Pokémon Shining Soul - Juste Bardour escrita por Virants


Capítulo 3
Você não vai fugir!


Notas iniciais do capítulo

O caso do Ditto desaparecido chega ao fim, seja isso algo bom ou não para Bardour.

Capítulo muito longo (eu lamento por isso, e tentarei reduzir para 3000 ou 4000 palavras, no máximo). Capítulos grandes assim, só gostaria de fazer em momentos chave. Nesse caso, detesto não deixar tudo bem feito, ou mesmo, de ter que dividir ainda mais os capítulos apenas para não ficar um grande. Então, resolvido: um capítulo extra grande para a alegria - ou sofrimento - de vocês leitores.



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Segunda. 5 de Maio de 2014. Creche Pokémon, sul de Goldenrod, na Rota 34. 22:30

Bardour caminhava entre os corredores da instituição. Seus pokémon foram retornados, tanto para não fazerem barulho, como também não chamarem atenção. Afinal, Bianca era um furacão em forma de Eevee. Furtividade? Não, Bardour apenas não queria ser o centro das atenções... Não dessa vez, ao menos.

O funcionários perambulavam de um lado ao outro, tanto para as poucas salas temáticas, como para alimentar as criaturas ou levá-las para a área externa. Maioria eram pokémon pequenos, talvez porque Glinn evitasse os grandes com medo de darem prejuízo quebrando tudo. Juste não ficaria surpreso se realmente fosse por isso.

— Ai, meu Deus! Você ainda tá aqui? — Emily comentaria assustada, quando virou o corredor e topou de uma vez com o detetive.

— Você viu um Ditto por aí?

— Claro que não, de novo essa pergunta?

— Quando você o avistar, pode ter certeza que eu não estarei mais aqui. Ah, e não esqueça... Uma hora da madrugada pegarei o culpado. Até mais ver, senhorita Clark. — e continuaria seu caminho.

— Poderia parar de perambular por aí e topar com as pessoas, já que é incompetente e não consegue pegá-lo antes! Seus talentos, detetive, são invejáveis do ponto de vista mais incômodo que conseguir criar. Devia...

Emily ficaria longos minutos disparando ofensas indiretas contra Bardour. O detetive reconhecia: ela era muito esperta. Principalmente por não ofendê-lo diretamente e correr o risco de ser processada. Mas ele já esperava por essa reação explosiva.

Juste estava com fome. E não era do tipo que ligava para algumas formalidades... De forma que invadiu a cozinha e abriu vários armários, procurando algum lanche. No fim das contas, achou algo na geladeira que esquentou no microondas. Parecia o resto de alguma torta. Seria da Creche? Ou seria de algum funcionário?

— Não tem nome. Não está escondido, não está guardado em alguma sacola. É de quem pegar. — seria sua justificativa.

Enquanto comia, tratou também de pegar um pouco da ração pokémon, distribuindo para seus pokémon. Iria reembolsar Glinn por isso, obviamente. Damon estava sentado na bancada, junto de Noctowl, por cima dela, comendo em tigelas próximas. Bianca estava perto deles, no chão, parecendo um Rattata perdido, com eles muito acima dela. Luna comeu pouco, não parecia estar com fome.

— Detetive... A múmia lá deixou você pegar isso? — era Bernardo Alcan, devidamente uniformizado. Parou na entrada do local, encarando o detetive. Não parecia feliz, apesar de também não parecer se importar.

— Eu não vou ficar duas horas procurando ela, sendo que posso vir aqui comer direto. As necessidades da vida são prioridade acima das formalidades, Bernardo.

— Alcan, pra você. — responderia num tom seco. — Avise ela, porque se ela reclamar comigo, vai dar merda, viu. — deixou de encarar Juste para abrir alguns armários, tirando boa parte dos mantimentos e jogando por cima do fogão, mesa, bancada.

