Contraposição escrita por Blue Butterfly


Capítulo 18
Capítulo XVIII


Notas iniciais do capítulo

2.284 palavras. Divirtam-se ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/644989/chapter/18

Jane observava Maura deitada ao seu lado na cama, livro em mãos, concentrada em sua leitura. Eram ali que estavam instaladas depois de voltarem da feira. O dia tinha sido leve e até mesmo relaxante, e embora Jane tivesse sido a mais empolgada da noite, Maura tinha tido seus momentos com Amanda. Ela parecia mais centrada, calma. Seus olhos carregavam um brilho diferente, e no caminho de volta para casa ela estava ainda mais doce do que antes. Fora ela a passar o braço ao redor de sua cintura, a inclinar a cabeça em seu ombro enquanto andavam coladas uma na outra, numa caminhada lenta cujo objetivo parecia mais ser aproveitar o calor uma da outra, do que alcançar o lugar onde estavam hospedadas. A detetive mal podia encontrar palavras para expressar o quão satisfeita estava por tê-la ali, depois de tudo que passaram. Maura virou uma página, e ela ainda continuava estudando a mulher. Ela era linda e suas feições se suavizavam toda vez que sua atenção era voltada para Jane - o sorriso oferecido à ela era diferente de todos os sorrisos oferecidos para outras pessoas. Jane nunca se cansava de ouvi-la e compartilhar momentos com ela. Ela sabia que era viciada em Maura em altos níveis, e que sua ausência chegava a causar dor física. Ausência essa que a morena não desejava experimentar de novo.

'O que você tem na cabeça, Jane?' Maura perguntou sem nem mesmo tirar os olhos do papel, notando o olhar da detetive sobre ela. Ela ainda não havia chegado à conclusão sobre o que fazer à respeito do que sentia por Jane, mas decidira que tornaria cada momento oportuno para trazer a tona o que acontecia entre elas.

'Você.' Jane disse sem hesitar, e isso fez com que Maura abaixasse o livro e lançasse um olhar curioso para ela. Jane então tirou o objeto de suas mãos e arremessou-o para o lado.

'Ei!' Maura protestou, arfando em seguida. 'Você perdeu a página!' Ela disse indignada, o que arrancou uma risadinha de Jane.

'Tenho certeza que você é capaz de achar depois.' Ela retrucou e observou enquanto Maura revirava os olhos, e deitava completamente na cama, lançando um olhar maligno a ela.

'Imagino que agora você esteja satisfeita porque tem minha completa atenção.' Ela resmungou, mas qualquer irritação parecia minúscula comparada à satisfação de tê-la ao seu lado.

'Você não faz idéia.' Jane disse e riu, e embora estivesse achando engraçado, sua risada morreu em seguida. Seus dedos passearam no braço da médica, e ela apertou levemente. 'Eu só estou feliz que a gente tenha conseguido vir para cá.'

'Eu também, Jane.' Maura disse honestamente. 'Mesmo considerando o motivo, foi bom para variar. Quer dizer... Há quanto tempo não fazíamos isso?' Ela virou a cabeça para Jane e sorriu tristemente.

'Tempos. Talvez... Acho que nós nos envolvemos tanto na nossa rotina que a gente até esquece de que... bem, de que o tempo acaba passando mesmo.' Jane suspirou, se sentindo um tanto melancólica ao recapitular por todos momentos difíceis que ambas passaram lado a lado. O que poderia ter sido - perdido - e que foi apenas quebrado, para ser consertado depois. As cicatrizes em suas mãos era a prova mais concreta de que a vida era algo frágil.

'É, ele passa. A vida acontece.' Maura concordou, se virando de lado. Ela tomou as palavras como incentivo para o que estava por vir. Ela sabia, dentro de seu coração, que seria agora que aconteceria. A conversa tinha tomado um rumo reflexivo, um tanto sombrio - real demais. Falar de vida, nessas condições, era certamente mencionar o que estava enganchado à ela: o fim.

'E a morte também.' Jane murmurou, consciente demais agora do tempo que tinha passado ao lado de Maura, do tipo de relação que tinham, na hesitação que ela sabia, era por parte das duas, existia. 'Isso me pôs para pensar nas coisas que não quero perder.' Ela murmurou de novo, os olhos atentos de Maura sobre ela, e os dela sobre a loira.

'O que é, Jane?' Ela perguntou com a voz no mesmo volume e virou parcialmente o corpo para a mulher.

Jane hesitou de novo e então quando ela percebeu como estava repetindo o mesmo medo que sentia pelos últimos anos, ela finalmente o abandonou e disse honestamente para Maura, 'Você.'

