Mário...

Logo depois que o sinal do intervalo tocou, Cirilo, Gustavo e eu nos levantamos sem pressa, estávamos com fome sim, mas não estávamos com tanta pressa para irmos ao pátio, ainda mais porque nem sabíamos onde ficava, era Cirilo quem nos guiaria. Mas, logo assim que chegamos no corredor que dava acesso ao pátio, já houve um pequeno deslize, pois esbarrei em uma garota que estava no corredor mexendo no armário dela.

–Ai, olha por onde anda!!- esbravejou a garota.

–Desculpa, foi sem querer.- eu disse e logo consegui encará-la. Ela era linda, tinha cabelos escuros, olhos castanhos, a pele muito branca, nunca vi nada igual. Mas ao mesmo tempo que a achei linda, também a achei muito exagerada, afinal, o esbarrão nem foi tão forte assim e ela me deu uma bronca daquelas. E o mais engraçado é que por mais que ela parecesse brava, seus olhos demonstravam algo estranho, parecia que os olhos dela ficaram presos nos meus, apenas por alguns segundos, pois em breve ela se virou e sua atenção foi para uma garota que estava ao lado dela. Então elas saíram andando apressadamente pelo corredor.

–Quem diria, logo em seu primeiro dia já leva bronca de alguém.- disse Gustavo.

–É, isso não foi planejado, mas acredito que não vai acontecer nada.- respondi.

–Tem razão, vamos deixar isso pra lá.

Não demorou muito para chegarmos no refeitório. Logo nos sentamos em uma mesa juntos e começamos a comer.

–O que estão achando?- perguntou Cirilo ao se sentar.

–Tudo muito bom, os professores são legais, as matérias são fáceis, o colégio é grande, por mim parece tudo ótimo.- disse Gustavo.

–E você Mário?

–É, faço das palavras dele as minhas.- respondi sério.

–Tá tudo bem com você?- perguntou Gustavo.

–Está sim.

–E por quê você ficou tão sério de repente? Até sairmos da sala você estava tão animado e sorridente. Se for por causa do esbarrão no corredor, já disse que é melhor esquecer.

A verdade é que eu realmente estava me sentindo bem sim, mas acontece que eu não conseguia entender como uma garota tão linda de rosto angelical como aquela, podia agir daquela forma. Bem que dizem que as aparências enganam. Mas, Gustavo tem razão, é melhor deixar isso pra lá e me focar em coisas mais importantes.

–Tá bom, me desculpem.- eu disse, já forçando um sorriso.- A escola é bem melhor que eu esperava. E maior também.

–Eu também tive a mesma reação que você teve quando entrei aqui pela primeira vez.- disse Cirilo.

–Você tem amigos aqui?- perguntei, interessado.

–Tenho sim, bastante. Mas eles são de outra sala e como hoje vocês estão no primeiro dia de aula, estou apenas mostrando a escola pra vocês, mas amanhã eu vou apresentar todos eles para vocês.

–Tá bom, vai ser bem legal.

Dei uma golada no meu suco e quando olhei para meu irmão, que ficou calado de repente, percebi que ele estava vidrado em algo, segui seu olhar e vi que ele estava olhando para uma garota que estava sentada em uma mesa próxima à nossa. Ela era muito parecida com aquela que eu trombei no corredor.

–Admirando a Ana Vitória?- perguntou Cirilo.

–Quê? Como assim?- Gustavo se assustou.

–Você tava parado aí sem mordiscar seu lanche olhando para frente. Dá pra ver que seus olhos estão na direção da Ana Vitória.

–Fala sério, eu não tava olhando pra ninguém.

Gustavo nunca foi um pegador, ele era amigo de meninas sim, mas nunca chegou a ser pegador e coisa do tipo, mas quando Cirilo falou dele estar olhando pra tal da Ana Vitória, ficou sem graça.

–A Ana Vitória é sua amiga?- perguntei.

–Sim, ela estuda na mesma sala que nós.- respondeu Cirilo. - Aliás, ela é da mesma sala que eu desde que entrei aqui.

–Sério? Eu não tinha percebido que ela estava na nossa sala.- falei, estranhando.

–É porque ela gosta de sentar atrás. Ela e a Marcelina.

–Quem é Marcelina?- perguntou Gustavo.

–É a garota que trombou com o Mário. As duas são melhores amigas e nunca se desgrudam.- respondeu Cirilo.

Naquele momento, fiquei impressionado. Quantas revelações em um só dia. Meu primeiro dia de aula estava saindo um pouco melhor que o esperado. Mas depois disso, não falamos mais nada, apenas voltamos a lanchar sossegados.

Marcelina...

Quando cheguei no pátio, ainda estava brava por aquele menino ter esbarrado em mim, mas ao mesmo tempo eu estava confusa, será que ele realmente fez aquilo sem querer? Uma parte de mim queria acreditar, mas a outra insistia em achar que ele fingiu que não me viu.

–Pelo menos você não caiu no chão né? Algumas pessoas costumam cair no chão quando trombam do jeito que vocês trombaram.- disse Aninha.

–Eu sei, foi só o efeito do susto, mas já está tudo bem.- respondi, olhando pra ela.

–Que bom, mas o que não entendi foi como você ficou alguns segundos parada olhando pra ele.

–Eu?

–Sim, acho que durante uns três segundos vocês se entreolharam.

–Ah, bobagem, só quis olhar pra ele para ver se ele tinha cara de peralta ou não.

–E o que você concluiu?

–Bom, ele não tinha cara de peralta como o meu irmão.

–Ah, isso é bom sinal. Pelo menos ele não vai aprontar com você.

–Assim espero.

–Falando nisso, acho que ele tá olhando pra você.

Receosa, olhei na direção de onde ele estava sentado com o moreno, mas agora ele não olhava mais pra mim, o moreno que olhava e conversava com eles.

–Acho que ele já não está mais olhando.- falei.

–É, assim que você olhou, ele desviou o olhar.- ela pareceu triste.

–Esquece isso e vamos lanchar, tá?

–Tá bom.

Depois disso, não falamos mais nada, lanchamos caladas esperando o sinal do fim do intervalo tocar.