Pokémon Shining Soul - Juste Bardour escrita por Virants


Capítulo 1
Dor em cápsulas, máscaras e dry martini


Notas iniciais do capítulo

Juste Bardour investiga o desaparecimento de uma adolescente. As coisas ficam realmente interessantes quando ele rastreia o possível local onde a jovem pode estar.


Durante os capítulos haverá palavras destacadas com hiperlinks. Abra-os conforme ler a palavra. Trata-se de link para Youtube com música para o momento específico da cena ou, ainda, imagens para completar a leitura, seja de ambientes ou personagens.



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Quinta, 25 de Abril de 2014. Oeste de Goldenrod. 01:13

– Caralho! – o detetive Bardour gritava alto, furioso, entre o som dos tiros e das chamas.

Um trio de homens estava a cerca de dez metros do rapaz, usando uma parede e alguns tijolos como cobertura. Levantavam a mão e disparavam sem dó as semiautomáticas na direção de Bardour, que conseguia se defender ficando atrás de uma parede levantada pela metade. Ele arfava bastante e já estava suando com o calor das chamas que passavam por cima da parede, quase o acertando. Próximo do trio havia dois Charmeleons.

– É a última chance de vocês! Não me façam revidar com a força! – o detetive gritava mais alto, fazendo os disparos e chamas cessarem um instante.

– Última chance? Pegue essa última chance e enfie naquele lugar, meu chapa! – a resposta vinha como uma nova saraivada de tiros e chamas. Com o volume dos disparos e as chamas, a parede não aguentaria mais tempo.

– Sage! Preciso de você agora! – Bardour gritava com toda a força que conseguia.

Ele checava a munição da pistola. Oito balas. A munição extra estava no bolso da jaqueta. É, daria certo. Ele, afinal, era o grandioso Juste Bardour, o detetive. Não tardou e uma coruja surgiu por cima dos atiradores que miravam em Bardour, lançando o que parecia um pokémon menor, cinzento e de sorriso malandro. O Noctowl desceu num rasante, soltando o Tyrogue por cima do trio, que disparava sem fazer mira, errando os dois. Os três logo ficaram fora da visão de Juste, apesar de gritos de dor serem escutados conforme Tyrogue e Noctowl os atacava. Os Charmeleons ficaram sem reação, perdidos, tentando entender o que acontecia.

– Ei! Olhem pra cá! – Bardour chama a atenção dos dois lagartos, que olhavam para o detetive com uma expressão nada feliz.

Chamas escapavam pelas laterais de suas bocas, que se preparavam para uma nova rajada contínua de fogo. No entanto a arma de Juste foi mais rápida. Quatro disparos rápidos, atingindo o peitoral de um, e mais dois atingindo o outro. Os dois caíram sangrando e grunhindo, incapazes de continuar lutando devido à dor. Talvez sobrevivessem, talvez não. Ele lamentava por isso, mas os pokémons escolheram isso, então a culpa não era apenas dele.

– Sage, Damon, bom trabalho. – ele dizia saindo de sua cobertura e indo até onde os rapazes estavam antes.

Puxava a munição extra do bolso e recarregava bala a bala. Sorria ao ver o Tyrogue e o Noctowl saindo de trás dos materiais de construção, retornando ambos. Seguiu caminhando para a porta que dava para um enorme galpão de construção incompleta, com metade do teto coberto.

A garota tinha que estar ali. Não havia outras opções lógicas para terem levado a garota. Ela estava desaparecida há 56 horas e a polícia já havia sido acionada. No entanto, após 15 horas do desaparecimento, Juste Bardour já havia sido chamado.

Samantha Drizzler, filha do empresário Darius Drizzler, dono da fabricante de medicamentos pokémon, D.D. Pharma. Não era de se surpreender que a garota houvesse sido o alvo escolhido. Com filiais em toda Johto e Kanto, e uma nova em Hoenn, os negócios estavam em ascensão, assim como os impulsos rebeldes da adolescente.

