Fallen From The Sky escrita por Tia Ally Valdez


Capítulo 17
Nico, Literalmente, Encara a Morte


Notas iniciais do capítulo

Oi, amores! :3
Estou meio que com pressa no momento, então não tive tempo de responder todos os reviews, mas responderei a todos amanhã! ;)
Então, sobre o cap, não recomendo a leitura para quem tem problemas cardíacos! MUAHAHAHAHAHAHAHAHAH! *cof* *cof*
P.O.V da Thalia Diva Grace! :3
Enjoy it! ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/642554/chapter/17

Thalia

 

— Vem, Thalia! – Gritou Nico da porta do escritório. Não estava tão longe. – Rápido!

Deixei escapar um gritinho quando o basilisco sibilou atrás de mim. Apertei o passo. Estava quase lá.

— Vai, Thalia! – Incentivou Leo, surgindo na porta ao lado de Nico. – E não olhe para trás!

— NÃO DIGA! – Retruquei.

Foi tudo muito rápido. Em menos de dois segundos, senti a cauda do basilisco ao redor do meu tornozelo e gritei quando fui puxada. Ouvi Nico gritar, mas não me arrisquei a abrir os olhos. Apenas os mantive fechados.

Senti uma movimentação acima de mim. O basilisco sibilou novamente e o aperto em meu tornozelo diminuiu. Ouvi um gemido de dor. Nico!

Arrisquei abrir os olhos. O basilisco agora estava ao meu lado. E parecia muito concentrado em Nico, que mantinha os olhos fechados enquanto estava imobilizado de frente para o monstro.

— Por quanto tempo você ficará com os olhos fechados? – A voz de Scarlet, vinda de algum ponto atrás do basilisco, ecoou. – A tentação de olhar é tão grande, Necromante... Por que você não olha?

— Não olhe, Nico! – Pedi.

Acredito que nesse momento, vocês já estejam perdidos. Então me permitam explicar o que nos levou àquela situação:

Após as duas longas horas de treino, Nico conseguia manusear quase com perfeição a sua espada (essa perfeição não é só por causa de treino. Deve-se também ao fato de haver uma conexão entre ele e a espada e também devido ao sangue de anjo que corre em suas veias), sabia usar adagas e lanças o suficiente para a sobrevivência e não era tão ruim no arco e flecha. Os únicos problemas do treino foi que ele quase perdeu a mão tentando manusear um machado de batalha e ganhou inúmeros cortes ao tentar usar um par de sai.

— Acho que já está bom. – Falei depois de passar néctar em seus ferimentos. – Desculpe por isso.

Nico sorriu levemente.

— Não se preocupe. Eu é que sou estabanado.

Ri baixo e saímos do hotel abandonado que estávamos usando para treiná-lo.

— Acho que o hotel de que Izzy falou fica ali. – Apontei para o prédio cinza no final da rua em que estávamos. Era muito movimentada, com pessoas andando para lá e para cá. Parecia uma das ruas da cidade onde eu morava. Sorri levemente ao me lembrar de casa.

— Tudo bem? – Nico me encarou. Apenas assenti.

— Estou bem. Só estou me lembrando de casa...

Nico sorriu compreensivamente.

— Entendo. – Ele ficou em silêncio por um momento. – É por essa cidade que fica o museu da Opala de Fogo, não é?

Assenti enquanto caminhávamos.

— Coincidência. – Falei. Nico riu baixo.

Entramos no hotel e senti meu corpo gelar quando olhei para o elevador. Nico parou na metade do caminho e me encarou.

— Tudo bem? – Perguntou.

— Parece tão pequeno e apertado. – Falei. – Parece uma jaula metálica, Nico... Eu não gosto disso.

Nico sorriu compreensivamente e segurou minha mão. Estremeci ao pensar que ele ia entrar no elevador e não contive um sorriso quando Nico desviou no caminho e começou a subir as escadas.

— Vão ser dez lances de escada até o quinto andar. – Ele disse. – Você aguenta?

Assenti. Nico suspirou e começou a subir as escadas. Por estarmos jogando conversa fora durante todo o caminho, não pareceu demorar muito até chegarmos ao nosso quarto. Nico tirou as chaves do bolso e abriu a porta. Sorri e deixei que ele caminhasse até o banheiro, onde tomou um longo banho.

