Acordo. Tudo podia ser só um sonho, igual esses que tenho às vezes, de ver oito anjos com oito crianças no colo, mas tentando me sentar na cama, a dor no abdômen onde fui ferida volta. Foi tudo real mesmo.
Não estou no meu quarto, e sim, na enfermaria, uso as mesas roupas de ontem, devem ter me deixado aqui depois que atravessei o portal com o ultimo novato. Levanto-me da cama devagar, sinto que estou fraca. As salas de repouso da área hospitalar da Fortaleza são pequenas, apenas uma cama e um banheiro para emergências. Vou em direção à porta que da para o corredor dos quartos dessa área. Resolvo testar se meus dons já voltaram, ainda não sei como sumiram na batalha de ontem. Estico a mão e essa atravessa a porta, não sinto nada, me arrisco um pouco mais e fico totalmente invisível. Saio para o corredor.
Algo me para, um choro, sigo o som e paro três quartos depois do qual estava dormindo, entro ainda invisível, uma das meninas que salvamos ontem esta deitada em uma cama, Camila, sentada ao seu lado nossa melhor enfermeira tenta acalma-la.
–Cresce depois, mas temos que tirar isso dai, pode machuca-la- diz Lau, a enfermeira, Camila apenas balança a cabeça negativamente e chora.
Lau se levanta e vem em direção à porta, saio do seu caminho para ela não esbarrar em mim. Certifico-me que estamos sozinhas e fico visível, me aproximo de Camila.
–Está tudo bem?-pergunto, ela me olha assustada como se só me visse ali no momento, mas não responde- Eu posso te ajudar sabe, se você quiser falar o que houve... - ela continua me encarando, mas pelo menos parou de chorar- Bem, acho que precisamos nos apresentar, sou a Mia, 16, sou da Espanha, mas quando minha cidade foi atacada vim para o Brasil, me encontraram e trouxeram para cá. E você?- tento mais uma vez.
–Onde é aqui?- ufa, um avanço.
–Estamos em uma ilha que não esta no mapa, perto do território do Brasil, perto mesmo de São Paulo, chamam aqui de Haven, numa língua mais antiga, Portum, engraçado né, uma ilha ser chamada de algo que parece porto? Infelizmente como é uma ilha, não temos shoppings nem nada, sempre que precisamos de algo vamos até São Paulo pegar. Aqui na ilha temos a Fortaleza, esse castelo onde estamos e, a praia, a floresta e o vulcão, inativo, pode ficar tranquila. -pela sua cara acho que estou a assustando- Temos Wi-Fi, essa é a melhor parte com certeza. - ela ri, uma eu acertei pelo menos.
–Sou Camila, Cami, 17, sou do Brasil mesmo. O que eu estou fazendo aqui em Ha-alguma-coisa?
–Pois você provavelmente é uma SkyWatcher e –ela levanta uma sobrancelha- Essas perguntas serão respondidas mais tarde, se eu falar tudo agora vai ser muita informação pra você processar... - ela concorda com a cabeça.
–Eles querem cortar meu cabelo. –sua voz sai quase num sussurro.
–O que?- seguro o riso, ela mostra o cabelo, um saco esta em volta das pontas do cabelo.
–Tem gosma daquelas coisas aqui, eles já tentaram lavar e não saiu, agora querem cortar.
–Por isso estava chorando?-ela concorda- Bem, você já quis pintar o cabelo? Fazer uma mudança radical?-ela balança a cabeça afirmando- Então, por que não deixa eles cortarem e pede para eles pintarem da sua cor favorita?
–Não acho que meu cabelo ficaria legal verde- ela ri
–Bem, então por que não pinta as pontas do cabelo curto dessa cor, ou faz mechas?- ela fecha os olhos e parece começar a imaginar. Saio do quarto.
***
Kylie está parado com as costas na porta da área hospitalar, sem ele ver-me aproximando-se dele, bagunço seus cabelos e ele se vira revoltado e sai andando até a janela mais próxima para arrumar os fios compridos usando o reflexo dessa para se ver. Até encontrar Cami, nunca tinha visto alguém que ligasse tanto para o cabelo como ele. Sigo-o rindo.
–Você não tem ideia de como é difícil organizar essa maravilha aqui, e chega bagunçando. - Kylie é da Austrália, chegou em Haven um mês depois que eu, é um de meus amigos mais próximos mesmo sendo um pouco mais velho.