– Agora que o bicho pega... – falava baixo e sorria. Não por gostar da situação, mas porque acreditava que havia algo muito errado em tudo isso.

Seguiu pelo galpão, tomado de materiais de construção empilhados. Um movimento errado significaria um estrondo sonoro escutado por metade do quarteirão. Se é que não escutaram os tiros. E isso significava que eles já estavam atentos e Juste estava sendo procurado. Esgueirou-se entre algumas pilhas de vigas amarradas, olhando entre os mini corredores, buscando por perseguidores ou locais de melhor trânsito.

Um pequeno grupo de 3 homens passariam correndo por perto, na direção que o detetive usou para entrar. O grande problema, é que estavam armados com semiautomáticas assim como os capangas do lado de fora. E lá fora Juste podia lidar com isso. Ali dentro, com tudo aquilo servindo de obstáculo, apesar de aparentar mais defesa, não permitia mobilidade. Ele teria problemas se fosse visto. Até por isso tratou de voltar um pouco e seguir pelo corredor paralelo ao usado pelos rapazes. Em todo canto era possível escutar alguma movimentação.

– Achei... – Bardour suspirava, um pouco aliviado. Na parte mais completa do galpão, havia alguns pequenos escritórios, alguns deles com vista panorâmica para o resto do local. A questão é: apenas um deles possuía vigilância no acesso. Samantha com certeza estaria lá.

No entanto, estes estavam com escopetas e não semiautomáticas. “Pense, Bardour... Pense...” o detetive insistiria conforme se aproximava da sala. Era necessário subir uma escada e seguir por uma pequena plataforma que dava acesso a todos por lá. Era um espaço pequeno em vista do combate que poderia ocorrer. Bardour checava a munição que ainda tinha consigo. A arma estava devidamente carregada, mas possuía apenas 12 balas extras. Isso era uma rodada e meia de tiros.

– Preciso fazer um investimento urgente. A Dor em Cápsulas anda sendo muito necessária ultimamente... – se permitiria um riso seco enquanto pegava três de suas pokébolas. Sem lança-las, apenas abrindo-as com um movimento da mão, libertaria dois pokémon.

Sage, o Noctowl e Luna, a Sneasel, eram revelados. Em silêncio, ambos fariam um gesto para Bardour, em demonstração de atenção. Ele aproximaria a terceira pokébola de seu rosto e tocaria duas vezes o botão em seu centro.

– O plano é o seguinte... Damon, lançarei você para perto de dois idiotas. Enquanto eles te dão atenção, Sage e Luna vão dar uns tapas neles. Eu estarei dando cobertura de longe, caso necessário. Entendido?

Os pokémon respondiam com um gesto afirmativo enquanto que a pokébola em sua mão dava uma leve tremida. Era sinal afirmativo, também. Juste parou, respirou, analisou arredores... E arremessou a pokébola. Damon, o Tyrogue, surgiria a pouco mais de 4 metros de onde estavam os rapazes armados. Com um brado de bravura e um sinal de provocação, os dois já erguiam as armas para disparar. Eles não contavam com duas coisas, no entanto: Sage com uma fraca rajada psíquica derrubando as armas de suas mãos e Luna desferindo-lhes uma rasteira e golpes no rosto, para atordoá-los. Damon apenas correu, deu um pequeno salto, e já caiu acertando a cabeça de ambos, deixando-os inconscientes. Bardour, durante toda a cena, estava de arma empunhada mirando nos dois.

Com um gesto afirmativo, Bardour sinalizava os pokémon da eficácia do plano e seguia para a porta. Sinalizava, apontando os próprios olhos, e indicando dois pontos. Sneasel se posicionava na área mais baixa, descendo da plataforma enquanto que Sage subia para a estrutura que segurava o teto, ficando escondido. Juste abriu a porta com cautela, sem fazê-la ranger, e percebia algo que não poderia acontecer. Isto é, ele já se achava muito esperto, muito habilidoso, e dono da razão. Mas encontrar Samantha Drizzler, em tão pouco tempo (ele tinha fontes e sabia que a polícia estava muito longe do rastro) e com tanta facilidade naquele galpão, que seu ego inflaria mais que um Qwilfish.