— E aí? – Perguntou enquanto saía do banheiro apenas de cueca. Corei levemente, mas consegui disfarçar. – O que acha de começar a ver Supernatural?

Sorri e assenti. Nico devolveu meu sorriso e tirou algo da mochila. Não contive um riso.

— Jura que você pegou seus Box das 9 primeiras temporadas de Supernatural?

— São meus bebês! – Nico defendeu-se. – Eu não podia abandoná-los naquela casa parcialmente destruída!

Ri alto e deixei que Nico colocasse o primeiro DVD no notebook, que (para variar) também havia colocado na mochila.

Se não me engano, havíamos assistido uns dez episódios antes que Nico, devido ao cansaço, caísse no sono, dormindo (e babando) em meu ombro. Sorri ao vê-lo daquela maneira e fechei o notebook depois que consegui descobrir como tirar o DVD de lá (e não, eu não quebrei o notebook), guardando o notebook e o Box com todos os DVD’s na mochila de Nico. Deitei-o na cama e o cobri. Depois caminhei até o banheiro e tomei um banho quente. Senti o começo das minhas cicatrizes atrás de meus ombros e suspirei, pensando em minhas asas. Se Nico não concluísse seu treinamento a tempo, nenhum de nós dois conseguiria suas asas. E, provavelmente, não conseguiríamos derrotar Luke.

Sequei-me e vesti uma camiseta de Nico para poder dormir. Tranquei a porta e apaguei as luzes do quarto, caminhando até a cama e deitando ao lado de Nico. Virei-me e fitei, através das cortinas levemente transparentes, as luzes da cidade em que estávamos.

Por fim, acabei caindo no sono.

— Então é esse o museu? – Nico encarou a grande estrutura à nossa frente.

— Sim. – Respondeu Leo. – Museu de Pedras Preciosas. Acho que é esse.

Nico revirou os olhos diante da resposta óbvia de Leo.

— Vocês vão ter que me esperar aí dentro. – Disse Isabelle. – Tem algo que preciso resolver. Acho que alguém que conheço está aqui na cidade. – Ela nos encarou. – Katie, Travis e Connor podem vir comigo. Vou precisar de ajuda. O restante entra e procura pela opala e por possíveis ameaças demoníacas ou de Renegados.

Assentimos. Isabelle sorriu e saiu, sendo seguida por Katie, Travis e Connor e desaparecendo na multidão.

— É mole? Agora vamos ter que nos virar sozinhos! – Reclamou Leo.

— Já não basta a Annabeth falando sobre a estrutura do museu. – Percy reclamou e levou um belo beliscão de Annabeth. – Ai, Annie! Eu estava brincando!

Annabeth bufou.

— Sei. – Reclamou. – Vamos logo procurar essa pedra estúpida!

Nico revirou os olhos e me encarou, sorrindo.

— Vamos? – Chamou. Sorri e assenti.

Assim que entramos, pude ver que o museu estava movimentado. Não haviam muitas pessoas, mas algumas crianças andavam de um lado para o outro atrás de uma mulher mais velha.

— Como se chama mesmo? – Perguntei em voz baixa para Nico, apontando discretamente para as crianças seguindo a mulher.

Nico sorriu e me encarou.

— Se chama excursão escolar. Acontece quando várias crianças de uma mesma escola vão para algum lugar educativo, sempre acompanhadas de um professor. Eu já tive várias.

Sorri e continuamos caminhando. O lugar era enorme, mas ouvi a voz de uma guia de museu, vinda de um ponto à nossa esquerda, e puxei o braço de Nico até lá. Ele chamou Leo, Percy e Annabeth e me seguiu.

— A opala de fogo é uma pedra particularmente linda. Algumas pessoas veem fogo em seu interior, enquanto outras veem um lindo pôr do sol. – A guia sorriu. Tinha longos cabelos vermelhos e olhos violeta. Violeta?!— Podem se aproximar, senhores... – Seu olhar encontrou o meu. – É uma pedra linda, não?

Forcei um sorriso.

— Sim... Ela é linda.

Nico segurou meu pulso e me guiou até o lugar onde a opala estava. Era realmente muito linda.

— Daria um bom colar. – Ele disse. Sorri e assenti.

— Ou um anel. – Comentei. – Como vamos tirá-la daqui?

