Ghost of Jane escrita por MissLia


Capítulo 1
Prólogo




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Passei boa parte da minha vida admirando Jane Austen com todas minhas forças. Céus! Como eu invejava aquela mulher. Sim, claro que eu tenho plena consciência de que ela teve um péssimo final amoroso, mas não me importo muito com minha vida amorosa no momento. A questão é: Jane Austen era minha inspiração, eu até mesmo respirava somente para lutar por um mundo onde eu poderia ler Jane Austen o dia inteiro e até mesmo receber um salário por isso, não seria maravilhoso? Não. Só tenho algo a lhes dizer sobre Jane Austen. Ela é um pé no saco, – sim, eu sei que ninguém usa essa expressão hoje em dia – de longe o ser mais irritante que tive o desprazer de conhecer. Pois é, eu conheci Jane Austen e não desejo isso nem para meu pior inimigo. Nem mesmo para senhora Judith, a sindica do meu prédio, que vive batendo na minha porta pedindo uma xicara de maisena. Nem me pergunte o que ela faz com tanta maisena. Talvez, somente talvez, ela mereça, sim, conhecer Jane Austen e tê-la falando em sua cabeça 24 horas por dia.

Acreditem ou não, eu consegui conhecer Jane Austen em uma terrível festa de ano novo enquanto eu tentava levantar meu vestido para usar o banheiro sem cair com a cara na privada. É eu sei que Jane viveu há anos atrás, séculos, na verdade, mas acredite, eu tive a má sorte de conhecê-la. Pelo simples motivo de que Jane Austen, a melhor escritora de romance de todos os tempos, é um fantasma. Eu nunca tinha visto um fantasma em toda minha vida, pelo menos, até aquele dia.

- Droga, droga, eu nunca mais vou beber na vida! – resmunguei a famosa frase, que eu dizia todos meus finais de semana, mas, infelizmente, nunca cumpria.

Joguei minha bolsa em um ganchinho, que ficava um pouco a cima do vaso sanitário. Minha cabeça girava e minha boca formigava. Caramba, eu estava muito bêbada. Puxei o vestido com força tentando me livrar dele o mais rápido possível e poder aliviar minha bexiga, que implorava por piedade, mas foi em vão.

- Quem sabe se você abrir o zíper de sua saia você consiga fazer seu precioso xixi! Bêbados são criaturas tão estupidas! – uma voz fina e irritante disse ao fundo.

Olhei em volta e não via ninguém, me apoiei na porta da cabine e olhei pela fresta da porta para ver quem estava ali fora.

- Além de burra é cega agora, garota? – a voz repetiu, irritada.

Virei-me rapidamente e dei de cara com uma mulher, na cerca de seus trinta anos, com um vestido até o joelho florido, seus cabelos castanhos claros estavam presos em um coque bem arrumado, só com a franja solta, que caia sobre seus olhos esverdeados.

- Desculpa, senhorita, mas esse banheiro está ocupado! – joguei as mãos ao ar, tentando sinalizar que eu estava ali.

- Eu sei disso, jumenta, eu vim aqui mesmo falar com você, vamos, faça o que você tem que fazer, estarei lhe esperando ali fora. – revirou os olhos e, simplesmente, atravessou a porta da cabine.

Olhei chocada para o que tinha acabado de acontecer. Achei que tinha algo como drogas naquelas bebidas do bar. Balancei a cabeça tentando tirar o efeito do álcool, mas isso só piorou minha situação. Ainda tonta abri o zíper do vestido e, finalmente, consegui fazer meu tão esperado xixi. Assim que abri a porta da cabine dei de cara com a mulher de antes, revirei os olhos e segui até a pia, onde lavei minhas mãos e meu rosto.

- Acho que já está na hora de você ir embora, Luna. Vou lhe fazer companhia, amanhã precisamos conversar mesmo, assim que você acordar. – a mulher disse.

Logo ela desceu da bancada da pia, onde ela balançava, alegre, os pés. Encarou-me por uns segundos e apertou minhas bochechas, como minha vó costumava fazer comigo quando tinha três anos. Puxou-me pelo pulso e me arrastou para fora do banheiro.

Naquela noite a mulher misteriosa me carregou até em casa e me jogou em minha cama, onde eu dormi até babar. No dia seguinte, assim que abri meus olhos dei de cara com a mesma mulher do banheiro, só que agora ela vestia um vestido branco mais curto e os cabelos estavam soltos.

- Bom dia, bela adormecida, ou melhor, feia adormecida. Você está horrível, Luna, parece que foi atropelada por um trator! – gargalhou e levantou uma mecha do meu cabelo analisando com cuidado.

- Quem diabos é você? E o que está fazendo aqui? Quem te deixou entrar? Cecília deixou a porta aberta novamente, não é mesmo? Vou matar essa menina! E você, saia já daqui! – levantei-me rapidamente da cama e quase desmaiei por causa da enorme dor que tomou conta da minha cabeça.

- Não seja escandalosa, Luna, sou uma velha amiga sua, mas só agora puder aparecer. Posso te explicar ou você prefere continuar gritando como uma alucinada? – arqueou a sobrancelha direita e logo se sentou ao meu lado na cama.

- Quem é você? O que está querendo comigo? – perguntei novamente.

- Jane, meu nome é Jane, mas você me conhece mais como Jane Austen. Sim, eu sei, eu já morri há muito tempo atrás, mas qual é! Até parece que não sabemos que existem fantasmas, e eu sou um. Pulemos esse momento de gritos histéricos e vamos ao que interessa. Preciso de sua ajuda, Luna.


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