Nova fase' escrita por HungerGames


Capítulo 50
Assumindo a responsabilidade




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A chegada na escola já me diz que algo está diferente, mas como chegamos junto com o sinal para entrarmos na sala, é isso que fazemos é logo a aula começa, como estamos na fase final e as provas finais já são em duas semanas, os professores estão dando revisões e testes preparatórios, por isso mal temos tempo vago durante as aulas e só paramos mesmo na hora do intervalo.

Eu e Pedro pegamos nossas bandejas no balcão do refeitório e vamos até a nossa mesa de sempre, junto com os meninos do time de basquete e luta, mas assim que colocamos nossas bandejas na mesa, eles levantam as deles e começam a sair.

— Eu perdi alguma coisa? - pergunto mostrando minha confusão, Heitor que é do time de luta da escola junto comigo é que me responde.

— Nós decidimos que não nos sentamos junto com covardes...

— Covardes? - solto uma risada pela cara de pau dele.

— É como eu chamo alguém que espanca o outro - eu cerro os punhos e respiro fundo.

— Vocês sabem muito bem por que aquilo aconteceu...

— Por que você tava protegendo sua namoradinha? - Caio fala com ironia, olhando pro Pedro e os outros riem.

— Olha aqui... - Pedro se levanta com raiva e sei que pronto pra uma briga se for preciso, mas eu seguro seu braço e nego com a cabeça, ele para.

— Quer saber? Podem ficar... - pego minha bandeja de volta e quem se levanta sou eu - Quem se recusa a ficar perto de vocês, sou eu - faço sinal com a cabeça pro Pedro e ele concorda mesmo que esteja segurando a vontade de responder, sei disso por que seu rosto está mais sério do que qualquer outra vez e sua mandíbula está cerrada como se ele estivesse trincando os dentes.

— Cuidado, ele ainda pode pegar o dinheiro dele é expulsar vocês do Distrito - Caio fala e imediatamente eu me viro pra eles de novo - O quê? Era pra continuar sendo seu segredinho sujo? 

— Eu nem sei do que você tá falando - ele ri fingindo achar graça.

— Então não foi esse o acordo? Você dava dinheiro e ele caia fora? - eu ainda estou se entender nada quando ele completa - Relaxa, ele tá indo amanhã e sua imagem vai ficar branca como a neve - ele volta a se sentar e me ignora, eu faço o mesmo virando as costas e me afastando, coloco à bandeja de volta no balcão e saio do refeitório disposto a tirar essa história a limpo.

— Você não vai cair na provocação dele, vai? - Pedro pergunta quando me alcança no corredor.

— Eu só preciso entender o que aconteceu - como eu continuo andando, ele corre a minha frente e para me impedindo de continuar.

— Me diz que você não vai atrás do seu pai por causa disso... 

— A gente se encontra no Projeto mais tarde - aviso e desvio dele, ele não me impede. 

Saio da escola já sabendo perfeitamente para onde ir.

Subo as escadas correndo apressado e bato na porta, o homem de terno, barba bem feita e cabelos grisalhos parece surpreso quando me vê, mas não perde a pose de advogado controlado.

— A gente precisa conversar - ele abre mais a porta e me deixa entrar em seu escritório, é um espaço razoavelmente grande com uma mesa de madeira de quatro lugares na lateral e uma outra onde está o computador dele é várias pastas, ele dá a volta por ela e se senta na cadeira grande de couro.

— No que posso ajudar? - ele pergunta com os braços apoiados na mesa e me olhando como quem tenta desvendar algum mistério, eu devido ir direto ao ponto.

— O acordo que nós fizemos incluía eles saírem do Distrito? - ele não parece muito surpreso, mas aliviado.

— Você está me perguntando se nós pagamos pra eles saírem?

— É, pra limpar minha imagem ou sei lá qual motivo...

— Ok. Bom, a resposta é não! - ele parece bastante tranquilo - Eu não sei o que você ouviu ou de quem ouviu, mas o que aconteceu foi que quando eu cheguei no hospital com o acordo, os pais dele eles já tinham um acordo pré preparado, com uma lista bem grande de exigências por sinal, mas quando eu mostrei o valor do acordo que preparamos, eles imediatamente preferiram o nosso... E não tinha nada relacionado a sair do Distrito, mas... - ele abre uma pasta e é puxa uns papéis - Antes de chegarmos aquele valor, eu fiz meu dever de casa e dei uma investigada em quem era nosso inimigo, isso foi o que eu descobri... - ele arrasta os papéis pra mim, eu os pego e folheio as 4 folhas, mesmo sem entender nada de contabilidade e sem nem mesmo precisar ser um gênio da matemática, eu consigo entender.