Nico deu de ombros.

— Podemos quebrar o vidro, pegar a pedra e sair correndo, mas aí seríamos ladrões de museu. E já não basta ter uma multidão de demônios e Renegados atrás de mim. Acho que a polícia seria coisa demais.

Não contive um riso baixo.

— Gostaram da opala? – Ouvi a voz da guia e virei-me para encará-la. Ele tinha certo brilho de crueldade no olhar. Eu conhecia aquele olhar.

— Gostei muito, Scarlet. – Falei. Fiz meu arco surgir em minhas costas. – O que está fazendo aqui?

Scarlet abriu um sorriso debochado.

— Vim pegar a pedra, é óbvio! Estou apenas seguindo ordens de Luke. Agora... – Ela tirou, das sombras, sua espada de lâmina escarlate. Vermelha devido à quantidade de sangue de anjos que já banhou aquela lâmina. – Se você e seu namoradinho quiserem viver por mais alguns dias, saiam da frente e deixem que eu pegue a pedra!

Nico sorriu debochadamente e tirou Umbra do bolso.

— Desculpe, moça... Não vai rolar.

Scarlet sorriu cruelmente. As pessoas ao redor nem pareciam nos notar. Leo, Percy e Annabeth se alertaram atrás dela.

— É uma pena então... Vou começar por você, Necromante.

— Não olhe nos olhos dela, Nico! – Alertei, mas já era tarde. No segundo seguinte ele arregalou os olhos, olhando em volta, e gritou, quase em pânico. Ignorei a presença de Scarlet e segurei seu rosto. – Não é real, Nico! Não é real!

Nico não me ouviu. Ele estremecia. Depois tentou se livrar de mim. E eu não tive outra escolha.

Segurei seu rosto com mais firmeza e o puxei para um beijo. Nico, a princípio, tentou se afastar, mas, como se o encanto de Scarlet fosse quebrado, o que realmente aconteceu, ele retribuiu o beijo aos poucos, segurando meu rosto da mesma forma que eu segurava o seu. Sorri ao me afastar.

— Como sabia que ia funcionar? – Perguntou.

— Não sabia. – Sorri. – Mantenha seus pensamentos em mim, ok?

Nico sorriu e assentiu, ainda segurando meu rosto.

— Que lindos! – Ouvi a voz de Scarlet. – Infelizmente, eu ainda vou pegar a opala! Então saiam da frente antes que a situação piore!

Nico segurou Umbra com firmeza e não olhou nos olhos de Scarlet. Segurei seu ombro.

— Leve Percy, Leo e Annie para um lugar seguro! Scarlet é muito forte para vocês! Eu vou proteger a opala!

— Não vou te deixar sozinha!

Suspirei. Depois o beijei.

— Eu prometo que vou até lá!

Nico hesitou, mas assentiu e desviou de um golpe de Scarlet, levando Percy, Annabeth e Leo para um lugar seguro.

— Aonde vão tão cedo? Meu bichinho nem brincou com vocês! – Scarlet ergueu o pulso esquerdo, onde a tatuagem de um olho reptiliano brilhava em vermelho. Arregalei os olhos quando vi a criatura que surgiu das sombras, quebrando o teto do primeiro andar e gerando gritos de horror pelo museu. Pessoas e crianças começaram a se desesperar, correndo para todos os lados.

BASILISCO!— Gritei o mais alto possível. – NÃO OLHEM NOS OLHOS DELE!

— EU LI HARRY POTTER, THALIA! – Gritou Nico. – EU SEI QUE NÃO VAI SER LEGAL!

— O QUE DIABOS É HARRY POTTER?! – Perguntei, arrancando uma risada gostosa de Nico.

O basilisco sibilou. Corri até o local onde estava a Opala e usei meu punho para quebrar o vidro.

— Mate-os! – Ordenou Scarlet. Peguei a Opala, mas senti alguém agarrar meus cabelos no segundo seguinte. Gritei e segurei com firmeza a pedra, mesmo quando Scarlet me atirou no chão. – E você, sua vadia... Entregue a opala!

— Vai ter que me matar!

Scarlet rosnou.

