Vivendo sentimentos, sentindo emoções-Temporada 1 escrita por Rachelroth


Capítulo 14
O Corvo


Notas iniciais do capítulo

:)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/644494/chapter/14

“Achei algo que você vai adorar… hum o que ele quer dizer com isso? Será que ele encontrou mais begônias? Ou seria um livro? Porque não podia me falar na hora… saco… tenho que parar de pensar nisso, e tenho que me afastar. Isso seria muito racional da minha parte, afinal o Ciborgue disse que ele já foi apaixonado por mim… mas como ele sabe disso se o próprio Mutano não disse nada? Eu poderia perceber, mas porque tenho poderes que me permitem isso. É, acho que o Ciborgue não falou tudo ou então ele tá inventando. Mas porque ele inventaria uma coisa dessas? Mas de fato o Mutano ficou bem irritado quando o Aqualad me chamou pra sair. E o Aqualad? Ai não consigo meditar… Vamos Ravena se concentre. Respira. (pausa curta) Vindo do Mutano pode ser qualquer coisa, até moeda ele me deu. Ele é meio sem noção. (sorri ainda de olhos fechados) aonde já se viu dormir comigo? Perdeu a noção do perigo, só pode! Eu poderia ter enviado ele para qualquer dimensão… (para de sorrir e franze a testa) não… na verdade eu não poderia, senão teria que justificar para os outros porque o enviei para outra dimensão. Saco perdi a concentração de novo. Respira. (pausa curta) Ele é tão agitado e ansioso, como consegue segurar segredo assim… acho que ele quer que eu fique pensando nisso, mas não… eu não vou ficar. Pronto não vou mais pensar nisso, vou pensar (toc toc)seus pensamentos somem e abre os olhos, olha em direção à porta. Será que ela imaginou alguém batendo?

Toc toc. Não, não imaginou. Levanta-se tentando conter a ansiedade para chegar na porta.

Ravena: Quem é?

Mutano: O frio.

Ravena: *sorri* Então pode ir embora, porque quero curtir o restinho do verão.

Mutano: *apoia o antebraço direito na porta e sorri* Pensei que eu poderia dar uma refrescada no seu quarto…

Ravena: *abrindo a porta lentamente* Se for assim eu deixo entrar *dá espaço para ele entrar*

Mutano entra naquele quarto pouco iluminado e volta seu olhar para a begônia na janela.

Mutano: *sorrindo* Ela está até vivendo. *senta na cama dela*

Ravena: Claro que está *fecha a porta e caminha até a flor* Até pode parecer que eu não estou nem aí para nada, mas adoro cuidar de flores, principalmente dessa.

Mutano: Ainda bem que eu acertei, mesmo errando todo o resto.

Ravena: Você não errou… muito. *senta na cama ao lado dele* O que queria me mostrar?

Mutano: *tira um papel do bolso* Eu tenho um hobby *fica manuseando a folha sem desdobra-la, enquanto Ravena fita a folha* Eu gosto de desenhar.

Ravena: *olha para ele* Nossa, eu nunca soube.

Mutano: *cora* Eu não gosto de contar todas as coisas para todo mundo… (pausa longa) E ai tenho trabalhado num desenho desde que li seu livro de infância, tentando criar um corvo que pudesse te dar uma ideia de tatuagem. *estava visivelmente mais nervoso, pela velocidade que manuseava o papel* E então eu fiz esse aqui *estrega para ela* É um rascunho, uma ideia inicial…

Ravena abre cuidadosamente o papel e fita o desenho contido ali. O rascunho de Mutano trazia o desenho de um corvo com as asas abertas, de costas, porém com a cabeça virada para a direita. Nas asas havia algo escrito quase imperceptível, misturado com as penas cuidadosamente trabalhadas. Na asa esquerda lia-se “Never” e na asa direita “More”. O corvo estava delicadamente pousado em cima de um crânio muito bem desenhado. Envolta do crânio havia algumas begônias e crisântemos, e somente as flores eram coloridas. Delicado, feminino, fúnebre, melancólico. Não sabia o que dizer.