— O seu turno já não acabou? São quase onze da noite... Alcan. — o tom de Bardour era provocativo. Para Alcan... Era irritante o suficiente para ele precisar parar e respirar para se acalmar.

— Hora extra, conhece? Deve conhecer. Termine logo aí, por favor, porque vou limpar alguns armários e reorganizar o estoque. — comentava fazendo um gesto nada simpático com a mão, como se varresse a poeira para a cara de Bardour.

"Como esperado." Juste deixava as louças que sujou na pia e olhava seus pokémon. Estavam terminando de comer, mas não os deixaria terminar.

— Pessoal, vamos, temos trabalho. — comentaria retornando-os. Alcan não parecia gostar de Bardour, isso não ficou tão evidente durante o almoço, mas agora, a sós, era evidente. Possivelmente, escondeu isso no meio dos amigos. Não havia motivo pra repetir o feito agora. — Bernardo, não esqueça: Uma hora da madrugada pegarei o culpado...

Bardour se permitiu encará-lo um breve instante após o comentário. Teria sido mais inteligente ter saído de costas, Alcan exibia um olhar de ódio profundo, uma fúria contida, e estava com uma espátula na mão esquerda... E um cutelo enorme na direita. Para o detetive, estava claro: comentários assim, ou mesmo sua presença diante do cozinheiro, resultaria numa ameaça direta, e não apenas olhares... Talvez resultasse em sangue também, mas Bardour não ligava. Saiu da cozinha, apressado. Ainda era cedo para uma hora, mas precisava checar algumas coisas.

Dois cuidadores passaram com Houndoors acoleirados, um deles latindo muito para Bardour, que virou e encarou o bicho, fazendo uma careta que o fez latir ainda mais. Se o cuidador que o segurava não fosse um pouco mais firme no pulso, o cão teria escapado e atacado Juste. Caminhando de costas por causa disso, Juste não notaria alguém distraído vir em sua direção.

Trombaram de uma vez. Bardour, mais encorpado, não sentiu tanto o baque, mas ao olhar para a frente, percebia Mary Rensce sentada no chão.

— Cara... Isso doeu. — ela se levantaria, apoiando na parede, com calma, com uma mão na região lombar... Região essa que era impossível não dar atenção, o que incluía o detetive.

— Hã... Bem... Me perdoe, senhorita Rensce. Não foi minha intenção. — Juste ia tentar ajudá-la a se levantar, mas ela apenas mostraria a mão espalmada, querendo distância.

— Não foi uma queda muito feia... Se fosse, eu teria quebrado o cóccix... E aí sim você ia ser perdoado com um processo na fuça... Poxa, detetive... Difícil olhar por onde anda? — ela ficou um tempo apoiada na parede, de olhos fechados, respirando calmamente.

— Foi um ligeiro descuido da minha parte. Quer que eu pegue água ou algum analgésico? Sabia que você é linda? Já volto. — Juste já virava as costas a caminho da cozinha, mas a moça o segurou pelo braço com certa rapidez...

— Esquece, já tô melhor. — ela falaria com alguma urgência, se afastando da parede e seguindo caminho. Mas era evidente que, apesar do elogio pastelão de Bardour, seu ego fora brevemente inflado.

Bardour ficaria quieto durante dois segundos, vendo-a se afastar. Um sorriso malicioso se formaria em seu rosto. Ele queria testar algo.

— Senhorita Rensce... — avançaria alguns passos na direção da moça, conforme ela se virava para escutá-lo. — Alguma chance de irmos para os fundos, brincarmos um pouco... Se eu te ajudar com as questões legais pra sair dessa creche com dinheiro?

O tom do detetive era bastante malicioso. O olhar, apresentava bastante interesse no que observava... O corpo de Mary. A moça percebia o interesse sexual de Bardour, mas diferente do elogio, não recebeu bem. O rosto se fechou em fúria. Foi apenas um movimento rápido e forte do braço direito dela... E a cabeça de Juste se inclinou para o lado e um estalido seco chamou a atenção dos cuidadores dos Houndours no final do corredor, e até mesmo de Alcan, que aparecia de uma vez na porta da cozinha.

