Eu Odeio Meu Chefe escrita por Autora Alienígena


Capítulo 2
Meu chefe acha que eu sou o coringa




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Assim que entramos April gritou meu nome pra todo mundo, como se eu já não estivesse constrangida o suficiente.

–Oi Bessie, essa é Elizabeth.

–Eu sei, você acabou de dizer para todas nós. - respondeu a tal Bessie e as duas caíram na gargalhada juntas.

Por que meu dia não acaba logo hein?

–Bessie, sua engraçadinha, eu só estou fazendo com que minha amiga aqui conheça algumas pessoas novas, o dia dela foi péssimo. - April disse como se eu não estivesse lá ouvindo tudo.

–Para todas nós não é? Não estamos nessa sociedade por acaso. Hoje mesmo eu fui demitida.

Ouvir aquilo me fez sentir compaixão dela, pois eu sabia exatamente o que é vivenciar isso, ver seu futuro jogando fora e ser condenada a ser garçonete a sua vida inteira em uma loja de doces brasileiros. Sweet Brasil, era a loja de doces que eu trabalhava antes de me demitir por ter certeza absoluta de que iria ter um emprego novo na Collin's, como eu sempre sonhei e agora estou sem um e nem outro, isso me causa uma depressão instantânea.

–Por que te demitiram? - perguntei, tentando ser um pouco mais sociável e também para esquecer por um momento meus próprios dramas.

–Meu chefe me pegou lendo 50 tons de cinza em horários de expediente.

–Mas você não trabalhava em uma biblioteca? Acho que seu chefe pegou pesado. - disse April.

–Foi o que eu disse a ele. - respondeu Bessie indignada.

–Mas o que aconteceu exatamente? - perguntei.

–Eu me empolguei com o livro e gritei: Go Christian. E talvez eu tenha falado algum palavrão. Daí o meu chefe veio dizendo palavras como inadequado e obsceno, aí eu disse que ele estava exagerando e mostrei pra ele o meu dedo do meio. - será que só eu engasguei com essa resposta?

–Bessie... - April ia dizer alguma coisa, mas foi interrompida.

–Meninas! Chegou a hora, a grande roda do desabafo, eu sei que depois de uma longo dia, todas nós estamos precisando disso, não é mesmo? - gritou a mesma mulher que estava lá fora quando entramos. Acho que ela é algum tipo de líder do fracasso. Imagino o que ela tenha feito pra conseguir esse cargo.

Todas foram animadas para as cadeiras que estavam postas em círculo, inclusive April e Bessie, que me puxaram pelo braço.

–Lise, o que você ainda está fazendo com esse casaco? - disse April, já puxando meu casaco.

–Não estou certa de que quero tirar - lo.

–Não estou certa de que você é normal. - disse April atrevidamente, fiz careta pra ela.

–Vamos lá Lise, eu tô tentando te deixar melhor, mas você não ajuda.

–Tá, desculpe, eu juro que vou tentar. - por mais estranha que pareça a ideia dela, eu sei que ela tá tentando me ajudar.

Sentamos em uma das cadeiras do círculo e esperamos a reunião começar. Eu não estava nem um pouco à vontade vestida daquela forma, na frente daquelas meninas, mas tentei parecer tranquila.

–Vamos começar a nossa roda do desabafo. Botem tudo que está preso dentro de vocês pra fora. Falem tudo o que não seria conveniente falar para outras pessoas, libertem - se! E no final, todas nós falaremos nosso lema: fracassadas unidas, serão vencidas, mas permanecerem unidas! Quem quer ser a primeira?

–Eu -disse uma voz decidida.

Era uma mulher que, diferente das outras, não estava fantasiada de uma forma sexy. Ela veste um vestido rosa, com saia de tule e uma grande estrela amarela e brilhante, localizado bem em cima do busto. O vestido parecia ter sido feito para uma pessoa bem maior que ela. Na cabeça, ela usava um chapéu e um óculos, que escondiam grande parte do rosto dela.

–Quer saber? - continuou a garota, com uma expressão de indignação. - Eu não aguento mais ser BV, eu quero beijar!

–É isso aí garota! - gritou alguém em apoio.

–Eu quero beijar alguém, qualquer um, que seja homem e que tenha o mínimo de higiene bucal, claro.

–Beijar é muito bom, você tem que beijar - gritou Bessie.

–Eu falei isso para minha mãe hoje - disse a BV e todas fizeram um "uuuh" em uníssono.

–Garota, você tem coragem, a minha mãe perguntaria o que é BV- disse uma mulher vestida de tigresa.

