Contraposição escrita por Blue Butterfly


Capítulo 17
Capítulo XVII




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'Não era exatamente isso que eu esperava.' Os olhos de Jane entregavam todo o espanto e empolgação que ela estava sentindo, apesar de sua voz ter saído cética.

'Bem... Nem eu.' Maura concordou, virando o rosto para Amanda. 'Você disse que era uma exposição de máscaras!' Ela argumentou, não necessariamente decepcionada, mas parecendo completamente chocada.

'E é. De certa forma...?' A morena trocou um olhar divertido com Jane que concordou com a cabeça. 'É a marca da cidade. Acontece uma vez por ano e as pessoas são muito competentes. Algumas delas já ganharam inclusive prêmios. Eu só venho pela diversão, embora já tenha publicado sobre o festival uma vez na revista, anos atrás.' Ela disse e deu de ombros.

O festival, aparentemente, tinha a ver com cosplays. Segundo Amanda, tudo tinha começado anos atrás com uma simples brincadeira entre jovens, mas agora o evento se tornara em grande escala - tanto quanto pode ser em uma cidade pequena. Uma das fundadoras do evento tinha inclusive iniciado negócios no mundo de fantasias. Durante o Halloween sua fábrica era uma das que mais rendia dinheiro na região. Os trajes eram de primeira qualidade, e mesmo distante da data do dia das bruxas, a mulher produzia fantasias específicas feitas sob encomenda para eventos diversos.

Jane olhou para Amanda com um sorriso imenso no rosto. Era por isso que ela tinha sido tão vaga no dia anterior em relação ao evento. Se ela queria surpreender Jane ou apenas evitar a resistência de Maura, a detetive não saberia dizer. De uma forma ou de outra, ela estava contente por tamanha surpresa.

'Isso é incrível.' Ela disse segurando na mão de Maura.

'Tem até mesmo um concurso.' Amanda acrescentou.

'Você tá brincando!' Jane exclamou, olhando tudo ao redor. Algumas barracas tinham sido montadas, espalhadas aleatoriamente no grande terreno coberto com grama no chão. Para onde ela olhasse, Jane registrava personagens de filmes, desenhos e HQs em qualquer canto. O mais impressionante, entretanto, era que entre o público se encontravam todas as idades.

'Como isso tudo começou?' Maura perguntou, encantada a sua própria forma. Cultura sempre fora algo que ela adorara, e embora fosse considerada nerd por tantas pessoas, o apelido nada tinha a ver com a adoração desse cenário o qual estava agora.

'Era uma simples feira com a intenção de arrecadar fundos para a cidade ou instituições. Cada ano o objetivo muda. O abrigo de animais, por exemplo, será o recebedor de todo dinheiro arrecadado esse ano. No segundo ano do evento um pequeno grupo apareceu vestido dos personagens da Caverna do Dragão, apenas para chamar atenção e tudo mais, e eles conseguiram dobrar o número de vendas. E depois disso, você pode imaginar... A tradição foi crescendo. O objetivo ainda permanece o mesmo, mas por causa dele outras oportunidades foram surgindo.' Amanda explicou com todo conhecimento que tinha sobre o assunto.

'Como a mulher que acabou abrindo o próprio negócio.' Maura completou sabiamente, prestando atenção desde o início em sua explicação.

'Exatamente.' Amanda concordou com a cabeça e Maura virou o rosto para sorrir alegremente para Jane, mas a morena tinha sumido. Ela sentiu o sangue gelar e olhou atentamente para todo o canto. Como Jane tinha soltado de sua mão e ela nem percebera?

'Onde está ela?' Ela murmurou para si mesma, os olhos correndo desesperadamente entre as pessoas. Quando Amanda tocou-lhe o braço, ela virou o rosto esperando ser Jane.

'Do outro lado.' A morena apontou discretamente o dedo para a detetive que conversava com um homem.

'Do que ele está vestido?' Maura franziu o cenho não reconhecendo, como o esperado, a roupa.