— Não sou mulher pra você, detetive. Se enxerga! E sou comprometida também! Faça o favor de ficar longe de mim! — gritava a meio tom, talvez para garantir que Juste entendesse a mensagem.

— Uma hora da madrugada, Mary, eu pegarei o culpado pelo desaparecimento do Ditto. — Juste falava baixo, com a mão na bochecha esquerdo, massageando sutilmente, bem como movendo a mandíbula, como se analisasse danos não visíveis.

— Que bom pra você. — responderia, secamente, saindo de perto dele e indo até a cozinha.

Alcan a todo instante observou Juste com uma fúria profunda, principalmente quando Mary revelou o aparente motivo de tê-lo estapeado. Bardour agora tinha a certeza que estavam juntos, e ainda mais, do quanto ele se importava com ela. Afinal, com todo o ódio por Bardour, seria fácil ele explodir e ir para cima dele agora... Mas não o fez. Mary estava próxima, e talvez não quisesse problemas para o namorado... Ele se segurou de forma espetacular.

— Surpreendente... A vagabunda bate forte para o caralho. — o detetive estaria saindo do corredor, comentando baixo, movendo a mandíbula para os lados. Colocaria um dedo na boca, lá no fundo, e perceberia uma quantia minúscula de sangue rosado. A moça batia forte... Para um tapa.

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Creche Pokémon. 00:40

O detetive estava numa sala de descanso. Era um ambiente destinado aos funcionários durante o horário de almoço, ou entre turnos, ou mesmo para um descanso breve para aqueles que dobravam expediente, como era o caso de Bernardo Alcan. Apoiava os pés com os calçados sujos no sofá, deitado. Por que estava ali? Havia dormido durante uma hora, possivelmente, descansando.

Olharia o relógio, espantado.

— Ah, cara. Era pra eu ter levantado meia hora atrás, agora não vou ganhar o le Lux da Glinn. — falava frustrado, se sentando.

Ele queria acordar 23:45 e pegar o culpado por volta de meia noite, para surpreender Glinn, mostrar que era o fodão, e massagear seu próprio ego. Estava cansado, não previu isso, e está aí, quase uma hora atrasado para o próprio plano. E pior, era possível que ele precisasse sofrer alterações, por causa do horário atual.

— Na verdade, você está adiantado. Não era uma hora da madrugada que disse que pegaria o culpado, senhor detetive? — Emily Clark estava ali, lendo alguma biografia toscamente escrita, até onde Bardour pôde notar pela capa.

— Faz diferença? Eu ia pegá-lo meia noite, não uma hora. Era só um blefe. Agora vai ter que ser uma hora mesmo. — Juste se levantava, irritado, checando se estava com a carteira, o maço de cigarros no bolso e suas pokébolas.

— Faltam 15 minutos. Por que não senta e conversa sobre como é um incompetente que dorme em serviço? — Emily parecia querer dar o troco pelas duas vezes que Juste ficou "por cima" nas conversas. Mas ele não tinha tempo para isso agora.

— Faça o que quiser, Emily. Eu preciso ir. — virou as costas e foi para sair, quando uma almofada bateu em sua cabeça. Ele olhou para trás e viu Emily sorrindo. — Sério?

— Por que não seria? — Ela queria brincar. E era a brincadeira que Bardour não tinha tempo... Batalha de egos.

— Eu não tenho tempo pra infantilidades. Cresce logo, Emily, porque roubar pelas costas da Glinn já tá feio pra alguém com sua inteligência.

Juste abriria a porta e sairia, não ligando para os xingamentos diretos de Emily para ele. Ela foi irritada em seu amâgo mais profundo, bem como foi descoberta por Bardour em algo que ele não devia investigar. Infelizmente, Juste estava apressado demais para percebê-la discando um número ao celular.