– Bardoursão... Você merece uma bebida. Você é foda, cara. – se permitiria uma risada baixa conforme sinalizava para Damon puxar os capangas inconscientes ali para dentro.

Porém, nem tudo eram flores naquele lugar tomado de pó, poeira, massa e cápsulas deflagradas. Junto de Samantha havia outros 4 jovens. Assim como ela, amarrados, amordaçados e inconscientes. Bardour se movimentou para dentro sem se tornar visível para todos lá fora pela vidraça.

– Ei... Ei... Acorda aê, guria. – tocaria levemente o rosto da adolescente com os dedos indicador e médio da mão esquerda. Daria um tapa fraco para fazê-la despertar.

Damon fazia o mesmo nos outros, tentando despertá-los. Samantha abriria os olhos, parecendo bastante aérea. No susto de ver Bardour, ela reagiria no reflexo de se jogar para trás e tentar gritar. Apesar da mordaça, soou mais alto do que devia e o detetive precisou tapar sua boca com a mão e sinalizar "sshh" com a outra mão.

– Seu pai me mandou, Samantha. Fique quieta e em silêncio. Vamos sair daqui. – ele detestava ser babá, e o tom usado não foi de boa vontade.

Samantha não achou ruim, mas em sua cabeça rebelde, ela jurava que esse cara não era boa pessoa, apesar de resgatá-la. O que não era muito diferente do que todo mundo pensava de Juste. Com uma pequena faca, Bardour soltou a moça e a ajudou a se levantar. Repetiu o feito nos outros adolescentes e, conforme iam se levantando, confirmava que não estavam drogados ou sedados. Sinalizava para não ficarem visíveis na vidraça, também.

– "Sorte deles. Se estivessem sedados, eu largaria eles aí e levava a guria no braço mesmo. Haha." – Bardour pensava, se permitindo um sorriso largo que ninguém na sala entenderia, senão o pequeno Damon.

– Meu Deus, cara... Meu Deus! Pensei que nunca íamos sair daqui, que eles iam nos matar ou sei lá o quê e....

– Silêncio! – Juste tapava a boca do jovem, mostrando uma expressão furiosa. Os outros se assustaram com a velocidade (e até grosseria) da reação de Juste.

Um som baixo, mas familiar para Juste, era escutado. Após ele, um estrondo metálico de vigas chocando-se uma na outra.

– Luna, o que você fez?! – esbravejava de uma vez. Não ligava para o fator furtivo, foi direto para a vidraça entender o que acontecia. Via uma série de vigas desamarradas bloqueando o acesso para onde os jovens e Juste estavam. Luna não estava visível. Mas ele entendeu o recado. – Vamos. Já sabem de –

Antes que terminasse de falar a vidraça se partiu conforme 3 disparos atravessaram-na. Bardour apenas não foi atingido por Sage, através da habilidade Confusion, agindo fora da sala, e Damon, dentro dela, empurrando seu dono, impediram o trágico fim. Ainda abaixado e com os jovens parecendo entrar em pânico, Bardour sinalizou que estava tudo bem.

– Acalmem-se. Vou tirá-los daqui. Vivos... E inteiros. – ele não tinha certeza deste último, mas era ótimo em mentir – Eu vou sair e vou para a esquerda. A plataforma é longa e ficarei visível. Vocês vão pela direita e descem as escadas. Damon irá com vocês. Entendido? Foda-se se não entenderam. VÃO, VÃO!

Bardour se levantava rapidamente e corria para a porta, abrindo-a. Os jovens iam logo atrás. Porta aberta, o detetive já saía atirando para o nada, a fim de inibir os disparos alheios. E, de fato, conseguia. Fazia como foi dito aos jovens, mas um deles acabou indo JUNTO de Bardour, para a fúria do rapaz.

