(Giovanna)

            Em dois anos minha vida mudou tanto, a única coisa que permaneceu foi o Bill, era por ele que eu mantinha minha essência, mantinha meu jeito de ser. Toda vez que ele ligava era uma injeção de animo pra mim. Às vezes eu esperava o dia todo e ele não ligava, bastava eu dormir e o telefone tocava, eu atendia esperançosa, e quando ouvia sua voz meu mundo ficava colorido.

            Mas durante esse tempo eu e a Any continuamos batalhando, o parente dela, que depois eu descobri ser sua tia, que era casada com o irmão de sua mãe que faleceu há quase três anos, bom em todo caso essa tia dela continuou a arrumar nossos vistos, ela queria que nós morássemos com ela, pois estava se sentindo sozinha, seu único filho que já era casado morava em outro país da Europa e não podia visitá-la sempre.

            Bom eu estava feliz poderia morar lá onde eu sempre quis estar. Tinha esperança de poder ver Bill, sei lá porque mais a tia da Any era rica e morava em um bairro chique de Berlim, isso seria perfeito.

            Eu queria que meus dois anos tivessem sido mais fáceis, mas foram dolorosos, por vezes eu achei que não conseguiria acordar no outro dia e ter apenas que me contentar com uma ligação do Bill, ele era meu único sentido, cada vez que ele me contava alguma novidade da banda eu me sentia a pessoa mais importante do mundo. Quando ele me contou que tinha feito duas músicas pra mim e as cantou no telefone eu chorei o dia todo. Uma vez ele me ligou de madrugada pra cantar a nova musica que tinha sido feita há poucos minutos, e eu acabei dormindo, estava cansada demais, acordei com celular no ouvido no outro dia, e ele nem falou nada quando ligou novamente.

            Sabe uma das coisas que mais me surpreendeu foi o fato do Bill nunca deixar de me ligar, teve uma semana que ele não ligou, mas depois pediu tantas desculpas por não ter tido tempo que eu não sabia o que dizer em resposta. Aquela sensação de saudade, de falta que sempre sentia quando pensava no Bill antes de conhecê-lo agora eram muito mais reais, e doíam bem mais.

            No que se diz “minha vida” eu posso contar que trabalhei pra poder pagar meu curso de alemão, e juntar dinheiro pra ir pra Alemanha. Any e eu fizemos um curso avançado de alemão, e sempre fazíamos os exercícios juntas, treinávamos nosso alemão o dia todo, não conversávamos mais em português.

            No trabalho eu era simplesmente a menina das pastas, sim eu trabalhei em uma empresa grande de contabilidade, tinham tantos arquivos que eles contrataram a Any e eu pra darmos conta, e ganhávamos um salário mínimo mais os benefícios da empresa. Concluindo tinha sido perfeito aquele emprego, já que não tentei fazer faculdade.

            Muitas vezes o Bill me ligava em pleno horário de serviço, lá ia eu me trancar no almoxarifado pra conversar com ele, dava um tempo e a Any já vinha me chamar de volta porque estavam sentindo minha falta na sessão de arquivos que eu cuidava. E quando não era isso era alguém chamando o Bill pra termina de gravar alguma musica, ou pra embarca em algum vôo, ou pra comer, ou pra ir pra algum lugar. Mas na época que ele estava em casa, sempre que me ligava falava de rosas, dizia que sua vizinha tinha as rosas mais lindas de Berlim, e que ele me daria uma quando fosse pra lá.

            Eu já estava perdendo as esperanças de conseguir ir pra Alemanha, pois a tia da Any não conseguia pedir o visto para morarmos e estudarmos lá, conseguia apenas pra turismo, que era de no máximo três meses. Foi quando Any me ligou contando a melhor noticia do mundo.

            - Arruma a mala que em dois meses nós vamos pra Alemanha! – Ela gritava do outro lado do telefone, e eu gritava também.

            Contei ao Bill que estava quase conseguindo ir pra Alemanha, mas não especifiquei data, pois os vistos tinham sido aprovados pra permanência no país por tempo indeterminado, então levaria um tempo pra ser expedido. E ainda tinha o meu emprego, eu teria que pedir aviso, daí trabalhar por mais trinta dias, depois ia tentar ganhar o seguro desemprego, e ai poderia embarcar.

            Bom o negocio é que tudo andou rápido demais, pois eu contei num dia pro Bill que estava indo pra Alemanha, e no outro já embarquei e cheguei lá. O que aconteceu foi que a tia da Any agilizo o processo com uns conhecidos dela, e então nós teríamos que chegar lá o quanto antes, Any deu um jeito nas passagens, enquanto eu enfiava tudo que tinha de roupa de inverno na mala e ligava pro escritório avisando que não poderíamos mais ir trabalhar e nossos pais levariam um pedido de demissão, que eu já tinha feito a muito tempo.

            No caso do escritório deu um pouco de rolo, mas isso eu pedi pros meus pais resolverem, e correu tudo bem depois. E no caso do aeroporto eu quase morri, pois eu nunca tinha voado antes, incrível como eu nunca tinha pensado nessa parte, voar. Eu não tive medo, mas foi assustador passar por uma tempestade que se formou no meio do caminho.

            O importante foi que chegamos bem, mas tivemos que esperar algum tempo na sala de espera pra poder pegar nossas coisas, estava um rolo aquilo lá. Enquanto o tempo passava Any e eu tentamos conversar com algumas pessoas, verificar se sabíamos mesmo alemão, foi quando o vi entrando pela porta de vidro automática da sala, e ficando dois seguranças do lado de fora e dois os acompanhando. Eu não podia acreditar, mais uma vez o destino me uniu ao Bill, e ainda por cima em outro aeroporto.