Parecia que haviam passado horas quando ele finalmente tirou as mãos das minhas costas e desviou o olhar.

– Desculpa! - disse ele, um tanto desconcertado, e sorriu, mostrando duas covinhas, que me fizeram sorrir também. Afinal, quem aguenta covinhas? - Eu queria mesmo falar com você. Queria pedir desculpas por hoje no treino de lacrosse. Eu não costumo ser tão atrapalhado assim, não sei o que deu em mim hoje.

– Ah, imagina! Eu é que tenho um ímã para acidentes - disse rindo, o que fez com que ele sorrisse novamente, me deixando mais apaixonada ainda por aquele sorriso.

– Eu sou o James - ele disse - Você é nova por aqui, não é?

– Sim, cheguei hoje. A propósito, eu sou a Claire.

– Prazer, Claire! - ele disse, estendendo a mão - Você vai gostar do St. Patrick. Pode ser apavorante no começo, mas você se acostuma. Comigo também foi assim - ele disse, e nós fomos andando em direção ao refeitório. Eu acho, pelo menos, já que era o lugar mais óbvio. - Eu fiquei totalmente perdido na primeira semana, mas depois encontrei o Thomas e parece que eu vivia aqui há uma década!

– Eu pareço tão perdida assim?

– Tá tipo, escrito na sua testa! - ele disse, dando uma risada fofa, o que me fez corar. - Mas não se preocupa. É assim com todo mundo.

Havíamos chegado ao refeitório, que era um cômodo gigante. Não havia tantos alunos lá, talvez porque já estivesse um pouco tarde. Procurei por Emily, mas não a encontrei em nenhum lugar. Ela já devia ter subido pro quarto. James pareceu ter percebido que eu estava procurando por alguém.

– Sua colega de quarto já deve ter subido. Os alunos geralmente jantam mais cedo - ele falou despreocupadamente.

– É, acho que sim - eu disse, desanimada.

– A senhorita faria a honra de jantar comigo? - ele perguntou, com um sorriso no rosto - Acho que não teremos nenhuma companhia esta noite. Meu amigo Thomas já deve ter subido também.

Meu coração já acelerou só de pensar nisso. O que aquele menino tinha? Eu mal o conhecia e já estava corando, com a respiração descompassada.

– Será um prazer! - disse, seguindo sua linha educada.

Os 20 minutos seguintes foram uns dos melhores da minha vida. Conversamos como se nos conhecessemos há anos. Eu me sentia confortável perto dele, como se eu não precisasse tentar, sabe? Eu podia ser eu mesma e me sentia bem assim. Eu nunca me senti assim antes, com ninguém.

James me contou que tinha acabado de fazer 17 anos e estudava no St. Patrick desde os 12. Ele era de Londres - o que explicava seu sotaque que acabava com meu coração - e que sua família inteira havia estudado ali. Por isso, estudar no St. Patrick era quase uma regra. Mas que, apesar de tudo, ele gostava dali.

– Então, por que você mudou pra cá de repente? - ele perguntou. Nós estávamos subindo as escadas para os dormitórios. Essa não era uma pergunta que eu queria responder. Ainda não me sentia preparada para falar da minha mãe com alguém, ainda doía muito.

– É... Eu estava cansada de Nova Iorque - Eu disse, rezando para que aquilo não soasse muito idiota ou falso - Sabe, as mesmas coisas, os mesmos lugares,... Eu queria algo novo.

James apenas balançou a cabeça. Tínhamos acabado de chegar ao meu dormitório, o que significava que - infelizmente - a conversa teria que terminar.

– Bom, você está entregue - James disse, sorrindo.

– Obrigada - sorri também.

– Claire, você é uma garota muito legal - ele disse, analisando meu rosto, o que me deixou arrepiada - Espero te encontrar mais vezes - sorriu.

– Obrigada - disse, envergonhada - Foi muito legal conversar com você hoje. Parece que já nos conhecemos há séculos - nós rimos e ele concordou com a cabeça.

Depois disso, um silêncio um tanto desconfortável pairou sobre nós.

– Bom, eu acho que é melhor eu já ir entrando... Boa noite, James.

James, então, me abraçou. Era só um abraço de despedida, mas aquilo mexeu comigo. Eu me senti... estranha.

– Boa noite, Claire. Durma bem.

Sorri e abri a porta. Quando estava prestes a fechá-la, ouvi James falar algo:

– Ah, Claire! - abri novamente a porta - Amanhã é sábado, é dia livre. Provavelmente a Emily vai te levar até a cidade. Vê se tenta passar no "The Barn". É meio que um ponto de encontro do pessoal aqui da escola. Eu gostaria de te ver - ele disse, dando um sorrisinho. Eu corei. James gostaria de me ver! Isso é um avanço.

– Vou tentar passar por lá - eu falei, sorrindo - Prometo que te procuro.

Nos despedimos novamente e fechei a porta. Eu me sentia diferente, sei lá, mais leve. James me fez sentir assim. Ele tinha alguma coisa de especial, não sei dizer ao certo, mas me fazia sentir coisas que eu nunca havia sentido, mesmo que hoje seja o primeiro dia que eu o vi. Isso é estranho. Como eu posso sentir algo assim por alguém que nem conheço?

Quem sabe eu descubra isso amanhã, porque agora tudo o que eu quero fazer é dormir!