Bestas de Mármore escrita por Filipe


Capítulo 3
Pequena cidade




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Bruno hoje me disse que o problema na humanidade era o modo como passavam um pelos outros, eu estava totalmente confuso e tinha desgosto de praticamente tudo, então só pude ignorar as frases que vieram a seguir.

Estávamos no topo das pedras olhando algumas casas logo abaixo, eu estava deitado na grama que acariciava a minha perna, enquanto isso Bruno jogava algumas pedrinhas para longe até sumir de sua vista. Ambos éramos adolescentes confusos e sem rumo. O futuro era uma distorção, ele rodava em torno de notas verdes de papel, o amor era uma prática que aos nossos olhos parecia corrupta e atrair interesse cada vez mais cedo.

– Podíamos ir para algum lugar… – Ele me disse enquanto jogava outra pedra para cima, de forma que me atingisse levemente na cabeça.

– Para onde? – Eu perguntei o fitando no fundo dos olhos. – Não temos para onde ir, nenhum lugar ou alguém para nos acompanhar.

– Temos um ao outro… – Ele percorreu o dedo em volta do meu nariz. – Isso não basta para você?

– Talvez…

– Você é meu único amigo.

– Mas não o primeiro, já notou que é quase impossível ser o primeiro e último no coração de alguém nesses novos tempos?

Ficamos calados fitando o silêncio e isolação da cidade. Medos. Confusões. Perguntas. Nada. Vazio. O sentido da vida era uma mentira muito bem feita, para enganar corações inocentes. Será que um dia estaríamos dispersos a sair do local onde nascemos a ponto do nosso lar ser nossas almas? Ou teríamos que conseguir um bom emprego, depois de fazer uma boa faculdade em uma boa casa? O medo de sair do meio de várias paredes e do teto sobre nossa cabeça seria enfim morto?

– Estou cansado desse silêncio, Daniel! – Ele disse indo em direção ao velho rádio movido a pilhas, colocou uma velha fita e dançou silenciosamente envolto de uma música ríspida.

Eu estava tentando me convencer que aquilo não era real, a realidade não era mais do que uma fina camada que insistíamos em manter, mas quando notei as nuvens de chuva cobrindo a cidade resolvi me esquivar para trás e gritei:

– Bruno, precisamos ir para casa!

Ele não estava mais lá, era claro, e o rádio nunca esteve ligado. Quando você mora em uma cidade tão pequena e afastada quanto aquela, sempre se tem poucos amigos, eles querem ir embora e se livrar de você, mas não podem. Até seus amigos imaginários, como Bruno.


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