— Com prazer! – Ela desembainhou sua espada e eu fiz surgir minha lança, bloqueando um golpe que, certamente, teria me decapitado. Levantei-me e fiquei em posição de defesa. Ouvi sons de luta e percebi que Nico estava lutando contra o basilisco. Não sabia como ele estava fazendo aquilo sem olhar, mas ignorei no momento.

Com um movimento da lança, fiz um corte no rosto de Scarlet, que gemeu de dor. Depois rosnou e partiu para cima de mim. Bloqueei outro golpe seu e arquejei alto quando minha lança se partiu ao meio. Scarlet riu e descreveu um arco com a espada. Gemi de dor e pressionei o corte em meu rosto. Depois recorri às armas de emergência.

Abaixei-me e tirei, das minhas botas, o par de sai, que havia guardado. Scarlet riu, mas colocou-se em posição de luta.

— Vamos ver se foi bem treinada mesmo! – Ela partiu para cima de mim. Bloqueei o golpe usando um dos sai e a golpeei usando o outro, fazendo um corte em seu rosto. Scarlet rosnou de ódio e prendeu a lâmina da espada entre a lâmina maior e a lâmina menor do sai (não vou encher o saco de vocês detalhando o nome de cada parte do sai). Segurei a lâmina da espada com firmeza e puxei o sai de volta com força o suficiente para desequilibrá-la. Chutei o abdômen de Scarlet e avancei novamente. – Como vai Luke, Thalia? Ele conseguiu tomar você? – Scarlet sorriu quando eu hesitei. – Ah, sim... Você ainda tem medo. Ainda tem medo de ser machucada. De ser violada. Por isso que ainda não se entregou ao seu namoradinho? – Ela sorriu, satisfeita, quando solucei baixo, tentando conter. Depois fez um movimento brusco e arrancou o sai da minha mão. Eu estava em desvantagem, como sempre. Scarlet sempre foi mais forte que eu. E eu costumava achar isso legal quando éramos amigas. – É realmente uma pena... – Ela pegou o sai. Depois o manuseou com perfeição. Eu já estava acabada demais para lutar. Então foi fácil para Scarlet arrancar o sai da minha mão. – Diga-me o que vê, Thalia...

Ilusões não!

Não tive tempo de desviar o olhar. Num piscar de olhos, eu estava na cela onde fui mantida em cativeiro. Solucei ao sentir o frio das algemas em meus pulsos.

É só uma ilusão... É só uma ilusão... É só uma ilusão...

A porta da cela se abriu e Luke entrou por ela, me encarando com aquele seu sorriso cruel.

— Acho que percebi que você realmente não vai nos dar o que queremos, Thalia... E eu realmente queria que não fosse assim. – Seu sorriso dizia o contrário. – Infelizmente, eu terei que matar você. Mas, antes... – Seu sorriso cruel cresceu. – Vamos nos divertir um pouco. – Luke trancou a porta e caminhou até mim. Solucei.

Não é real... Não é real...

Luke rasgou a saia do meu vestido. Tinha um sorriso cruel. Solucei alto. Depois gritei. Gritei o mais alto que pude. Eu senti a dor. Eu senti o seu toque grosseiro em minha cintura. Eu senti seu hálito quente contra meu ombro, mordendo-me com força. Mas só podia gritar. Solucei alto. Queria que ele me matasse. Mas não conseguia falar. Apenas chorar e gritar conforme Luke me machucava o máximo que podia.

— Olhe para mim! – Luke segurou meu rosto com força, forçando-me a encarar seus olhos cruéis. – Olhe para mim, Thalia! – Senti meu rosto arder quando ele me bateu. Gritei mais uma vez. – Thalia!

Repentinamente, tudo parou. A dor parou. Senti que estava morrendo. Luke ainda não havia parado. Mas eu já havia sofrido o suficiente para que a dor me matasse aos poucos. De certa forma, estava aliviada por estar morta. Pisquei uma última vez, olhando para cima e fitando o teto da cela, que foi lentamente substituído pelo teto abobadado, coberto de rachaduras, do museu. Ouvi Scarlet gemer de dor. Mas não consegui me mexer. A dor ainda prevalecia. Eu ainda sentia que estava morta, mesmo sabendo que não estava.

— Thalia... – Ouvi a voz de Nico. Ele parecia completamente alheio ao sibilar do basilisco e aos gritos das pessoas que ainda estavam no museu. – Thalia, por favor... Por favor...

