Contraposição escrita por Blue Butterfly


Capítulo 14
Capítulo XIV




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O dia tinha se desenrolado em agradáveis momentos de toques, sorrisos e pequenas provocações. Ignorando o mundo, como se estivessem dentro de uma bolha mágica, a tarde tinha sido uma das mais doce desde então. Depois de almoçarem uma refeição simples, ambas fizeram uma visita rápida no mercado mais próximo para comprar os ingredientes para a janta. Retornando à casa elas decidiram aproveitar o dia ensolarado e caminhar em volta do lado, e depois adentrar uma parte da floresta que parecia já destinada à caminhadas. Parando em uma clareira e acomodando-se embaixo de uma árvore grande, Jane havia convidado Maura a deitar a cabeça em seu colo, enquanto as duas conversavam sobre a possibilidade de acompanhar uma escavação no Egito - planos que tinham sido colocados de lado até aquele momento.

Ainda que não tivessem concluído algo sobre o assunto, outros tópicos foram se associando à conversa e quando perceberam o sol já estava se pondo no horizonte. Animadas com a perspectiva de terem Amanda - e Marley - como convidados essa noite, as duas caminharam de volta, dessa vez de mãos dadas e rindo das tentativas inofensivas de Jane ao fingir estar determinada em jogar Maura dentro da água.

Agora com Amanda sentada em sua frente na mesa, Maura sorria ao ouvi-la contando sobre o tempo em que conhecera sua melhor amiga e de como elas cresceram no pequeno bairro em que moravam criando quanta confusão duas adolescentes poderiam criar.

'E como vocês se conheceram?' Ela perguntou depois de bebericar o vinho e descansar a taça na mesa.

'Ah, essa é fácil. Maura achou que eu era uma prostituta e estava tentando comprar, você sabe, meus serviços.' Jane respondeu rapidamente e segurou o riso ao observar o queixo da loira caindo em descrença e seu rosto vermelho.

'Jane Clementine Rizzoli! Isso não é verdade e você sabe!' Ela exclamou um tanto brava, um tanto mais envergonhada. Chacoalhando a cabeça, ela se virou para Amanda na defensiva. 'Eu não... Eu apenas estava tentando oferecer dinheiro para que ela pudesse comprar um café.'

'Bem, mas você não sabia que eu era uma policial.' Jane disse em seguida, rindo ainda da reação da loira.

'Não sabia, mas saiba você que eu não preciso pagar por... bem, esse tipo de serviço. E convenhamos, Jane, você não estava na sua melhor aparência naquele dia. Eu dificilmente...' Ela rebateu irritada, sentindo as bochechas coradas por conta da insinuação da morena.

'Perdão? O que você acabou de dizer?' Jane a interrompeu. 'Eu não estava na minha melhor aparência?' Ela questionou com falsa ofensa, consciente demais sobre a verdade da afirmação de Maura.

'Ah, dá para ver que vocês se entenderam logo de cara, não é?' Amanda comentou com certa ironia, se divertindo ao observar a troca entre as duas.

'Não.' Ambas responderam em uníssono e voltaram a se encarar de novo.

'E você acabou de dizer meu nome do meio para alguém? Você é inacreditável.' Jane rolou os olhos e fez uma careta ao sentir um beliscão no braço.

'Foi merecido, pela sua mentira.' Maura retrucou e suspirou em seguida. 'Não preste muita atenção nela. Ela adora me deixar envergonhada.'

Amanda riu baixinho e concordou com a cabeça. 'Tudo bem. Mas ainda quero saber o resto da história.' Ela apoiou a cabeça na mão e ergueu as sobrancelhas, interessada.

'Eu não sabia que ela era uma policial disfarçada, e nem ela sabia que eu era a nova médica legista. Nós não tínhamos nenhum contato profissional naquela época.' Maura disse e olhou para Jane, esperando pela confirmação. A morena balançou a cabeça e então continuou.

'Algumas semanas depois eu fui transferida para a homicídios, que era meu objetivo inicial ao ingressar na academia. E só então eu me encontrei com a doutora Isles aqui, lá no necrotério. Você deveria ter visto a cara dela quando descobriu quem eu realmente era.' Jane riu com a lembrança e balançou a cabeça.

'E você deveria ter visto a cara dela ao saber que eu era a legista. Nós nos odiamos no primeiro instante.' Maura deu de ombros e fez um bico, como se tivesse concluído que o resultado do encontro das duas seria óbvio.

