certeza Jason não estaria em casa. E se... E se Will já tivesse voltado e não tivesse se dado ao trabalho de ir visita-lo?

Em algum momento, Nico pode ter caído no sono, ou não. O fato é que sem saber exatamente que horas eram, quando a campainha da casa tocou, ele de repente estava muito acordado e quase caiu de cara no chão na pressa de levantar da cama e descer as escadas.

Antes que a porta estivesse totalmente aberta, a pessoa do outro lado avançou na direção de Nico. Tudo que ele pôde ver foi um borrão de casaco branco e cabelos loiros e em seguida ele estava envolvido num abraço muito apertado.

— Me desculpe! – ele ouviu a voz meio sem fôlego perto do seu ouvido. - Eu pretendia chegar antes da meia-noite... De verdade! Mas o mundo está totalmente louco. Estava nevando no Texas! Dá para acreditar? Você já viu neve no Texas? Nunca queira ver! Todo o chão fica coberto de lama... Ninguém parece saber o que fazer... O aeroporto estava uma bagunça completa...

Nesse momento Will parou de falar porque Nico o abraçou de volta, com a mesma intensidade.

— Que droga, eu senti sua falta – ele disse, como se tivesse constatado algo muito desagradável.

— Desculpe – Will repetiu, mas dava para perceber o sorriso em sua voz. – Eu também estava com saudade – acrescentou, afastando-se para olha-lo.

Os cabelos de Will estavam mais bagunçados que o normal, as bochechas e a ponta do nariz muito coradas. Se um táxi não estivesse parado ali na entrada do passeio da casa, seria possível que ele tivesse ido até ali correndo contra o vento do inverno. Nico baixou o olhar, de repente sem ação diante daqueles olhos azuis que pareciam tão sinceros. Ele não conseguia entender por que Will sentiria saudade dele, mas era uma coisa maravilhosa de se ouvir, e não estava a fim de se preocupar com perguntas ou respostas complicadas naquele momento.

— Ei – Will colocou as mãos em seus ombros. – Por sorte nós ainda não perdemos a melhor parte do ano novo. Quer dizer, é a melhor parte de todos os dias, mas no ano novo é ainda mais especial.

— Do que você está falando?

— Venha comigo – foi a resposta sorridente de Will, com um gesto de cabeça na direção do táxi.

Ele não teve que pedir duas vezes. Nico só precisou de mais umas camadas de roupa para colocar os pés fora de casa. Enquanto isso Will tinha conversado com o motorista, que já sabia aonde leva-los.

Eles foram parar num píer perto do porto de cargas, totalmente vazio àquela hora. O taxista tirou uma mala do porta-malas e Will saiu arrastando-a pelo chão de madeira até um dos bancos de frente para o gradil e o mar. Pequenos postes de luz estavam acesos entre os bancos.

— Acho que ele escolheu muito bem – comentou.

— Ele escolheu? – perguntou Nico, seguindo-o.

— É. Eu disse que queria ir a um lugar bom para ver o sol nascer – Will respondeu, como se fizesse isso todo dia.

— Sério? É pra isso que vamos ficar aqui arriscando morrer congelados?

— Não seja dramático. Ninguém aqui vai morrer.

Apesar do que disse, Will cruzou os braços e puxou o cachecol para cima, cobrindo parte do rosto. Foi quando Nico se deu conta de como ele devia estar cansado. Para começar, devia ter tido uma noite péssima tentando chegar em casa. Toda aquela história de neve no Texas e aeroportos caóticos, e agora estava ali sentado num banco de píer em plena madrugada congelante de ano novo.

— Você deve estar exausto – Nico comentou, preocupado, sentando-se ao lado dele. – Vai acabar ficando doente. Agora como vamos conseguir outro táxi para voltar?

Ele olhou inutilmente por cima do ombro para o outro lado, além do píer, como se ainda esperasse ver o taxista que os trouxera esperando.

— Eu estou bem – assegurou Will. - Tenho um sistema imunológico forte.

Nico não se sentia muito seguro disso e continuou a observa-lo com apreensão. Por algum motivo isso só fez Will sorrir. Ele agarrou um dos braços de Nico e se aninhou junto a ele, fazendo-o se sentir de repente com bem menos frio e mais uma vez pensar como alguns gestos do loiro o faziam lembrar de um gato.

Nico se inclinou, fazendo o lado de seu rosto encostar no topo da cabeça de Will sobre seu ombro. De repente, aquele lugar lhe parecia muito aconchegante e ele já não tinha tanta pressa para ir embora, ainda que continuasse a achar que Will precisava descansar.

O azul do céu estava clareando, especialmente no horizonte diante deles. Nico ouviu um som musical vindo da direção de Will. Ele estava cantarolando baixinho.

— “Here comes the sun”? Sério mesmo, Solace? – disse Nico, sem conseguir impedir um sorriso.

— Ei! É um clássico! – defendeu-se Will, antes de voltar para a música.

Como se agisse sem nem mesmo pedir sua permissão, a boca de Nico foi até a testa de Will e plantou um beijo rápido ali. Com isso, Will levantou o rosto e logo os lábios dos dois se encontraram, e a cada vez que se encontravam, era mais difícil se separarem.

Entre um beijo e outro, havia o horizonte assumindo uma cor rosa alaranjada até que o próprio sol apareceu dourado como se tivesse emergido do mar. E ficou ali até ser encoberto pelas muitas nuvens do céu de inverno. Não foi nada mal para a primeira vez que Nico viu o sol nascer.


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