Eu precisava me mexer. Precisava fazer a consciência voltar ao meu corpo. Eu não estava morta. Eu não estava morta. Concentrei-me na voz de Nico, falha devido aos seus soluços. Concentrei-me no seu toque. Concentre-se, Thalia!

Puxei todo o ar que consegui, tossindo com o funcionamento repentino dos meus pulmões. Foi como estar em coma. Era assustador. Nico arquejou baixo quando consegui me mover. Depois me abraçou com força, soluçando.

— Por deus, Thalia! – Ele me abraçou com mais força. – Eu pensei que... Que você estava morta!

— Shh... – Pedi em voz baixa. – Estou bem, Nico. – Dei-lhe um selinho quando nos afastamos. Depois me levantei com sua ajuda, encontrando as asas negras de Scarlet cobertas de cortes. Uma delas quase havia sido arrancada. O local estava coberto de rachaduras. A fúria de Nico havia feito outro estrago. O basilisco estava preso por um pedaço do teto sobre sua cauda. – Estou bem...

Ele sorriu e segurou minha mão.

— Você me paga, Necromante maldito! – Scarlet levantou-se com certa dificuldade. Depois socou a pedra que prendia o basilisco, quebrando-a. – EU OS QUERO MORTOS!

A serpente sibilou, depois começou a nos perseguir. Nico segurou o braço de Leo e empurrou Percy por um corredor, virando à direita. Mantive o basilisco distraído usando meu arco. Depois me abaixei para pegar a opala que caíra da minha mão e comecei a correr, virando o corredor e encontrando um escritório com a porta aberta. O basilisco sibilou e começou a me seguir. Nico me encarou e arregalou os olhos.

— Vem, Thalia! – Gritou da porta do escritório. Não estava tão longe. – Rápido!

Deixei escapar um gritinho quando o basilisco sibilou atrás de mim e deu o bote, abocanhando uma coluna. Apertei o passo. Estava quase lá.

— Vai, Thalia! – Incentivou Leo, surgindo na porta ao lado de Nico. – E não olhe para trás!

— NÃO DIGA! – Retruquei.

Foi tudo muito rápido. Em menos de dois segundos, senti a cauda do basilisco ao redor do meu tornozelo e gritei quando fui puxada. Ouvi Nico gritar, mas não me arrisquei a abrir os olhos. Apenas os mantive fechados.

Senti uma movimentação acima de mim. O basilisco sibilou novamente e o aperto em meu tornozelo diminuiu. Ouvi um gemido de dor. Nico!

Arrisquei abrir os olhos. O basilisco agora estava ao meu lado. E parecia muito concentrado em Nico, que mantinha os olhos fechados enquanto estava imobilizado de frente para o monstro.

— Por quanto tempo você ficará com os olhos fechados? – A voz de Scarlet, vinda de algum ponto atrás do basilisco, ecoou. – A tentação de olhar é tão grande, Necromante... Por que você não olha?

— Não olhe, Nico! – Pedi.

— Ah, sim, Nico... – Scarlet sorriu. – Olhe. Você deve olhar. Abra seus olhos.

— Nico, não olhe!

— Abra os olhos... – Eu senti a persuasão na voz de Scarlet. Pude senti-la de longe.

E gritei alto quando Nico abriu os olhos, arregalando-os ao fitar o basilisco.

— NÃO! – Não pude olhar. Não quis olhar. Desviei o olhar, sentindo lágrimas descerem pelo meu rosto. Scarlet caminhou até mim, segurando meu rosto com força.

— Olhe, Thalia... Seu querido Nicholas... Olhe para o corpo dele... O seus olhos sem vida!

Eu não tive escolha, mesmo quando ela me forçou a olhar, mas arquejei com o que vi.

Eu não vi um corpo. Não vi Nico morto. Não vi seus olhos vítreos. Sem vida.

Eu vi Nico, ofegante, ainda encarando o basilisco. Scarlet seguiu meu olhar incrédulo e arregalou os olhos ao ver Nico.

O basilisco, aparentemente atônito, o soltou levemente. Nico acordou de seu estado de choque e puxou, das sombras, o meu par de sai, que eu deixei cair. Depois cravou um sai em cada olho do basilisco, que emitiu um sibilar alto de dor. Não me senti enjoada quando Nico arrancou os dois olhos do monstro usando o par de sai.

