Contraposição escrita por Blue Butterfly


Capítulo 12
Capítulo XII


Notas iniciais do capítulo

2474 palavras. Capítulo 'aaawn'. =B



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'Maura?' A voz de Jane veio rouca, perto de mais de seu ouvido. Ela virou o rosto para o lado, sem ter certeza de que estava realmente acordada e murmurou uma resposta. 'Você acordou?' Jane cutucou sua barriga e, agora irritada, Maura afastou a mão da morena de si.

'Não.' Ela respondeu e virou-se para o lado, ignorando a presença da outra e escondendo o rosto nas mãos.

'Você acordou sim.' A morena sussurrou de volta para ela. 'Eu quero te mostrar algo.' A voz rouca veio de nova e dessa vez, com a curiosidade pega, Maura abriu os olhos e tentou se adaptar à luz fraca que iluminava o quarto. Ela estava exausta e daria qualquer coisa para poder continuar dormindo, mas quando viu a expressão tão peculiar no rosto de Jane - uma mistura de excitação e encantamento - ela levantou-se com os cotovelos sobre a cama.

'O que é, Jane?' Ela esperou do fundo do coração que não precisasse sair de baixo da confortável coberta.

'Tá lá fora. Vem comigo.' E com o pedido não atendido, Maura suspirou e se jogou na cama de novo.

'Precisa mesmo ser agora?' Ela perguntou enquanto esfregava os olhos que ardiam por conta da falta de sono.

'Sim! Se não elas vão embora!' Jane insistiu e empurrou as cobertas para os pés da médica.

'Elas quem?' Maura se virou mais uma vez de frente para a morena, tentando ganhar algum tempo antes de sair do lugar confortável e aquecido. Quando seus olhos se seguraram nos de Jane, ela se lembrou da noite anterior e do beijo que havia lhe dado no canto dos lábios. A morena parecia completamente desconhecer o ato, mas tendo consciência de sua ação Maura sentiu as bochechas queimarem levemente. Para sua sorte - ou azar, dependendo do ponto de vista - Jane segurou seus braços e apressou sua saída da cama.

'Você vai ver quando chegar lá.' Ela empurrou Maura pelas costas levemente enquanto parecia animada demais para notar o estado de exaustão da loira. Quando elas chegaram na porta da sala e Jane pareceu continuar o caminho, Maura parou abruptamente e balançou a cabeça.

'Eu estou descalça, Jane. Não vou lá fora assim.' Ela balançou a cabeça e deu um passo para trás.

'Ah, qual é, Maura! É logo aqui ao lado.' Ela insistiu, mas quando segurou a mão da loira, Maura se libertou do aperto e recuou.

'Não vou descalça. Você não consegue se lembrar do tanto bactérias e micro-organismos...' Ela começou a falar e Jane, impaciente, se virou para ela com uma mão erguida.

'Por favor, ainda são seis da manhã.'

'O que?' Maura se sobressaltou. Desde quando Jane acordava tão cedo? E que diabos ela tinha descoberto lá fora? E por qual razão ela já tinha ido no quintal quase que antes do nascer do sol?

'Maura, vem logo!' Ela virou-se de costas, passou as mãos da loira pelo seu pescoço e deu dois tapinhas no quadril da médica.

'Você vai me carregar?' Ela perguntou duvidosa.

'Vou, se é o único jeito. Apenas se apresse ou nós vamos perder.' Jane resmungou.

Vencida pelo cansaço, Maura pulou e passou as pernas na cintura da morena. O vento frio envolveu seus pés e suas pernas, e ela se encolheu contra as costas da morena, procurando por calor. Jane a carregava sem nenhuma dificuldade e em pouco tempo elas estava na parte traseira da casa. A área de lazer era decorada rusticamente; havia uma mesa e dois longos bancos de madeira escura em cada lado, vasos de cerâmica com plantas espalhados aqui e ali, samambaias penduradas da parede. Impaciência e ansiedade cresciam dentro de si quando Maura não avistou nada fora do normal, ela pressionou Jane, então.

'Onde está, Jane? O que você quer me mostrar?' Ela suspirou seu descontentamento.

'Shiu. Logo você vai ver.' A morena disse enquanto sentava Maura em cima da mesa - ela sabia que a loira jamais colocaria os pés no chão, e se o fizesse, seria apenas para castigá-la com horas seguidas de um seminário entediante sobre a quantidade variável de micróbios e qualquer coisa minúscula disposta a atacá-la. 'Lá, lá está ela!' Ela apontou com um dedo para longe, perto de um banco de madeira desgastado pelo tempo. As pernas de Maura continuavam ao lado de seu corpo, visto de que ela - Jane - não tinha se afastado da mesa ao colocá-la ali.

'Oh!' A médica exclamou ao divisar a pequena forma da coruja aos pés do banco. Ela inclinou-se um pouco mais para frente, como se interessada demais.

'É um filhote.' Jane afirmou, virando o rosto para observá-la. Fascínio e admiração brilhavam nos olhos da médica. Ela olhou com incredulidade para a morena e piscou os olhos verdes.