Rimos

–Eu disse tipo assim: mãe eu não aguento mais ser BV, eu quero beijar logo! Daí ela começou a rir como se eu tivesse contado uma piada e disse: deixa de ser lesada filha, vai pra uma festa, beija uns vinte, só por beijar mesmo.

–E você foi? - alguém perguntou. De repente notei que estávamos todas interessadas nessa história.

–Não, eu tenho fobia a homens bêbados e nessas festas sempre tem.

–Isso mesmo querida, não beije qualquer um. Eu digo isso por experiência própria, meu primeiro beijo foi horrível - disse April.

–Meu primeiro beijo foi em um banheiro químico - disse uma garota vestida de preto, era uma fantasia de bruxa, ela estava de rosto baixo, mas quando levantou eu a reconheci imediatamente a garota punk, que deu uma piscadela pra mim.

–Como isso aconteceu? - perguntou Bessie.

–Eu estava em uma festa, no meio da rua, aí me deu uma daquelas dor de barriga sérias, então eu procurei o banheiro químico mais próximo, só que tinha um cara que ia entrar primeiro. Eu empurrei ele e a gente começou a discutir sobre quem entraria primeiro, rolou um clima e eu beijei ele, depois ele deixou eu entrar primeiro.

–Uau, que profundo - disse Bessie, apesar da sua expressão séria, fiquei em dúvida se ela estava sendo irônica.

–Minha amiga aqui também teve um péssimo primeiro beijo - disse April se referindo a mim.

Olhei para ela com olhar de repreensão, mas foi inútil.

–Não April - sussurrei.

–Conta logo - April disse impaciente.

–Não foi tão ruim assim.

–Não foi tão ruim assim? - ela me olha com cara de incrédula - Meninas, o primeiro namorado dela foi um nerd perebento. Certo dia os dois discutiram qual deles tinha mais capacidade de trabalhar na NASA, cada um votou em si mesmo, aí eles discutiram e terminaram.

–O que é NASA? - perguntou a tigresa peituda.

–Vocês transaram? - perguntou Bessie e todas olhar pra mim, fico vermelha.

–N-não - gaguejei.

–Fala sério - disse April - No máximo eles tiraram o BV um do outro.

Depois dessa leve humilhação pública, Bessie começa a desabafar o quanto ela quer um Christian Grey pra ela. April começa a dizer o quanto não está satisfeito com seu atual casamento de apenas algumas horas, o que já não é mais novidade para mim.

Depois, por mais que eu não quisesse tocar nesse assunto, as meninas insistiram que eu contasse o que tinha acontecido comigo. E eu contei tudo. Desde o meu sonho em trabalhar na Collin's até a hora em que encontrei April no meu apartamento. Por incrível que pareça, agora eu entendo por que elas fazem isso, depois que desabafei, me senti muito mais leve. E não senti vergonha de falar isso pra elas, afinal, todas temos uma história de fracasso para contar, estamos no mesmo barco.

Após o último desabafo, demos nossas mãos e dissemos o lema em uníssono: fracassadas unidas, serão vencidas, mas permaneceram unidas. Nessa hora eu já me sentia parte do grupo.

Depois da roda do desabafo, Bessie me explicou que elas tinham mais um ritual: beber até não poder mais. Sinceramente, eu sempre fui certinha demais para ficar bêbada, mas hoje, eu realmente estava precisando.

Bebi junto com a garota punk, conversamos por horas.

–Por que você foi para a Collin’s? – gritei em meio ao barulho da música alta.

–Minha mãe que eu que arranje um emprego. Eu passo o dia fora de casa, fingindo estar em entrevistas. Hoje ela me obrigou a tentar entrar na Conlli’s, mesmo nós duas sabendo que seria perda de tempo. Ela disse que voltaria para me pegar, então fui obrigada a ficar lá esperando.

–Nossa, deve ter sido muito chato ficar lá. –digo.

–Até que foi engraçado ficar vendo as caras de desespero.

Quando estávamos bêbadas o bastantes ficamos dançando feito duas baratas tontas. Não me lembro a hora em que apaguei, mas me acordei com um barulho irritante do meu celular tocando.

Abro meus olho, minha cabeça está explodindo, tenho que parar esse barulho irritante. Olho para a tela e vejo que alguém está me ligando, mas não conheço o número, quem me ligaria a essa hora da madrugada?

–Alô? – atendo ainda grogue.

–Senhorita Elizabeth Miller? – perguntou a voz mais masculinamente afeminada que eu conheço.

–Sim, sou eu.

