Ghost of Jane escrita por MissLia


Capítulo 2
Crazier.




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– Vamos lá, Jane, onde você colocou meu sapato? Você sabe que não posso me atrasar. É o casamento da minha melhor amiga, não é qualquer jantar! – gritei enquanto revirava meu quarto pela quinta vez na última hora.

Maldita fantasma idiota. Eu sempre demoro mais do que o normal para me arrumar, até mesmo para ir á padaria – você também demoraria se tivesse um padeiro tão lindo como aquele – eu demorava mais de uma hora, por esse motivo hoje eu comecei a me arrumar com três horas de antecedência e tinha todo cronometrado para dar certo. Se não houvesse problema alguma eu ainda poderia ver metade de um episódio de The Vampire Diaries e babar por Damon Salvatore. Mas não. Nada na vida de uma mulher dá certo quando se tem um chefe imprevisível como o meu, que me deixou quase uma hora a mais depois do meu expediente, tentando encontrar algum recheio de bolo que o agradasse. Muito menos quando se tem o fantasma de Jane Austen perambulando pelo mundo atrás de você. Acredite, os últimos três meses, que ela vinha me amolando não foram nada agradáveis.

– Nem ao menos é mesmo o casamento dela, Luna, é apenas um jantar de apresentação dos padrinhos. Você pode chegar atrasada se quiser. Invente uma desculpa, diga que fez mais um desses seus testes culinários loucos e que acabou o dia inteiro tentando se livrar de uma diarreia terrível. Com certeza todos irão acreditar. – Jane riu como se tivesse contado a piada do ano.

– Vai por mim, Jane, se você já não estivesse morta eu já teria de matado na sua primeira semana me atormentando os nervos. Quem sabe até mesmo naquele dia no banheiro se eu não estivesse tão bêbada!

– Você é tão parecida com a Sra. Bennet, Luna. Quase consigo vê-la andando de um lado pro outro enquanto resmunga “Tenha pena dos meus nervos, Sr. Bennet! Tenha pena dos meus nervos!”.

Ri sem humor algum e parti em direção ao banheiro. Assim que levantei a tampa do vaso sanitário um grito cheio de rancor escapou por meus lábios. Lá estava ele. Meu lindo sapato novinho, que eu tinha gasto quase todo meu salário nele e só terminarei de pagar ano que vem, dentro da privada e papel higiênico em volta.

– Eu vou te mandar para o inferno, Jan Austen. Juro que vou, eu quem vai abrir as portas do inferno para você! – disse entre dentes.

– Não seja tão dramática, Luna, assim você fica ainda mais parecida com a Sra. Bennet! – riu, divertida, e sumiu da minha vista.

Encarei pela terceira vez minha sapatilha surrada e xinguei Jane mentalmente. Agora lá estava eu, com um belo vestido preto com um decote longo nas costas, que caiu perfeitamente em meu corpo no momento em que o coloquei, com uma bela maquiagem que demorei horas vendo vídeos na internet que me ensinassem a fazer algo mais descente que lápis fraco em baixo de meus olhos azuis. Meus cabelos loiros estavam presos em uma traça bagunçada e alguns fios caiam sobre meu rosto, deixando certo charme. Mas, então, tinham aquelas malditas sapatilhas, que eu usava sempre para ir trabalhar – tenho até mesmo a leve impressão de que tem algumas gotas de chocolate na parte de trás de uma das sapatilhas – e que, graças a Jane e sua brincadeirinha de péssimo gosto, eu estava usando no jantar de noivado da minha melhor amiga. Céus! Quando Lorena ver essas sapatilhas ela vai querer me matar.