– É pra você ir pra outra direita, seu mongol! – apontava os outros já descendo as escadas. Mas não havia tempo, os disparos recomeçaram e Juste se viu obrigado a puxar o jovem e se jogar da plataforma. Escapou dos disparos e caíram perto dos outros que já haviam descido.

A queda era de cerca de 2 metros e ele amorteceu a queda do rapaz. Se foi por querer ou não, seria uma história para contar outro dia.

– Você... É muito... burro. Porra. Dói... – se levantou com dificuldade, conforme o jovem o ajudava, lamentando e se desculpando pelo erro.

Sage sempre dava sinais sonoros e os disparos se concentravam no teto. Ele foi descoberto. Juste olhou nos arredores, certificando-se de estarem seguros. Mais vigas eram derrubadas mais à frente. Luna estava adiantada sobre o posicionamento de Juste e os criminosos. Isso os daria tempo.

Juste ainda ficou uns segundos ali, de pé e inclinado se apoiando nos joelhos, recuperando o fôlego da queda, antes de revelar seu novo plano.

– Existe mais de um acesso pra cá. É óbvio que bloquearam o primeiro. Teremos de seguir em busca dos outros. – Juste apontou a direção dos escritórios que ficavam no térreo. Ainda não sabia para que serviria aquele galpão, mas com certeza haveria acesso de mercadorias ou a entrada principal. Não importava qual, teria uma saída dos fundos e eles precisavam dela. Os jovens foram correndo na direção apontada e Damon ia junto deles.

– Não vem conosco? – um deles perguntaria. Juste apenas sorriria.

– Quer sair vivo? Cala a boca e vai logo. – Juste pegava as balas e recarregava. Apenas 8 balas extras. E isso agora parecia realmente preocupante.

Os disparos dos criminosos cessaram, mas sua movimentação e gritos de ordens ainda eram escutados. Em vista da bagunça do local, e a parte não completa do galpão não ter iluminação boa, os permitiu esse tempo de planejamento. Mas Luna já estava perigosamente avançada na direção dos inimigos e Bardour sabia que se não a chamasse, ela iria até dentro das linhas inimigas... E acabaria com eles. Ou morreria tentando. Ela era impulsiva e adorava uma briga.

– Sage, auxilie Luna a recuar e diga que é uma ordem minha! Tome cuidado. Sinalize quando ela estiver segura e então VÁ PRA BEM LONGE DAQUI! – Gritou com tudo que seus pulmões podiam e correu para as escadas, subindo de volta à plataforma.

De arma em punho, disparou em pontos chave. A ideia era tanto inibir alguns disparos, como derrubar uma coisa ou outra, para distrai-los ou atrapalhá-los. E seguiu correndo com tudo que tinha até chegar na área mais completa do galpão. Ali, a plataforma se revelava como sendo um novo andar completo, o que lhe garantiu uma parede pronta para bloquear todos os disparos.

– "Mas isso não vai impedi-los de correr até aqui". – era o que Juste pensava conforme corria.

Para sorte do detetive, a energia nessa seção estava ligada e por isso não ficou na completa escuridão. Ainda faltava muito para aquele lugar ficar pronto, mas aquele ponto especificamente, estava ficando bonito. Bardour parou de correr quando percebeu os disparos cessando por completo, um pouco mais distante.

– Por mais que eu não esteja no térreo, é fácil pular de uma janela para alguma plataforma do lado de fora. Por estar em construção, o lado de fora pode ainda precisar de algo. Se eu der azar, o jeito é pular na louca mesmo. Mas... – Juste controlava a respiração e, num gesto rápido, jogou-se para dentro de um escritório e escapou de um disparo.

– Admito, senhor. Você possui reflexos e uma audição invejável. Mas ainda quero entender o que veio fazer aqui... – era uma voz masculina, alguém de meia idade, talvez, e que não fazia muito caso do detetive.