— Ele saiu adiantado, correndo da sala de descanso... — e desligaria o telefone rapidamente, largando o livro na poltrona e saindo da sala, atrás de Bardour, a passos lentos.

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Juste levou quase dez minutos para avançar pelos corredores. Estava indo direto para onde os funcionários guardavam suas coisas, uma mistura de banheiro com chuveiros, e vestiário. E estava puto, como se definia nesse momento. Teria chegado em oito minutos, mas fez uma parada breve para beber água.

Ele via Alcan seguindo na mesma direção, de forma que o seguiu sem produzir ruídos.

— Merda, já tá aqui... — resmungaria baixo, mantendo a furtividade.

Bernardo Alcan parecia estupidamente apressado. Talvez fosse apenas para encerrar as poucas horas extras da noite, ou mesmo, para resolver alguma coisa. Juste tinha absoluta certeza de ser a segunda opção. Alcan entrou na sala, que era grande, mas sem espaço. Havia 2 box com chuveiro, dois bancos longos e pequenas estantes do tipo nicho com portas adaptadas e trancas. Eram espaços grandes, que caberiam facilmente uma mochila de viagem - ou um pokémon, apesar de o espaço de ventilação ser mínimo. Juste via isso de relance, não tendo mais visão, já que Alcan foi mais para o interior. Era o vestiário masculino.

— Uma hora da madrugada... Eu pegarei o culpado... Se eu perder esse le Lux, eu não vou prender o culpado, vou matá-lo... — Bardour se permitiria o comentário, avançando rapidamente para dentro, sem ser visto.

— Calma, Bernardo. Que coisa. — era a voz de Mary, num timbre provocativo. — Eu esqueci uma coisa, e acho que deixei junto das coisas daquele Snubbull. É importante.

— Uma rapidinha, Mary. Você pega depois. — Alcan estava ávido, era fácil de perceber. Alguém começava a andar, e Juste precisou sair de perto da entrada e se esconder num dos box.

— Você vai ter o serviço completo lá em casa. Vou pegar as coisas e te espero no carro pra gente ir, tá? — se deram um selinho barulhento enquanto a moça ia saindo, sem notar Juste.

Bernardo não parecia feliz, já que respirou profundamente e soltou o ar com força. Pegou as chaves no bolso e foi abrir o armário.

— É bom que seja completo mesmo. Muita sacanagem fazer isso comigo. Prometer algo aqui e não fazer. — ele parecia mais triste do que irritado, na verdade. Quando abriu o armário, ficou parado um instante, observando alguma coisa.

Nesse momento Juste já estava atrás do rapaz, se aproximando o suficiente para tentar agir. Uma pokébola caiu das mãos de Alcan, liberando uma criatura estranha, de consistência gelatinosa, rosada. Era o Ditto! O pokémon estava visivelmente fraco, sem conseguir manter uma forma que permitisse se mover e fugir, e Alcan estava parado, olhando-o. Juste, ao perceber o Ditto, recuou um passo já puxando a arma, mas Alcan era ágil para alguém do seu tamanho.

Bernardo lançou o braço para trás e girou o corpo, acertando o detetive antes de conseguir fazer mira, o que fez a arma voar para o lado, caindo debaixo dos armários. Bardour recuou mais um passo, esquivando-se de um soco do grandalhão e revidando com dois jabs no rosto. O cozinheiro deixava evidente não estar feliz com aquilo, grunhindo em fúria, avançando alguns passos e arriscando mais um soco. Juste desviava novamente e repetia a sequência anterior, mas Alcan segurava seu punho e, com a mão livre, girava metade do corpo num soco direto no rosto de Juste. O detetive cambaleou alguns passos para trás, batendo com bastante força nos armários, sentindo algo quente escorrendo pelo nariz e o sabor de sangue na boca. Ficou tonto, mas manteve-se de pé, teve apenas tempo de abaixar-se e se jogar deitado no chão, escapando de um soco que arrebentou a porta de um armário. Rolou lateralmente, escapando de um pisão de Alcan.

