O horário do almoço era o momento no qual eu mais gostava no meu dia. Comia um pedaço de pizza e como sobremesa um maravilhoso bolo de chocolate feito por Lucy, uma mulher que cuidava de mim desde o momento em que eu fui mandado para cá.

Eu gostava de Lucy e a via como uma segunda mãe para mim e a agradecia toda noite antes de dormir por ter me aceitado do jeito que sou e cuidado de mim durante todos os meses em que eu estive aqui. Já faz quase um ano no qual fui sugado por aquele buraco, quase um ano desde a última vez que vi a minha querida mãe.

No final do dia eu não voltava para casa. Ia para as docas e ficava olhando o pôr do sol ao lado da minha imaginação.

Eu sempre imagino uma garota falando comigo, uma garota de aproximadamente um ano mais nova do que eu. Sempre que eu quero, ela está ao meu lado, me apoiando e me acolhendo em seus pequenos braços quando sinto falta da minha mãe. Eu a chamava de Doce Imaginação pelo simples fato de ela não estar ali para as outras pessoas, mas para mim ela sempre está, sempre estará.

Sentei num banco no qual me dava a melhor visão do sol que eu podia ter, e logo um minúsculo sorriso brotou em meus lábios quando senti sua pequena e delicada mão tocar meu ombro.

Parecia tão real, parecia que eu realmente conseguia senti-la.

— Cansado? — A garota perguntou.

— Você não faz ideia de como eu odeio a escola — A encarei e percebi que ela estava disposta a me ouvir, como sempre ela fazia. — Ver meus melhores amigos separados dói, sabe? Ás vezes sinto vontade de falar com eles e nos juntarmos novamente, mas parece que nada vai ser como antes.

— Depois de tudo, realmente acredita que as coisas serão as mesmas? — A encarei e ela segurou em minhas mãos. As suas pequeninas mãos eram tão macias, eu adorava tocá-las. — Não estamos mais em Auradon, lembra? Infelizmente tudo aqui é diferente. As pessoas são diferentes, os costumes são diferentes e, principalmente, as amizades que você tinha antes estão diferentes.

— Eu sei...

— Mas uma coisa não mudou — A garota no qual eu ainda não tinha dado um verdadeiro nome colocou a mão no meu queixo e obrigou-me a olhar no fundo dos seus olhos. Podia chama-la de Doce Imaginação, mas eu precisava de um nome melhor para ela, certo?

Doce Imaginação tinha cabelos bem cacheados no qual eu gostaria de poder brincar com eles. Seus cachos eram escuros e brilhantes como algo que eu não sei descrever. Mas tinha uma coisa diferente neles, uma coisa que fazia com que seus cabelos fossem tão especiais para ela quanto para mim. Um de seus cachos não era castanho como os outros, ele era de um tom avermelhado e era ainda mais brilhante que os outros. Nunca tentei imaginar o motivo dele ser assim, eu simplesmente não conseguia pensar em algo para contar como ela tem aquele lindo cacho.

A pele bronzeada e macia era outra das inúmeras coisas que eu gostava nela. Os olhos castanhos brilhantes me fitavam de vez em quando e os perfeitos lábios vermelhos naturalmente se abriam e se fechavam como se Doce Imaginação quisesse falar mais alguma coisa.

— O quê? — Perguntei depois de muito tempo.

— As pessoas ainda o vê como o filho da Cruella, o filho que está destinado a seguir os passos da mãe.

— Nunca iria ferir cachorros! — Afirmei.

— E as pessoas? — Ela me olhou firmemente, e eu não soube como respondê-la. — Eu sou a sua mente, Carlos. Sei que já pensou em machucar alguém, especialmente aqueles que o fazem mal na escola.

— É apenas imaginação, menina...

— Sim — Ela soltou as minhas mãos e encarou o pôr do sol. — Suas imaginações!

(...)

Naquela noite eu tive um sonho.

Eu estava com a minha mãe, e ela estava bem feliz em me ver. Nós finalmente éramos uma família de novo. Somente eu, mamãe e seu tão amado carro no qual sentia-me envergonhado quando estava com ele. Mas no sonho, o campo belo e repleto de flores havia se tornado num lugar poluído e sem a natureza por perto. Eu já não estava mais abraçado a minha mãe, quando a olhei, a vi totalmente suja de sangue e sem vida em meus braços.

O desespero tomou conta de mim naquele minuto. Abri os olhos e gritei chamando a minha mãe. Mas ela não viria... Acredito que ela nunca mais vai estar ao meu lado novamente, somente nos meus sonhos.

(...)

Novamente naquele corredor da escola, vi algo no qual eu não esperava. Evie, Jay e Mal juntos, rindo como se não houvesse amanhã. Pensei em não encará-los, o que foi impossível quando os três vieram até mim e Mal me abraçou tão apertado que mal pude respirar.

— Vamos ser amigos novamente — Ela disse em seguida e enxugou uma lágrima que caía lentamente. Sorri, Mal não era muito de chorar. — Nós quatro seremos uma equipe novamente.

— Pensei que as coisas tinham mudado. Pensei que você e Jay tinham se esquecido de todas as nossas aventuras na Ilha dos Perdidos e em Auradon.

— E esquecer o quanto você é insuportável? — Mal riu. — Nunca!

— Amigos? — Perguntei.

— Amigos!

A partir dali a minha vida mudaria por completo. Abracei meus três melhores amigos e rezei para que aquilo não fosse um sonho. Mas o que veio em seguida foi ainda mais impressionante.

Perdida no meio dos alunos ela procurava seu armário. Doce Imaginação estava mais linda do que nunca e para meu desespero ou felicidade, todos podiam vê-la.