— NÃO! – Scarlet rosnou e caminhou a passos pesados até Nico. – Você! Vai me pagar por isso!

Nico fez um movimento brusco com os sai, lançando os olhos do basilisco na direção de Scarlet, que, com um movimento brusco, dissolveu os dois em sombras. Em seguida, Nico lançou os dois sai de uma vez. Um deles fez um corte na perna esquerda de Scarlet. O outro passou a centímetros do seu rosto e cravou-se na parede oposta.

Levantei-me enquanto Nico mantinha Scarlet distraída e parti para cima do basilisco. Agora eu podia olhá-lo sem problemas. Rolei por trás de Scarlet e peguei os dois sai que caíram. Depois parti para cima do basilisco novamente.

— Nico, cuidado! – Avisei quando Scarlet foi para cima de Nico, que desviou no último segundo. Peguei os sai e, utilizando a ponta do rabo do basilisco como apoio, saltei sobre sua cabeça.

A descida foi a parte mais dolorida: aterrissei em sua cabeça com as pontas dos sai viradas para baixo, cravando os dois por completo na cabeça da criatura. Na aterrissagem, bati meu abdômen com força no final da cabeça do basilisco, o que me causou uma repentina falta de fôlego. O monstro praticamente urrou de dor, sacudindo-se numa tentativa de se livrar dos sai em sua cabeça e fazendo com que eu batesse a perna por acidente em uma de suas presas. Quando puxei minha perna para trás, arranquei a presa do basilisco junto. Não contive um grito de dor.

O monstro continuou se contorcendo por mais alguns segundos antes de, finalmente, tombar, sem vida alguma. Seu corpo se dissolveu lentamente em cinzas, só restando o par de sai, cobertos de sangue, sobre o chão.

— MEU BASILISCO! – Scarlet urrou de ódio. – EU VOU MATAR VOCÊ!

Com um golpe, Scarlet derrubou Nico, afastando-o, depois caminhou até mim, mas parou ao me ver tentando arrancar a presa do basilisco da minha perna. Depois riu.

— Acredito que não vou mais precisar te matar... – Ela sorriu. Depois chegou onde eu estava e pisou sobre a presa, afundando-a mais em minha perna. Gritei de dor, encolhendo-me no chão. – O veneno do basilisco vai agir tão rápido que você nem vai notar quando morrer... Mas eu posso acabar com seu sofrimento se me entregar a opala. Agora!

Continuei encolhida no chão, segurando com força a opala contra meu peito. Sentia tanta tontura que, se me levantasse, cairia novamente.

— É realmente uma pena... Acho que todos nós vamos ter que assistir até que você morra para que eu possa pegar a opala e sair daqui!

— Ou você pode sair agora! – Ouvi uma voz familiar. Izzy!

Ergui um pouco meu olhar, fitando Isabelle completamente furiosa, encarando Scarlet com ódio queimando nos olhos. As asas estavam de fora. Scarlet riu.

— Olá, Izzy! Há quanto tempo, não?

— Poupe-me dos cumprimentos, Scarlet! – Isabelle conjurou, das sombras, uma foice negra. – Eu vou acabar com você!

Scarlet riu novamente, pegando sua espada.

— É o que veremos!

Quase nem pude ver quando uma avançou na direção da outra, lutando com certa ferocidade no olhar. Nico aproveitou a distração de Scarlet e se arrastou em minha direção, aninhando-me em seus braços. Fechei os olhos quase com força e segurei a presa do basilisco. Nico segurou minha mão e me ajudou a tirar a presa. Gemi de dor.

— Shh... – Pediu. – Vai passar. Aguente firme...

— Nico... – Sussurrei. – Tem... Veneno...

Nico negou quase em desespero. Depois pegou a opala da minha mão.

— Como se faz para ativar essa merda? – Ele sacudiu a opala.

— V-vai acabar quebrando... – Ri fracamente. Nico soluçou baixo, mas riu também.

— Não posso perder você...

— Nico! Leve Thalia junto para o escritório e feche a porta! Vai ser uma destruição bem grande aqui! – Isabelle bloqueou um golpe de Scarlet com perfeição, desferindo uma cotovelada contra seu nariz. Scarlet rosnou de dor e se afastou, logo bloqueando outro golpe de Isabelle.