— Para com isso, porra! Não precisa ser assim! — Bardour gritava, irritado. Se levantou rapidamente mostrou as mãos espalmadas, em sinal de rendição. O nariz pingando mais sangue do que ele gostaria.

Alcan parou um segundo, encarando o detetive. Aquele ódio contido finalmente estava sendo liberado, e isso era como terapia para o cozinheiro. Ele olhou para os armários, assim como Bardour, ambos encontrando a arma de Juste.

— Sim, precisa ser assim, detetive...

Alcan se jogou ao chão para pegar a arma enquanto Juste avançou poucos passos, pegando a pokébola aberta no chão e retornando o Ditto a ela. Porém, isso foi o tempo do oponente pegar a arma e mirar.

— Bianca! — Juste se jogou para trás e para o chão, batendo as costas na parede e escapando do primeiro disparo, que iria certeiro na cabeça.

A Eevee hiperativa do detetive surgia quase que num passe de mágica, pulando em cima de Alcan ainda deitado no chão, mordendo o ombro do braço que estava com a arma. Juste avançou novamente, chutando a arma da mão do cozinheiro e depois sua cabeça, antes que ele pudesse ter reagido a tempo de atacar sua Eevee. Com Alcan atordoado, Juste Bardour guardou a pokébola do Ditto, retornou Bianca para a própria, e recuperou a arma, apontando-a para o grandalhão.

— Fica quieto, filho da puta! Não vou te matar, apesar de querer muito! — Juste esbravejava, usando o antebraço para limpar o excesso de sangue do nariz. — Fique aí! Se eu te ver fora daqui, te mato!

Juste virou as costas para o rapaz, que tentava se sentar, mas não conseguia. O chute que recebeu foi forte o suficiente para destruir seu equilíbrio, tinha sorte de ainda estar consciente. Bardour sairia do local, apressado, com uma mão no nariz e a outra fazendo mira com a arma. O plano? Era pegar Mary Rensce antes que fugisse. Se Digu-Digu estava com Alcan, era certo que poderia estar tramando a fuga.

— Vou te pegar, vadia. É em você que vou descontar esse sangue! — se permitiria um grunhido enquanto corria com tudo. Alguns funcionários o viam passar correndo pelo corredor e acompanhavam com o olhar, estranhando.

Juste havia corrido para o estacionamento, muito apressado, arfando e tossindo sem ar, conforme checava os veículos que ainda estavam ali.

— Ela ainda tá aqui... — constatava ao notar que a placa de um deles batia com a placa do veículo da cuidadora. Parou um instante, para recuperar o fôlego, e prometeu parar de fumar, mais uma vez. Estava quase tossindo os pulmões para fora. Conseguiu controlar o sangramento nasal um tempo, enquanto voltava lá para dentro. — Eu sei onde você tá...

— Detetive, se sujar meu chão de sangue de novo, eu mato você, seu filho de uma rapariga maldita! — Glinn gritava vindo de um corredor, avistando a trilha de gotas de sangue do detetive. Ele a ignorou e continuou correndo.

Bardour já encontrava a sala de Glinn, por ventura, com a porta retirada das dobradiças. Precisou parar de avançar imediatamente e se lançar ao lado, esquivando-se de uma cadeira que passou voando.

— Preciso de vocês! — liberaria Tyrogue, Sneasel e Noctowl. — Damon, venha comigo, Luna, esconda-se e flanqueie quando possível. Sage, cobertura! — enquando dizia isso, Bardour se xingava mentalmente por ter esquecido de completar as balas na arma.

Um Ursaring surgia na porta, rugindo alto o suficiente para causar um calafrio rápido em Juste. O colosso se movimentava nas quatro patas, correndo pelo corredor mirando o grupo.

— Agora fodeu de vez essa porra! — Bardour descarregaria a arma no pokémon, mas sua mira não seria das melhores em vista da velocidade dele.

