Bestas de Mármore escrita por Filipe
Notas iniciais do capítulo
Para a Amanda que eu conhecia em 2013...
É simplesmente estranho ver como dizer “um dia” pode ter um grande significado.
– O que você quer fazer quando crescer?
– Simples, roubar o sol só para mim..
Era o sonho do pequeno garoto, ter todos os raios de sol a sua disposição, para alguns adultos era algo fofo e engraçado, mas era motivo de risada e piadas entre outras crianças. Porém, ele não ligava, tudo o que precisava era ter o maravilhoso sol para si, cada raio reservado apenas para ele.
A sala de aula estava muito agitada, crianças desenhavam, conversavam e corriam livremente para desespero da professora. Como ela iria parar aquilo? Com uma grande ideia, é claro. Ao mandar todos se sentarem começou a entregar as folhas e explicar qual seria a lição:
– Classe, nessas folhas brancas quero que todos coloquem seus nomes e escrevam qual seu sonho, o que querem trabalhar ou fazer quando crescerem.
Todos começaram, alguns já sabiam exatamente o que iriam escrever: cantores, astronautas, policiais, bombeiros e vários outros empregos. Todos menos o pequeno garoto. Ele pensou um pouco se era exatamente aquilo que deveria escrever e logo pensou que era o certo, que deveria dizer a verdade. A professora se impressionou com o que o menino escreveu, ela nunca prestou muita atenção nele, afinal o mesmo nunca foi ativo nas aulas como os outros, sem pensar muito foi direto até sua mesa e perguntou:
– Olá… – Leu o nome que ele escreveu no papel. – Lucas, que idade você têm?
– Oito anos professora…
– Aqui você disse que gostaria de quando crescer roubar o sol? Por qual motivo?
– Ah sim, eu gostaria de vender seus raios de sol…
– Mas o sol pertence a todos… – Disse a professora surpresa. – Não seria legal deixar ele lá para que todos pudessem ter sua luz sem pagar nada?
– Ninguém se importa com o sol, todos só sabem reclamar e nem o agradecem por sua luz. Se todos tivessem na escuridão o menos brilhante raio de sol alegraria a quem o possuísse…
A professora ficou surpresa e sem resposta para o que ele tinha acabado de falar. Talvez ele fosse muito egoísta ou ele só estivesse ensinando as pessoas a pararem de serem egoístas.
O tempo passava, e claro, todos da família ficaram surpresos quando ele teve que ser levado às pressas a um hospital depois de desmaiar em seu aniversário de 9 anos. Sua mãe não ouviu do médico exatamente o que ela gostaria:
– Bem, eu não sei se isso tem uma cura conhecida…
– Como assim ?
– Não tem um exato tratamento, essa doença pode até mata-lo… - Ele suspirou olhando nos olhos dela. - É bem rara…
Enquanto o garoto longe dali ouvia a conversa e o choro de sua mãe, sua decisão foi sair da sala sem se importar e andar pelo resto do hospital, mesmo com as pernas fracas e sem energia. O primeiro quarto que viu entrou, onde estava deitada uma velha com cabelos brancos, um tubo ligado até sua veia. Ela perguntou:
– Quem é você garotinho?
– Meu nome é Lucas…
– Eu não me lembro de você…
– Eu também não, acho que nunca nos conhecemos, mas é legal lhe conhecer Qual seu nome?
– Meu nome é Maria, me chamavam de vó Maria… - Suas palavras estavam ficando cada vez mais fracas, mas teve força para continuar. - Dizem que tenho problemas para me mover e é arriscado voltar para casa, afinal vivo sozinha…
– Não tem ninguém que possa cuidar de você?
– Ninguém quer minha criança, ninguém da minha família, eu sou só uma velha.
– Sabe, quando eu estiver melhor talvez eu possa pedir para minha família deixar você morar conosco…
– É uma ótima ideia… – Disse ela mesmo sem acreditar que eles deixariam. – É muito bom alguém vir me visitar.
– Ninguém te visita?
– Sem contar os médicos, você é o primeiro…
Na verdade ela tinha sido abandonada ali pela própria família, com problemas e ninguém poderia lhe dar atenção o tempo todo, o que fez com que fosse esquecida por tudo e por todos, ninguém iria lhe visitar e nem lhe buscar, pois não tinham tempo. Ela disse:
– Foi muito legal lhe conhecer criança, mas agora estou cansada então vou dormir um pouco, espero que algum dia volte a te ver…
– Eu também espero…
Ele saiu do quarto indo ao próximo que encontrou uma pequena criança, tão pequena quanto ele, conversaram um pouco e então ela lhe perguntou:
– O que você quer fazer quando crescer?
– Eu queria roubar o sol e vender seus raios de sol…
– Não faça isso…
– Por que não?
– Todos precisamos do sol, todos se importamos com ele…
– Tudo bem…
Sua visão foi ficando escura, sentia seu corpo balançando e a voz do médico gritando: “Encontramos ele”. Ao acordar novamente estava na cama do hospital, sua mãe ao seu lado chorando, ele perguntou:
– Mamãe, eu vou morrer ?
– Não filho… – Ela sabia que sim, mas é difícil dizer isso para uma criança. – Você vai crescer, virar um bom homem e poder ter o sol…
– Mãe, eu não quero mais roubar o sol… Eu só quero agora ter apenas alguns raios de sol…
– Por que filho?
– Seria o presente de aniversário ideal, é isso que um dia vou fazer, pegar alguns raios de sol e levar a quem quase nunca lhe vê e vive na escuridão, apenas para lembrar que o sol ainda brilha, é isso que vou fazer quando crescer, doar a luz a quem precisa.
As lágrimas de sua mãe começavam a escorrer:
– Se quiser posso te dar alguns mamãe!
Sua visão ficou fraca novamente e calmamente fechou o olho em delicadeza, mas desta vez, nunca mais lhe abriu novamente. Assim partiu, levando o último raio de sol com ele.
Eu nunca fui um bom escritor, essa história não é tão incrível, mas tenho um carinho especial por ela.
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