'Mas agora vocês não se odeiam mais.' Amanda adicionou, não para simplesmente afirmar o óbvio, mas para motivá-las a continuar.

'Oh, não. Nós começamos com o pé errado, mas não insistimos muito na primeira impressão.' Jane chacoalhou as mãos, como se também dispensasse parte o mal entendido entre elas.

'Jane era a única policial que tinha paciência de sobra para ouvir a todos... bem, a tudo o que eu falava. E ainda falo.' Ela lambeu os lábios e sorriu timidamente, e a morena concordou com a cabeça e acariciou suas costas.

'Você vê? Acontece que ela nem era tão ruim assim como eu achei. É claro que ela ainda insiste que a tartaruga dela é um jabuti, mas ninguém é perfeito.' Ela abriu o maior sorriso de todos quando Maura revirou os olhos, e se preparou para defender Bass, o jabuti que agora morava no zoológico.

'Meu Deus, Jane. Quantas vezes preciso explicar as diferenças entre as duas espécimes? Enquanto as tartarugas são seres aquáticos, os jabutis morreriam afogados caso fossem colocados na água. Eles não sabem nadar!' Ela exclamou impaciente, balançando a cabeça em indignação.

Jane abriu um sorriso e ergueu as sobrancelhas para Amanda. 'Viu o que eu quero dizer? Mas depois de um tempo é apenas adorável.'

'Jane!' Maura a repreendeu e sentiu as bochechas corarem mais uma vez. Lá estava a morena, elogiando-a deliberadamente para alguém que nem eram assim tão íntimas.

'Ok. Vocês são adoráveis juntas. Eu gosto da dinâmica de vocês.' Amanda sorriu para as duas, encostou-se na cadeira e deixou a mão cair ao lado de seu corpo, apenas para acariciar Marley. 'Há quanto tempo vocês se conhecem mesmo?'

'Seis anos.' Maura ofereceu e bebericou o próprio vinho.

'Vocês já passaram por muita coisa juntas, eu suponho.' Amanda comentou, correndo os olhos entre elas.

Jane começou a listar na cabeça os piores e melhores momento ao lado de Maura. Havia, sem dúvidas, diversas experiências compartilhadas, desde as mais aterrorizantes até as mais felizes. 'É o nosso trabalho. Quer dizer... Não é como se nossa vida pessoal fosse desinteressante, mas ser detetive e médica legista é o que cria as nuances e tudo mais. Não digo só o lado ruim, olha só, eu conheci a Maura através do trabalho. Isso por si só foi de longe o melhor ganho de lá.'

Ao ouvir as palavras, a médica sorriu com timidez e abaixou os olhos. Se as brincadeiras de Jane a deixavam envergonhada, esses elogios - os mais sinceros que surgiam naturalmente no meio de uma conversa - eram o que a deixava completamente desconsertada.

Um momento de silêncio se instalou entre elas, e foi Amanda quem o quebrou, limpando a garganta. 'Vocês deveriam seriamente considerar minha oferta. Sobre uma entrevista, eu quero dizer.' E ela riu delicadamente em seguida. Jane e Maura se entreolharam, um tanto surpresas pela proposta renovada. 'Quer dizer, olha para vocês,' ela continuou, seguindo o próprio raciocínio, 'vocês são perfeitas para isso. As duas tem um trabalho demandante, perigoso, e são bem sucedidas. E além disso conseguem equilibrar a vida pessoal. As pessoas gostariam de ler sobre vocês. É sério.'

Maura riu levemente e coçou a testa, tentando ganhar tempo ao considerar o pedido da outra. 'Eu não sei...' Ela disse, incerta. Não é como se ela não tivesse sido entrevistadas algumas vezes, e saído em revistas, é só que agora era diferente. Amanda queria incluir Jane como sua parceira - de alguma forma a morena tinha certeza de que elas eram um casal - e, embora Maura não se importasse tanto com uma matéria que seria publicada apenas futuramente, ela não via motivos para corrigir Amanda e dizer que ela e Jane eram apenas.... amigas. Ela nem estava mentindo, de qualquer forma. Ela nunca dissera que estava nunca relação com Jane. E se fosse honesta consigo mesmo, Maura reconheceria que gostava da sensação de ser a namorada de Jane - ainda que fosse apenas na imaginação de Amanda.

'Quem sabe mais para frente? Nós não estamos num bom momento agora.' Foi Jane quem respondeu, parecendo mais segura e confiando mais em Amanda agora.