Conseguiu atrapalhar a investida do urso, de forma a poder esquivar se jogando contra a parede junto de seus pokémon.

— Merda! Merda! Damon, Luna, Sage, levem esse bicho lá pra fora, agora! AGORA! — pegava as balas reserva e já começava a carregar a arma.

Sage havia levado Damon, jogando-o para cima do Ursaring que foi atingido por chutes no rosto e logo depois uma série de cortes na região das costas, fazendo o sangue escorrer, feitos por Luna. Num giro, o Ursaring acertou o braço no rosto de Luna, que bateu na parede e caiu no chão, ia ser mordida pelo inimigo, não fosse Damon acertando um chute na mandíbula do bicho. Sage, com sua técnica psíquica, fez Luna cair deitada no chão junto de Damon, desviando de um soco do Ursaring que penetrou e trincou a parede. Batiam em retirada enquanto Bardour ia, recarregado, para a sala de Glinn.

— Ande, Mary. Eu sei que está aí! —entrava de uma vez, mirando para todos os lados. O que viu? O pequeno e antiquado cofre de Glinn completamente vazio e a janela aberta. — Merda! — pulou a janela, fazendo um rolamento quando chegou lá embaixo, mas quase torceu o tornozelo no processo.

Olhou para os lados, xingando pela dor e pela sala da velha ser no primeiro andar e viu aquele quadril perfeitamente desenhado e com volume perfeito, indo de um lado ao outro conforme Mary corria para a frente do estabelecimento, possivelmente para fugir com o dinheiro. Juste a perseguiu, já tendo visão do estacionamento. Ele podia ser fumante, mas corria com velocidade - mais que Mary, ao que parecia -, já alcançando a moça.

— Mary Rensce, você não vai escapar! — Bardour não iria atirar, alcançaria ela na corrida, o que seria mais garantido.

No entanto, não contava que a moça pararia de correr subitamente e viraria para ele. No peito da moça havia um Spinarak que, na primeira oportunidade, lançou sua teia contra o detetive, prendendo suas pernas e fazendo-o cair de forma violenta.

— Acho que vou sim, babaca! — Mary ainda teria tempo de mostrar o dedo do meio ao detetive e recomeçar a correr.

— A minha paciência... Simplesmente não existe mais. — Juste, ainda caído, fazia mira com a arma. Poderia tê-la descarregado para acertar as pernas da moça, mas preferiu disparar apenas duas vezes.

Mary Rensce já estava chegando no carro, feliz que conseguiria fugir. Mas então escutou dois disparos. Não entendeu o porque no primeiro momento, só sabe que caiu no chão e rolou. A perna direita começou a doer de forma que ela nunca havia sentido, bem como seu braço, cujo ombro foi atravessado por um dos tiros. Juste puxava a faca do tornozelo, cortava a teia e seguia mancando para perto de Mary. Uma multidão se formava na entrada da Creche Pokémon de Glinn, bem como a própria velha.

Juste mancava, mas mantinha a arma pronta para disparar, apontando para todos ali presentes enquanto pegava o celular com a outra mão.

— O que pensa que tá fazendo, detetive idiota? Tá ligando pra quem? — Glinn falava, num misto de fúria e desespero.

— Sai da frente! Sai da frente! — largava o celular de uma vez e corria mancando para o meio da multidão. — Emily Clark, não reaja! — gritava furioso.

Os funcionários iam se afastando, a tempo de Bardour ver Emily quase saindo do hall da recepção para algum corredor. Juste parou de correr, contou 1 segundo e disparou. Emily não podia mais ser vista por aquele ângulo, mas estaria no chão, com uma bala atravessada perto da tíbia. O detetive parou. Respirou fundo, sentou no chão e se apoiou na parede. Puxou um cigarro, o acendeu com bastante calma, enquanto escutava Glinn o xingando de todos os nomes que existia em sua língua.

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Terça feira. 6 de Maio de 2014. Creche Pokémon. 1:45.

