–Ei! - disse Castiel, estalando os dedos em frente ao rosto da irmã.

–Ah! O que foi? - respondeu a garota, balançando de leve a cabeça.

–Eu estava falando com você e você viajou! No quê estava pensando?

–Em nada de interessante...

Porém, era difícil não se distrair com a paisagem. Estavam sentados no capô do carro de Castiel, que estava estacionado no acostamento de uma estrada não muito movimentada. Aquele era o esconderijo deles, seu porto seguro.

O ruivo abriu um sorriso de canto e desviou o olhar para a paisagem. Estiveram lá desde o meio-dia, e já eram 2:00 da tarde.

–Bem, acho que já podemos ir... Estou com fome. - declarou Catherine, virando o rosto para o irmão. Se arrependeu por dizer isso, Castiel estava com uma expressão serena no rosto, estava relaxado, com um dos braços apoiado num dos joelhos. Era raro vê-lo naquele estado, já que ele sempre estava de mau-humor e braços cruzados, porém, ele nem sempre foi assim.

Seis meses antes, Castiel namorava Debrah, conhecida por ser simpática e amiga de todos. Mas, não se engane, a garota era uma víbora: manipulava todos ao seu redor e depois os descartava. Catherine nunca se deixou levar por aqueles grandes olhos azuis. Castiel e ela tiveram muitas brigas e discussões por causa dela. Castiel achava que sua irmã estava sendo cruel com a pobre Debrah. Catherine achava que seu irmão estava sendo um idiota em acreditar nela, assim como o resto da escola. As únicas pessoas que a apoiaram nesse período foram Nathaniel e Lysandre. Nathaniel também nunca se deixou levar pela namorada do amigo, porém preferia não interferir na relação dos dois. Lysandre achava que Debrah iria passar a perna em todos eles, uma hora ou outra, mas assim como Nathaniel, preferia não interferir. Os três se tornaram bem próximos nesse período.

E então, um dia Catherine chegou em casa, Debrah estava sozinha, sentada no sofá, lixando as unhas.

– Onde está o meu irmão? - perguntou, com o máximo de simpatia que conseguia.

– Ele ainda não chegou. - respondeu, indiferente.

– Ótimo, porque eu quero te falar uma coisa - disse Catherine, irritada.

Debrah revirou os olhos e parou de lixar as unhas, olhando para Catherine, visivelmente entediada. Catherine desviou o olhar para a lixa de unha que estava nas suas mãos. Era uma das suas lixas.

– Você pegou isso no meu quarto?! - disse, indo em sua direção e arrancando a lixa de unha das suas mãos.

Debrah não respondeu, fazendo a garota ficar ainda mais irritada.

– Não vai pensando que aqui é a sua casa, não! Quem te deu o direito de pegar isso no meu quarto? - gritou.

– Ainda não caiu a ficha, garota? Eu faço o que eu quero, quando eu quero! - rebateu Debrah. - O seu irmãozinho está louco por mim, posso pedir qualquer coisa para ele e ele vai fazer. Então, eu acho bom você me tratar bem, queridinha!

–Cala a boca, sua vaca! - gritou Catherine, no exato momento em que Castiel entrou na casa.

– O que tá acontecendo aqui? - indagou Castiel, olhando diretamente para Catherine.

– Ela... Ela começou a falar coisas horríveis para mim... Eu só queria chamá-la para sair... - disse Debrah, chorando. O ódio de Catherine a corroeu por dentro, foi então que ela explodiu.

– Você é uma vaca! Você engana todo mundo, e depois se faz de santa! Eu espero que você morra! Espero que você mor... - seus gritos foram interrompidos pela mão de Castiel na sua boca. O ruivo passou o braço pela sua cintura e a suspendeu, de modo que seus pés não tocavam mais o chão. Castiel a levou até o quintal dos fundos e a soltou. Ele fechou a porta de vidro que levava para dentro da casa e se virou para ela. Começou a gritar com ela, dizer coisas que nunca havia dito para ela, começou a insultá-la. Os olhos de Catherine se encheram de lágrimas e ela saiu correndo dali, nem se importando com sua atitude infantil de sair correndo. Correu até a loja do irmão do Lysandre, Leigh, torcendo para Rosalya estar lá. Segurou o choro e secou o rosto enquanto entrava na loja. Rosa não estava, mas Lysandre sim. Ele correu até ela e ela simplesmente desabou nos braços dele, chorando. Lysandre saiu da loja com ela agarrada ao seu braço e atravessou a rua, até o parque. Sentaram sob uma grande árvore, e foi ali que Catherine contou tudo a ele, não omitindo nenhum detalhe. O garoto ouviu tudo em silêncio, e não disse nada nem quando a garota terminou de falar. Ela se encolheu e ele a abraçou. O calor e o cheiro da colônia de Lysandre a acalmavam lentamente. Quando ela parou de chorar, os dois começaram a conversar sobre outros assuntos, numa tentativa de fazê-la esquecer o ocorrido.