As sobrancelhas de Maura se arquearam lentamente ao passo de que as borboletas no estômago batiam as asas ferozmente. 'Eu não quero te perder também.' Ela lambeu os lábios e acariciou o braço de Jane. 'Eu não quero que a gente viva assim', ela apertou o braço na cintura de Jane para deixar claro que se referia ao modo como andavam se tocando ultimamente. Ela desviou os olhos apenas por um instante, sentindo os olhos marejarem, 'depois de experimentar a possibilidade de perder uma a outra.'

Jane sentiu o coração agonizar com a imagem da médica, tão vulnerável ao falar de seus medos, desejos. Ainda que os últimos dois dias tinham sido nada mais do que serenos, ela ainda podia dizer como Maura estava abalada por conta do sequestro. Frágil, para dizer o mínimo. Era o que fazia querer colocá-la nos braços e cuidar dela o tempo todo. Ela não merecia nenhuma daquela tristeza, da sensação de insegurança, do medo que ainda assombrava seus sonhos. Talvez se Jane entregasse todo seu amor, não lhe sobraria lugar para sentir o medo. E se ela a fizesse rir o dia inteiro, a sensação permaneceria durante a noite, aconchegante o suficiente para embalá-la à sonhos felizes. E talvez Maura a amasse de volta, e então ela poderia viver a relação que ela sempre quisera ter com ela. E ela tinha que saber se o que queria era razoável. Se poderia ser concreto.

Com um movimento construído com toda a coragem que tinha agora, estimulada pelo jeito que os olhos de Maura cintilaram para ela, Jane levou uma mão ao rosto da loira, se curvou para frente e beijou seus lábios. E se no primeiro momento tudo pareceu calculado, temido, no instante seguinte o beijo tomou seu curso natural: Maura apoiou sua mão sobre a da morena e pressionou seus lábios nos dela. Depois, Jane curvou seu corpo para o lado, e o beijo simples tinha se intensificado, e agora ela invadia a boca de Maura com sua língua. A sensação, a morena nunca iria esquecer. No final da troca de carinho - que parecera bem simples - Jane não estava nenhum pouco arrependida. Ela afastou o rosto para encarar Maura, e ela se desculparia se precisasse, assumiria qualquer consequência de seus atos. Ela havia alcançado um ponto em que o medo não poderia mais controlar sua vida. Ela queria Maura, e ela ao menos lutaria por isso.

Os dedos da loira passeavam pelo seu rosto, e num momento de inspeção, Jane se dispôs a falar. 'Você me diz... apenas me diga se eu sou a única que quer isso.' Ela murmurou, e embora não tivesse sido em voz alta, ela jurava que qualquer pessoa podia ouvi-la. Era essa a sensação de expor o seu mais profundo sentimento.

Maura balançou a cabeça em não. 'Você não é a única.' Ela respondeu baixo, passando um dedo sobre o lábio inferior da morena.

Jane sorriu. Se sentiu viva. Sentiu que cada momento que tinha lutado para permanecer nessa vida, cada batalha lutada e perdida tinha finalmente sido recompensada. Ela se inclinou e beijou os lábios da mulher em baixo de si mais uma vez, e sentiu as mãos de Maura percorrerem suas costas.

'Jane.' ela murmurou entre o beijo.

'Hm?' A morena mordiscou seu lábio e afastou-se apenas para olhá-la.

'Faça amor comigo essa noite.' Maura sussurrou seu pedido numa voz tão carregada de desejo e ao mesmo tempo tão pura que Jane se viu balançando a cabeça sem nem mesmo notar. Seus lábios se colaram com os de Maura novamente, e dessa vez tudo era novo. Agora era como se ela tivesse um universo inteiro para experimentar, e aquela era só uma pequena porção dele. Começou lentamente. Dedos explorando pele macia, quente. Toques gentis. Jane conhecia Maura como sua única e melhor amiga, mas essa Maura deitada sob si essa era uma descoberta a ser feita. As roupas foram descartadas uma por uma, com cuidado, com permissão. Se houve algum constrangimento, desconforto, ele fora diluído por carinhos e palavras doces. E agora sem nenhuma barreira para impedir sua exploração, Jane se aventurara no corpo da médica. Ela memorizou cada curva, cada relevo. Ela aprendeu o poder que seus toquem tinham sobre o corpo da loira - foi aqui que a morena se descobriu viciada nela. A cada suspiro Jane via a beleza se manifestar. E a cada gemido ela sentia a energia se acumulando dentro de si. De força poderosa, pulsante. Ela entendia o que Maura queria dizer por querer viver aquilo, agora. Independente do mundo, de qualquer situação. Ali, suas mãos acariciando seios e pernas; agora, seus dedos deslizando para dentro da médica, o ritmo seria definido por ela mesma; nesse instante, Maura se segurando nela, seu corpo magro tremendo sob si, a respiração pesada.