Senti Nico se levantar, caminhando comigo até o escritório. Eu já não conseguia distinguir as formas.

— Boa sorte em ativar a pedra, Necromante! – Scarlet riu. – Ela tem menos de um minuto!

Nico fechou a porta com violência, deitando-me no chão frio do escritório.

— Vai ficar tudo bem... Você vai conseguir, Thalia! – Ele segurou meu rosto entre suas mãos. – Fique comigo! Por favor! – Ele pegou a pedra. – Como se ativa isso?

— Eu não faço ideia... – Leo chegou até onde estávamos. – Ela disse menos de um minuto. – Ele pegou a opala. – Como vamos salvar Thalia se nem sabemos como funciona?

A tontura aumentou. Agora os cantos da minha visão estavam escuros. Eu sentia cada parte do meu corpo adormecendo para nunca mais acordar. Nico segurou-me com força.

— EU PRECISO QUE ESSA MERDA FUNCIONE! – Ele se exaltou. Estava soluçando, mas eu não sabia se era de raiva ou de tristeza.

— NÃO COMEÇA A GRITAR! GRITAR NÃO VAI ADIANTAR EM NADA! – Leo gesticulou furiosamente com a pedra em mãos. – ACHA QUE EU NÃO ESTOU TENTANDO ATIVAR ESSA DROGA TAMBÉM?! TALVEZ NEM SEJA A PEDRA! TALVEZ ESTEJAMOS SENDO ENGANADOS!

— Leo... – Chamou Percy. – A pedra está brilhando...

Leo o encarou por alguns segundos antes de perceber que a pedra em sua mão brilhava. A última coisa que vi antes que minha visão se escurecesse por completo foi Leo movendo, apressadamente, a pedra na direção do ferimento. Ouvi Nico implorando para que eu ficasse. Suas lágrimas molhando o tecido da minha camiseta.

Depois eu não pude ver nem ouvir mais nada.

[...]

Acordei sentindo dor. Uma dor facilmente ignorável. Abri os olhos devagar, tentando me acostumar com a claridade do lugar em que estava. Não era o quarto do hotel. Era um quarto de uma casa, com as paredes brancas. A cama na qual eu estava ficava encostada na parede oposta à porta. Uma janela se encontrava acima da cama. Na porta da esquerda, devia haver um banheiro. À direita, era possível ver um guarda-roupa. Ao lado da cama, havia uma cadeira, aparentemente desconfortável, na qual Nico dormia, com a cabeça apoiada na parede. O sol da manhã brilhava do lado de fora, o que poderia indicar que eu fiquei apagada por um dia ou mais.

Tentei me levantar em silêncio para não acordá-lo, mas a cama rangeu e, no segundo seguinte, Nico abriu os olhos, acordando de súbito.

— Graças aos anjos, Thalia! – Ele me abraçou com força. – Por um instante... Eu pensei que você tinha morrido! Eu experimentei a sensação de perder você duas vezes! Duas!

Sorri, segurando seu rosto para fazê-lo se acalmar e o beijei. Nico sorriu entre o beijo, terminando-o com pequenos selinhos.

— Eu estou bem agora. – Tranquilizei-o. – Onde estamos?

Nico sorriu.

— A cidade em que estamos é a mesma cidade em que Travis e Connor moravam. Estamos na casa deles.

Sorri.

— Mas, se a mãe deles morreu... Quem está na casa?

— Apenas nós. – Nico suspirou. – Consegue se levantar?

Assenti, levantando-me com certa dificuldade, devido à dor na perna. Mas Nico me ajudou a ficar de pé.

— Quem me limpou? – Perguntei, olhando para meu corpo agora limpo.

Nico corou levemente.

— Bem... Fui eu... – Ele recuou quando ergui as sobrancelhas. – Mas eu juro que você só estava de roupas íntimas! Juro que não toquei em nenhum lugar íntimo demais!

Ri baixo do seu desespero e dei-lhe um selinho.

— Está tudo bem... E obrigada pela camiseta. – Ri baixo em seguida, indicando a camiseta que batia na metade de minhas coxas, cobrindo o short que eu estava usando. Nico sorriu levemente. Em poucas semanas, já era possível notar uma pequena mudança. Principalmente no modo como usava Umbra e no modo como usava seus poderes. Toquei seu rosto. – Como sobreviveu ao basilisco? Nico, qunado você olhou... Eu pensei que te veria morrer. Como ele não te matou?