'Lanterna verde.' Amanda disse e lançou-lhe um olhar, duvidando seriamente que a médica fosse reconhecer. Quando Maura não reagiu ao nome, ela acrescentou. 'O super-herói...?'

'Claro.' Ela disse sem muita convicção e sorriu ao notar Jane voltando em sua direção.

Ela estava elétrica. Os olhos brilhavam de empolgação e ela sorria incontrolavelmente. 'Isso é tão legal. Frankie iria adorar. Como eu não sabia disso antes? Nós precisamos voltar aqui todo ano.' Ela disse convencida de que o plano era um dos mais aceitáveis. De repente ela se virou para Maura e segurou seu braço, num gesto de carinho. 'Você quer comer ou beber algo? Eu vou comprar para você.'

A médica chacoalhou a cabeça em não e sorriu em forma de agradecimento. 'Obrigada, mas eu não estou com fome nem sede agora.'

'Ah, mas vocês precisam experimentar o cachorro-quente daqui. Deve ser o melhor do mundo.' Amanda acrescentou, apontando para uma barraca à sua esquerda.

'Nós vamos, mais tarde.' Maura disse.

'Claro, porque agora nós temos que ver todas essas pessoas e fantasias.' Jane se adiantou em pegar na mão de Maura e puxá-la com ela. 'Vem Amanda!' Ela disse por cima do ombro, e a médica e a jornalista trocaram um olhar divertido. Maura nem sabia dizer qual foi a última vez que vira Jane empolgada com algo dessa forma.

Depois de caminharem pela maior parte do lugar, ouvir uma explicação para cada personagem que muitas vezes era interrompida por uma arfada de surpresa e um 'eu não acredito nisso', ser apresentada para personagens do quais nunca ouvira falar, Maura se sentia um pouco cansada e com fome. Ao deixar claro suas necessidades, as três pararam em uma barraca próxima para comprarem o cachorro quente que Amanda tinha sugerido. Maura se deliciava ao ver Jane prestando atenção em cada pessoa que passava por elas. Era como levar uma criança no parque de diversões, e Jane era incansável. Já fazia pelo menos uma hora que estavam ali, e ela mantinha a mesma energia e disposição de quando chegara.

'Você pode andar por aí, Jane.' Maura disse, sabendo muito bem que tinha muito mais para ela ver. 'Nós podemos esperar por você aqui.' Ela trocou um olhar com Amanda que concordou com a cabeça.

'Você não se importa? Eu não quero deixar você...' Sozinha, ela ia dizer. Mas Maura não estava sozinha. Ela pensou então em 'sem mim', mas decidiu que não era apropriado. Não é como se Maura precisasse dela para respirar ou algo do tipo.

'Vá. Nós ficaremos por perto.' Maura insistiu. Jane sabia que elas não compartilhavam da mesma paixão por cultura pop, mas não havia razão para que a morena não aproveitasse a noite. Se fosse o inverso, se fosse Maura a empolgada, Jane faria o mesmo por ela.

'Ok...' Ela disse um tanto quanto incerta ainda. 'Fique à vista, então.' Ela pediu.

Maura meneu a cabeça e observou enquanto a morena se afastava. Era quase engraçado a forma como ela se mostrava dividida entre ficar ao seu lado e ir explorar o lugar. Maura sabia, entretanto, que ela ganhava em importância. Se ela pedisse, Jane simplesmente ficaria ao seu lado. O resultado da conclusão foi um sorriso bobo nos lábios, um que Amanda fez questão de notar e comentar.

'Você realmente gosta dela, não é?' Ela observou, tirando Maura de seus pensamentos.

A loira abaixou os olhos, um tanto envergonhada por ser pega encarando a detetive. 'Eu gosto.' Ela disse timidamente, os olhos desviando-se para outro lugar, evitando o olhar de Amanda. A confissão era das mais inocentes: ela realmente gostava de Jane, e dizer-la em voz alta em nada implicava. Era simples e honesto: ela gostava de Jane apenas por ela ser quem era, e as palavras significavam apenas isso e mais nada. Maura não era do tipo que pulava para conclusões, e era clara em sua fala. Cada palavra carregava seu devido significado. Era por isso que, logo depois, ela se sobressaltou com a segunda observação de Amanda.