Bardour mordeu o lábio inferior, em um breve momento de raiva. Foi por pouco. Realmente, por pouco, e teria levado bala direto na testa. Aproveitou o momento para recarregar a arma. Agora era oficial. Ele tinha apenas 8 balas. E eram as que estavam no tambor.

– Meu chapa, não tô afim de conversa não. Saia do meu caminho, e você poderá ir pra um bar contar que saiu vivo dessa merda toda. – Juste devolvia o comentário no mesmo tom de quem não liga. O problema é que ele ligava. Até demais. A ponto de realmente querer fazer o que dizia.

– Uh. Nossa. Então é o tipo durão? Interessante. Mas creio que no bar a história de como te matei soe mais interessante. Compreende? Você pode se entregar, e meto uma bala direto em sua cabeça. Rápido e indolor. Ou você faz o tipo durão e vai morrer lentamente. Eu adoraria a segunda opção.

Juste não contava que teria balas para esse tipo de situação. Não queria arriscar. Estranhava, porém, que com todo o estardalhaço que teve no galpão e os disparos, a polícia talvez estivesse para chegar. Precisava ganhar algum tempo. Para a polícia chegar... E para Damon guiar os jovens para fora.

– É. Entendi. – o dono da voz começava a andar. Se aproximaria de onde Juste estava? Talvez. – A polícia não chegará pelos próximos dez minutos. Espero que esteja ciente disso. E isso, inclusive, senhor... Permite que eu utilize de artifícios muito interessantes. – havia ironia em sua voz, e malícia.

Juste praguejou baixo e deu um soco leve na parede que usava de cobertura. Havia entendido a mensagem de seu oponente. E não era das melhores. Juste estava sozinho. Não que ele não estivesse acostumado... Mas nessa situação, ele precisava da chegada dos policiais.

O maior problema, porém, foi quando um som de algo metálico batendo no chão soou e Juste viu uma esfera metálica rolando pelo solo, para dentro da sala que estava.

– Seu filho de uma Miltank maldita! – Bardour apenas teve tempo de praguejar em alto e bom som, dar dois passos para fora da sala e pular para perto de outra.

A granada explodiu, Juste ficou surdo, sentiu a onda de calor da explosão e não teve tempo de desviar do disparo que o alvejou. Na verdade, ele se lançou para longe prevendo o disparo. Não foi atingido na cabeça, nem no peito, mas a lateral de sua perna foi atingida. De raspão. "Um salto incomum para um disparo comum", era o que ele dizia sobre desviar de balas sendo apenas um humano - foda - como ele se achava. Precisou se levantar de uma vez, tropeçando e já entrando em outra sala, desviando de outros tiros - e esses acertariam sua cabeça, sem dúvida. O ouvido zumbia e custou para conseguir se recuperar.

– Já me escuta? Ei? Vamos. O senhor é capaz de mais que isso.

– Por que sequestrou Samantha Drizzler? O que aqueles outros adolescentes têm a ver com tudo isso? Se vai me matar, me dê as respostas, pelo menos. – Bardour apenas queria tempo. Tempo para respirar, tempo para pensar.

– Então está aqui a mando de Darius Drizzler? Tsc, tsc... – o oponente parecia realmente decepcionado. – O senhor Drizzler realmente não aprende, não é? Sinto informar, mas... Você vai morrer. E eu te garanto isso, senhor detetive. – o tom era alterado. Ele não estava mais para brincadeiras. A coisa realmente estava séria. E Juste temia por isso.

Bardour estava mau. Poucas balas. Ferido. Ainda afetado pela explosão. Sem saber o que seu atacante possuía de armamento e defesa, e muito menos sua real posição naquele ambiente.

– "Bardour... Hoje você merece uma garrafa inteira, não só a dose." – pensava, abrindo um pequeno sorriso, sacando duas de suas pokébolas. Eram pokébolas dos pokémon já lançados, portanto, vazias.