–É só seu cabelo, você fala como se eu tivesse virado sua perna ao contrário, menos drama Ky.
–Se um terremoto atingir seu quarto, não foi eu- Kylie é filho da terra, vive falando de causar terremotos porque foi o primeiro dom que descobriu, antes de eu conseguir descobrir qualquer meu, e ele adora esfregar isso na minha cara.
–Se todas as suas roupas estiverem rosa amanhã não foi eu também. - Me viro jogando cabelo na cara dele e vejo Natalie se aproximando, ela é filha da água, já tentamos chama-la de Ariel, a pequena sereia por ser ruiva e ter suas habilidades aquáticas, mas ela não gostou muito (não queremos que chova dentro da fortaleza de novo). Ela sempre morou aqui, seus pais são os lideres da Fortaleza, tem o corpo magro e bronzeado.
–Descobri a origem, nome e idade deles. - diz ela parando na minha frente e de Kylie- Camila é do Brasil, tem 17. Ben veio da Itália há seis meses e 13 dias e tem 18.
–Itália? Igual a Mandy?- a interrompo. Mandy é minha melhor amiga, veio de Roma quando eu tinha 10 anos, ela era bem tímida, bem, continua, mas mesmo assim de algum jeito nos aproximamos.
–Sim, mas ele veio do litoral- continua Natalie- Matheus tem 19 e é do Brasil também. Alice, 16 é Francesa- Kylie se ajeita do meu lado quando escuta o nome dela- e Max veio dos EUA tem 18.
–Acha que algum deles é... –Kylie deixa a pergunta no ar nos duas entendemos o que ele quer dizer
–Tenho a sensação que sim, mas temos que esperar. Ainda não achei a data de nascimento. –Natalie responde. No mesmo instante Rafa aparece
–Precisam ir lá embaixo, hora de explicar tudo para eles. - ele diz, e seguimo-lo.
***
Podemos dizer que a Fortaleza é como um daqueles castelos que aparecem nos livros em historias de princesas, a área hospitalar fica no segundo andar, no qual também fica a sala de treinamento e armas, no terceiro temos os quartos e refeitório, no quarto a quadra e piscina coberta, o último é onde se localiza a sala da administração, onde nossos treinadores e líderes ficam. O lugar para onde estamos indo, no entanto é o priemrio andar onde ficam a sala de recepção e o salão de festas, usado no natal, ano-novo, aniversários e datas especiais.
Os 5 novos moradores daqui estão sentados entre os sofás, Mandy está lá, junto com os pais de Natalie e seu irmão mais novo que corre pela sala. Percebo Max me encarando, ele não confia em nós, da pra perceber em seu olhar, desvio os olhos e continuo andando até o centro do local.
–Certo, vamos começar. –inicia Liza, nossa líder, mãe de Nat- Vocês preferem fazer perguntas ou preferem que tentemos explicar tudo para vocês?
Os cinco permanecem quietos.
Mandy sussurra para mim Eles não confiam em nós olho para ela e balanço a cabeça concordando.
–Vou levar isso como um podem contar- continua ela com um sorriso no rosto- Não vai ser algo que vocês vão entender direto, provavelmente demorará um tempo para tudo entrar na cabeça de vocês, mas estamos em vários aqui na Fortaleza, podem pedir ajuda para qualquer um, principalmente para esses cinco, -ela aponta para nós- eles serão os responsáveis por vocês. Devo dizer também que a historia que vou contar pode parecer um pouco com algo inventado, mas posso jurar que não é. Há milhões de anos um pacto coma Natureza vem sendo renovado de cem em cem anos. O pacto foi estabelecido pelos 8 primeiros anjos, na cidade CaleumSpeluncam, há teorias que essa cidade seja na realidade uma caverna, e apenas os escolhidos possam vê-la como deveria ser vista. Desde a origem do pacto 8 anjos anciões geram 8 filhos, que nascem em países diferentes, e em uma certa data esses 8 filhos dos anjos vão se encontrar e começar a procurar 4 objetos, não sabemos o que são e onde estão, sabemos que são objetos e que cada um significa um elemento. Água, Fogo, Terra e Ar. Tendo os 4 objetos em mãos esses oito filhos decidirão se renovaram o pacto com a Natureza. –Ben levanta a mão- Ahn, sim Bernardo?
