Nova fase' escrita por HungerGames


Capítulo 49
Consequências




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Sou meio empurrado e meio guiado para dentro da boate, a luz colorida e piscante me deixa  tonto, provavelmente toda bebida de antes também tenha algo a ver com isso, a música continua alta, mas sou jogado no canto entre uma pilastra e o corredor pro banheiro.
— O que você fez? – papai pergunta, sua voz é nervosa, mas confusa, eu olho para minhas mãos e o sangue ainda está lá, sinto um embrulho no estomago e começo a esfregar as mãos na minha camisa, mas parece que o sangue não quer sair da minha pele e eu esfrego com mais força – O...QUE...VOCÊ...FEZ? – agora sua voz é pausada e controlada, ele segura minhas mãos e eu olho pra ele, eu sei que deveria responder, mas por um minuto sinto como se tudo estivesse rodando e se torna tão confuso que meu estomago embrulha, eu me inclino e coloco tudo pra fora, fico um pouco sem fôlego, papai me faz me levantar e respirar fundo.
— Senhor Pyter Mellark? – a voz grossa não é mais dele e sim de um homem atrás do tio Ryan que estava logo ao lado do papai, ele está com o chapéu e uniforme típico dos policiais, papai me solta e se vira pra ele parando na minha frente como se impedisse que alguém me visse.
— Senhor! – ele estica a mão para o homem e eles apertam rapidamente.
— Me acompanhe, por favor – ele fala mostrando a direção da saída, tio Ryan me olha parecendo assustado.
— Tem uma sala logo ali, é melhor – mamãe aparece e aponta o corredor – Os fotógrafos – ela explica e então o policial concorda, faz sinal na direção da porta e mais dois policiais entram e nos acompanham pelo corredor, mamãe vem logo ao meu lado com a mão no meu ombro, a sala é pequena apenas uma mesa e duas cadeiras, ninguém senta e o ar que já é pouco parece ainda menor e por alguns segundos ninguém diz nada, até que o primeiro policial respira fundo, mexe num celular e então vira a tela para gente.
— Vocês gostariam de explicar? – na tela um vídeo roda, Patrick está caindo no chão depois de um soco meu, em seguida subo em cima dele e continuo batendo, o vídeo para depois do que parecer ser uma queda do celular, mas não restam dúvidas, sou eu no vídeo.
— O vídeo não está completo, é muito fácil pegar apenas uma parte isolada e se montar uma história – mamãe me defende séria.
— Me desculpe, Senhora, mas é realmente difícil de entender que tenha alguma explicação pra isso – ele vira o celular de novo e dessa vez é uma foto do Patrick no chão com o rosto ensanguentado, novamente meu estomago embrulha, olho pras minhas mãos e o sangue dele continua nelas.
— Eu garanto que tem uma explicação – papai entra a frente da mamãe.
— Eu espero que sim, por que estamos indo agora mesmo pra delegacia – ele avisa e então guarda o celular, ele se afasta da passagem da porta e faz sinal pra que a gente passe, mamãe me olha e tenta me passar alguma segurança, concordo e passo a frente saindo primeiro da sala, a música parou e mais policiais estão entrando na boate, os olhares e murmurinhos agora são infinitamente maiores.
— Como você tá? – Louise aparece, diferente do seu jeito sempre implicante e irritantemente animado, ela está séria e preocupada.
— O que eles disseram? – Bella vem logo atrás dela, mas mal tenho tempo de responder e Theo aparece, ele segura meu rosto com as duas mãos e olha direto nos meus olhos.
— Vai dar tudo certo, ok? – não respondo, apenas faço a pergunta que está me incomodando desde que vi o vídeo.
— Como ele tá? – olhar o sangue nas minhas mãos está me fazendo pensar coisas que me causam arrepios.
— Tá vivo – eu o encaro querendo mais detalhes – Ele quebrou a mandíbula e o nariz – engulo em seco sentindo a culpa do que fiz começando a me atingir.
— Eu fiz merda! – ele não diz nada, apenas me olha por alguns segundos, depois encosta a testa na minha e aperta as mãos na minha cabeça.
— Eu tô do seu lado, ok?
— Vamos! A viatura já está pronta – o policial avisa e Theo me solta.
— Eu também vou! – ele fala e logo Bella e Louise também querem ir.
— Vocês vão pra casa, a Pérola vai levar vocês, por favor – mamãe pede e eles concordam, então saio da boate, as câmeras mal esperam eu aparecer e já estão disparadas, as perguntas sendo gritadas ainda mais alto do que antes, os policiais me escoltam até a viatura e quando me abaixo pra entrar no carro eu o vejo.
Pedro está parado enquanto dois policiais falam com ele, mas seus olhos estão em mim, ele ainda tenta vir até a mim, mas papai me apressa e me empurra pra dentro do carro, em menos de um minuto o carro sai seguido pelos flashes.
A Chegada na delegacia também foi agitada, por que vários jornalistas correram pra cá, mas sou escoltado novamente e consigo entrar sem ser encurralado, somos guiados até uma sala e logo o delegado entra, cumprimenta meus pais com um aperto de mão rápido e a mim apenas com um aceno de cabeça, ele se senta na cadeira, coloca os cotovelos sobre a mesa, coça a barba grisalha e então solta um suspiro.
— Briga de rua – ele fala com certo cansaço e decepção.
— Não foi exatamente isso – eu falo e ele me olha fingindo surpresa, então mexe no celular dele e me vira, cada vez que eu vejo esse vídeo sinto ainda mais repulsa pelo que eu fiz e eu só gostaria que as pessoas parassem de me mostrar isso toda hora.
— Você gostaria de me explicar o que foi isso?
— Ele começou a briga...
— Ele caiu depois do primeiro soco, não me pareceu uma briga justa...
— Eu... Eu sei que exagerei e... E não tem desculpas pra isso, eu só...
— Você está bêbado? – olho para o papai.
— Nós estavamos em uma festa – ele que responde por mim.
— Você precisa fazer um exame toxicológico e eu sinto muito, mas... Você não sai daqui essa noite – ele faz sinal para alguém do lado de fora da sala.
— Você não pode manter ele aqui...
— Eu tenho um vídeo do filho da senhora espancando uma pessoa... E dessa vez não tinha nenhum tatame embaixo... – a afirmativa faz a culpa corroer dentro de mim.
— Tudo bem, eu... – eu respiro fundo e me viro pra ela – Tá tudo bem – me levanto e ela se levanta junto comigo.
— Vocês não podem fazer isso... Por favor – dessa vez ela tem lagrimas nos olhos e eu odeio vê-la nessa situação, isso me lembra quando o papai foi preso e como ela ficou totalmente sem chão, mas agora pelo menos ela tem ele, mesmo que quando eu o olhe, ele também esteja parecendo perdido.
— Eu acho que vou precisar de um advogado – eu falo pra ele e ele concorda.