— Eles estão devendo tudo isso? - ele confirma, olho mais algumas informações e eles devem a praticamente todo o Distrito, um último aviso de não pagamento da casa alerta para um possível despejo, sem falar no carro do pai dele que já deveria ter sido devolvido, é impressionante a quantidade de dívidas e é ainda mais impressionante por ele ser quem é - Mas o pai dele é diretor da New Wood – a New Wood é a maior madeireira do Distrito, na verdade é a única, há anos atrás eles começaram a explorar a floresta para usar as arvores, foi uma grande luta, mas eles fecharam um acordo com o governo e podem fazer uso de certa quantidade de arvores, sendo assim praticamente todo móvel de madeira que existe aqui no Distrito e que não veio de fora, foi feita através da New Wood, e o pai do Patrick é o diretor principal de lá, ele se gaba disso o tempo todo.

— Na verdade ele foi demitido há dois meses – o advogado fala e eu o olho confuso.

— Por que?

— Assunto confidencial, eles disseram – ele dá de ombros como se não importasse.

— Eu não entendo...

— Bom, parece simples... Eles tinham dividas, o pai perdeu emprego e com certeza não pareciam dispostos a perder o padrão de vida que eles tinham...

— Por isso ele estava mais idiota do que de costume...

— Talvez – ele dá de ombros – Mas não foi isso que você veio saber... Você veio aqui pra saber se eu menti pra você e implementei coisas no acordo, coisas do tipo... Uma viagem só de ida para fora do Distrito, é isso? – eu já estou envergonhado o suficiente, mas concordo com a cabeça, ele arrasta um pouco a cadeira até um móvel próximo, abre uma gaveta e pega um papel, em seguida volta para o seu lugar e me estica o papel – Esse é o acordo que eles assinaram, como você pode ver, nada além do que eu combinei com você e com seu pai – eu leio rapidamente e realmente é o mesmo documento que ele me mostrou – Eu não sei o que você ouviu ou de quem você ouviu e na verdade, pouco me importa, mas eu espero que você se lembre disso... – ele me olha fixamente nos olhos – Eu jamais agiria pelas costas de um cliente, se uma cláusula de mudança fosse incluída, você saberia – ele pega o papel da minha mão e puxa os outros documentos.

— Eu... Eu não desconfiei do senhor, eu só...

— Tudo bem, já passamos desse ponto – ele fecha a pasta e guarda na gaveta – Aproveitando que você está aqui, poupe-me da viagem – ele abre outra gaveta, remexe em algo e pega outros papéis – Seu pai me disse que você já pensou a respeito do trabalho voluntário...

— É, eu vou no abrigo da Fronteira...

— Excelente... Leve esses papéis, se eles aceitarem terão que assinar esse documento de ciência do seu trabalho e essa lista de frequência que você terá que assinar sempre que for... pra comprovar a carga estabelecida – ele me mostra os documentos e me entrega dentro de um envelope.

— Obrigado – já ia me levantar quando me lembro de mais uma coisa – O caso que eu pedi pro senhor dar uma olhada...

— Heitor Martins, preso por tráfico de drogas...

— Só que ele não traficava...

— É, eu sei...

— Então?

— Eu estou cuidando disso – como já fiz suposições demais por hoje, apenas aceno e me levanto, já estava abrindo a porta quando ele me chama.

— Lucca – eu me viro e ele continua sentado daquele jeito sério e calculista que todos os advogados tem – Se eles forem mesmo embora, não tem nada a ver com você – então uma pequena parcela de seu ceticismo desaparece – Você cometeu um erro, mas está pagando por ele... E acredite em mim, se pelo menos metade dos meus clientes fossem como você... – ele dá um pequeno riso desacreditado – Nós estaríamos bem melhor do que estamos – seu sorriso é rápido, pequeno, mas sincero.

— Obrigado! – também lhe devolvo um sorriso sincero, então saio de vez do escritório.