Mutano: *nervoso* É só uma ideia. Se não gostar… podemos sentar juntos e…

Ravena: *serena* Mutano…

Mutano: *mais nervoso, coçando a cabeça* Eu disse… é um rascunho… uma ideia…

Ravena: *sem tirar os olhos do desenho* É perfeito.

Mutano: *coração acelerado* Não precisa dizer que gostou…

Ravena: *olha para ele* Eu digo sério. *pausa curta* Você desenha muito muito bem… e esse desenho é incrível… *volta a olhar para o desenho*

Mutano: Pode não parecer, mas eu gosto de ler algumas coisas… poucas… gosto de poemas… *Ravena volta a olhar para ele e o mesmo cora* E tem um poema que eu li muito na sua ausência, do Edgar Allan Poe…

Ravena: O corvo…

Mutano: *sem graça* Pelo jeito você conhece… me inspirei nele para fazer esse rascunho…

Ravena: Você lia ‘O corvo’ na minha ausência?

Mutano: *limpa a garganta* É, na verdade eu lia muitos poemas… e… esse… é… nem sei explicar…

Ravena: Pra mim este desenho está perfeito. *volta a olhar o desenho* Mais do que perfeito… eu jamais teria pensado algo melhor.

Mutano: Pensei em Nevermore por ser seu lugar particular, mas também por ser a única coisa que o corvo do poema diz, e desenhei o corvo olhando pro "More" porque acho que você pode sempre ter "Mais".

Ravena o abraça, com a mesma impulsividade quando o abraçou na época em que ele a consolou em sua desavença amorosa com Malchior, mas com um carinho diferente. Não era apenas gratidão como daquela vez. Tinha algo a mais. É como se ele a tivesse traduzido em um desenho, mas como poderia? Como ele poderia saber tanto dela? Só por conta de um livro de infância? Ou porque ele fora apaixonado por ela? De repente se deu conta que mesmo ela sendo mais fechada e séria, ele sabia muito mais dela do que ela dele. Agora ela se sentia tão previsível. Mas continuava abraçando-o. Sentindo os braços dele a envolvendo, a apertando, retribuindo com sinceridade aquele gesto que ela iniciou. Um calor confortável, aconchegante e naquele momento tão dela, tão pra ela, como aquele desenho. Se separaram do abraço e voltaram a se olhar. O coração da empata descontroladamente disparado. O olhar terno dele. O tremor. O suor. A respiração entrecortada. A mão dele subindo até o rosto dela. Acariciando sua bochecha.

O silêncio. O silêncio das palavras, dos gestos, das intenções. O tempo parecia ter parado para ambos. Nenhuma palavra cabia. Nenhum som, nenhum suspiro. Parecia tudo tão claro quanto nebuloso, tão verdadeiro e tão incerto.

Ravena: *se desvencilhando da mão dele em seu rosto* É perfeita. Você me ajuda a encontrar alguém bom o suficiente para deixar ela exatamente assim?

Mutano: *relaxando* Podemos ver isso amanhã. Hum… onde você pensa em fazer?

Ravena: No cóccix. O que acha?

Mutano: Hum, não sei. Eu pensei nesse desenho com as asas indo de ombro a ombro com a caveira para o centro das costas *apoia as mãos na cama*

Ravena: Hum? É, pode até ser. Você se incomodaria de fazer um rascunho das minhas costas com esse desenho nesses dois locais?

Mutano: *sorriso largo* Claro que não.

Ravena: *abaixa a cabeça* Sabe, você tem sido muito legal comigo ultimamente… quando eu voltei fiquei sabendo que você teve um problema com a Fera…

Mutano: *careta* Aff… não gosto nem de lembrar.

Ravena: Então, pensei em te retribuir esses favores te ensinando algo que talvez você não vá gostar muito…

Mutano: O que?

Ravena: Meditar! *pausa curta* Você é mais agitado, talvez seja chato para você, mas talvez te ajude caso um dia a Fera queira reaparecer…

Mutano: Na verdade eu acho que não vai reaparecer, mas tudo bem… nunca meditei *deu um sorriso curto por saber que estava mentindo* seria bom aprender, vai que…

Ravena: Certo… Afinal… você já me mostrou gostar de coisas que eu jamais imaginei… *sorri* Poe…

Mutano: *sorri e joga uma almofada nela* Eu sou um cara sensível, tá?!