– Espero que nesse breve silêncio você tenha feito uma oração para qual seja o deus de sua religião, senhor detetive. Mande um cartão postal do Além Vida, com cumprimentos ao senhor Edvard Linorio. Adeus.

– Surprise! – Juste saía da sala de uma vez, lançando as duas pokébolas na direção do oponente.

Ele precisou ser rápido, lançou-as na primeira coisa que viu, na altura do peito e se abaixou, sacando a pistola e disparou as dores em cápsulas como se não houvesse amanhã. A reação do inimigo foi disparar rapidamente nas pokébolas. Tiros certeiros, impedindo-as de o acertarem e, consequentemente, danificando-as. Bardour possuía ângulo para bons disparos, por isso fez com tudo que tinha.

O inimigo, agora ele podia ver, usava um sobretudo escuro, coturnos, calça pesada e um colete à prova de balas. Mas nada disso era surpreendente. Na verdade, o que mais chamou atenção... Foi a máscara do indivíduo. Era de duas cores, branco e amarronzado com um sorriso sinistro.

Os disparos atingiram o peito, pernas e um dos braços do rapaz. Quando a pistola clicou vazia, Juste se levantou e correu contra o inimigo. Ele estava evidentemente surpreso. Ajoelhou-se pelos disparos nas pernas e largou a arma, uma que Juste não identificou de imediato. O detetive, nessa rápida aproximação, mirou um chute lateral no rosto, fazendo o mascarado bater com a cabeça na parede. Pegou-o pelo colarinho, ergueu, jogou contra a parede, deu duas cotoveladas em seu rosto e jogou na parede paralela. Ele bateu com força, grunhindo e caiu sentado.

– Ninguém me ameaça e fica inteiro, parça. Ninguém. – Bardour estava irritado. Ah, estava.

Foi até o mascarado, segurou-o pelo pescoço e tentou remover sua máscara. Juste arrependeria-se amargamente de ter feito aquilo. Recebeu uma joelhada fortíssima na barriga, perdendo o fôlego, um soco no lado direito do rosto e tomaria um tapa espalmado na têmpora esquerda. Mas isso significaria a morte. Teve reflexo de bloquear o golpe segurando o braço do oponente e jogá-lo por cima do corpo. No entanto, ao invés de cair de costas ao chão, ele caiu de pé, cambaleando e Bardour girou, num chute frontal, fazendo-o cambalear para trás.

– Divertido. Mas nosso tempo acabou. –o mascarado diria num tom interessado, com uma risada breve.

Antes que Bardour o acertasse novamente, o corpo do rapaz seria atravessado pelo punho do detetive, se revelando como um amontoado de fumaça roxa que se desfazia imediatamente. As sirenes da polícia podiam ser escutadas, alguns gritos e ordens e Juste respirou aliviado, sentando no chão se permitindo um momento de descanso.

– Que legal, cara. Você precisou ser teleportado pra sair daqui. – falava acendendo um cigarro. – Covarde filho da puta. – dava uma tragada e suspirava, cansado e irritado.

–------------------------ X -----------------------------

– Certeza que é só isso, detetive Bardour? –um dos agentes insistia na pergunta.

– Seu policial... Era algo entre 5 e 8 homens. 5 deles eu deixei inconsciente. O resto deve ter fugido. Estavam armados, todos. Os 5 que estão na viatura foram os que dei uns tapas. Os jovens estão seguros graças a meu Tyrogue, como podem ver ali, eles dando depoimento, sãos e salvos. Que parte dessa história chata você não entendeu? – Juste precisava ir embora. Precisava falar com uma pessoa.

– Certo. Se lembrar-se de algo, estaremos esperando por novas informações. Não queremos que a falta delas prejudique nossas investigações, não é mesmo? Boa noite. – aquele policial não queria estar naquele lugar, nem naquela hora. Mas Bardour suspeitava de algo mais.

