Não me Abandone Jamais escrita por madgreek


Capítulo 5
Ludlow




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Já eram quase 9 horas da manhã e eu estava esperando Emily terminar de se arrumar para irmos à Ludlow, a cidade mais próxima do internato, para onde quase todos os alunos iam nos finais de semana. O dia tinha amanhecido nublado e frio, por isso optei por usar um casaco e botas¹. Eu olhava pela janela o gramado verde dos jardins e o portão preto e dourado, perdida nos próprios pensamentos. Demorei para pegar no sono na noite anterior, pensando em James e me questionando por que eu estava me sentindo daquele jeito. Por que aqueles olhos azuis, aquelas covinhas, o cabelo bagunçado e aquele sotaque inglês irresistível me deixavam arrepiada e eram o suficiente para fazer meu coração bater mais forte? Eu não podia estar me apaixonando. Não. Eu evitei isso por tanto tempo.

– Eei, Terra chamando Claire! - percebi Emily balançando as mãos na frente do meu rosto. Acho que fiquei tempo demais presa nesses devaneios - Já terminei. Tem um ônibus que sai às 9:30, então é melhor nos apressarmos.

Assenti com a cabeça e deixamos o quarto.

– Afinal, aconteceu alguma coisa ontem? - Emily me perguntou enquanto descíamos as escadas - Você tá diferente. Meio... pensativa.

– Deve ser impressão sua - falei. Por mais que Emily fosse legal e estivesse me tratando muito bem e fazendo eu me sentir em casa, eu ainda não me sentia segura em contar sobre James para ela. Até porque nós só conversamos uma vez. Isso não significa que nós estamos apaixonados um pelo outro. Na verdade, isso não significa nada.

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Já estávamos acomodadas dentro do ônibus, que era comum, mas um tanto diferente dos ônibus de Nova Iorque. Não tinha tanta gente, talvez porque fosse sábado de manhã, e não vi ninguém do colégio.

– Então, animada para conhecer a grande metrópole Ludlow? - Emily disse, dando uma risada sarcástica. Eu também ri. Havia pesquisado um pouco sobre a cidade enquanto esperava Em se arrumar hoje de manhã, e, tipo, não parecia nem um pouco Londres ou NY. Era meio que um vilarejo de pouco mais de 10 mil habitantes.

– Por que os alunos querem tanto ir lá todos os finais de semana? - perguntei, depois que paramos de rir. Tipo, a cidade não parecia ter muitos atrativos para jovens de 16 anos.

– Porque todo mundo faz de tudo para sair do St. Patrick. E além disso, a pegação corre solta. E Ludlow não é uma cidade tão terrível quanto parece. Só um pouquinho. - nós rimos - E tem o Barn. Ah, meu Deus! Você vai amar o The Barn!

Lembrei que James falou desse lugar, uma espécie de pub. Eu e Em continuamos conversando a viagem toda, que durou uns 40 minutos.

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Descemos do ônibus e me deparei com uma cidade tipicamente inglesa. Tinha um rio, construções de pedra e algumas casas que pareciam ser construídas no século XVIII.

Emily me levou para conhecer a cidade. Depois de terminarmos nosso tour não oficial por Ludlow, que acabou em uma praça, percebi que até tinha gostado da cidadezinha. Estávamos sentadas em um banco, tomando sorvete e observando algumas crianças brincarem. Ludlow era totalmente o oposto de Nova Iorque, o lugar que vivi minha vida inteira. Era tão calmo e o ar parecia tão limpo. Parecia que o tempo passava mais devagar ali.

– Eu tinha 5 anos quando meus pais se separaram. - Emily começou a falar do nada, com o olhar fixo em um ponto qualquer da grama. - Depois do divórcio, minha mãe simplesmente foi embora. Ela me deixou com o meu pai porque achou que eu fosse ter melhores condições se ficasse com ele. Eu fui praticamente criada por empregadas. Meu pai quase nunca estava em casa e depois de alguns anos ele se casou de novo. Por muito tempo, todo o "contato" que tive com a minha mãe foram cartões postais que ela mandava no meu aniversário. Cada um era de um lugar diferente que ela tinha passado com o novo namorado. Cartões, Claire. Nem ao menos uma ligação. - ela se virou para mim, e vi seus olhos marejados - Eles seguiram a vida deles e eu fiquei sozinha.