Ravena: Acredito… *sorri* a sensibilidade em pessoa.

Mutano: Bom… acho melhor eu voltar pro meu quarto, vou te deixar descansar.

Ravena: Tá… amanhã podemos dar um jeito de escapar para procurar tatuadores, não?!

Mutano: Claro! Às ordens gatinha. *se levanta e caminha até a porta* Boa noite.

Ravena: Boa noite.

Ela o vê sair pela porta e fechá-la. Se joga na cama e sorri. Não consegue apagar o sorriso. Queria gritar, mesmo sem saber exatamente o porque. Ele estava tão diferente, tão mais maduro. Ou será que ele sempre teve esse lado e ela nunca olhou? Que surpresa agradável. O desenho era incrível. Sentia-se tão plena e completa, serena, calma… feliz? Os pensamentos lhe consumiam a mente. Não parava de apertar o desenho contra o peito. Era perfeito.

Em seu quarto Mutano estava encostado na sua porta do lado de dentro, ainda petrificado. Pensava nos olhos dela, no desejo de beijá-la, tocá-la, possuí-la. Não podia mais negar a si mesmo que estava apaixonado pela empata. Desde que ela voltara, mais, desde que ele aceitara ajuda-la em suas questões não marcava mais encontros, não tinha mais vontade de sair e conhecer fãs enlouquecidas por ele. Não mais. Lentamente caminhou até a cama e se despiu. Deitado, fitava o estrado da cama de cima do beliche. Talvez Ciborgue tivesse razão e ele tenha sempre sido apaixonado por ela. Obviamente isso era uma loucura. Um ato suicida. Sentia-se seu próprio algoz, acorrentando-se a uma árvore morta que jamais daria frutos à beira de um precipício, com duas alternativas, suicidar-se ou morrer de fome. Ela mantinha um relacionamento, ou seja lá qual for o nome do siricotico deles, com Aqualad. Ele era bonito, não era verde e tinha uma boa cognição.

Sua paixão recém-descoberta doía. Mas pensar em fazê-la mal, pensar em separa-la dele e fazê-la sofrer, doía absolutamente mais. O que fazer? Sentia-se como o eu lírico de Poe, melancolizado, entristecido, de luto. E ela, Ravena, era o corvo que lhe trazia o mau agouro, sua sentença de morte e sofrimento. Não poderia tê-la. Estava convencido disso, mas faria o possível para fazê-la feliz. Se não a poderia ter como amante, teria como amiga. Essa ideia de certa maneira reconfortou seu coração e assim adormeceu.

Na manhã seguinte Ravena desceu para o desjejum e já encontrou a amiga histérica com a edição quentinha da revista quinzenal Jump Teen.

Ravena: *servindo-se de chá* Vejo que você já está com a sua revistinha querida.

Estelar: Amiga Ravena. Olhe isso *mostra a capa da revista, mas ela dá pouca importância* Segundo o teste desse mês o Robin é meu par perfeito.

Ravena terminou seu gole de café e olhou para a amiga alienígena, de repente se interessou pelo assunto: “Como assim?”, questionou.

Estelar: *empolgada* A edição desta quinzena traz um teste assim: *lê o enunciado* Ricardito, Robin, Aqualad, Ciborgue ou Mutano? Qual gato titã é o perfeito para você? Não é glorioso? *pausa, pega fôlego* Amiga Ravena! Vamos fazer o teste e ver se o Aqualad é seu par perfeito!

Ravena queria fazer, estava curiosa, mas não poderia dar o braço a torcer.

Ravena: Estelar, você é minha amiga, mas não é por isso que vou fazer as coisas que você acha interessante *termina seu chá* Preciso tomar um ar, pensar, faz tempo que não caminho sozinha, vou dar uma volta.

Estelar: Tudo bem amiga, mas você deveria relaxar mais, brincar mais, descontrair.