— Eu já chamei – eu concordo, mamãe vem até mim e me abraça, mas não consigo tocar nela, não com as mãos sujas de sangue.

— Eu vou ficar bem – me deixo ser levado pelo policial e tudo que eu vejo antes da porta se fechar é ela se agarrando ao papai e chorando.
Sou levado a uma série de procedimentos, faço exames de sopro para álcool, coletam minha urina, tiram meu sangue, tiram fotos, e finalmente me deixam lavar as mãos, demoro o tempo que me é permitido, mas quando as vejo limpas ainda não as sinto assim.

A cela é individual, mas é escura, fria e solitária, um outro cara na cela a frente me olha de um jeito curioso, mas antes que ele fale algo, eu vou para a cama de colchão duro e fino, me deito e encaro o teto, quando fecho os olhos um filme começa a passar na minha cabeça, ele começa com Pedro me contando a verdade sobre ele e termina com minhas mãos ensanguentadas, abro os olhos sentindo o estomago revirar de novo e é exatamente assim que eu passo a noite inteiro.

Um barulho alto me faz desviar os olhos do teto, o barulho parece se amplificar na minha cabeça de um jeito que me faz querer ser surdo, a luz que escapa de uma pequena janela a minha frente faz meus olhos se espremerem e minha cabeça latejar ainda mais, do outro lado da grade um policial está batendo algo na grade da minha cela fazendo o barulho aumentar.

— Acorda, princesa – ele fala rindo de uma maneira que um policial não deveria fazer, eu me sento na cama, ele se abaixa e abre um compartimento onde uma badeja é colocada e a empurra – Serviço de quarto – ele fala com ironia, se levanta e sai.

— Ele é um babaca – o cara na cela a frente da minha fala, ele também recebeu uma bandeja e já está com ele sobre a cama.

— Então ele é assim com todo mundo? – ele confirma – Achei que tivesse recebendo um tratamento especial – falo com ironia, o cara ri.

— Não é gostoso, mas você deveria comer – ele aponta para minha bandeja.

— Eu devo sair daqui a pouco – ele ri.

— Você ainda tem mais 24 horas de isolamento...

— Quê? Como assim?

— Agora eles deixam os novatos 24 horas sem ver ninguém de fora, eles dizem que assusta e faz a gente pensar melhor quando tá la fora de novo...

— Eles não podem fazer isso...

— Tem muita coisa que eles fazem que não podem, mas... Isso é legal agora...

— E o direito a um advogado?

— Você pode ter, só não pode falar com ele antes das 24 horas...

— Isso é ridículo!

— Espera até provar o que eles chamam de café, isso sim é ridículo – eu solto o ar irritado e me levanto, já ia chamar por alguém quando ele me interrompe – Melhor você não fazer isso...

— Por quê?

— Escuta, eles podem te ignorar e isso acaba em algumas horas ou eles podem começar a pegar no seu pé e isso vai fazer as horas parecerem dias, então... Relaxa, eu tenho certeza que tem muita gente lá fora resolvendo as coisas pra você – eu ainda não estou mais calmo, mas concordo com ele e volto a me sentar, arrasto a bandeja para mais perto de mim e observo seu conteúdo, um copo de café, algo parecido com um mingau, um pão com manteiga e uma banana, pego apenas o café, está morno e sem açúcar, mas com a ressaca que eu estou bebo sem reclamar.

— Quanto tempo você tá aqui?

— 3 meses – ele dá de ombros.

— E por quê?

— Drogas!

— Usava ou vendia?