Nico suspirou.

— Bem... Depois de explodir o museu e mandar Scarlet embora com o rabo entre as pernas, Isabelle me contou que havia lido em um livro que o Necromante pode olhar nos olhos da morte e não perecer. – Ele suspirou. – Ela atribuiu os olhos da morte aos olhos do basilisco. Basicamente, não posso morrer por qualquer coisa que mate encarando. Seja ele um basilisco ou qualquer outra coisa.

Sorri levemente.

— Você ganha certa vantagem em lutas assim. – Comentei. Nico sorriu. – Onde está Leo?

Ele suspirou.

— Está repousando também. Depois de curar você, ele apagou. Acho que a opala só pode ser ativada por quem tem poder relacionado ao fogo. Leo deve ter usado muita energia para ativar a opala.

Sorri.

— Pelo menos ele está bem. Depois eu brigo com ele por quase ter se matado. – Brinquei. Nico riu baixo.

— Nem brinque com isso. Quando Leo acordar, vou abraçá-lo com tanta força que ele vai apagar de novo.

Ri alto enquanto Nico abria a porta do quarto, rindo no mesmo tom. Estávamos no segundo andar de uma casa simples, mas bonita. Vozes ecoavam no andar de baixo. Um maravilhoso cheiro de café preencheu o ambiente.

— Thalia! – Katie sorriu quando surgi na cozinha e veio me abraçar. – Que susto você nos deu!

— Fizemos café para você! – Travis sorriu. – Vai precisar de uma refeição reforçada!

— Eu ouvi “comida”? – Ouvi a voz de Leo e sorri ao vê-lo, ainda com uma aparência acabada, na porta da cozinha.

— Leo! – Isabelle desencostou da geladeira e correu até onde Leo estava, abraçando-o com força. – Seu imbecil! Onde estava com a cabeça?! Podia ter morrido se não soubesse usar aquela droga direito!

Leo sorriu levemente.

— Calma aí, pardal... Eu estou bem... – Leo me encarou. – Quero saber é se você está bem.

Sorri.

— Estou bem, Leo... Graças a você. – Falei. – Depois que Isabelle soltar você eu vou aí te agradecer com um abraço.

Isabelle corou violentamente e se afastou de Leo, tão vermelho quanto.

— Idiota. – Ela disse, se afastando. Sorri e caminhei até Leo, abraçando-o.

— Obrigada.

— Não precisa me agradecer. – Ele sorriu quando nos afastamos. – Se eu não fizesse nada, Nico teria arrancado meu fígado.

— E teria dado de comer aos cães do inferno! – Nico entrou na cozinha com um sorriso. – É brincadeira, Valdez... – Ele riu baixo da expressão assustada de Leo. – Muito obrigado... Por salvar a vida dela.

Leo sorriu.

— Então hoje eu sou o herói da vez? – Ele sorriu. – Ok, eu quero uma festa, com muita comida e duas garotas bem gatas me abanando. Isabelle pode ser uma delas! – Ele riu quando Izzy revirou os olhos. – Fala aí, você tem uma irmã gêmea?

Isabelle suspirou.

— Eu tenho uma irmã... Mas não é gêmea...

Os outros arregalaram os olhos. Menos eu. Eu sabia a quem Isabelle se referia.

— Você tem uma irmã?! – Nico a encarou, incrédulo. – Mas quem é? Como ela se chama? É mais velha ou mais nova?

Isabelle respirou fundo, sentando-se.

— É minha irmã mais velha... – Ela disse. – Ela... – Isabelle suspirou outra vez.

— Quem é ela, Izzy? – Annabeth sentou-se ao lado de Isabelle. – Como ela se chama?

Isabelle finalmente ergueu os olhos, cobertos de ódio e tristeza.

— O nome dela... – Disse quase num sussurro. – É Scarlet.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Thalia com medo de elevadores, Nico guardando seus preciosos DVD's de Supernatural, a cena no museu, basiliscos, ataques cardíacos...
E essa revelação no final? O que acharam?
Digam-me nos reviews!
Até lá, amores! :3
Bjoks! *3*