Nossos lábios foram se aproximando aos poucos, até que se tocaram. Era um beijo calmo, mas ao mesmo tempo pesado, cheio de sentimentos e angústias. Me senti extremamente bem e confortável ali, em seus braços, como se eles tivessem sido feitos para mim. Nos beijamos até perdermos o fôlego. Abri meus olhos lentamente, enxergando aquela imensidão azul.

Então eu percebi que estava me apaixonando. Acho que eu já desconfiava disso, mas, depois daquele beijo, não tive dúvidas. Foi uma coisa meio que amor  à primeira vista. O problema é que eu não posso me apaixonar. Eu lutei por tanto tempo contra isso, não vou me deixar levar agora por um garoto que mal conheço, por mais difícil que seja. Principalmente porque eu sei como isso acaba.

— James... - ele deu aquele sorriso fofo de novo, o que fez tudo ficar mil vezes mais difícil - Isso... Isso foi um erro. Desculpa, eu não sei o que deu em mim. Acho que a gente não deveria mais fazer isso.

James franziu o cenho, provavelmente não entendendo o por quê dessa mudança repentina de opinião minha, mas mesmo assim disse:

— Claro... Olha, me desculpa Claire, eu que te beijei. Eu achei que talvez fosse ser recíproco, mas tudo bem. Me desculpe mesmo, eu não deveria ter te beijado assim - Ele disse, visivelmente triste, se levantando do banco - Você vai voltar ao Barn?

— Eu acho que já vou para o alojamento. Foi um dia longo - eu disse, respirando fundo e me levantando.

— Eu te acompanho.

Fomos andando até o alojamento do St. Patrick em Ludlow. Como a maioria dos alunos passa o fim de semana aqui, o internato tem uma espécie de hotel, pros alunos dormirem.

O clima estava pesado, estranho. Não trocamos uma palavra apenas. Não consigo saber o que James está sentindo, se está bravo, triste, mas sei muito bem o que EU estou sentindo. Como se estivesse faltando uma parte de mim, como se tivessem arrancado algo de dentro de mim. E está doendo.

Nós chegamos ao alojamento, e o recepcionista nos deu as chaves dos nossos respectivos quartos. Eu dividiria meu quarto com Emily, já que a divisão era a mesma do colégio. Subimos o elevador, ainda em silêncio, até pararmos na porta do meu quarto.

— Bom... Acho que chegamos - James disse, um pouco desconfortável

— É...

— Então... Boa noite - ele disse. Mas dessa vez, sem abraços.

— Boa noite, James.

Eu entrei no quarto e me sentei em frente `a porta, encostando as costas nela, e relembrei todo o dia de hoje. Me lembrei de James, e do seu sorriso com covinhas, e do nosso beijo.

— Meu Deus, o que foi que eu fiz? - Perguntei para mim mesma. Talvez James fosse diferente. Talvez ele não fosse como os outros. Talvez as coisas não precisassem terminar em tragédia. Talvez elas não precisassem terminar. Mas talvez James seja exatamente como os outros. E eu terminaria com o coração partido. Eu não preciso disso de novo. Não tomar riscos é mais seguro do que embarcar em uma aventura que eu não sei onde vai dar.

Fiquei pensando por mais um tempo antes de decidir ir dormir. Embora eu estivesse morta de cansaço, não conseguia pegar no sono. Aquelas imagens ficavam indo e vindo na minha cabeça. Passaram-se horas até que eu consegui dormir, e Emily ainda não tinha chegado.

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Acordei com o sol batendo no meu rosto e o barulho de secador.

— Bom dia, raio de sol! - ouvi Emily falar, sarcástica, enquanto secava o cabelo - Achei que você não fosse acordar nunca. Inclusive, já estava pensando na possibilidade de jogar água fria em você!

— A noite deve ter sido boa ontem, hein - eu disse, jogando um travesseiro na sua direção - Nem vi a hora que você chegou.

— Foi incrível! - ela disse, "devolvendo" o travesseiro, bem na minha cara - Eu PRECISO te contar!

Em veio correndo e pulou na minha cama, eufórica.

Ela me contou sobre o garoto que conheceu ontem no Barn. O nome dele era Henry, e ele também estudava no St. Patrick, mas era um ano mais velho.

— Eu to tão afim dele! E ele beija tão bem! - Em estava tão feliz que foi impossível não sorrir, mas meu sorriso não pareceu tão animado quanto eu queria expressar.

— O que aconteceu? - ela perguntou, fechando o sorriso - Foi o James? - eu olhei para o chão, e acabei me entregando - O que ele fez?

— Não foi ele, e sim eu.

Então, expliquei tudo pra ela, desde o começo.

— Não entendi - ela disse, depois que terminei de explicar - Se você acha que está se apaixonando, por que deu um fora nele?

— Porque eu sei como isso vai acabar! E eu já estou me prevenindo. Se eu não sentir nada, não posso me machucar. - falei, como se fosse óbvio.

— Claire, ninguém sabe como nada vai acabar. Pode acabar mal, claro que sim. Mas também pode acabar sendo o momento da sua vida, o cara da sua vida, o começo de algo incrível. E você nunca vai saber de qual jeito isso vai terminar se continuar vivendo na retaguarda. Você não pode se fechar pra tudo. Caramba, você é jovem, é bonita, tem o mundo nas mãos. Você tem a oportunidade de  fazer o que você quiser. E se der errado, você tem a oportunidade de começar de novo - ela pegou na minha mão e olhou nos meus olhos - Eu não quero que você acorde daqui há 50 anos pensando que poderia ter sido diferente se você tivesse ao menos tentado.

Então Em se levantou e foi terminar de arrumar o cabelo, me deixando estática e pensativa.