Ghost of Jane escrita por MissLia


Capítulo 3
You?!




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No dia seguinte quando acordei com meu despertador – mais conhecido como Jane Austen – berrando em meus ouvidos como se estivesse em algum show de rock. Meu fantasma preferido estava parado com um enorme sorriso nos lábios pintados com um batom vermelho. Seus olhos brilhavam como nunca. Puxou-me da cama com certa brutalidade me deixando tonta por alguns segundos.

– Vamos, Luna, precisa ir trabalhar, está um belo dia e você não pode se atrasar. Vamos, vamos! – bateu palmas já retirando o cobertor de cima do meu corpo.

– Não é possível, Jane, quando vai parar de me acordar dessa maneira? Caso você não saiba é possível alguém morrer de susto, sim, e essa probabilidade aumenta quando se está dormindo. – cocei meus olhos e estiquei meus braços na tentativa de acordar totalmente.

– Você ontem me fez uma promessa, fofinha, e eu vou cobrar, levante essa bunda magricela dai e se arrume, temos que ir para o seu trabalho. – saiu do quarto em direção a pequena cozinha.

– Temos? Como assim temos? Você vai também? – corri atrás de Jane enquanto tentava arrumar meu cabelo.

– Agora eu serei sua sombra, Luna Tonks, vamos andar juntas para todos os lados. Preciso lhe indicar quem são os casais que você vai ter que ajudar e preciso orienta-la como. Você tem 10 minutos para estar pronta ou terá consequências.

Estava preparada para começar uma longa discussão sobre como ela não mandava na minha vida, mas já estava na hora mesmo de me arrumar para o trabalho, caso contrário eu perderia o ônibus, e estava sem animo nenhum para discutir, muito menos com Jane. Revirei os olhos e sai pisando duro até o banheiro.

Até mesmo em menos de 10 minutos eu já estava pronta. Um rabo de cavalo alto foi o que consegui fazer de mais rápido para esconder a rebeldia dos meus cabelos. Usava um vestido solto florido e as sapatilhas que tinha usado no jantar da noite anterior. Coloquei a bolsa sobre meus ombros e abri a porta com rapidez. Assim que abri a porta dei de cara com a pessoa que eu menos esperava ver na porta da minha casa.

– Miller! O que está fazendo aqui?

– Bom dia para você também, Luna Tonks.

– O que você está fazendo aqui? Olha, eu realmente estou atrasada. Pode voltar em outra hora. Ou melhor! Nem volte! – o empurrei com certa força e fechei a porta com rapidez e parti pelo corredor em direção ao elevador.

– Não seja infantil, Tonks. Então, você não viu a mensagem da Monique ou do James? Eu lhe aconselho a checar suas mensagens antes de sair de casa. – seguiu-me com um sorriso sorrateiro nos lábios.

Enquanto esperava pelo elevador abri minha bolsa tirando meu celular de lá. O nome “Monique” picava na tela com uma foto da minha melhor amiga fazendo careta.

– Fala, Monique. – disse irritada assim que atendi ao telefone.

– Bom humor matinal, marca registrada de Luna Tonks. – mesmo sem a ver no momento, posso jurar que tinha revirado os olhos. – Liguei apenas para lhe avisar de uma coisa. Daqui a uns minutinhos o Sebastian deve estar passando por ai. Preciso que vocês vão checar os bufe do casamento.

– Sinto muito, mas você está um pouco atrasada. Sebastian já está aqui há mais tempo que eu gostaria. Posso saber porque você e o James não podem fazer isso? Que eu saiba vocês que irão se casar, não eu e o Miller.

– Eu e James não estamos na cidade, uma de suas trinta tias está doente e parece que não irá resistir. Não faço ideia de quando iremos voltar.

– Tudo bem, tudo bem. Eu e o Miller damos um jeito nisso para vocês. Mas que fique bem claro que você está me devendo uma, Monique Payne.

– Não tenho dúvidas de que irá me cobrar, Luna Tonks. Agora tenho que ir. Amo você. Mande um beijo para o Sebastian . Divirtam-se!