A polícia escoltaria a ambulância até o hospital, onde Mary Rensce e Emily Clark receberiam o último atendimento médico. As duas olhavam para Bardour, que fazia questão de ser notado no meio de tudo aquilo e recusou qualquer atendimento dos paramédicos.

Bernardo Alcan estava algemado e já na viatura, mas não parecia se importar com isso. O olhar estava perdido, sem brilho, mas era por causa de Mary. Havia um bilhete dela junto da pokébola do Ditto, mas Juste não chegou a pegá-lo. Mas sabia seu conteúdo: Mary pediria para Bernardo receber toda a culpa pelo desaparecimento.

Juste já estava no sexto cigarro seguido, fumando todos com calma, aproveitando o trago para não precisar terminar o maço em menos de meia hora. Glinn fora informada de tudo, xingando-o de tudo quanto é nome em vista dos prejuízos, sendo o maior deles... Que o dinheiro do cofre não foi recuperado. O detetive acabou ficando sem o Damier le Lux, mas recebeu o devido pagamento - e com acréscimos. Glinn era uma velha filha da puta, teve prejuízo, mas reconhece o serviço bem feito. Afinal, o Ditto foi recuperado e ele ainda deu fim a três funcionários problema. "Apenas dois, senhora Glinn. Alcan foi manipulado e nem sabia do ocorrido. Só soube quando precisou lutar comigo". Mas ela não ligava para isso. Alcan tinha bom coração, já havia cumprido o que precisava na cadeia, mas... Voltaria por ter sido ingênuo por amor.

— Algum problema, detetive? O Meowth comeu sua língua? Cadê o dinheiro? Você é incompetente mesmo, né? Que pena. Mas não se preocupe... Quando eu sair da prisão... Eu te mostro onde tá e te enterro junto, tá? — Emily gritaria, provocante, antes de finalmente ser levada pela polícia.

Petulante até o último momento... Mary precisava sair dali, queria dinheiro, e queria destruir com Glinn, por puro ódio e orgulho. A ideia do Ditto foi de Emily, que concordou em ajudá-la. Alcan foi metido no meio por ingenuidade, mostrando que Mary é ainda pior do que o imaginado. Juste tinha pena do rapaz. Enquanto ele recebia a culpa pelo sequestro, elas duas levavam o dinheiro de Glinn, sendo que Mary fugiria, tentariam pôr a culpa disso em mim ou em Alcan, destruindo ainda mais com o rapaz. Mas, com seu orgulho, Emily quis ficar, ver Mary fugir, ver eu e Alcan sendo culpados, pensando que Juste não tinha ligado as coisas. Ledo engano. Essa era a história de Juste para a polícia.

— Vai embora, detetive. Não quero ver você mais. Eu disse sem polícia. Agora todo mundo vai saber dessa merda aqui na minha Creche e o pessoal não vai querer mais deixar os pokémon aqui, seu filho da puta. Vai embora logo. Vou entrar com uma ação pra te impedir de se aproximar daqui, entendeu bem? Até semana que vem você será informado disso, seu Rattata de esgoto, bebum! Vai 'pa puta que pariu! — a simpática Glinn entraria junto dos funcionários, deixando apenas Juste e seus pokémon do lado de fora.

Damon, Sage e Luna foram bem treinados por Juste... O Ursaring poderia ter morrido. Só não morreu porque o trio o deixou viver. E nem se feriram no processo. Ursaring mau treinado. Juste entrava no carro, apagava a bituca do cigarro no cinzeiro, abria a janela. Respirava um pouco e sorria.

— Dinheiro no bolso, bebida no copo. É madrugada e falta muito pro sol nascer! — pisaria no acelerador, cantaria pneu, e sairia disparado.

Próxima parada: Qualquer bar de Goldenrod que ainda o permita em suas dependências.


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Notas finais do capítulo

Capítulo longo, sinto por isso, me perdoem, queridos leitores.
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