Como já estou com os documentos em mãos ao invés de ir para casa ou voltar para a escola, eu vou direto até o abrigo da Fronteira, é um casarão de dois andares, cercado por um muro alto, chapiscado e cinza, mas com portões pretos e largos que sempre estão abertos e ao passar por eles, várias arvores, bancos de madeira e uma grande horta muito produtiva estão pelo quintal, algumas pessoas estão pelo lugar, mas eu vou direto para o interior do casarão, é um lugar que não tem muita beleza por dentro, mas é bem arrumado e logo uma senhor sorridente que aparenta ter cerca de 40 anos, cabelos com cor de caramelo e que batem em seus ombros, vem até a mim.
— Lucca Mellark – ela me reconhece antes mesmo que eu abra a boca, sorrio e estico a mão para ela.

— Culpado – ela ri.

— Eu sou a Margo, a pessoa que tenta deixar tudo em ordem por aqui – ela faz uma leve careta, mas logo em seguida sorri.

— Bom, então eu gostaria de falar com a senhora...

— Se você prometer não me chamar de senhora outra vez – eu sorrio.

— É uma promessa – ela então me conduz até uma sala no corredor logo a frente, ela entra primeiro e se acomoda em uma cadeira que nem de longe parece tão imperadora quanto a do advogado, ela me sinaliza para me sentar na cadeira a frente da dela.

— E no que eu posso ajudar?

— Nisso – eu estico o documento onde diz que ela aceitaria meu trabalho como voluntário perante a lei, ela lê, então baixa o papel e me estuda por alguns segundos.

— Eu achei que você fosse ficar com o seu pai...

— Bom, ele é meu pai – dou de ombros – Não sei se seria muito justo... Além do mais, eu já trabalho por lá...

— E por que aqui? Existem outros projetos pelo Distrito que talvez combinem mais com você do que... Servir comida...

— Bom, eu não tenho um motivo especifico, eu só... Eu não queria nada relacionado a luta... Eu só... Eu realmente queria algo diferente... Eu sempre ouço sobre vocês e na hora em que eu decidi o trabalho voluntário não consegui pensar em nenhum outro lugar... Talvez servir comida possa não ser muito parecido comigo, afinal eu geralmente estou só comendo a comida – ela ri e eu também – Mas talvez seja exatamente o que precise agora – ela abre um sorriso largo e pega uma caneta que estava em cima da mesa, sem falar nada ela apenas assina o documento.

— Isso é um sim?

— Isso é um... Eu me sinto honrada de poder receber você aqui...

— Obrigado!

Nós acertamos o restante dos detalhes, eu vou vir todos os dias, exceto sábado e domingo, devo chegar ás 18 horas, o jantar é servido as 19h e as 20:30h nós encerramos. Ela me mostra todo o casarão, algumas pessoas moram aqui, a casa tem 7 quartos e cada quarto tem 6 beliches, todas ocupadas, e além dos moradores fixos daqui, eles ainda recebem qualquer um que precise de uma refeição na hora do jantar, para isso funcionar eles tem parceria com vários empresários e lojistas, inclusive o projeto da vovó de arrecadar alimentos também participou por um tempo dessa lista, porém hoje, eles já possuem uma parceria direta com o mercado e o projeto da vovó se volta mais para viúvas ou mulheres que tem filhos e estão com dificuldade de arranjar emprego. Depois de conhecer todo o lugar, eu vou embora, deixando combinado minha volta para amanhã.

                Ao invés de ir para casa, eu desvio e vou até o escritório da mamãe, ela o abriu há dois anos quando ela se tornou a designer queridinha de todos, o lugar era basicamente um galpão velho e abandonado, hoje ele é um espaço realmente impressionante, ela usa para impressionar seus clientes, não que eles precisem disso, por que todo mundo sabe que ela é a melhor do mundo, quer dizer, não sei se a melhor do mundo pra eles, mas com certeza a melhor do mundo pra mim, afinal, só ela consegue me impressionar transformando aquela coisa velha num lugar cheio de vida, a decoração é principalmente inspirada numa pegada “Urban jungle”, eu sei disso por que é natural aprender esses termos quando se escuta alguém repetindo centenas de vezes, mas embora o nome chique, isso basicamente é usar plantas em toda decoração e é isso que ela fez, no meio de vários quadros coloridos e entre os móveis de madeira, além das prateleiras com livros, luminárias coloridas e tapetes extremamente fofos, e de um jeito que eu nem sei como ela conseguiu combinar tudo isso e transformar em algo incrível, as escadas no fundo do galpão levam até o seu escritório, onde ela tem suas reuniões e onde banca a super poderosa.