Assim que desliguei o telefone Sebastian abriu a porta do elevador que já estava nos esperando. Lá dentro estava ela, Jane Austen, sorridente e mais bonita que nunca. Tão animada e deslumbrante que me irritava profundamente. Sebastian se posicionou ao meu lado tão próximo que conseguia sentir o choque de nossos braços.

– Como pode ver, Tonks, sua melhor amiga precisa de nossas ajuda. Vamos salvar o dia dos pombinhos e encher o bucho? No final de tudo, Monique lhe fez um grande favor, não terá que passar fome hoje. – soltou uma gargalhada que preencheu o pequeno espaço do elevador.

– Não sou uma morta de fome, Miller, posso não ser rica, mas tenho o que comer e onde morar. Encontre-me depois do almoço onde eu trabalho e vamos resolver isso de uma vez.

Pegar ônibus era a coisa mais terrível que existia na humanidade. Veja bem, você precisa dividir um transporte com mais trinta pessoas, no mínimo, que mais da metade não tomou banho ou escovou os dentes, apenas para chegar ao seu emprego, onde você nem sempre é bem tratado por seu chefe e ainda pegar o mesmo ônibus para voltar para sua casa depois de um dia cansativo de trabalho. E ainda corre o risco de perder o ônibus. Foi exatamente isso que aconteceu naquela manhã comigo, já que a visitinha do Miller acabou totalmente com meu cronograma. Assim que coloquei meu pé para fora de casa eu pude ver o ônibus já no final da rua.

– Droga, droga. Maldito Miller. – resmunguei já caminhando lentamente ate o ponto vazio.

– Tudo está saindo como o esperado, Luna. Vamos lá, animação! – Jane disse batendo palminhas ao meu lado.

– Você diz isso porque não tem um chefe como o meu. Agora cale essa boca antes que me deixe ainda mais estressada.

Para minha surpresa Jane satisfazes minha vontade e apenas se acomodou ao meu lado no banco a espera do ônibus. Encostei minha cabeça em uma das colunas e fechei meus olhos deixando que meu corpo relaxasse por alguns minutos até que Jane me dá um empurrão, quase fazendo com que meu rosto estrasse em contato com o chão.

– Ali, Luna! Ali está ele! Vá, corra atrás dele, fale com ele! AGORA! – berrou em meu ouvido e tenho certeza que se pessoas vivas pudessem a ouvir ela teria acordado o bairro inteiro, sem sombra de duvidas.

– Ele quem, Jane? De quem você está falando? Está delirando? – abri meus olhos e a encarei com as sobrancelhas enrugadas.

– Do primeiro casal que temos que ajudar. Levante já dai e vá atrás dele.

Olhei para onde ela estava apontando e vi um homem a mais ou menos 10 metros a nossa frente entrando em um carro. Ele aparentava estar por volta de seus trinta anos, com uma braba rala e cabelo castanho claro levantado em um pequeno topete. Usava um terno que provavelmente era mais caro que meu apartamento.

– Está esperando o que parada aqui? Que alguém a leve no colo? – Jane me cutucou e olhou novamente para o homem a mais frente.

Fiz exatamente o que Jane mandou e despenquei a correr até o carro do homem, que antes eu observava de longe.

– Ei! Ei! Espere um minuto, por favor! – acenei com os braços enquanto corria como uma gazela bêbada até o carro do homem.

O homem me encarou por alguns segundos e pude ver melhor seus olhos, eram claros e por causa da luz que batia em seu rosto não soube decifrar se eram verdes ou azuis. Ele revirou os olhos e bufou, como se já estivesse com a paciência esgotada. Sem nem ao menos me olhar novamente ele abriu a porta do carro e entrou colocando o óculos escuros logo em seguida.

– Ei, será que eu poderia falar com o senhor por um minuto? – bati de leve na janela de seu carro para que ele me atendesse. Ele abriu uma parte do vidro do carro e me analisou dos pés a cabeça.

– Eu já avisei que não quero falar com a imprensa no momento, não fui claro o suficiente para você, querida? – perguntou debochado.

