A claridade fez com que fechasse os olhos rapidamente, quando reabriu notou que o local onde estava não se parecia em nada com sua casa, as paredes brancas e o vidro que mostrava o corredor o fez perceber que estava em um quarto hospitalar. Ouviu um som irritante, semelhante a um bip fez com que ele olhasse para o lado, se deparando com vários aparelhos que mediam seus batimentos e respiração. Franziu o cenho e uma pequena pontada na cabeça fez com que ele fechasse os olhos novamente. Onde ele estava? E por que sentia que não tinha dormido e acordado ali apenas por uma noite? Forçou a memoria e se lembrou de ouvir um grito vindo de Bianca, alarmou-se, será que alguma coisa errada havia acontecido? A única coisa que recordava era de tudo escurecer e acordar naquele quarto. Queria saber onde estava Bianca, o que havia acontecido e principalmente, a quanto tempo estava ali. Sabia que não era pouco tempo por causa da dor no corpo que sentia, mas não imaginava exatamente quanto tempo estava deitado naquela mesma cama, adormecido, fora do ar.

O medico chegou a seu quarto e começou a examina-lo, mas ele não prestava atenção em nada que o mesmo dizia, sua cabeça estava uma bagunça e ele não conseguia raciocinar direito.

De repente a voz de Bianca invadiu sua cabeça, ela parecia dizer coisas desconexas e parecia chorar.

“-João. Meu amor, minha vida acorda logo ta? Tem alguém aqui dentro que precisa de você tanto quanto eu e que quer te conhecer logo. Não me deixa sozinha. Eu, a sua mãe e o Pedrinho precisamos de você aqui pra sorrimos novamente. Por favor, João, você tem que sair dessa logo, eu não sei viver sem você meu lindo, eu preciso do seu sorriso, do seu beijo, do seu carinho, da sua presença e, principalmente, do seu amor. Perdoa-me, meu amor. Você ta sofrendo e a culpa é minha, mas não me abandona. Eu preciso de você aqui para ter forças para continuar a viver. Volta pra mim meu amor. Eu te amo muito e não posso e não quero viver sem você”

João franziu o cenho, não se lembrava de quando Bianca havia lhe dito aquelas palavras e muito menos se tinha respondido alguma coisa, mas uma frase ficou na sua cabeça “Tem alguém aqui dentro que precisa de você tanto quanto eu e que quer te conhecer logo.” Do que Bianca estaria falando? Novamente a voz da namorada invadiu sua mente.

“Oi meu amor. Faz tanto tempo que você tá aqui e eu sinto tanta a sua falta, sem você aquela casa fica vazia, sem vida. Acordo todos os dias e ligo pra cá pra saber se você finalmente abriu os olhos, se você voltou pra mim. Ta muito difícil viver sem você meu amor. Todos sentimos sua falta, principalmente agora que o Miguel nasceu e a família ta em festa, mas sem você essa festa fica triste e sem animo. - suspiro – Eu sei que você ta lutando pela vida João, você é um guerreiro e eu tenho certeza que você vai ganhar essa batalha e eu estarei aqui te esperando. Eu e a nossa menina, isso mesmo, menina. Nossos sonhos estão se realizando e eu preciso de você ao meu lado, nós duas precisamos. Volta logo meu amor. Estarei aqui e esperando”

Bianca estava gravida? Era isso? Ou era sua mente reproduzindo os seus desejos? O medico vendo o semblante confuso de seu paciente resolveu quebrar o silencio mortal que havia se instalado naquele quarto.

–Você sente alguma coisa João?

–Não doutor – respondeu com um olhar distante – Eu só tô tentando assimilar tudo o que senhor me contou. Quer dizer que eu fiquei quase oito meses em coma?

–Exatamente, você nos deu um susto daquele rapazinho – o medico sorriu – Sua mãe quase acampou nesse hospital, eu precisei insistir muito para que ela fosse pra casa por causa do seu irmãozinho que iria nascer e o seu padrasto apesar de abalado tomou a frente e me ajudou muito à convence-la de esperar as noticias em casa e em repouso.

–Eu imagino que não tenha sido fácil, meu pai diz que eu puxei a teimosia dela – eles riram – Mas é bom saber que ela obedeceu. Fico mais tranquilo de saber que meu irmão foi bem cuidado.

–Você parece ser muito querido pelas pessoas – o medico comentou enquanto anotava algumas coisas em sua prancheta – Quase todos os dias alguém ligava ou aparecia aqui querendo noticias suas, mas três pessoas vinham aqui todos os dias.

–Três?

–Sim, um rapaz com um cabelo grande e uma mocinha de cabelos curtos – João sorriu reconhecendo a descrição do melhor amigo e da irmã postiça – E uma moça de cabelos castanhos que sempre ficava no quarto rezando ao seu lado, se eu não me engano o nome dela é Bianca.

–Bianca? – João repetiu surpreso e o medico o olhou confuso – É a minha namorada,

–Você tem sorte rapaz, ela te ama muito. – o medico sorriu – Bem agora eu preciso ir, o hospital tá bem movimentado hoje. Mais tarde passo aqui pra te dar a sua previsão de alta.

–Até mais tarde então.

O medico se retirou e João ainda continuava surpreso. Bianca vinha vê-lo todos os dias! Sempre amou a garota, mas não desconfiava que ela estivesse assim tão disposta a ficar ao seu lado durante momentos tão difíceis. Sentiu dor nos olhos por causa do quarto claro, fechou-os e novamente ouviu a voz da namorada.

“João eu tenho uma ótima noticia pra você! Eu me mudei pra nossa casa meu amor, sei que nossos planos não eram mudar pra lá agora, mas eu senti que era necessário. Eu não posso demorar muito porque o doutor Armando disse que eu preciso repousar nesse finalzinho de gravidez para que nossa pequena nasça totalmente saldável. Eu te amo meu amor, volta logo pra mim tá? Quando você acordar eu vou estar te esperando na nossa casinha, para começarmos nossa vida juntos meu amor”.

João sorriu, se aquelas palavras não fosse coisa de sua cabeça, seus sonhos estavam se realizando e ele finalmente começaria sua vida com Bianca. Lembrou-se da briga que tiveram antes daquilo tudo acontecer e tudo que pode pensar era que devia um pedido de perdão a namorada, pois tinha sido impulsivo e ela havia provado seu amor durante aqueles meses. Sorriu ao pensar que logo pararia de chamar Bianca de namorada e poderia chama-la de esposa, porque o que ele mais queria era viver o resto da vida ao lado dela e ser feliz com quem tanto amava e não perderia tempo, pois ele tivera a prova que o tempo pode ser cruel quando quer. Ouviu um barulho no corredor e abriu os olhos, quando a porta se abriu ele não pode conter o seu maior sorriso.

Parada no batente, ofegante e vermelha, com os olhos repletos de emoção, estava Bianca.