'É uma coruja Tawny, ela faz parte da família Strigidae. Elas geralmente caçam a noite, mas você sabia que apesar do hábito noturno a retina delas não é muito mais sensível do que a nossa própria?' Ela disse empolgada enquanto dividia o olhar entre Jane e o bebê coruja rajado de branco, cinza e marrom.

'Aham.' Jane disse sarcasticamente com um sorriso de canto e bateu gentilmente em sua perna. 'Ela deve ter caído do ninho. Ela tá aprendendo a voar.'

A pequena e fofa coruja deu uns pulinhos para longe do banco e rodou a cabeça para observar ao seu redor. Ela parecia assustada, mas disposta a encontrar o caminho do ninho de volta.

'Lá estão os pais.' A morena apontou com um dedo para as árvores que ficava apenas alguns metros atrás do banco. Duas corujas grandes estavam pousadas uma em cada árvore observando o filhote e, agora, as duas que aparentemente representavam certa ameaça.

Maura encostou o queixo no ombro da detetive e sorriu. 'O que você veio fazer aqui tão cedo, Jane?' Ela perguntou, curiosa.

Jane deu de ombros e acariciou sua perna. 'Eu dormi bem essa noite e acordei mais cedo. Queria andar um pouco, mas não ir muito longe, já que tinha deixado você dormindo. Apenas vim aqui para, você sabe, especular.'

Maura riu baixinho e seus olhos passearam pelo perfil da morena. 'E então você resolveu me acordar para compartilhar sua mais nova descoberta.'

De novo, Jane encolheu os ombros. 'Eu achei que você fosse gostar.' Agora, entretanto, ela parecia meio incerta.

Maura riu, encantada com a ingenuidade da outra e, depois de desencostar sua bochecha do ombro dela, depositou um beijo ali. 'Eu gostei, Jane. Mais ainda por você ter pensado em mim.'

A morena virou o rosto em sua direção, um sorriso tímido surgindo em seus lábios. Nesses momentos singulares, nenhuma palavra precisava ser dita. Ambas sabiam que algo intangível acontecia entre elas; uma troca de valores iguais - imensuráveis. E durava apenas um segundo, mas era tão forte que competia com a eternidade.

'Mas eu ainda estou com sono.' Maura usou do humor quando achou necessário quebrar o encanto em que tinham se envolvido. Não é como se não fosse capaz de bancá-lo, é só que esse momento não era apropriado. Não ainda.

Jane riu e se virou para frente, dispensando também o que havia acontecido antes e retornando ao seu normal. 'Eu te coloco para dormir de novo, mais tarde.'

'É melhor que você faça.' Maura rebateu e encostou mais uma vez o queixo no ombro dela.

Por minutos e minutos elas observaram o progresso da pequena e emplumada coruja. Ao se afastar do banco, ela voou - vôos pequenos e desajeitados - até uma pilha de tocos de madeira. Pulando de pouco em pouco, ela conseguiu chegar até o topo. O progresso era lento, parecia cansativo para a pequena ave. Depois de descansar consideráveis minutos, ela tentou um vôo até uma árvore próxima da pilha de lenha e fincou as garras no tronco. Com uma habilidade ainda se desenvolvendo, ela escalou com dificuldade a árvore, passo a passo, e enroscou o pé um um ramo. E se enroscou. O ramo despencou alguns centímetros para baixo, levando a coruja junto com ele.

'Oh, não!' Jane e Maura exclamaram em uníssono.

'Acho que ela precisa de ajuda... ?' Jane sugeriu, virando o rosto para Maura. A morena parecia aflita, mas a médica balançou a cabeça em não.

'Jane, essas aves são territoriais. Se você for lá é muito provável que seja atacada por elas.' Maura avisou.

'Bem, elas não podem me causar mal. Podem?' Ela teimou, mas parecia incerta.

'Você viu aquele filhote escalando a árvore com as garras? E ele é só um filhote, Jane. Pense em uma coruja adulta.' Maura apertou as pernas carinhosamente em torno do corpo da morena, e Jane concordou com a cabeça.

Mais uma vez elas se colocaram a observar a coruja. Ela se debateu até que finalmente conseguiu se livrar do ramo prendendo seu pé. Caiu aos pés da árvore e, depois de algum tempo se recuperando, começou a escalá-la numa nova jornada. Cerca de vinte minutos depois, ela conseguiu finalmente voltar para seu ninho. Satisfeitas por saberem que a ave ficaria bem, uma sorriu para outra, tomando o sucesso da coruja como uma conquista pessoal.

'Você me leva de volta.' A médica disse e apertou os braços em torno do pescoço de Jane.

'Qual é, Maura. O chão nem tá frio. E nem parece sujo!' Ela brincou, mas uma vez que Maura abriu a boca para lhe responder, ela passou os braços em baixo das coxas da médica e a levantou em suas costas de novo. 'Ok, ok. Eu já entendi.'

De volta ao interior da casa, Jane soltou as pernas da loira para que ela pudesse descer ao chão. 'Não!' Ela disse, aparentemente se divertindo.

Jane revirou os olhos. 'Maura. Nós já estamos do lado de dentro.'