'Dá pra ver o quão apaixonada ela é por você.'

E agora Maura entendia para onde a conversa estava indo. Ela olhou espantada para a morena, como se ela tivesse afirmado algo quase absurdo. Não pelo seu significado, mas por ela própria não ter notado antes, sozinha. Logo ela, a que tinha um QI super alto.

'Dá?' Ela perguntou tentando manter a surpresa fora de sua voz, como se fosse uma pergunta casual.

Amanda deu uma risadinha, como se ridicularizando a pergunta retórica. 'Por favor, eu já presenciei casamentos demais. E tenho que dizer que o jeito que ela te olha é mais intenso do que alguns olhares que já vi por aí.'

Maura engoliu seco. Ela e Jane não eram um casal. Para falar a verdade, ela mal sabia dizer o que elas eram. Desde que chegaram ali a troca de carinhos, toques e olhares tinham se intensificado. E depois todo o flerte... Era de se esperar que Amanda pensasse que elas estivessem em um relacionamento amoroso, mas diante da relação indefinida, Maura se surpreendeu ao constatar o inegável: Jane estava apaixonada por ela. Ela cruzou o braço sobre o peito e sentiu os olhos arderem à força de evitarem as lágrimas. Não era de tristeza, entretanto. Era mais um alívio que ela sentira, um poder que havia apagado a linha em que ela andava que dividia de um lado a incerteza e medo, e do outro a satisfação e o contentamento. Ela sabia onde estava pisando agora.

'Ela está apaixonada por mim.' Ela disse para si mesma, mordendo o lábio inferior em pensamento. Na distancia, Jane lançava-lhe um olhar intenso que lhe atravessava a alma. Ela estava lá, conversando com uma desconhecida, mas metade de sua atenção recaía sobre Maura. Em cada movimento seu, cada respirar.

'Ora, eu já disse isso. Me conte algo novo.' Amanda brincou, estudando-a seriamente depois de notar seu estado de meditação.

Como ela reagiria de agora em diante? Ela e Jane tinham que conversar, definitivamente. Elas tinham que definir o que havia entre elas, mas Maura não sabia como começar. Todas as insinuações até então eram apenas isso. Um beijo no canto dos lábios, enquanto Jane dormia. Um beijo perto demais de seus lábios, enquanto dividiam um momento singular. Jane segurando-a em seus braços porque estava com medo, ou chorando, ou apenas porque estava cumprindo a promessa de fazê-la dormir, feita por uma brincadeira. Insinuações. Atos sugestivos. Era ali que começava? Ou elas estavam apenas se mantendo à margem, evitando se jogar em um mergulho sem volta? Faltava coragem para assumir tudo aquilo que, tão obviamente, sentiam? Essas insinuações, essas que pareciam mais desculpas para poderem se tocar, estar lado a lado, tinham que chegar a um fim. Se ela quisesse Jane segurando-a, que fosse apenas por esse motivo: querer seu abraço apertado confortando-a. E o mesmo valeria para os beijos. Os toques. Ela precisava viver cada gesto carregado com um sentimento honesto. Sem mais justificativas enviesadas. Nada era mais justo, afinal de contas, porque...

'Eu também estou apaixonada por ela.' Ela murmurou, agora sorrindo para a imagem da detetive - e caramba, como aquele sorriso de Jane que respondia imediatamente ao seu lhe arrancava o ar dos pulmões.

Amanda estalou a língua e revirou os olhos, como se impaciente para ouvir as confidências de uma boba apaixonada. 'Eu disse para me contar algo novo, Isles.'


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Notas finais do capítulo

Queridas leitoras, paciência é uma virtude. hahahaha