— Você não deveria estar na escola? – ela vem andando com aqueles saltos que fazem um barulho irritante que nem os que a tia Pérola usa.

— Essa é a primeira coisa que você fala quando um filho vem te visitar? – ela para me olhando desconfiada.

— Você não foi expulso, foi? – reviro os olhos e eu vou até ela, passo meus braços em volta da cintura e a abraço enquanto coloco um beijo demorado na sua bochecha.

— Eu sou um ótimo aluno, sabia? – ela ri e antes que eu a solte, ela me aperta ainda mais.

— Mas o que você tá fazendo aqui?

— Promete que não vai me dar um sermão? – ela me encara e levanta uma sobrancelha só de um jeito que só ela sabe fazer.

— Desembucha e eu penso no seu caso – reviro os olhos, mas conto tudo pra ela enquanto vamos até um espaço para sentarmos, ela não briga comigo, nem me dá sermão, pelo contrário, fica feliz por eu ter ido logo no abrigo e eu acabo ficando com ela até a hora do almoço, é engraçado ver ela trabalhando, ela tem uma mesa de vidro grande o suficiente para espalhar todos os papéis em cima, além disso, ela é séria de um modo diferente aqui, ela tem mais 3 pessoas que trabalham com ela e enquanto fala com eles, embora ela seja mandona com a gente em casa também, aqui é diferente, não tem aquele sorrisinho no final, ela apenas manda e eles obedecem, e é fácil entender por que o papai baba nela até hoje, por que além de ter toda essa pose poderosa, ela ainda é gata para caralho, sério, não é por que é minha mãe, mas ela as vezes parece minha irmã, é meio irritante por que eu vejo os olhares dos garotos quando ela precisa ir lá na escola, mas se nem o papai surta, eu também me controlo.

— Vamos almoçar? – ela para ao meu lado quando termina a ultima reunião, eu me levanto e nós entramos no carro pra ir buscarmos a Iris e o Pedro e irmos almoçar em casa com o papai, o Theo vai sempre direto pro estágio então quando chegamos em casa, papai já está terminando de colocar a mesa, por que hoje é dia dele, ele e mamãe tem uma escala de quem sai mais cedo no trabalho e prepara o almoço, pra nossa sorte mamãe sempre deixa a comida pronta, ele só precisa esquentar e arrumar a mesa, então almoçamos.

                No dia seguinte eu saio de casa eu saio de casa de bicicleta e vou direto para o abrigo, me apresento, assino minha entrada e sou guiado por um dos voluntários, o nome dele é Dennil e ele está aqui há 9 meses, ele me leva até a grande cozinha e já tem algumas pessoas trabalhando, mexendo em panelas, tirando coisas do forno, correndo com pratos nas mãos e mais qualquer coisa que tenha pra fazer, todos são voluntários e usam um colete cinza com o símbolo do Distrito em cima do bolso da frente e na parte de trás está escrito “voluntário”.

— Acho que já te explicaram todo esquema das equipes né? – concordo e mesmo assim ele continua – Os voluntários são divididos em duas equipes e você caiu na equipe da Patrícia, ela é legal, mas tomara que você queira mesmo trabalhar por que ela não deixa parar nem por 2 minutos – o garoto que parece ter a mesma idade que eu fala depois de fazer uma careta, nós dois acabamos rindo – Seu colete tá aqui e eu só vou ver se acho ela pra poder apresentar vocês... – ele avisa e olha em volta então sorri – Aí ela aí – me viro pra trás e realmente fico surpreso quando encontro a tal Patrícia.

— Paty?! – ela também parece surpresa ao me ver.

— Lucca? O que você tá fazendo aqui? – levanto o colete que acabo de receber e ela só parece ainda mais confusa.
— Começo hoje e me disseram que eu sou da sua equipe, também me alertaram que você pode ser um tanto mandona...

— Eu não disse nada – o garoto fala e levanta as mãos em inocência, mas quando se afasta e passa por trás dela, ele faz sinal pra eu calar a boca, mas sai rindo.

— Já pode botar o colete que eu preciso que você busque algumas coisas no depósito – eu obedeço e coloco logo o colete, ela me explica o que tenho que fazer, que é pegar algumas latas de óleo no depósito que fica no porão, em cinco minutos já estou de volta com o caixote cheio de latas de óleo.

