Contraposição escrita por Blue Butterfly


Capítulo 13
Capítulo XIII


Notas iniciais do capítulo

1.844 palavras. Curtinho, mas vocês sabem - estou voltando aos poucos mesmo =P



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Era ridículo, Jane sabia. Era ridículo como ela tinha Maura em sua mente, mesmo tendo ela ali em seus braços. Era ridículo o modo como ela já tinha memorizado o ritmo da respiração da outra, tão calma e fraca que ela só sabia existir por sentir o ar quente batendo de encontro ao seu peito. Ela também sabia que era questionável o modo como ela segurava Maura tão perto de si, e acariciava por entre seus cabelos apenas para mantê-la dormindo.

E ela sabia que naquele momento carregava o mesmo olhar que via nos casais apaixonados andando de mãos dadas pelas ruas. Mas ela não se importava mais. Ela admitia o sentimento agora. Ele percorria por diversas partes de seu corpo, causando diferentes reações: coração disparado, borboletas no estômago e um sorriso bobo nos lábios.

Depois de perder Maura durante algumas horas, ela havia deixado algumas coisas para trás: palavras não ditas, gestos não realizados. Recuperá-la era sinônimo de uma segunda chance, uma que ela não queria desperdiçar. Ela não se preocupava com o que as pessoas iriam dizer. Ela não se preocupava em parecer muito carinhosa, principalmente sob a percepção de Maura.

Elas tinham embarcado em uma fuga, mas o tempo que estavam ali abriu espaço para algo mais se desenvolver entre elas. Jane ainda não conseguia colocar palavras naquilo que sentia. Era apenas um detalhe, de qualquer forma. O que importava, no final das contas, era como Maura se entregava facilmente em seu abraço. Em como ela sorria com as carícias e parecia inclinada a iniciar todo o ritual para recebê-las: provocar Jane de alguma forma que a obrigasse a afrontá-la com toques, continuar as provocações até que se cansassem e depois permanecerem juntas, corpo a corpo.

Era poder segurá-la e tomar conta dela, numa proximidade que nunca fizera antes. Jane não cansava de tocá-la, correr a ponta dos dedos pelo seu rosto e seus traços delicados, suas mãos. Enquanto Maura dormia tranquilamente em seu colo, ela não pôde deixar de concluir de que aquilo era exatamente o que tinha buscado desde que a conhecera. Como ela prosseguiria a partir de agora sabendo disso?

A médica suspirou de seu colo e franziu o cenho. Jane acariciou-lhe a cabeça tentando niná-la de volta ao sono, mas o gesto surtiu o efeito contrário. Confusa, Maura abriu os olhos lentamente e estudou onde estava, e depois no colo de quem estava. A morena sorriu carinhosamente quando seus olhos se encontraram e a médica não pareceu nenhum pouco desconsertada com a situação.

'Oi.' Jane disse com abrindo um sorriso ainda maior, observando a médica piscar os olhos sonolentos.

'Jay.' Ela disse apenas metade do nome, como se seu cérebro e corpo ainda não estivessem trabalhando juntos. 'Eu sonhei com corujas.' Ela disse e um sorriso tímido apareceu em seus lábios. Sua mão se juntou em frente ao peito e os dedos agarraram a barra de seu pijama.

'Filhotes?' Jane riu levemente.

'Fofinhos.' Maura murmurou e fechou os olhos de novo. Ela se remexeu e arrumou a cabeça no ombro de Jane, um movimento que tinha sido um tanto em vão, porque em seguida a morena estava apertando-a num abraço e beijando sua bochecha. Voltando a posição original - cabeça apoiada no peito da morena - Jane afastou o cabelo de seu rosto e acariciou a bochecha com o polegar.