Juste sequer respondeu. Apenas acenou um tchau, de costas mesmo, e foi até Samantha, que já havia dado seu depoimento.

– Guria... Você ficou calada durante todo o tempo e escondeu o medo melhor que todos os outros. Os cuecas ali não suportaram isso como você. Isso é engraçado. Tu tá bem? – perguntava para a adolescente, sentada no meio fio perto de uma das viaturas, conforme todos se organizavam para sair dali.

– Isso não te importa. E eu só queria sair daqui logo. Dá pra me levar pra casa ou tá difícil? Meu pai não te pagou o suficiente? – o tom era rebelde, o olhar, explosivo, o coração, impulsivo e se acha incompreendido pelo mundo. Mas isso não significa que Juste era obrigado a suportar.

O detetive suspirava, pegava a garota pela mão, puxando-a para se levantar - e isso doeu -, e andou até o carro com ela resmungando por ser puxada. O carro estava há três quarteirões dali, mas até que, no fim das contas, seria uma caminhada rápida.

–---------------------- X -------------------------------

– Aqui. O pagamento, senhor Bardour. Em espécie, como prometido. – Darius Drizzler entregava um envelope volumoso para o detetive.

Era um rapaz por volta de seus 35 ou 40 anos, bem apessoado, vestido sempre formalmente. E Juste poderia dizer que o sorriso que nunca saía do rosto tambem era parte da vestimenta.

– Drizzler, espero que esteja ciente do tamanho da, desculpe o palavreado... Da putaria, que aconteceu lá. –Juste não estava feliz, mesmo com o pagamento. – Devia ter fácil mais de 20 homens naquele lugar, e ainda um rapaz de máscara que jogou a merda de uma granada em mim.

– Senhor Bardour...

– Eu não vou investigar isso. Não ligo pro tipo de merda que você tá metido. Mas isso, com toda a certeza, aumentou o preço do meu serviço. Eu fui pago pra investigar um desaparecimento, não um sequestro incomum. E espero que entenda o que quero dizer com incomum.

Bastou que Bardour citasse "eu fui pago pra" que Darius Drizzler havia entendido tudo. Juste queria um pagamento para ficar calado e, também, como compensação pelo problema extra. Não seria difícil e, antes que o detetive terminasse de falar, Darius já entregava um cheque para Juste.

– Isso deve cobrir as despesas médicas e pagar pelo problema extra. Creio que encerramos aqui, então? – Drizzler era bom com as palavras e sua entonação sempre era simpática. Era um homem de negócios, afinal. Negócios que estavam crescendo bastante.

Juste pegou o cheque, olhou o valor. É, ele ficou surpreso. Era mais do que ele ia pedir, inclusive. Quase 2 vezes mais. Hoje ele ia beber. Virou as costas e foi saindo da sala de visitas da residência de Drizzler. Abriria a porta, sairia, mas antes de fechar, um aviso que talvez se arrependesse um dia.

– Não sei quem são, Drizzler. Mas reforce sua segurança pessoal. É tudo o que digo. – e por fim, saiu.

O detetive desceria a escadaria, observaria o jardim, a fonte. A umidade era boa ali, agradável, gostosa, se comparada à cidade. Goldenrod era muito grande, mas não se importou tanto com esse aspecto. O volume de veículos e de pessoas era o que mais a destruía. Não eram difícil pessoas com problemas respiratórios nunca sequer visitarem o lugar.

– Hoje, Juste... Você foi foda. E merece beber um pouco. Mas antes, vamos cuidar dessa perna ferida e então tirar uns dias de folga. Temos dinheiro pra isso. – Juste estava em seu carro, lá fora da área da residência, sorrindo. Foi uma madrugada boa, apesar de tudo.


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Notas finais do capítulo

Imagens apresentadas, bem como músicas linkadas e similares, não são de minha autoria. Todos os direitos cabem aos seus respectivos autores.

Sobre a história... Ainda com dificuldades de definir uma imagem para Bardour. Sinto informar. =/