–Ai querida, sou eu, Karen, recepcionista da Collin’s. – eu sabia! Ela já deve ter descoberto tudo e está ligando para debochar da minha cara.

–Oi Karen.

–Querida eu tenho duas notícias para você, uma boa e uma ruim, qual você quer primeiro?

–Pode dizer a ruim – duvido que exista uma boa.

–Fofa, eu não sei o babado que aconteceu aqui, mas você não foi contratada, achei isso o cúmulo.

–Obrigada Karen, mas quer saber? A vida continua, eu vou achar um lugar melhor. – menti.

–Calma ai queridinha, eu ainda não dei a notícia boa. A secretária do senhor Collins está de licença maternidade e a empresa está procurando uma substituta pra ontem, essa é sua chance.

–Chance? De ser secretária? – ela só pode tá debochando.

–Eu sei que não é o cargo que você queria, mas pelo menos você não vai está desempregada. Além, disso, se você for esperta, vai aproveitar essa oportunidade de mostrar ao senhor Collins que você tem potencial.

–Senhor Collins? O dono da Collin’s?

–Isso mesmo flor, depois que o senhor Collins morreu, seu filho Madson Collins herdou tudo, então sim, ele é o dono.

–Karen você é brilhante! Eu começo como secretária e mostro ao senhor Collins onde realmente eu deveria estar.

–Agora você entendeu, mas tem um problema, eu estou ligando agora no meu horário de almoço e você tem que estar aqui de duas horas em ponto ou então vem outra no seu lugar.

–Chego ai em duas horas em ponto.

Só depois que desligo o celular é que percebo as exatas palavras de Karen “horário de almoço”, que horas são, afinal?

–Ai merda! – gritei, acordando algumas meninas.

–Que escândalo é esse Lise? – perguntou April, talvez ainda bêbada.

–Já é uma hora da tarde! E eu nem sequer ainda estou com Penélope! – gritei quase entrando em pânico.

–Do que você está falando Lise? – pergunta Bessie, ainda sonolenta.

–Meninas, vocês precisam me ajudar, eu ainda posso entrar na Collin’s, mas preciso estar lá as duas horas em ponto e eu preciso do meu carro para isso. - agora todas já estavam acordadas.

–Tudo bem meninas, vamos ajudar a Lise. –disse a líder, que agora sei que se chama Karla.

–Onde exatamente está o seu carro? – perguntou April.

–Em um estacionamento perto da Collin’s.

–Eu conheço um cara que pode fazer o conserto. – disse Bessie.

–Eu posso levar você para o seu apartamento, para que posso se arrumar, mas depois tenho que vazar. – disse a garota punk que eu ainda não sei o nome dela.

–Então vamos nos organizar – disse Karla – Bessie, ligue para seu amigo e garanta que o carro chegue consertado e a tempo no apartamento da Lise. Enquanto isso, vá para o seu apartamento Lise, April irá com você para te ajudar. Fracassadas unidas em ação! Já!

Eu, April e a garota punk saímos do porão às pressas. Eu e April recolhemos nossos queixos do chão quando vimos que a garota punk tem um porsche preto lindo.

–Você tem...

–Sim, eu tenho.

A punk dirigia como se estivesse em uma pista de corrida e isso me deixou com o coração na mão, mas o lado bom foi que chegamos mais rápido ao destino final.

–Obrigada é...como é mesmo seu nome? ´-perguntei, afinal.

–Pode me chamar de Jemmy.

–Muitíssimo obrigada Jemmy, mas precisamos ir agora mesmo. – disse April, me puxando para fora do carro.

O elevador ainda está quebrado, então subimos as escadas, enquanto isso, expliquei a ligação para April, que ficou tão feliz quanto eu.

Eu precisava ignorar meu corpo moído, minha dor de cabeça e ser muito rápida. Depois do banho quase chorei com o emaranhado que estava meu cabelo, então não arrisquei penteá-lo.

Ouço meu celular tocar.

–Alô?

–Lise é a Bessie, olha eu acho que tem algum problema, o cara disse que no estacionamento só tem um fusca velho e rosa. – que palavras cortantes contra a minha Penélope.

–Não tem problema não Bessie, diga a ele que é esse fusca mesmo.

–Ah... ok, tchalzinho.

–Tchau.

Largo o celular na cama e vou para o espelho, tento prender meu cabelo em um coque.

–Aqui, veste essa roupa, você vai ficar com cara de mais nerd do que você já é. – disse April.

–Estou em dúvida se devo levar isso como um elogio.

April escolheu minha saia lápis preta, com um blazer preto e uma blusa bege.