'Você é fofa. Mas a hora da soneca acabou.' Ela observou enquanto Maura esfregava os olhos mas depois não fez menção nenhuma de sair de lá. Jane se perguntou se ela ainda queria dormir, ou se... apenas queria ficar ali. Seu coração bateu mais forte com a última possibilidade, e esperançosa, ela continuou a conversar apenas para usufruir do momento. 'Quais são os planos para hoje? Caminhada, colher algumas flores e jantar?'

'Nada rotineiro.' Maura brincou e riu em seguida, apertando o ombro de Jane. 'Nós precisamos ligar para Korsak, Jane.' Ela murmurou.

'Nós precisamos.' Jane concordou, nada surpresa pelo fato de que Maura queria notícias sobre o andamento do caso. Ela lambeu os lábios, se sentindo um pouco receosa por tocar no assunto delicado, porque era a primeira vez que a médica, por si mesma, tinha iniciado a conversa sobre o acontecido. 'Eu tenho certeza de que muito em breve vão descobrir o responsável por isso, Maur.' Seus dedos deslizaram pelo cabelo loiro, espalhando-o na almofada.

A médica se remexeu no colo de Jane, mais para ganhar tempo do que para encontrar conforto enquanto lutava com as palavras que queriam sair, e ao mesmo tempo se esconderem. 'Eu sinto falta de casa, mas ao mesmo tempo,' ela suspirou, 'ao mesmo tempo eu lembro que ele esteve lá. Alguém esteve lá e eu já não sei se quando voltar vou me sentir segura de novo.'

Agora era a vez de Jane suspirar para acalmar os próprios pensamentos. Ela dobrou uma perna no sofá, de modo que agora as costas da médica estavam apoiadas nela, mas nada tinha mudado a posição em que estavam. Ela ainda segurava Maura junto a seu corpo. Ela sabia que não poderia oferecer nenhuma promessa precisa de que Maura estaria segura de novo, e se o fizesse, mentiria. É claro, protegê-la sempre fora prioridade, desde quando se tornaram amigas, e a medida de que Jane a conhecia melhor, mais protetora ela se tornava em relação à médica. Ela passou um braço em volta do corpo dela e beijou sua cabeça. 'Korsak vai revirar sua casa à procura de qualquer coisa que não deve estar lá. Nós vamos trocar as fechaduras, adicionar um novo código de alarme. O que for necessário.'

'E na casa de hóspedes também. Sua mãe vai continuar lá.' Maura adicionou, preocupada também com Angela.

'É claro, Maur.' Jane concordou com a cabeça e ofereceu um sorriso. Ela sempre se derretia quando Maura mostrava algum cuidado em relação à sua família. Uma culpa súbita tomou conta de si quando ela se lembrou de que naquela noite em que a médica fora sequestrada, Jane estava tão preocupada que sua mãe fosse o alvo, que não havia considerado nem por um momento que a atenção dela estava sendo desviada da pessoa mais importante de sua vida. Ela trincou os dentes e respirou fundo, tentando abafar a culpa crescente do peito. Ela deveria ter pensando melhor, não deixado a obsessão pela apreensão do assassino desorientada, não ter deixado que pulasse para conclusões a quais ela não tinha como provar. E mais do que isso... 'Eu deveria ter ficado.' Ela murmurou enquanto encostava o queixo na testa de Maura.

'O que?' A médica perguntou curiosa, obviamente não acompanhando o raciocínio da outra.

'Você me pediu para que eu ficasse no seu escritório naquela noite. Eu deveria ter ficado, ele não teria conseguido te levar para a armadilha dele.' Um suspiro tremido passou pelos lábios, porque as palavras tornavam seu erro ainda mais real.

Maura segurou em seu braço enquanto balançava a cabeça. 'Se você tivesse ficado, ele saberia. E ele encontraria outra oportunidade, Jane. Isso não importa mais, porque agora nós estamos aqui.'