Soltei um suspiro derrotado e empurrei a porta do restaurante mais cara e bem frequentado de Londres. Assim que meus olhos rondaram o lugar, logo eu avistei minha melhor amiga com sua risada escandalosa tomando conta do lugar. Ela estava deslumbrante com seu vestido prateado brilhante e seus saltos de quase quinze centímetros. Monique sempre foi a mulher que tinha tudo do bom e do melhor sem, nem ao menos, se esforçar para isso. Enquanto eu passava horas decorando receitas para meu emprego, Monique já tinha sua própria loja de roupas lucrando mais que eu em minha vida inteira. Logo ao seu lado estava seu noivo perfeito, James White, esbaldando sorrisos e sua beleza, ele era, sem dúvidas, o cara que qualquer um iria querer – incluindo meu melhor amigo gay, Paolo, que tinha uma paixão ardente por ele – e um dos motivos para garotas odiarem Monique. Exceto eu, sua melhor amiga.

– Nome, por favor, senhorita. Tem alguma reserva? – o garçom perguntou assim que me avistou.

– Oh, eu estou com ele – apontei para a mesa onde estavam James e Lorena. – Sou Luna Tonks.

O garçom simplesmente assentiu com a cabeça indicando que era para segui-lo e foi o que fiz. Assim que me avistou Monique deu um pulo de sua cadeira e veio, apressada, até mim. Logo seus longos braços estavam em volta do meu pescoço. Os abraços de Monique sempre são muito estranhos, já que ela é bem mais alta que eu, mesmo eu tendo meus preciosos um metro e setenta.

– Luna! Finalmente você chegou! Já estava achando que não viria mais!

– Claro que eu vim, Moni, você é minha melhor amiga, oras. – revirei os olhos e lhe dei meu melhor sorriso.

– Venha, James já está quase desmaiando de tanta fome. Como se não houvesse lanchonetes perto do escritório, onde ele poderia comer antes de vir. – foi a vez de Monique revirar os olhos.

Assim que me viu James se levantou e me deu um abraço apertado. Desde que James e Monique começaram a namorar eu logo virei melhor amiga do loiro. Sempre estávamos os três juntos. Assim que me soltou o loiro bagunçou levemente meu cabelo, como sempre fazia e me deu um beijo estalado na bochecha.

– Sempre atrasada, loirinha. – James sorri e logo toma seu lugar na mesa.

– Nem estou tão atrasada assim. Então, vamos pedir? – perguntei, animada, já que, como James, eu também estava quase desmaiando de fome.

– Não podemos ainda, Luna. Ainda falta uma pessoa. – Monique disse animada.

É claro que faltava mais alguém. É apresentação dos padrinhos, Luna, obviamente seria um jantar com os padrinhos, não só você e seus melhores amigos.

– Boa noite. Desculpe-me pelo atraso, mas o trânsito estava terrível.

Oh não. Não, não, não e não. Eu conhecia aquela voz. Conhecia muito bem aquela voz, até mais do que eu gostaria de conhecer. Encaro raivosa Monique que dá de ombros e logo se levanta para cumprimentar o novo convidado. Virei minha cabeça lentamente, na esperança de que quando olhasse ele não estaria mais ali, mas me enganei. Sebastian Miller estava ali, com um belo sorriso debochado nos lábios rosados me encarando. Seus cabelos cacheados estavam maiores desde a última vez que eu o vi, destacando bem suas órbitas verdes. Usava um terno azul – que eu devo dizer, era muito esquisito – e um cordão, que eu não consegui ver qual era o pingente, já que estava para dentro da camisa branca.

– Oh, minha querida Tonks! Como é bom vê-la! – Sebastian disse, irônico, e abriu os braços para eu abraça-lo.

Como eu sou uma mulher muito bem educada e elegante me levantei e apenas apertei sua mão direita em sinal de comprimento, rejeitando seu abraço, o fazendo rir.

– Vamos pedir logo, gente, depois vocês podem trocar gentilezas e matar a saudade, mas James está prestes a desfalecer aqui. – Monique disse rindo da expressão quase verde de fome do próprio noivo.