Jane não queria em estar em nenhum outro lugar senão ali. Não havia mais tempo para ser perdido - nem sentimento para ser escondido. Quando Maura recuperou o controle sobre os músculos depois do choque principal, Jane deitou-se ao lado dela e a colocou num abraço, acomodando-a no abrigo que era seus braços, o lençol sobre o corpo nu de frente ao seu.

Quando Maura finalmente abriu os olhos, ela teve problemas em encarar Jane. Dormir com ela nessa noite não era o que ela tinha premeditado, exatamente. E se fosse demais? De repente de mais? Ela tinha cedido fácil demais ao prazer? Ela se tinha se exposto em um de seus momentos mais vulneráveis - íntimos. É claro que ela confiava em Jane - isso nem era questionável. Mas e se fosse demais para a detetive? Elas, afinal de contas, não tinham nem trocado um beijo antes, e até onde ela sabia a morena não tinha namorado mulher alguma antes.

'Maura, tudo bem.' Jane sussurrou, como se sentisse a insegurança dela. Os braços apertando cuidadosamente seu corpo a reafirmavam.

'Não é... Não é só carnal.' Ela disse timidamente, dançando os dedos no braço da morena, traçando um desenho abstrato. Jane sabia que ela - Maura - não tinha problema nenhum com sua sexualidade. Sexo sempre tinha sido uma ferramente a qual ela dominava muito bem - se por vezes a médica mantinha relações amorosas, por outro ela não tinha problema algum em dormir com homens - ou mulheres - apenas para encontrar a satisfação momentânea que precisava. Nenhuma delas tinha um problema com essa parte de sua vida, até mesmo porque elas não eram mais duas adolescentes. E por Jane saber desse lado, ela sentia necessidade de deixar claro que o que havia acontecido ali não era apenas só sexo. Mesmo depois de todo flerte e carinho trocado por dias antes, era quase desesperador cogitar a possibilidade de que Jane se sentisse como as outras pessoas com quem ela se envolvera - elas nunca tinham confessado uma para a outra os sentimentos enterrados em baixo de suas peles.

'Eu sei, Maur.' Ela riu levemente e seu peito chacoalhou. 'Por que você tá dizendo isso?' Ela perguntou alisando o cabelo loiro, os dedos se perdendo entre fios ondulados.

A médica acariciou o rosto dela e beijou-lhe os lábios com carinho. 'Porque eu te quero por inteiro.' Ela desviou o olhar mais uma vez, sabendo que aquilo poderia ter soado errado, exigente demais.

Jane deslizou o polegar sobre seus lábios antes de segurar sua nuca para brincar com os dedos na linha do cabelo. 'Quando eu disse que quero isso, eu me referi à você, suas manias, e defeitos. O pacote todo.'

'Eu não tenho tantos defeitos assim.' Ela brincou, agora mais relaxada, e as duas riram baixinho.

'Bem, não vamos discutir isso agora.' Jane rebateu e a apertou nos braços, beijou sua cabeça. 'Você vê? É por isso que te amo. Nós estamos sempre na mesma página.' Maura franziu o cenho e Jane esclareceu. 'Metaforicamente, Maura!' Ela riu divertida.

A médica sorriu e enterrou o rosto no pescoço dela, respirou fundo.

'Você já se recuperou?' Jane apertou levemente seu braço.

Ela balançou a cabeça em não, se sentindo levemente dolorida, o corpo exigindo descanso.

'Durma um pouquinho, eu vou cuidar de você enquanto isso.' Jane disse e acariciou sua cabeça, Maura se remexeu no seu abraço.

'Eu não quero perder nada.' Ela murmurou, a conversa do início da noite ainda circulando em sua cabeça, somada ao acontecimento seguinte, e ainda com essa de agora. Muita informação, talvez, para uma noite só. Ainda assim, um sorriso estava estampado no seu rosto.

'Você não vai. Eu prometo. Descanse e depois nós vamos voltar ao que começamos.' Jane provocou, passando uma perna em cima das da médica, parte em proteção, parte para insinuar o que ainda viria pela frente. Maura suspirou e beijou demoradamente seu pescoço. A pele quente servia como conforto, um convite para se entregar à um sono merecido depois de seu corpo ter experimentado a descarga de tantos hormônios. Jane a mantinha confortável num abraço, protegendo-a do restante do mundo - reafirmando que elas tinham finalmente abandonado a hesitação e partido para algo concreto e real - tangível - e que se fosse para a vida continuar acontecendo, seria apenas para passarem uma nos braços da outra.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Feliz Natal... ? hehehehehehe