'Você não vai sair de perto de mim.' Ela exigiu, obviamente adorando provocar a morena.

'Maura.' Jane alertou, um tanto quanto irritada, um tanto quanto divertida.

Maura riu e escondeu o rosto no pescoço dela. 'Não!' Ela disse alto, quando Jane deu um tapa em seu quadril.

'Você não é assim tão leve, sabia?' Jane andou mais alguns passos até alcançar a sala.

'Você acabou de me chamar de gorda?' Ela cerrou os olhos e beliscou o braço da morena.

'Maura, o que há com você?' Jane disse emburrada, tentando se livrar dela.

'Ciclo de sono interrompido.' Ela rebateu e riu quando Jane se virou para o lado, derrubando-a em cima sofá.

'Solta meu pescoço.' Jane disse numa seriedade falsa, agora tentando a todo custo não rir.

'Não.' Maura murmurou em provocação.

'Oh, se você quer assim.' A morena passou os braços em volta de sua cintura, puxou-a contra si ao passo de que se sentava no sofá. Agora Maura estava presa em seu abraço, a cabeça descansando no ombro da morena, agora apenas um braço em torno do pescoço dela. As pernas se encolheram automaticamente quando Maura se deu conta do que Jane iria fazer. 'Eu avisei você, Maura Dorothea Isles.' Ela disse depois de levantar um sobrancelha.

Maura começou a rir antes mesmo de ser tocada. Uma vez que a mão de Jane alcançou sua barriga, ela se encolheu, tentando se livrar das cócegas, mas a detetive era forte e segurou-a firme no lugar. Ela riu tanto que a barriga doía e o ar lhe faltava. No canto dos olhos haviam lágrimas. Apenas quando ela soltou o pescoço de Jane para segurar-lhe a mão, foi que a morena parou de castigá-la. Enfraquecida pelo riso, ela soube que Jane apenas tinha deixado de cutucá-la porque nesse ponto não havia mais dúvidas de que ela precisava respirar.

'Você disse que me carregaria.' Maura acusou a morena entre arfadas, ainda segurando sua mão.

'Lá fora, apenas!' Jane se defendeu e livrou-se da mão dela, mas dessa vez era para ajeitá-la nos braços.

'Você também disse que me faria dormir.' Maura resmungou e deu um pulo quando a outra apertou sua cintura. 'Chega disso, Jane!'

A morena riu, satisfeita por ter Maura mais descontraída agora do que nos últimos dias. 'Bem, você não parece com sono agora.' Ela analisou.

'Bem', ela imitou o tom da mulher, 'o que você esperava? Depois de uma descarga de adrenalina dessas!' Ela rebateu e esticou um pouco as pernas.

'Você quer que eu conte uma história de dormir?' A morena provocou e sorriu, e Maura revirou os olhos.

'Se você apenas me deixar em paz, está ótimo.' Ela rebateu e descansou a mão em cima do ombro de Jane.

'Como é?' A morena apertou os olhos, adorando a pequena briga entre elas. Ela colocou os dedos na cintura de Maura, apertou de leve e deixou os dedos ali, pressionando a pele macia, numa promessa de começar uma nova onda de cócegas.

Maura arfou e abriu a boca escandalizada. 'Eu disse que... Adoraria se você me fizer companhia enquanto durmo.' Ela reformulou, esperando escapar do novo método de tortura que Jane tinha aprendido funcionar perfeitamente contra ela.

'Oh, certo.' A morena sorriu satisfeita, pegou uma almofada grande e colocou-a embaixo das costas da médica, de forma que ela sustentasse seu peso e apoiasse também o braço de Jane que a segurava, deixando as duas assim mais confortáveis. 'Pronto, agora você pode dormir.' Foi o que ela disse, mas de alguma forma as duas engajaram numa conversa amigável, e durante uma hora não houve provocações e nem caras feias. Até que Maura começou a se entregar lentamente ao sono, e a cada vez que poderia se perder nele, Jane deslizava a ponta do dedo em seu nariz, ou apertava suas bochechas, ou sussurrava algo em seu ouvido, apenas para acordá-la. Quando a morena de novo apertou seus lábios, fazendo um bico, Maura abriu os olhos irritada e franziu o cenho.

'Se você não parar com isso, vou para a cama agora mesmo.' Ela disse num tom sério, realmente ranzinza por causa da privação de sono.

'Ok, ok.' Jane murmurou de volta para ela, deduzindo sabiamente de que não era um momento adequado para continuar a provocá-la. Tudo o que ela fez então foi acariciar-lhe o rosto carinhosamente, até que a respiração da médica parecia calma, e o corpo completamente relaxado. Jane ajeitou a cabeça em seu ombro e beijou-lhe a testa. Ela sabia onde tinha se metido desde o momento em que sentara no sofá: ela ficaria ali, praticamente na mesma posição por horas, até Maura acordar. Não Havia jeito de sair de lá sem incomodá-la. De um jeito ou de outro, ela estava feliz demais para se importar, apenas por ter Maura ali, completamente entregue aos seus cuidados, em seus braços.


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