— Usava, mas eles acham que eu vendia e bom, meu advogado não é tão bom quanto o seu...

— Eu continuo aqui...

— Nós sabemos que é só por mais algumas horas – não sei o que dizer então termino de beber meu café - E você, quebrou mesmo aquele cara?

— Como você sabe? – ele ri.

— Eu apenas sei, e aí, o que foi? – eu dou de ombros.

— Eu tinha bebido demais, ele me provocou e as coisas saíram de controle – ele me olha meio desconfiado.

— Você precisa sair daqui...

— É, eu sei...

— Meu irmão é louco por você – ele fala meio que revirando os olhos – Ele é meio irritante com isso, ele tem 10 anos e guarda tudo que você aparece, eu levei ele uma vez numa luta, não conseguimos uma foto, mas ele ficou enlouquecido só de te ver lutando... É por isso que você precisa sair daqui, ele não pode ter dois exemplos tão ruins assim – ele faz sinal para nós dois – Certo?

— Quanto tempo você vai ficar aqui?

— Um ano...

— O almoço é tão ruim assim? – aponto para o mingau, ele ri.

— Um pouco pior – não sei por que, mas também acabo rindo.

O resto do dia parece passar tão prolongado quanto uma semana inteira passaria, eu não sei como ele aguentou ficar aqui por três meses, eu mal completei minhas 24 horas e se não fosse pela conversa que estabelecemos eu já teria enlouquecido, mas a conversa sobre o irmão dele e sobre os planos dele de abrir uma oficina de motos quando sair daqui acaba me distraindo e quando as luzes são apagadas, eu me deito torcendo para que a madrugada passe mais rápido do que esse dia passou.

Novamente eu não consigo dormir, mas pensar que falta pouco para sair daqui não me deixa surtar, porém me faz contar os segundos e quando o policial aparece na frente da minha cela, eu rapidamente me levanto.

— Bora! – ele abre a grade e faz sinal para que eu saia

— Obrigado – eu falo para o cara da cela a frente e só então percebo que não sei o nome dele – Qual seu nome?

— Heitor!

— Vai querer fazer amizade agora? – o policial reclama enquanto me espera a alguns passos a frente.

— Eu não vou esquecer – aviso e então sou guiado até uma sala onde meu advogado está, antes que eu possa perguntar, papai entra na sala, ele parece irritado com algo, mas quando me vê vem direto até a mim e me abraça forte, segura meu rosto entre suas mãos e abre um pequeno sorriso.

— Você já pode sair – ele fala e eu sinto o alívio percorrendo meu corpo.

— Mas antes precisamos acertar algumas coisas – o advogado avisa e papai concorda, então nos sentamos – Sua fiança foi paga, pode aguardar o julgamento em liberdade – a palavra julgamento me faz ter calafrios, mas quando olho para o papai ele não parece preocupado, então volto a atenção para o advogado – Mas nós podemos evitar o julgamento...

— Parece bom...

— Primeiro você precisa saber a realidade da sua situação... Bom, eles tem um vídeo onde você bate num garoto praticamente desacordado... Ele quebrou a mandíbula, o nariz e dois dentes, passou por uma cirurgia e embora não corra nenhum risco de vida, ele ainda precisa de cuidados, além disso, os seus exames deram um nível de álcool pelo menos 3x maior do que o aceitável, uma coisa favorável é que o dele também, então podemos alegar que vocês estavam em uma festa e os dois se descontrolaram...

— E isso não me alivia em nada, né?

— Você acaba de completar 18 anos, tem um histórico limpo, residência fixa, família, estudos, emprego, sua ficha é intacta...

— Mas? – pergunto o que já está no ar.

— Eles continuam tendo um vídeo...

— E o que isso significa?

— Eu não vou mentir pra você, é impossível você sair dessa sem nenhum arranhão, mas nós podemos minimizar os efeitos...

— Como faríamos isso? – ele e meu pai se entreolham.

— Pra começar você vai abrir mão de participar do próximo Campeonato...

— Quê? Eu já lutei as eliminatórias...

— Você vai sair daqui e vai dar a notícia em primeira mão para os jornalistas, é uma decisão sua, você precisa deixar isso claro...

— Mas pai, eu não posso fazer isso, eu já tô dentro...

— A pergunta é: você quer abrir mão agora ou prefere ser banido da equipe definitivamente? – o advogado que me pergunta e eu olho para o papai.

— É melhor que essa decisão venha de você – papai concorda – É o certo a se fazer, você pode voltar no próximo, mas agora... É exatamente isso que você precisa fazer, por você e por todos os garotos que querem ser como você – sinto como se tivesse levado um soco no estomago, então apenas balanço a cabeça concordando.

— Além da renúncia do Campeonato, um pequeno esclarecimento sobre como você está arrependido e pretende pagar pelo seu erro...

— Só isso?

— E nós vamos oferecer um acordo... O pagamento de todo gasto médico, mais uma indenização generosa – o advogado me estica o papel.

— UAU! – é tudo que eu consigo dizer quando vejo o número, é realmente generosa a indenização – Além disso, você mesmo vai se oferecer para um ano de trabalho comunitário...