Balançou a cabeça em negação e sem me dar a oportunidade de lhe responder, ele arrancou o carro e em questão de segundos já estava longe do meu campo de visão. Imprensa? Desde quando eu trabalhava para a imprensa? Bufei raivosa e chutei uma pedrinha que havia ali na rua.

– Você é péssima nisso, Luna, nunca vamos conseguir se você continuar dessa maneira. E ai você não vai se livrar de mim. Nunca! Não entendeu isso ainda? – Jane gritou no meu ouvido enquanto eu caminhava, desanimada, de novo para o ponto de ônibus.

– Eu já entendi isso, Jane. Mas esse cara é um idiota, disse que não queria falar com a “imprensa”, tão arrogante. Entendo muito bem porque a alma gêmea dele o deixou. Ninguém merece alguém assim. – resmunguei.

– Dane-se a alma gêmea dele, Luna, estamos pensando em nós duas aqui, eu quero ter paz e você quer que eu vá embora e nunca mais volte, mas isso só vai acontecer se juntarmos esse casal. Você tem problema para entender isso?

– Já entendi, Jane. Não sei o que podemos fazer agora, você pode me dizer o nome dele ou onde podemos encontra-lo, ai iremos atrás dele. A propósito, como você sabia que era ele?

– Eu sinto, Luna, não sei o nome deles ou como eles são fisicamente, simplesmente sinto quando algum deles está perto de mim.

– Oh, merda.

De certa forma ter perdido essa oportunidade não foi de tudo ruim. O que diabos eu iria dizer para aquele homem se ele se desposse a falar comigo. Diria que eu preciso junta-lo a sua alma gêmea para me livrar de um fantasma inconveniente de uma escritora de séculos atrás? Eu, com toda certeza, sairia dali em uma camisa de força a caminho de algum hospital psiquiátrico. Se me dissessem isso há meses atrás eu também ligaria para um lugar do tipo, mas hoje eu sabia bem como era.

O resto da manhã foi algo normal para mim, exceto que Jane ficava o tempo inteiro perguntando como eu conseguia passar meu dia dentro de uma cozinha fazendo comida para os outros, e eu apenas a ignorava. Para minha sorte o dono do restaurante em que eu trabalho não apareceu por lá hoje, ele era um homem muito insuportável e eu sempre saia com dor de cabeça nos dias que ele aparecia por lá. Logo após o horário do almoço eu já estava de roupa trocada e pronto a espera do Miller na porta do restaurante, onde ele disse que me encontraria.

– Vamos logo Tonks, não tenho o dia inteiro! – Sebastian gritou do carro estacionado um pouco atrás de mim.

– Não seja tão escandaloso, Miller. – resmunguei assim que entrei em seu carro.

– Como se alguém ligasse para isso. Pronta para comer outra coisa que não seja sobras desse restaurante péssimo em que você trabalha?

– Sinto muito, mas hoje você não vai me irritar. Já passei por stress pior hoje, você não é nada perto disso.

– Creio que terei que me esforçar um pouco mais hoje, então, mas sou persistente, Tonks.

O caminho até o bufê foi tranquilo, até demais, já que Sebastian não era de perder uma oportunidade para me atazanar as ideias, tínhamos como companhia apenas uma musica de fundo.

– Vamos, Luna, temos que ir andando até o bufê, não tem lugar para estacionar por perto. – Sebastian saiu do carro e me esperou na calçada, nem mesmo para abrir a porta para mim. Quanta falta de cavalheirismo!

Revirei os olhos e sai do carro me juntando ao ser mais irritante que eu tinha o desprazer de conviver. Sebastian passou os braços por meus ombros, apesar de meus muitos protestos, e me começou a me conduzir dentre as pessoas que por ali passavam.

– Sebastian Miller, você por aqui!

Olhei para o lado de Sebastian, que cumprimentava um homem sorridente, assim que o homem virou-se para mim, meu corpo todo gelou. Eu conhecia aquele homem.

– Você?! De onde você a conhece Sebastian?!


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