— Pode colocar aqui mesmo – ela aponta o espaço no balcão – Agora você vem comigo que eu vou te ensinar a arrumar as mesas, em 15 minutos, eles começam a entrar – ela me aponta as sacolas grandes que estão separadas e eu as carrego, ela também pega algumas e nós seguimos para o salão onde tem várias mesas grandes de madeira, Paty abre uma das sacolas e puxa um grande pedaço de tecido vermelho – Me ajuda – ela fala já jogando o tecido meio que em cima de mim e eu a ajudo.

— Acho que ele não tava zoando quando disse que você é mandona né? – ela esconde o sorriso.

— E qual é a história de você estar aqui?

— Achei que você tivesse ido na minha festa – faço uma cara de confusa.

— É, eu fui... O final eu achei meio dramático – ela faz uma careta e eu acabo rindo.

— Isso é o que eu chamo de crueldade – ela dá de ombros.

— E você foi mandado pra cá?

— Na verdade eu escolhi aqui – ela parece meio duvidosa enquanto eu termino de esticar o tecido na mesa e já puxo o próximo para a outra mesa, ela me acompanha.

— Achei que você fosse escolher o projeto do seu pai...

— Parece que todo mundo tá achando isso – dou de ombros e terminamos mais uma mesa e passamos para outra.

— Há quanto tempo você faz isso? – olho em volta.

— Cinco anos! – eu realmente me surpreendo.

— E por quê? Achei que eu tivesse te arranjado uma amiga – ela ri.

— Bom, algumas pessoas gostam de ser úteis – eu faço uma cara ofendido.

— Então eu sou só um inútil pra você? – ela não parece abalada.

— Você que começou – eu sorrio e quando ela me olha sorri também – Quer saber, acho que você pegou o jeito, fica com as mesas que eu vou adiantar outras coisas... – ela me entrega a sacola que estava com ela – E é sem rugas – ela fala depois de estica o tecido da mesa que eu estava terminando.

— Super mandona! – eu falo e ela tenta não sorrir, mas falha.

                Após os 15 minutos que ela falou tudo já está pronto e as pessoas começam a entrar, me junto a ela novamente e ela vai me falando o que fazer, eu fico responsável por entregar as bebidas e ela fica bem ao meu lado distribuindo os talheres.

Uma garotinha que parece ter uns 10 anos e que já havia passado por aqui volta e vai direto na Paty.

— É o Lucca? – ela pergunta e embora ela tenha falado baixo, eu ouço e quando me percebe olhando pra ela, a menina fica com as bochechas toda vermelha.

— É, é ele – Paty fala e olha pra mim.

— Acho que você tem uma fã aqui – eu me aproximo um pouco mais delas e me abaixo pra ficar mais a altura da menina.

— Acho que eu ouvi meu nome – ela fica ainda mais vermelha e abaixa os olhos como se não pudesse me olhar – Qual seu nome?

— Linda!

— Ahhh faz todo sentido... Você é linda mesmo – ela volta a me olhar e sorri ainda mais, uma mulher que parece muito com ela para bem ao seu lado.

— Ela é louca por você – a mulher que provavelmente é mãe dela fala.

— Bom, é uma honra pra mim – sorrio e ela também abre um grande sorriso.

— Eu acho você o melhor do mundo todo – ela fala e eu sorrio orgulhoso.

— Além de linda é inteligente, você tem um futuro e tanto ein – ela ri e então a mãe dela faz sinal para ela ir se sentar, mas ela ainda parece me olhar de um jeito quase que hipnotizado, então eu tenho a ideia e tiro o boné que eu estou e coloco na cabeça dela – Um presente pra minha fã mais linda – ela parece surpresa e o sorriso que ela abre é o maior que eu já vi na vida, então ela apenas vem até a mim e me abraça forte, eu sorrio e me abaixo para sua altura, endireito o boné nela e jogo seus cabelos escuros para frente – Linda, você tá linda – ela sorri e eu beijo sua mão, dessa vez quando a mãe dela chama ela sai correndo saltitando.

                As duas horas que se seguem são bem corridas, recebemos 68 pessoas hoje, mas mesmo com todo trabalho que dá, enquanto servíamos era realmente incrível ver como algo tão simples, consegue arrancar sorrisos e olhar de gratidão, é algo totalmente diferente do que eu vejo no projeto do papai, embora também seja incrível ver todas aquelas crianças encontrando algo que podem lhe dar uma oportunidade, ver algo como o que eu vejo aqui parece ainda mais recompensador e quando terminamos todo o trabalho me sinto quase um ser humano melhor.


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