'Eu te coloco em perigo.' Jane murmurou, balançando a cabeça. Por que diabos ela tinha que se sentir assim agora? Por que essa onda de culpa, remorso tinha lhe atingido nesse momento? Ela teria que encarar, hora ou outra. A verdade é que desde que decidira ser uma detetive da homicídios a vida de seus familiares e amigos mais próximos acontecia vez ou outra de estar em risco. Se ela se sentia mal com a situação antes, depois do sequestro de Maura - um que fora definitivamente para lhe acertar - ela se sentia responsável pela provação que passara. Para sua surpresa, o comentário pareceu engraçado, pelo menos para Maura, porque ela ria levemente agora.

'Você não me coloca em perigo. Nosso trabalho coloca. É diferente.' Ela encolheu os ombros e não acrescentou mais nada, aparentemente esperando pela vez de Jane.

A morena estalou a língua e apertou os lábios em concentração. 'Você sabe muito bem que isso aconteceu por minha causa. E ainda teve Hoyt... Ele chegou a cortar teu pescoço. E também - '

'Eu sei. Eu me lembro de todos eles. A questão não é essa. Eu escolhi trabalhar com isso, e com vocês. Eu sei dos perigos que acompanham o trabalho, Jane. Eu nunca pensei, nem por um momento, que qualquer acontecimento desses tenha sido culpa tua.' Ela ofereceu um sorriso calmo, os olhos de repente tão serenos e tranquilizadores.

'Eu achei que você estava com medo.' Jane disse brincando, parte em provocação, querendo aliviar a tensão que a conversa tinha criado.

'Eu estou, mas nós já colocamos malucos demais atrás da grades para saber que esse é só mais um. Eu só não quero que ele chegue perto de mim de novo. Ou de você.' Ela disse e plantou um beijo leve na bochecha de Jane, e depois encostou a cabeça no ombro da morena mais uma vez.

'Vou me certificar de que isso não aconteça. Pode apostar.' Ela abraçou Maura e acariciou seu braço distraidamente. Depois de um momento de reflexão, ela empurrou com a mão a coberta que cobria Maura até a cintura para o lado e anunciou, 'Nós temos um jantar para fazer. Foi idéia tua, você precisa cozinhar.'

Maura riu e balançou a cabeça em não, conseguindo num movimento rápido agarrar a ponta da coberta e puxá-la para si de novo. 'Ainda é cedo. Nós não podemos ficar aqui?'

'Cedo? Maura o que aconteceu com você? São dez horas e você ainda nem tomou café.' Ela rebateu e franziu o cenho. Maura sempre fora a primeira a acordar cedo em todos os dias de sua vida, enquanto Jane preferia dormir até tarde.

'É a vida no campo.' Ela disse entre risadas, arrancando uma de Jane.

'Ok. Eu posso, pelo menos, sair daqui? Você sabe, a comida não vai se fazer sozinha. Sem contar que nós precisamos passar no mercado se quisermos algo decente para hoje a noite.' Ela disse já imaginando que a médica decidiria começar a cozinha as três da tarde, apenas para se certificar de que todo o ritual de temperos e sabe-se lá mais o quê, seria feito apropriadamente.

'Não, eu estou muito confortável aqui.' Ela lançou um braço em torno do pescoço de Jane se prendendo ali, e a morena ergueu uma sobrancelha em incredulidade para ela.

'Você vai mesmo continuar com isso?' Ela ameaçou, levando a mão na cintura de Maura.

'Pare de me maltratar, Jane.' A médica disse, os olhos verdes piscando com um apelo imenso. 'Fica aqui?'

Jane tinha certeza que ela tinha escolhido a palavra de propósito, apenas para conseguir o que queria, sabendo do efeito que ela causaria em si. Abrindo um sorriso maquiavélico, a detetive balançou a cabeça lentamente em sim. Ela ficaria agora, ou das próximas vezes que Maura pedisse. Mas dessa vez, em especial, ela a torturaria apenas um pouquinho. 'Oh, eu fico.'


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