— Ok, mas o dinheiro da indenização vai ser todo meu, eu não quero que você coloque nada – papai já ia abrir a boca pra discutir – Eu fiz a merda, eu pago! – ele concorda com um aceno de cabeça – E eu vou precisar dos seus serviços – aponto para o advogado, então falo sobre o Heitor e sobre como espero que ele dê uma olhada no caso dele.

— Ok, mas primeiro precisamos tirar você daqui – ele avisa e ele chama o policial que libera  a porta, mas antes ainda passamos um tempo resolvendo as coisas dentro da delegacia, para só então sairmos.

Assim que nós saímos da delegacia, eu quase sou devorado pelos jornalistas que estavam me esperando, microfones, câmeras, celulares e mais qualquer outra tipo de dispositivo é colocado na minha frente na esperança desesperada de captar algo que pra eles é importante.

Eu mal consigo ouvir uma palavra inteira ser pronunciada, todas elas se misturam uma a outra e é como ver um novo idioma ser criado, um totalmente diferente daqueles que se criam com a euforia de uma pós luta, agora a camada que envolve não é extravagante, nem festeira, pelo contrário, é densa, dura como a cama que eu tive por duas noites seguidas. É preciso a ajuda dos polícias e para que eu não seja derrubado ou sugado por eles, então decido acabar logo com isso, levanto as mãos indicando vou falar, as vozes diminuem, mas só cessam quando eu começo a falar.

— Em primeiro lugar eu quero pedir desculpas a todos vocês, aqueles que estão aqui, aos que estão em casa, aos meus fãs e aqueles que nem são meus fãs, eu peço desculpas sinceras pelo meu comportamento, mesmo sabendo que isso ainda é pouco, mas eu preciso dizer assim mesmo. Desculpem! Isso não é esporte, aquilo que esta naquele vídeo não é esporte, não é luta, não é nem sequer um comportamento de um homem de verdade. Eu me excedi, extrapolei limites que nunca deviam ser extrapolados e eu estou envergonhado e enojado pelo que eu fiz. E é por isso que eu preciso contar a vocês da minha decisão, mesmo que não mude o que eu fiz, mas... Eu estou retirando o meu lugar do Campeonato desse ano - o burburinho que havia parado, retorna, parecendo ainda mais descontrolado, levanto uma mão pedindo silêncio - Eu tomei essa decisão por que eu preciso que vocês entendam que o que eu fiz não tem desculpas... E eu vou acatar com cada uma das consequências... Eu só espero, do fundo do meu coração, que vocês lembrem de tudo que já passamos juntos, vocês me viram crescer dentro e fora do tatame, espero que não se lembrem apenas dos 30 segundos desse vídeo, aquilo não era eu e aquilo nunca será a resposta certa pra nada... Eu agradeço o carinho que sempre tiveram por mim, eu também amo vocês e não suporto saber que falhei com vocês e no que eu queria passar pra vocês e é por isso que eu preciso de um tempo pra poder consertar isso e oferecer o Lucca que vocês merecem... Me perdoem e obrigado! - eu termino de falar e as perguntas voltam a ser gritadas, mas quando sinalizo que acabei papai se aproxima de mim e começa a forçar caminho entre eles, os policiais ajudam e os passos que levariam 10 segundos, acaba demorando alguns minutos, mas finalmente alcanço o carro, papai assume o volante, abaixa o vidro e fala algo com o advogado, em seguida logo dá partida e saímos deixando os flashes para trás, finalmente consigo relaxar por alguns minutos estando fora daquele lugar, mas assim que viramos a rua de casa, uma equipe está parada na calçada a frente da Vila.

— Eles não se cansam nunca? - papai parece realmente irritado, tanto que acelera e entra na Vila rápido demais, de uma maneira que faria mamãe lhe dar um de seus olhares de reprovação, mas não falo nada, e assim que o carro para e eu desço Iris sai de casa correndo e vem na minha direção, só tenho tempo de me preparar para o impacto e ela pula no meu colo, me abraça apertado e começa a chorar, meu coração aperta de uma maneira quase sufocante.

— Nunca mais vai embora assim – ela implora enquanto se recusa a afrouxar os braços que estão em volta do meu pescoço.

— Eu prometo!

— Não, jura... – ela segura meu rosto e olho com os olhinhos cheio de lagrimas pra mim.

— Eu juro! – ela volta a me abraçar, vejo mamãe se aproximando, ela e papai de abraçam parecendo aliviados e ela espera até que Iris me solte, mas como isso não acontece ela se aproxima e toca nas costas dela.

— Tá tudo bem, ele voltou e não vai mais a lugar nenhum – ela levanta a cabeça do meu ombro, mas não parece convencida – Ele precisa entrar, tomar um banho, comer alguma coisa... Você tem todo o tempo do mundo pra ficar grudada nele, ok? – ela me olha.

— Eu não vou a lugar nenhum sem você – ela parece um pouco mais convencida e quando papai se aproxima e estica os braços ela aceita ir com ele, mamãe e eu olhamos enquanto eles entram em casa, ela se vira e me olha, eu não sei o que dizer e apenas a abraço, ela corresponde com um aperto ainda mais forte, ficamos por alguns longos segundos assim, então ela beija minha bochecha, passa a mão pelo meu rosto e me olha preocupada.