Ela respirou fundo antes de continuar, mas antes que pudesse falar, eu disse, pegando em sua mão:

– Em, não precisa falar se você não quiser.

– A sra. Hill me contou sobre você, Claire. Sobre sua mãe. Eu estou dizendo isso porque quero que você saiba que todos nós temos problemas. Todos nós estamos quebrados.

Eu abracei Emily e nós ficamos assim, juntas, quase imóveis, por um bom tempo.

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Depois que Emily contou sobre seus pais, não tocamos mais no assunto, mas passei a vê-la de um jeito diferente. Era como se alguém pudesse me entender, por mais que eu não tivesse falado nada sobre meus próprios fantasmas.

Já era noite e estávamos indo ao tão famoso The Barn. Eu já estava cansada, depois de uma noite mal dormida e um dia inteiro andando pela cidade, mas não quis ser estraga-prazeres, já que Emily estava tão animada para ir lá.

O lugar era uma construção de pedras, antiga, que parecia ser pequeno e simples, mas, ao entrarmos, vi que estava totalmente enganada. O tal pub era gigante, e estava lotado de gente. A música tocava alto, e de um lado tinha um bar, com mesinhas e cadeiras. Do outro lado, tinha um espaço com vários jogos: pingue-pongue, fliperama, um mini campo de golfe (!) e até pistas de boliche! Além disso, tinha uma pista de dança no meio do pub, e pufes espalhados por todo o lugar. Agora eu entendia porque o pessoal do internato queria tanto vir para Ludlow.

O pub estava cheio de gente, e reconheci alguns alunos do St. Patrick. Alguns até sorriram para mim. Eu e Emily sentamos em uma mesinha do bar. Um cara logo chegou em Emily, e eles começaram a conversar. Aquele lugar estava me deixando com falta de ar, então resolvi sair de lá um pouco. Sabia que Em não sentiria minha falta (no bom sentido, já que tinha um gatinho do lado dela).

Abri a porta e respirei o ar puro e limpo e gelado da noite. Enchi meus pulmões com aquele ar, como se tivesse ficado muito tempo embaixo d'água e finalmente tivesse voltado à superfície.

– Então você veio! - ouvi uma voz atrás de mim, que reconheci imediatamente. Virei-me e encontrei James, sorrindo, com suas covinhas irresistíveis, que me fizeram sorrir quase que instantaneamente.

– É... - disse, meio que sem saber o que falar. James se aproximou de mim, com as mãos no bolso do casaco, e me arrepiei inteira.

– Gostou da nossa Ludlow? - ele disse, dando um sorriso de lado.

– É um lugar interessante - falei, porque realmente tinha gostado dali - Bem diferente de Nova Iorque, mas eu gostei.

– Que bom, porque é aqui que você vai passar seus fins de semana - ele disse, rindo, o que me fez rir também. - Acho que vai ser um tanto difícil pra uma garota da cidade grande - e, novamente, o sorriso, aquelas covinhas, minhas pernas bambas...

– Acho que eu consigo sobreviver - eu disse.

Começamos a andar, meio sem rumo, até pararmos em uma pracinha. James olhou em meus olhos, aquele olhar profundo, como se estivesse entrando dentro da minha alma e lendo meus segredos mais obscuros.

– Eu geralmente consigo saber o que uma pessoa esta pensando só de olhar nos olhos dela - ele disse, ainda olhando nos meus olhos - Mas, com você... Eu não consigo. É como se você estivesse fechada. Fechada pra mim, pro mundo. Mas, ao mesmo tempo, olhando nos seus olhos, tão tristes, sinto a necessidade de saber o que está pensando, o que está sentindo, porque se eu descobrir o que está deixando-os tão tristes, eu possa mudá-los, tirar toda essa tristeza. Sei que não deveria pensar nisso, mas não consigo parar.

– Então não pare. - sussurrei, e nossos corpos foram se aproximando. Sabia que não deveria fazer isso, que não deveria me apaixonar, mas eu não queria parar. Fechei meus olhos. Eu podia sentir seu coração batendo, ouvir sua respiração contra minha pele. Suas mãos foram parar na minha cintura, enquanto as minhas estavam presas em seus cabelos.


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Notas finais do capítulo

¹ Roupa da Claire: http://www.polyvore.com/cgi/set?id=184894774



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