Em questão de minutos todos já tinham feito seus devidos pedidos e o garçom já tinha trago uma garrafa de vinho que James tinha pedido. Não estava nos meus planos beber em dia de semana, já que amanhã eu tinha que estar cedo no restaurante para me preparar para o almoço, mas eu nunca resisto aos bons vinhos que James pedia. Na verdade, não resisto a nenhum, nem mesmo aqueles de quatro reais que se vende em um boteco qualquer. James e Monique rindo juntos, enquanto minha melhor amiga fazia carinha no pescoço do noivo. Eles estavam em um mundo próprio. Ah, como eu queria um relacionamento como o deles para mim.

– Até hoje invejando a melhor amiga e sem nem um namorado, Luna? Você está a cada dia mais lamentável, logo chega aos trinta e vai continuar virgem! – Sebastian soltou uma risada escandalosa chamando atenção de algumas pessoas ao nosso redor. Como esse homem é deselegante.

– Não sou mais virgem, Miller, e você sabe muito bem disso. Quanto a minha vida amorosa, isso não lhe diz respeito. – respondi entre dentes sem nem ao menos tirar meus olhos da taça de vinho, que eu tinha em mãos.

– Vejo que continua sem o mínimo de educação. A propósito, belas sapatilhas, Tonks. – Sebastian sorriu vitorioso.

– Assim como minha vida amorosa, minhas sapatilhas não lhe dizem respeito. Mas retribuindo a gentileza, grande terno de merda, Miller. Pra que tanto dinheiro se não sabe nem ao menos como se vestir? Acho que deveria pegar um pouco de sua fortuna e pagar um estilista. – revidei.

– Oh desculpe, querida, não ouvi nada do que você disse, estava preocupada demais com seus cabelos, isso aqui nele é um pouco de chocolate em pó? – apontou para o começo de minha trança.

No mesmo momento levei minha mão até o local em que ele apontou e tentei limpar a sujeira que ali estava. Sebastian teve uma crise de risos incontrolável e aí percebi que era mais uma vez uma de suas brincadeiras idiotas.

– Você é tão infantil, Miller. Prova disso é esse seu terno, que somente uma criança de cinco anos escolheria para ficar mais parecido com o Ken, aquele namorado da Barbie. – revirei os olhos.

– Ei, vocês dois, vão continuar assim o jantar inteiro? Discutindo? – Monique perguntou risonha.

Assim que coloquei meus pés para dentro de casa após o jantar Jane praticamente pulou em cima de mim. Ela tinha os olhos esverdeados arregalados e os cabelos descabelados.

– Finalmente você chegou, Luna! Chegou a hora, precisamos agir nesse momento.

– Agir? Olha só, Jane, você já está me irritando por três meses e eu até que estou aceitando bem isso, mas agora eu realmente preciso descansar. Tive que aturar aquele maldito Miller por horas hoje, sinto que minha cabeça vai explodir a qualquer momento.

– Não acho que sua dor de cabeça me importa no momento. Eu vim atrás de você aqui por um motivo. Eu fiquei no mundo por um motivo, minha querida, e você precisa me ajudar ou eu nunca irei sair daqui.

– Você está dizendo que se eu te ajudar você vai embora e nunca mais vai aparecer por aqui para jogar meus sapatos no vaso sanitário, muito menos para me acordar com um berro às seis da manhã de um sábado? – arquei a sobrancelha.

– Fique tranquila, Luna, se você me ajudar eu juro que não vou mais lhe dar o prazer de minha presença. Eu preciso ir, preciso muito fazer o que tenho que fazer aqui neste plano para poder encontrar paz e felicidade. E, infelizmente, você é a única que pode me ajudar, no momento.

– Então, ótimo, Jane Austen. Temos um acordo. Agora me diga, o que eu tenho que fazer?

– É algo simples. Você precisa me ajudar a unir novamente quatro casais. Estou falando de almas gêmeas, Luna, o assunto é sério.


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