— Como você tá? – levanto os ombros, ela força um sorriso e passa o braço por trás do meu corpo – Vamos! Você precisa descansar – nós entramos em casa, vovô e vovó estão aqui e logo se levantam pra me abraçar.

— Você é mais parecido com seu pai do que eu pensei – vovô fala fazendo uma piada que não faz ninguém rir.

— Peeta! – vovó briga com ele, mas já é tarde demais.

— Relaxa, mãe, nós sabíamos que ele não ia perder essa oportunidade...

— Pyter, não! – mamãe entra no meio pra tentar acalmar as coisas.

— Não, Keyse, ele tá na nossa casa, eu não sou obrigado a ouvir piadinhas aqui também...

— Não são piadinhas, eu só estou dizendo que assim como você, ele também acaba de ser expulso do campeonato...

— Ele não foi expulso, ele saiu – mamãe fala e essa é a primeira vez na vida que eu vejo ela falando de um jeito menos do que amigável com o vovô, acho que por isso o silêncio se espalha na sala – Peeta, eu amo você, e eu te respeito totalmente, sempre respeitei, e é isso que eu te peço agora, eu não me importo se você tem outra opinião, mas agora seja lá qual for a sua critica, esse não é um bom momento, o que aconteceu com Pyter foi há anos atrás, o que houve hoje não tem nada a ver com aquilo e sinceramente, mesmo que tivesse, esse continua sendo um péssimo momento... – vovô abaixa a cabeça envergonhado, do mesmo jeito que ele fica quando vovó chama a atenção dele, então ele apenas acena com a cabeça e sai.

— Nós só queríamos ver se estava tudo bem por aqui e agora que já vimos, nós estamos indo, desculpa – vovó fala e vem até a mim – Eu fico feliz que você já está em casa, seu avô também... Ele é só um velho reclamão – ele me abraça depois de fazer uma careta, em seguida ela também vai embora.

— Acho que você precisa de um banho – Theo fala vindo até a mim e me dando um rápido abraço, concordo e subo as escadas, vou direto para o banheiro, tiro a roupa, me enfio embaixo do chuveiro e mesmo que eu esteja em casa, não me parece que o pesadelo acabou, por isso enrolo o máximo que consigo no banheiro, quando saio me jogo na cama só de toalha mesmo e fecho os olhos.

— Mau momento? – tio Pietro entra no quarto e se senta na cama do Theo virado pra mim.

— Eu literalmente quebrei a cara dele – a imagem do sangue nas minhas mãos retornam, mesmo que eu esteja de olhos abertos.

— E não tem nada que você possa fazer pra mudar isso...

— Isso deveria me fazer me sentir melhor?

— Não, mas... Ficar pior também não vai te ajudar em nada – eu o olho e ele dá de ombros e se deita na cama também encarando o teto como eu estava – Eu já fiz muita coisa que me arrependi, e se tem uma coisa que eu aprendi é que ficar deprimido por causa disso não muda em nada, eu só passei a usar o meu erro pra decidir que tipo de homem eu queria me tornar dali pra frente, então... – ele vira o rosto pra mim – Que tipo de homem você quer ser a partir de agora?

— O tipo que não quebra a cara de outro... Quer dizer, pelo menos não fora do tatame – ele dá uma leve risada.

— Bom, eu nunca acreditei que você fosse esse tipo de cara – antes que eu possa responder, papai entra no quarto.

— O Dr. Fraques acabou de ligar, eles aceitaram o acordo... O que significa... Nada de julgamentos...

— Tem certeza? – tio Pietro é quem pergunta.

— Eles aceitaram o acordo da indenização e vão retirar o processo, a justiça aceitou a retirada do Campeonato e o ano de voluntariado como punição, então... Sim, eu tenho certeza! – tio Pietro faz um pequeno gesto de comemoração e pela primeira vez desde que isso começou eu vejo o papai sem toda aquela tensão no rosto dele e quase vejo um sorriso, eu sei que eu também deveria me sentir aliviado, mas não me sinto assim.

— Eu quero ver ele – papai e tio Pietro me olham confusos – Eu preciso me desculpar pessoalmente – os dois se entreolham – É esse o tipo de homem que eu quero ser – mesmo parecendo não concordar muito, tipo Pietro dá um pequeno sorriso, já papai não parece nada convencido.

— Bom, eu concordo que você deva fazer isso, mas não acho que seja um bom momento... Talvez você deva esperar alguns dias – eu concordo por que não estou nem um pouco disposto a discutir.

— Acho que você deveria descansar um pouco – tio Pietro que fala e os dois saem do quarto.

Continuo deitado encarando o teto e querendo que de alguma maneira as coisas voltem ao normal, mesmo que eu não me sinta normal. É inacreditável como as coisas podem mudar tão rápido, eu sai de casa para minha festa de 18 anos que eu esperei por muito tempo, e então termino preso, eu acabei de abrir mão do Campeonato e nunca senti tanta culpa por bater em alguém como sinto agora, mesmo que esse alguém seja um grande babaca. E tudo isso não parece nada quando eu me lembro do Pedro, o que ele me disse na ultima vez que nos falamos ainda fica girando na minha cabeça, eu tento não pensar nisso, tento fingir que ele não me disse aquilo, mas ele disse e eu sei que não vou poder fingir que não ouvi, por incrível que pareça isso é o que mais está me incomodando.