–Me chame de Ben, -ele diz- O que seria esse Pacto com a Natureza?
–O pacto com a natureza seria a ligação dos homens com a Natureza, -explica Mandy- se ela percebe que os homens só querem a destruição, não tem boa intenção ela se revoltara e chamará um cometa, que ira trocar os polos de lugar, isso trará algo como a segunda Era do gelo, caos, coisas do gênero. - Ben concorda com a cabeça.
–Os demônios falaram disso- comenta Alice- de filhos dos anjos, o que ou quem eles são?
–Temos 5 filhos dos anjos aqui- diz Liza apontando para nós 5, os novatos ficam de queixos caídos, permito-me a sorrir- Mandy e Rafael são filhos dos anjos do fogo- os dois levantam a mão- Kylie é o filho da Terra- ele sorri-Minha filha, ou melhor, a criança que foi entregue a mim é filha da Água- Nat da um tchauzinho- e Mia é filha do Ar.
–E a Cristal...?- diz em um tom baixo Mandy, mas a ignoram, olho pra ela e balanço a cabeça, melhor não falar disso agora.
–Por que filhos de cada elemento?- pergunta Cami, agora que olho bem para ela, eu percebo que cortou seu cabelo, e que está verde nas pontas.
–Os anjos querem a paz entre a Natureza e os homens, -explica Kylie- para dar uma ajudinha, cada anjo deu a seu filho o que nos chamamos de dons que são poderes ligados ao elemento que eles representam, e claro, existem os SkyWatchers que são abençoados dos anjos, escolhidos para receberem dons aleatórios. Além de também ganharmos os dons, alguns SkyW ganham a habilidade das marcas, onde utilizam uma Estela, como a da Mandy- a mesma tira do bolso sua estela- e criam símbolos, que podem curar, criar portais, dar velocidade, força, inteligência entre outros, como não tenho uma dessas não decorei tudo que se pode fazer. - como ninguém fala nada ele continua- Cada filho de algum anjo também tem uma pedra, mas não se ganha ela, se acha ela. - ele mostra sua pedra verde no colar, toco a minha discretamente- normalmente se encontra ela em momentos aleatórios, achei a minha, por exemplo, quando andava na frente da floresta, Nat achou quando estava nadando e Rafa quando tivemos uma festa junina, no meio da fogueira.
–Algum de nós é um disso aí também?-interrompe Matheus
–Com certeza vocês são SkyWatchers, mas não temos certeza de se são filhos dos anjos também, faltam 3 para completar 8 de nós. – explico, Rafa murmura ao meu lado talvez apenas dois Nat da uma cotovelada nele e balança negativamente a cabeça- Saberemos isso ao longo dos treinamentos, quando desenvolverem algum dom, ou acharem alguma pedra.
–Vocês podiam mostrar para eles algumas coisas... -sugere o marido de Liza depois de alguns segundos de silencio. Os novatos arregalam os olhos e nos começamos a brincar. Até Peter para de correr para nos observar.
Sumo de imediato enquanto Ky levanta o sofá onde Alice e Camila estão. Mandy faz todas as luzes se apagarem e suas mãos começarem a brilhar, Rafa cria uma bola de fogo e começa a brincar com ela, fingindo deixa-la cair às vezes, Natalie se abaixa e toca o tapete principal o congelando aos poucos, a cara de todos nos admirando é incrível, volto a aparecer e crio uma leve brisa.
– É, acho que já deu. – diz Liza
Ky devolve o sofá no lugar, Mandy acende as luzes, Rafa cria uma bola de fogo menor, e faço o ar atravessa-la para conseguirmos descongelar o tapete sem alagar tudo.
–Por que não levamos vocês aos quartos? –sugere Rafa- Já devo dizer que os quartos são para duplas, e que meninos são de um lado e meninas dos outros – mesmo alguns não cumprindo essa regra penso- E meu quarto está com uma vaga, já que são três meninos, um pode ficar comigo, ou sozinho em outro quarto.
–Prefiro ficar no quarto sozinho- informa Mat, todos concordamos e vamos em direção a escada, os pais da Nat ficam lá nos olhando subir a escada, vejo Peter, seu irmão, correndo ainda pelo local. Respiro fundo. É ótimo se sentir em casa.