Desde esse dia, Catherine passou a gostar de Lysandre ainda mais.

Catherine ainda observava o irmão. Então, Castiel finalmente saiu de seu torpor e respondeu:

–Claro, vamos.

Os dois entraram no carro. Castiel dirigia e Catherine olhava a paisagem. Chegaram em casa 20 minutos depois.

Quando entraram, foram recebidos pelo cachorro, Dragon. Um pastor de beauce tão dócil quanto um pug.

–E aí, amigão? Como você tá? - cumprimentou Castiel, enquanto Dragon saltitava ao seu redor. Catherine se agachou para acariciar o cão.

Os irmãos acabaram comendo panquecas, feitas pela própria Catherine. Quando terminaram, o celular de Castiel toca.

– Alô? - atende - Ah, oi Lysandre... - diz, enquanto vai para a sala. Da cozinha, Catherine não conseguia ouvir a conversa.

Enquanto lavava a louça, Castiel reapareceu na porta.

– Convidei o Lysandre para vir até aqui. Um programa de amigos. Só espero que ele não se esqueça. - diz, passando o braço pelos ombros da irmã. Os dois riem.

Lysandre é conhecido por ser um cabeça-de-vento. Ele se esquecia de muitas coisas, entre elas o seu bloco de notas. Ele vivia o perdendo pela escola. Catherine e Rosalya muitas vezes foram voluntárias para procurá-lo, mas se arrependeram amargamente. Sweet Amorris era um colégio imenso, achar um pequeno bloco de notas naquela imensidão de corredores seria como tentar achar uma agulha num palheiro.

Uma hora depois, a campainha toca. Catherine se levanta para atender, acompanhada por Dragon. Lysandre estava atrás da porta, com o seu típico sorriso misterioso no rosto.

– Pode entrar - convida Catherine, sorrindo timidamente.

Lysandre entra na casa e é recebido por um Dragon saltitante e um Castiel preguiçoso. Embora nunca admitisse, Catherine adorava observar a maneira como Lysandre se movimentava, como ele falava, e até mesmo a forma como suas roupas contrastavam perfeitamente com seus cabelos naturalmente brancos. Preto no branco, uma combinação da qual ela sempre gostou.

– E então? O que vamos fazer? - indaga Catherine, sem se voltar para ninguém em especial.

– Olha... Nós podemos ir até o estúdio, arranhar um pouco, sabe? - propõe Castiel.

– De acordo - concorda Lysandre.

– Por mim tudo bem - assente Catherine.

E então os três seguiram até uma porta que ficava entre a cozinha e a sala. Parecia ser de um pequeno banheiro, mas, na verdade, levava para uma pequena escada que descia para o porão da casa, que fora adaptado para ser um pequeno estúdio, onde havia um piano de cauda, o "queridinho" de Catherine, uma guitarra elétrica, o "queridinho" de Castiel, e um par de violões encostados na parede. Castiel se apoiou no piano e se voltou para sua irmã.

– Que tal começarmos com a nossa estrela? - perguntou, dando dois tapinhas no piano.

A garota resolveu ceder, já fazia um tempo que não cantava, e sentia falta disso.

Sentou-se no piano e cantou a primeira música que veio na cabeça:

It's been a long day, without you my friend

And I'll tell you all about it when I see you again

We've come a long way from where we began

Oh I'll tell you all about it when I see you again

When I see you again

Damn, who knew

All the planes we flew

Good things we been through

That I'd be standing right here talking to you

About another path

I know we loved to hit the road and laugh

But something told me that it wouldn't last

Had to switch up look at things different

See the bigger picture

Those were the days

Hard work forever pays

Now I see you in a better place

Oh

How could we not talk about family

When family's all that we got?

Everything I went through

You were standing there by my side

And now you gonna be with me for the last ride

It's been a long day, without you my friend

And I'll tell you all about it when I see you again

We've come a long way from where we began

Oh I'll tell you all about it when I see you again

When I see you again