— A mamãe mandou avisar que é pra você descer por que ela já arrumou a mesa – Iris avisa já se debruçando na minha cama.

— Fala pra mamãe que eu tô sem fome...

— Tem bolo de chocolate... Com morango – eu sorrio pela animação dela, mas não consigo me animar também.

— Bom, então eu acho melhor descer logo – ela sorri ainda mais animada, falo para ela descer na frente, me visto e desço.

Nós almoçamos juntos, mas Theo sai assim que terminamos para o estágio, Iris tem um trabalho de artes pra fazer e mamãe vai ajudar ela, ficamos só eu e papai na cozinha e somos os responsáveis pela louça.

— Você não parece aliviado – papai observa enquanto enxuga os pratos.

— Eu tô... Só... Tô cansado, eu acho...

— Aquela cama ainda é tão ruim quanto eu me lembro?

— Cama? Você deveria ser preso de novo só por chamar assim – ele ri e eu também.

— Eu sei que é uma droga passar por isso, mas... você pode contar com todos nós, você sabe né? - ele me olha e eu não minto quando concordo, eu sei que eles sempre estarão do meu lado e isso é realmente reconfortante – Sobre o campeonato...

— Tudo bem, terão outros – eu falo sem precisar mentir minha compreensão.

— E eu tenho certeza que você vai arrasar no próximo ano...

— Claro que vou, isso nunca foi uma preocupação – ele ri.

— Nós precisamos mesmo trabalhar essa arrogância...

— Não é arrogância se você é o melhor... Alguém me disse isso uma vez, só não consigo me lembrar quem... – finjo confusão e ele ri.

— Você não deve seguir tudo que ouve por aí...

— Tudo não, só as coisas que eu concordo – nós rimos e continuamos a limpar as coisas – Sobre a coisa do voluntariado...

— Você pode liderar um dos horários do projeto...

— Esse é o problema – ele me olha confuso – Eu não queria cumprir as horas lá...

— Como assim?

— Bom, pra começar você é meu pai e além do mais, não é como se eu já não passasse um tempo lá, né? – ele para, cruza os braços e me encara enquanto se mantem encostado na pia – Eu sei lá, não me parece muito justo, se eu vou ter que pagar por algo, acho que precisa ser algo fora do que eu já estou acostumado...

— E você já pensou em algo?

— O abrigo da fronteira... Eles recebem voluntários pra servir as refeições da noite – ele me estudo por alguns segundos, então, diferente da cara séria que eu imaginei encontrar, ele apenas abre um sorriso talvez até largo demais, ele me puxa pra junto dele mesmo com minhas mãos cheias de espuma e me dá um abraço apertado, seguida segura meu rosto e beija minha testa.

— Se você soubesse o quanto eu tenho orgulho de você – isso me pega de surpresa.

— Mesmo eu tendo quebrado a cara de alguém – ele me solta, mas permanece me olhando nos olhos.

— O que você fez? É, foi horrível. Você mereceu ser cair fora do Campeonato, mereceu perder parte do dinheiro que você tava juntando e merece até o voluntariado, mas quer saber? Você levar todas essas coisas a sério, só mostra que você não foi esse episódio lamentável, você não é o cara que quebrou a cara do outro, você é alguém que fez merda e se arrependeu, e não importa quantos troféus estejam nas suas prateleiras, o que continua valendo mais é isso aqui – ele põe a mão no meu peito, na direção do meu coração – E o que você tem aí dentro me deixa sim, cheio de orgulho – dessa vez sou eu quem o puxo para um abraço.

— Eu posso trazer um lenço se vocês quiserem – tio Ryan zoa assim que entra pela cozinha, mas quando me viro, ele apenas vem direto até a mim e me abraça – É bom ter você de volta...

— É bom estar de volta...

— Mas não foi só por isso que eu vim aqui – ele faz um segundo de suspense – Nós temos uma reunião por conferência com a Capital – ele avisa e então nos coloca a par da ligação que recebeu questionando quais seriam minhas obrigações com a equipe, já que abri mão dos campeonatos, então nós terminamos a louça enquanto acertamos o que iremos discutir, e assim que acabamos, nos preparamos no escritório para a tal reunião.

                Assim que o computador desliga tio Ryan sorri satisfeito, aliás, todos nós, eles foram bem razoáveis, largar o campeonato tão em cima também custa dinheiro a eles e isso os deixou levemente irritados, mas conseguimos contornar, eu vou manter todos os meus compromissos de eventos, por que embora eu tenha me envolvido nessa confusão, eu continuo sendo o atleta mais bem aceito pelo povo, e isso faz as vendas deles aumentarem, portanto eu permaneço nas fotos de propaganda dos materiais deles, mesmo que não esteja realmente lutando, além disso, vou ter que manter minha rotina de treino, por que embora eu não vá participar do Campeonato Nacional, eles me querem nas disputas que terão logo após o Campeonato e eu preciso estar preparado, embora o evento seja bem menor e com bem menos peso, ainda assim, preciso me sair bem.