–Esse salto preto vai ficar ótimo. – disse April me entregando o calçado.

–Obrigada.

–Lise eu tô achando que não vai da tempo esperar Penélope, vamos de taxi

–Tem razão, vamos.

Minutos depois estávamos dentro de um táxi e em um engarrafamento sem fim. O motorista foi muito inconveniente em pegar a rua mais movimentada. Cinco minutos para as duas horas. Por mais que tenhamos nos esforçado, será impossível chegar a tempo, mesmo assim estou disposta a ir até o final.

–Penélope. –grita April.

–Quê?

–Ali – ela vira minha cabeça para a direção correta – O cara que consertou deve estar levando para o seu apartamento.

–Mas, do que adianta agora?

–Não seja burra, você ainda pode pegar um atalho e dirigir feito uma louca. Corre logo antes que o sinal abra.

–Tem razão, eu vou.

–Boa sorte amiga, você consegue! – gritou April enquanto eu sai do taxi e corri feito uma louca atrás de Penélope, por sorte, consigo chegar lá antes de ser atropelada.

–Eu sou a dona do fusca, obrigada por tudo, depois ajeitamos o pagamento, agora já pode sair. –falei com o homem gordo e suado que dirigia Penélope.

–Como eu vou saber que é você mesmo?

–Cara eu tô desempregada e essa é a minha única chance de conseguir um emprego, você vai querer mesmo discutir comigo agora?!

–Ok madame, calma ai. –disse o sujeito saindo do meu carro.

Consigo pegar o atalho e para minha sorte o trânsito está bem melhor agora.

É certo que não conseguirei chegar a tempo, mas ainda vou até lá. Aproveito o ultimo sinal antes de chegar na Collin’s para me maquiar, preciso tentar disfarçar minha cara de ressaca, uma boa aparência é sempre bom. Passo rímel, um pouco de pó e blush em menos de um minuto e finalmente o baton, gostaria que tivesse algo mais neutro, mas no meu carro só tem um batom vermelho.

Decido passar, espero que esse vermelho me dê confiança.

A dificuldade desse batom é que tem que ser passado calmamente, para não ficar uma merda, mas isso é tudo que eu não tenho nesse momento. Nos lábios superiores ficou perfeito e os inferiores também ficariam se não fosse pelo idiota atrás de mim que me deu o maior susto buzinando, só porque o sinal abriu.

–Até parece que sua buzina vai fazer com que meu carro crie azas e saia do seu caminho, idiota. –procuro no retrovisor e meus olhos se encontram com os dele, que está bastante impaciente. Tá legal, até que ele é um idiota bonitinho.

Sigo em frente com Penélope e ao mesmo tempo tento tirar a mancha de batom, mas parece impossível, esse batom está mais parecendo tinha de parece na minha cara. Estaciono o carro e corro para prédio esperando ter um pouco de sorte e que tudo dê certo.

–Karen! – chamo a recepcionista enquanto corro de encontro a ela.

–Vem logo comigo menina, ainda dá tempo – disse me puxando até o elevador. Não sei até que andar nós fomos, mas xinguei a Collin’s mentalmente por seus elevadores não serem espelhados.

Eu pediria para Karen para me ajudar com a mancha, mas, ela está extremamente concentrada em uma ligação.

O elevador abre e eu sigo Karen, que dá passos largos a minha frente, enquanto me passa instruções, que não estou entendendo, e meche em umas pastas ao mesmo tempo.

–Você tem muita sorte, a outra garota não veio – continua andando – O senhor Collins é muito exigente e extremamente perfeccionista, então você não pode errar. Ele já deve estar chegando, então simplesmente finja que já está contratada e depois eu cuido da sua papelada.

–Tá, mas...

–Ah meu Deus lá vem ele, sente aqui e finja que tem muito trabalho para fazer.

Minha nossa, parece que esse tal Collins é o diaba na terra. Sento na cadeira de escritório e finjo está lendo algo muito importante no computador de última geração, e que custa mais do que meu fusca, a minha frente.

–Bom dia senhor Collins, essa é sua nova secretária. –disse Karen, com a voz claramente tensa.

Levanto para cumprimentá-lo, quando meus olhos encontram seu rosto, meu coração para. Meu chefe é o idiota que buzinou pra mim no trânsito. Me parece que ele também me reconheceu, pois me olha com desdém.

–Estão contratando até o coringa nessa empresa? – falou, debochando do meu batom borrado, sem dúvidas.

Meu Deus, isso não podia ser pior.


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Notas finais do capítulo

O que está achando da fic?
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:*



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