'Vocês só tem que me dizer quando estiverem prontas. E vocês também podem escolher o que responder ou não.' Ela disse com um grande sorriso no rosto, aparentemente satisfeita por ter conseguido um material de boa qualidade para ser publicado.

'Creio que podemos concordar com isso.' Maura disse e ofereceu um sorriso amigável, apertando a mão de Jane na sua.

'Temos um acordo então!' Jane se levantou da cadeira e recolheu os pratos da mesa. Uma chuva forte caía lá fora, mas para ela não soava como algo melancólico, ao contrário: ela se sentia definitivamente disposta. 'Que tal um jogo de cartas? Ou um filme?' Ela disse ao retornar ao lado de Maura na mesa.

'Cartas.' Amanda decidiu-se rapidamente.

'Você vai se arrepender. Maura não joga limpo, ela conta as cartas e sempre acaba ganhando.' A morena provocou ao se levantar mais uma vez, arrancando uma arfada da médica.

'Eu não trapaceio, Jane. Não tenho culpa que jogo melhor do que você!' Ela se defendeu e franziu o cenho, um bico acompanhando a irritação passageira, enquanto observava a morena procurar pelo baralho.

A detetive riu consigo mesma e lançou um olhar divertido para ela. Jane vivia por essas provocações, principalmente essas em que conseguia irritar Maura. A visão da médica resmungando algo em indignação era algo sempre fofo que lhe aquecia o coração. 'Vou deixar Amanda embaralhar, apenas por precaução.' Ela disse ao entregar as cartas para a morena, e o cotovelo de Maura foi de encontro com suas costelas. 'Ai! Não adianta me bater, Maura!'

'Você é uma péssima perdedora, admita.' Maura provocou de volta e deu um pequeno pulo da cadeira quando Jane apertou sua cintura. 'Pára.' Ela disse em protesto.

E a noite tinha sido leve e divertida. Amanda tinha ganhado a maioria das partidas, e Maura ria toda vez que Jane protestava sobre a má sorte que estava tendo no jogo, e que talvez devessem trocar o passatempo para um filme. Quando a chuva parou, Amanda aproveitou a trégua para voltar para casa. Ainda era consideravelmente cedo, mas se o tempo piorasse outra vez - o que era provável - ela teria que passar a noite ali. Finalmente confortáveis com a presença uma da outra, as duas aceitaram o convite da morena para irem caminhar para lado oposto ao lago no dia seguinte, onde havia uma pequena lagoa de águas cristalinas escondida entre árvores, num vale não muito longe de onde estavam.

Depois de se despedirem, Jane trancou a porta e se virou para encontrar Maura empilhando os pratos limpos no armário. Ela sorriu para Jane e depois de terminar o trabalho colocou as mãos na cintura. 'Pronta para sair em um revista, detetive Rizzoli?'

'Qual é o meu melhor ângulo? Esse? Ou esse?' Ela trocou para duas poses diferentes, fazendo Maura rir.

'Você é linda de qualquer jeito, Jane.' A médica disse ao balançar a cabeça, sentindo o rosto corar levemente por ter dito as palavras sem medi-las primeiro.

A morena deu de ombros e fez um bico em pensamento. 'Não mais do que você.' Ela balançou a cabeça para dispensar o olhar de dúvida de Maura, e depois adicionou em seguida, mudando o assunto. 'Cama?'

'Ainda é cedo, não quero dormir agora. Além disso, se você dormir agora vai me acordar mais uma vez às cinco da manhã.' Ela provocou com um sorriso nos lábios.

'Seis, Maura.' Jane a corrigiu, e fez uma careta, fingindo estar ofendida.

A médica riu e deu de ombros. 'Pareceu cinco para mim.'

'Maura.' Jane estreitou os olhos e, como se adivinhasse o que estava por vir, a médica deu um passo para trás.

'Jane, não...' Ela disse, mas tarde demais. A morena a alcançou em poucos passos, abraçou-a pela cintura e a levantou do chão. Ela tentou se livrar do abraço empurrando os ombros da morena, mas forte como era, Jane a carregou até o quarto sem problema algum. 'Não!' Ela pediu de novo, rindo, enquanto Jane a jogava com cuidado em cima da cama. 'Jane, por favor, sem cócegas.' Ela quase implorou, sendo só a possibilidade de ser torturada a lhe causar uma crise de riso.

'Você me provocou a noite toda, Maura! Você é uma mulher morta.' Jane disse com um ultimato e logo seus dedos encontraram a barriga da médica.


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