                Depois de resolver essa parte, eu vou pro meu quarto e dessa vez quando me jogo na cama, acabo apagando.

                Quando acordo já está tudo escuro, Theo está dormindo na cama dele e a casa está silenciosa, mas depois de encarar o teto por quase meia hora sei que não vou conseguir dormir de novo, então apenas desço e vou direto para sala, me jogo no sofá e fico encarando a escuridão.

— E pensar que você tinha medo do escuro – a voz da mamãe quebra o silêncio da noite, ela dá a volta no sofá e se senta ao meu lado, mesmo antes dela acender a luz do abajur consigo ver seu sorriso.

— É, parece que seu menino cresceu – ela me dá um sorriso fraco.

— Grande demais pro colo da mamãe? – eu sorrio, nego e me deixo escorregar para o seu colo, minha cabeça apoiada nas suas pernas, suas mãos logo alcançam meu cabelo, do mesmo jeito que ela fazia quando eu era menor – E no que você tá pensando?

— Que eu acho que nunca vou estar grande demais pra isso – ela ri.

— Que bom, por que mesmo se tivesse eu não abriria mão – olho para ela e seu sorriso me faz sorrir – Mas no que você estava pensando antes disso? – ela bate a ponta do dedo na minha testa, eu puxo o ar, mas a verdade é que eu nem sei, só sei que tem algo que parece errado e é óbvio que ela sabe o que é, por que antes que eu fale ela pergunta – E o Pedro? – eu fecho os olhos sabendo que não posso ignorar isso pra sempre.

— É complicado!

— Sempre é – ela conclui enquanto acaricia meus cabelos – Mas sabe, enquanto você esteve lá, ele não saiu daqui enquanto não soube que você estaria bem e livre...

— Eu imaginei...

— Eu soube o que aconteceu... Ele ter te contado...

— Você sabia? – olho nos olhos dela e de algum jeito eu sei que ela sabia.

— Eu não tinha certeza, mas... Eu desconfiava de algo...

— Eu não...

— Lucca, eu sei que foi um choque pra você descobrir que ele é gay, mas você vai precisar encarar isso uma hora ou outra, você não pode simplesmente fingir que ele não existe mais, eu sei que pode ter sido um choque, mas...

— Você acha que eu tô adiando falar com ele por que ele é gay? – eu me afasto do colo dela e o horror na minha voz não fez questão nenhuma de ser disfarçado.

— Você não falou dele, nem perguntou dele desde que voltou...

— Mãe, eu não tô nem aí se ele é gay ou não... Quer dizer, eu gostaria de ter percebido antes ou que ele tivesse me contado antes, mas...

— Mas ele continua o mesmo Pedro de sempre, isso não muda nada...

— Esse é o problema, mãe, isso não muda nada – ela me olha confusa.

— Essa não foi a única coisa que eu descobri naquele dia...

— Como assim?

— A Bella disse que... Que ele gosta de mim...

— Entendi...

— Eu não tô evitando ele por que descobrir que ele é gay muda as coisas, eu tô adiando por que saber disso não muda nada... Ele continua sendo o Pedro, continua sendo meu melhor amigo, continua sendo... Meu irmão! – ela me dá um sorriso fraco – Eu não quero que as coisas mudem, mãe, não quero mesmo, mas... Se isso que a Bella falou for verdade, como eu faço agora? Sabendo o que ele sente, como eu digo pra ele que eu o amo como um irmão e ainda assim nada mudar entre a gente? – ela me puxa de novo pro seu colo e volta a pentear meus cabelos com seus dedos.

— Eu tenho certeza que se isso for verdade, ele já sabia o que sentia antes e ainda assim vocês eram melhores amigos...

— Mas eu não sabia...

— Bom, você tá certo... Talvez seja verdade e as coisas mudem, talvez ele tenha que se afastar pra se organizar ou talvez não... O que eu sei é que amigos de verdade não fogem do um do outro, não importa quanto seja complicada a conversa, eles sempre darão um jeito de se entenderem... 

— Eu não quero perder ele, mãe...

— Eu sei!

— Eu não posso...

— Há quanto tempo vocês se conhecem?

— Tempo demais...

— Exatamente... E de acordo com todo esse tempo que vocês se conhecem, você realmente acredita que ele vai esquecer de tudo que vocês viveram e vai te odiar se você disser que não o corresponde?

— Me odiar? Não, fala sério, isso é impossível, eu sou incrível – falo com ironia, ela ri, mas me dá um tapa na cabeça – Mas se magoar, talvez – ela segura meu rosto e me olha com um leve sorriso.

— Acho que você não pode controlar isso, mas você pode ser sincero com ele – ela se inclina, beija minha bochecha e se levanta – Agora eu vou subir por que meu rosto é lindo demais pra ter uma olheira – eu acabo rindo e então ela sobe as escadas enquanto eu ainda fico alguns minutos sentado no sofá, até que respiro fundo e sei que ela tem razão, então também subo as escadas e quando caio na cama já sei o que preciso fazer quando acordar no dia seguinte.

                Assim que amanhece, eu pulo da cama, tomo um banho, me visto, pego minha mochila e saio de casa antes do Theo, mas ao invés do caminho da escola, paro na frente da casa de paredes marrons, bato a porta e leva menos de um minuto para ela se abrir, assim que me vê ele para parecendo realmente surpreso.