Ravena tomou cuidado para levar uma caneta ao sair de casa. Voou até uma área mais distante do centro, procurando uma banca de jornal. “Não acredito que vou fazer isso! Isso é simplesmente ridículo. Ravena controle-se. Você não vai fazer um teste bobo de revista, vai?! Ah, eu preciso, não, não tem nada demais não é verdade… é só pegar uma informação leiga. Isso é por curiosidade apenas. Nada além de curiosidade.” Pensava enquanto procurava uma banca de jornal. Aterrissou e pronto novo dilema: “Olá, eu sou a Ravena dos Jovens Titãs e queria uma Jump Teen, é eu, fria, calculista, sarcástica… não, isso é ridículo. Oi menina você pode comprar uma Jump Teen para mim com este dinheiro? Porque, ah porque eu sou uma boboca que não consegue comprar uma revista de adolescentes já que passei dessa época. Saco, como a Estelar consegue fazer isso? A Estelar… já sei” após uma briga interna em seus pensamentos encaminhou-se para a banca de jornais.

Ravena: *fingindo falar com Estelar pelo comunicador* Tudo bem é ridículo você ler isso, mas já que estou perto de uma banca eu levo para você. *olha para o jornaleiro, falando da maneira mais fria e indiferente* Preciso daquela edição da revista Jump City…

Jornaleiro: Jump City?

Ravena: É uma que foi feita para adolescentes e para a Estelar que não cresce.

Jornaleiro: Jump Teen!

Ravena: Tanto faz.

O jornaleiro lhe entrega a revista, ela paga e sai fingindo falar com Estelar pelo comunicador, “Já comprei”. Saiu das vistas do jornaleiro e sobrevoou a cidade em busca de um local seguro para responder a enquete e descartar a revista sem ser vista. Não podia nem cogitar a ideia de levar a revista para seu quarto. Encontrou um terreno baldio e foi para lá, escondendo-se em meio à escombros de uma obra abandonada.

Ravena: *falando consigo mesma* Certo… é ridículo, mas não mata. *pega a caneta e procura a parte da enquete* Responda com sinceridade, bla bla bla, apenas uma resposta… hum… não olhe os resultados antes de preencher a enquete, ok!

Respondeu incansavelmente as 30 perguntas da enquete, cada questão com quatro alternativas. Contou, somou, contabilizou, recontou e chegou a um total numérico. “Seu gato ideal é: Mutano”

Ravena: *gritou* O que?! *colocou-se a ler a explicação*

“Amiga você é misteriosa e indecifrável, assim como a Natureza. O titã magia perfeito para você é Mutano, que tem o dom de decifrar a natureza, podendo se adaptar ao seu jeito oculto de viver a vida. E mais! Esse gato, hum, cachorro, cavalo, água viva e todo animal imaginável, é bem humorado, sincero, dinâmico e bonitão. A sua misteriosa voracidade combina e muito com a agressividade cautelosa do herói. Vai em frente amiga e descubra os poderes animais desse titã tão selvagem quanto domesticável.”

Ravena: *suspira* Ah não… mas para… é só uma revista… *riso nervoso* que besteira.

Encostada na parede da obra interrompida não parava de olhar aquela foto comercial de Mutano. Assim como ela, milhares de adolescentes tinham ele como par perfeito. Que grande besteira. “O poder de se adaptar?! Se adaptaria a mim? Para de pensar besteira.”. tinha que se desfazer da revista, mas foi tomada por uma necessidade incontrolável de mantê-la. Saco. Folheou a revista tentando, inconscientemente, encontrar alguma matéria que justificasse ela permanecer com a revista. Não encontrou. Mas talvez porque ela estava muito desorientada. Melhor levar para casa, esconder e procurar com mais atenção, mais tarde. Melhor deixar embaixo do colchão. Debaixo do travesseiro. Melhor. E assim abriu um portal até seu quarto com a revista nas mãos. Que cilada.

Já em seu quarto, não conseguia conter o sorriso. Bufava e massageava as têmporas. Leu de novo. Para se assegurar que aquilo não fazia nenhum sentido. Claro que não fazia. Quando foi guardar a revista embaixo de seu travesseiro encontrou o desenho que ele fizera pra ela, somente para ela, inspirado nela, todo dela e sorriu. Era perfeito.

CONTINUA…


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Alegria? Ansiedade? Ciúme?

Fala aê...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vivendo sentimentos, sentindo emoções-Temporada 1" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.