Ilha da Diversão escrita por Tokki


Capítulo 8
Um prisioneiro poeta




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Era fácil descrever o local que se encontravam. Bill o descreveria sendo um quadrado com duas beliches, muito desconfortáveis por sinal e tudo muito sem cor.

— Ótimo, olha só onde fomos parar. — Tom sentou na cama de cima da beliche levando as mãos ao rosto.

— Ei! Eu que vou dormir na cama de cima! — Bill cruzou os braços fazendo um bico.

— Pare de ser retardado! — Gustav deu um tapa na cabeça de Bill. — Nós estamos preocupados querendo sair daqui e você querendo escolher aonde quer dormir! 

— Ai seu mané, estamos em uma prisão. Vamos parar com essa feira, os manés alí podem querer reclamar da gente e a situação ficar pior do que está. — Apontou para os guardas. 

— Tudo bem, quero dormir. E quando acordar quero ver o guarda vir nos soltar e perceber que tudo isso foi um sonho. — Gustav sentou na beliche debaixo de Tom.

Os meninos ficaram em silêncio por algum tempo.

— Não tem nada para fazer, eu quero sair daqui! — Bill reclamava o tempo todo.

— Vocês querem a liberdade? Vão em frente, quebrem a grade. — Ecoou uma voz da cela da frente.

Os meninos observaram uma figura de estatura média, cabelos cor de mel e os olhos de um azul intenso.

— Quem é você? — perguntou Tom.

— Um prisioneiro poeta, pelas minhas poesias não cobro uma moeda. — O homem aproximou-se da grade da cela.

— Eu hein! Pare com essa loucura, guarde as poesias para você — respondeu Tom de cima da beliche.

— A poesia é arte, a loucura faz parte — respondeu o prisioneiro.

— E pare de falar, pare de incomodar. — Imitou Tom.

— Poesia você não sabe fazer, uma sobre ti agora vou dizer. — Fez uma pausa para buscar inspiração. — Um temperamento diferente, uma pessoa eloquente, que diverte toda a gente, com seu jeito alegremente.

— Olha o Tom! — Os meninos exclamaram querendo dar risada.

— Obrigado pelo elogio — agradeceu Tom —, mas vou ficar quieto antes que essa loucura passe para a nossa cela.

— Muito bom! — Bill aproximou-se da grade e sentou cruzando as pernas. — Até que enfim alguém para nos distrair enquanto estamos nessa chatisse. Qual o seu nome? Nós nem tínhamos reparado que havia uma pessoa na cela da frente. E a propósito, desculpe pela inconveniência do meu irmão. Sabe como é, este lugar é estressante.

— Tudo bem, as vezes fico assim também. Meu nome é Bruce Williams Schmidt, filho de pai alemão e mãe americana — explicou Bruce —, mas me chame de senhor Poeta, por favor.

— Quase Bruce Willis, interessante — afirmou um tanto pensativo. — Tudo bem, senhor Poeta! Agora você poderia fazer uma poesia para mim? — disse animado.

— Deixe me ver... — disse Bruce pensativo. — Agora estou sem inspiração, desculpe. 

— Que pena, então tente mais tarde — afirmou Bill um tanto chateado. — Hum... é... Por que você está aqui? — perguntou meio sem jeito.

— Tem uma criançada que fica brincando perto da casa que aluguei. Eu estava na cozinha, ia fazer panquecas. Só que antes de começar a cozinhar escutei um barulho estranho e peguei a frigideira que estava na minha mão naquele momento e fui investigar. Quando fui verificar um armarinho que fica na lavanderia fora da casa, tinha um garoto lá dentro. Na hora eu tomei um susto que por impulso dei um tapa de frigideira, fazendo um leve roxo na testa dele — lembrou. — O garoto saiu correndo e foi contar para o pai que chamou a polícia. Quando a polícia chegou, o pai dele explicou que as crianças só estavam brincando de se esconder e que o filho dele chegou chorando e contou que eu bati nele. Tratei de me defender, mas os policiais viram o roxo na testa do garoto.

— Nossa, que chato. Quantos dias fazem que está aqui? — perguntou Gustav.

— Quatro — bocejou.

— E você mora aqui em Hiddensee? — perguntou Georg.

— Não, só estou viajando. Vim por causa do festival, mas o perdi por causa dessa confusão. — Bruce fez uma cara de triste.

— Poxa vida. Mas, se anime! Todo ano tem dois festivais aqui! — Bill informou para confortá-lo.

— Bom saber. Eu ia participar da peça que ia ter ou teve lá, nem fiquei sabendo se fui substituído — desabafou.

— Quando disse que estava aqui por causa do festival, achei que seria por causa das poesias — argumentou Tom. — Mas não fica triste, como meu mano disse, vai ter mais um festival este ano. 

— Já estou bem — falou sorrindo.

— Nós estávamos lá e não me lembro de ter peça, acho que foi cancelada. Você também é ator? — perguntou Georg.

— Bem provável, eu era o personagem principal, eram muitas falas para decorar. Sim, ainda estou no começo da carreira e procuro não dispensar trabalho — explicou —, mas e vocês?

Cada um explicou um bocado da confusão que aconteceu durante o festival. 

— Poxa vida, por causa de pipocas! — Bruce deu risada.

— Bom, senhor Poeta, agora fale mais poesias para animar. — pediu Bill.

— Tudo bem. — pensou.

— Faz uma para o Gustav — disse Tom rindo.

— Vamos ver... — murmurou. — Uma pessoa inteligente, baterista experiente, com seu jeito facilmente, cativa todos a sua frente.

— Olha o Gustav! — Os demais exclamaram. 

— Incrível, incrível! — Bill bateu palmas. — Agora poderia fazer uma para mim? 

— Vamos ver... Estou sem inspiração novamente, desculpe.

— Ah, que mancada! — exclamou cruzando os braços.

Os meninos começaram a rir de Bill.

— Agora faz uma para os guardas — brincou Tom.

— Duas pessoas tediantes, que não ri nenhum instante, ficando vigilantes, de devaneios nada interessantes.

Os meninos caíram na gargalhada. 

— Só a minha que você não faz  — reclamou Bill.

— Até os guardas tiveram poesia e você está aí a tempos querendo a sua — falou Gustav caçoando de Bill.

— Mas que feira é essa? — falou um dos guardas. — Tratem de parar com essa conversa. 

— Aqui não tem nada para fazer. Quer nos proibir de conversar também? — desafiou Tom.

— Aqui não é uma feira, vocês estão falando tão alto que dá para ouvir da sala do delegado.

— Deixa ele escutar ué. — Tom deu de ombros.

— Mas que garoto rebelde! Se vocês não pararem eu vou ter uma conversinha com o delegado — alertou o outro guarda.

— Vai lá, aproveita e traz um café para nós! — completou.

Os demais riram disfarçadamente.

— Como eu sou de boa, vou fingir que não escutei. Parem de falar alto e vão dormir que já está tarde.

— Vamos parar de falar alto — cochichou Bill. 

— De falar alto só, mas a conversa vai continuar — completou o gêmeo. — Ei, Bruce, faz uma poesia para o delegado Klaus. 

— Essa eu faço com vontade! — riu baixinho. — Delegado mixuruco, que além de ser maluco, já deve estar caduco, de tanto tomar suco.

Os meninos riram bastante.

No meio de tantos sussurros e gargalhadas a madrugada chegou, e todos adormeceram, ato esse que acharam que não iriam conseguir naquele local tedioso.

 


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