— Oi! – pela primeira vez eu estou sem graça perto dele, ele vem para a varanda e fecha a porta atrás dele.

— Parece que você saiu...

— Eu acho que você já sabia disso – ele dá de ombros.

— Você realmente não consegue ficar longe das câmeras – ele não sorri, mas sei que está sendo irônico.

— Como que você tá?

— Não fui eu que fui preso na última vez que nos vimos...

— Não fui eu que estava jogado no chão apanhando – dou de ombros e dessa vez ele dá um sorriso cansado.

— O que você veio fazer aqui? – eu o olho fingindo confuso e aponto a camisa do uniforme.

— A menos que você tenha desistido do diploma, nós ainda temos dois meses de aula...

— Não sabia que você já ia voltar para as aulas ou... Que fosse passar aqui – ele dá de ombros e colocar as mãos dentro do bolso do casaco, ele desvia os olhos do meu e eu sei que chegou o momento de colocar todas as cartas na mesa, então me adianto.

— Bom, você é meu melhor amigo – quando falo isso, ele volta a me olhar como se essa fosse a primeira vez que ele ouviu isso – Além do mais, de quem mais eu iria colar no teste de química? – ele ri.

— Você é um imbecil – dou de ombros.

— Um imbecil que vai sair com um 9 em química...

— Eu sempre posso te passar as respostas erradas – ele me desafia e eu nego rindo.

— E quem iria fazer o professor de história não pegar no seu pé? – ele revira os olhos, mas sabe que é verdade, o professor de história simplesmente detesta ele e sempre pega no pé dele, mas ao mesmo tempo ele me adora, então sempre consigo amenizar as coisas.

— Acho que temos um acordo – ele estica a mão, eu aperto e ele sorri, mas ainda tem algo que eu preciso esclarecer.

— Só tem mais uma coisa que precisamos conversar – ele solta minha mão e diminui o sorriso enquanto solta o ar.

— A Bella te contou – ele conclui e se eu tinha esperança de ser mentira, ela se perde.

— Então é verdade? – ele balança a cabeça pro lado e se encosta na parede cruzando os braços.

— Ela não tinha que ter falado isso...

— Mas é verdade? – ele me olha nos olhos e dá de ombros.

— Não!

— Como não?

— Eu achei que fosse, mas eu só estava confundindo as coisas... Você é meu melhor amigo, eu ainda estava tentando entender tudo isso, e sim, no começo eu achei que era apaixonado por você, mas... Você é meu irmão, isso não é algo que vá mudar algum dia – eu sorrio aliviado – Eu tentei dizer isso pra Bella, mas ela simplesmente não acreditou...

— Ela só acredita no que ela quer...

— Ela me irrita por isso...

— Nem me fala, ela não escuta nada que a gente fala – nós dois reviramos os olhos, depois rimos.

— Então estamos resolvidos – ele me estica a mão de novo e dessa vez o puxo para um abraço.

— Além do mais, nem todo mundo se apaixona por você assim de cara – ele fala com ironia.

— Fala sério, você teve alguns anos pra isso né? – ele ri.

— Então você queria que eu estivesse apaixonado por você? – ele me encara se divertindo.

— Não precisava ser uma paixão louca, mas, fala sério... Eu sou um ótimo partido...

— Éééé – ele faz meio que uma careta.

— O que foi?

— Nada, é só que...

— Que? – ele dá de ombros.

— Bom, você não faz o meu tipo – solto uma risada divertida.

— Fala sério, eu faço o tipo de todo mundo, literalmente TODO MUNDO – ele ri.

— Não me leva a mal, você é bonitão e tal, mas...

— Entendi, sou bonito demais pra você, eu sei, eu sei...

— Fala sério, eu tenho espelho em casa também, ok? – dou de ombros.

— Eu seria um excelente partido, você não me merece – ele ri, uma risada alta e divertida.

— Vocês vão se atrasar – a mãe dele fala já saindo de casa, o padrasto dele também sai junto com ela e entrega a mochila pro Pedro e me entrega uma maça verde que eu sempre pego quando durmo por aqui.

— Fico feliz que tudo tenha dado certo, você é bonito demais pra ir pra prisão – ele fala me zoando e aperta meu ombro.

— Viu, é disso que eu to falando – falo pro Pedro que ri.

— É bom ter você de volta – a mãe dele sorri e beija minha bochecha, eu agradeço e eles saem da varanda na direção do carro – Vocês precisam limpar o porão – ela avisa antes do carro partir.

— Eu nem moro aqui...

— Então deveria começar a passar menos tempo aqui, isso me confunde – ela ri e acena um adeus, volto a olhar pro Pedro.

— Eles sabem?

— Acho que eles sempre souberam...

— Mais quem sempre soube? – ele dá de ombros.

— A Bella, o Theo, sua mãe, o Pietro...

— Uau, eu sou uma bosta como amigo – ele ri, nega e passa por mim saindo da varanda.

— Você é só muito ruim – mesmo devendo me ofender, eu acabo rindo, e acerto minha mochila nele, ele ri e tomamos o caminho da escola zoando um ao outro como sempre fazemos.


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