—... E então ela disse que queria que fosse um encontro! E a gente se beijou! — conta Naruto – o maldito bastardo – com o peito estufado como se estivesse realmente feliz.

Olho para ele com os olhos cerrados. Francamente, ele realmente acha que eu quero ouvir a sua historinha de amor? Basta falar que vai sair com a menina e pronto, porra. O meu mau humor aumenta consideravelmente depois que ele continua a tagarelar coisas sobre Hinata. Será que eu tenho cara de ser um amante de shoujo, ou algo parecido?

— Usuratonkachi. — começo a falar olhando atentamente para o loiro imbecil a minha frente, enquanto coloco uma expressão de superficialmente surpreso. — É claro que é mais fácil sete milagres tenham acontecido simultaneamente em vez de uma menina aceitar a sair com você em um encontro. — falo em um tom zombeteiro e Naruto fecha a cara. — É inédito, sim, mas eu não estou a fim de ouvir a história completa como a PORRA DE UMA MENININHA APAIXONADA! — grito para o maldito que em vez de começar uma briga comigo começa a rir e olho para ele chocado com a sua reação.

— Caralho Teme! — exclama Naruto após acabar de rir do jeito escandaloso e incômodo que sempre faz. — Eu sei que você é mal humorado, e tal, mas hoje você conseguiu se superar-ttebayo! — afirma para mim enquanto apenas reviro os olhos em resposta. Naruto, vendo que eu não falaria nada, olha para mim com um sorriso suspeito. — AH! EU ENTENDI! — grita. —Você está nervoso porque eu GANHEI! — afirma como se fosse o cara mais inteligente do mundo. — Eu consegui alguém antes de você e... — paro de ouvir o que o loiro insuportável fala.

Tá, o certo é xingar ele e dizer que isso não é uma competição, porque eu nem ao menos estou procurando alguém para sair. Entretanto eu e Naruto somos assim. TUDO em nossa vida é, era e será competido como se precisássemos ser melhor do que o outro. E o fato dele ter conseguido uma menina antes de mim – mesmo que eu não tenha procurado e rejeitado várias durante o intervalo de tempo – fere o meu ego. Mas é claro que ele não precisa saber disso.

— Você conseguiu antes de mim apenas porque eu rejeitei várias durante esse intervalo de tempo. — falo em um tom debochado para o bastardo abaixar o ego. — Se você considera isso uma vitória, você realmente é um perdedor de merda, Usuratonkachi.

Naruto fuzila-me com os olhos e dou um sorriso de canto, vendo que – como sempre – fui eu que venci. Ele fecha os punhos como se tivesse com uma vontade absurda de me bater – e provavelmente está, mas é claro que ele jamais conseguiria bater em Uchiha Sasuke – e de repente dá um sorriso como se nada tivesse acontecido.

— HÁ! — ele exclama e olho com uma expressão confusa para o idiota. — Se você pensa que me dobrou com essa conversinha escrota sua, Teme, você está enganado! — e começa a rir. — Essas meninas que ficam em cima de você não são nada comparadas a Hinata! — ele diz em um tom orgulhoso. — Mas a Sakura-chan... — ele diz em um tom pensativo e sinto o meu estômago revirar com o que ele havia dito. Cala a boca, Naruto! — EI! — ele olha para mim novamente ficando furioso. Depois eu que sou o bipolar da história, tsc. — QUE MERDA É ESSA DE QUE VOCÊ REJEITOU A SAKURA-CHAN QUANDO SAIU DA CIDADE UNS ANOS ATRÁS?! — berra Naruto no meu ouvido.

Gelo no no momento em que Naruto fala “rejeitou”. Como diabos ele tinha conhecimento dessa história?! Se Sakura nunca nem ao menos mencionou aquele dia para mim, não acho que contaria para Naruto, que tem uma boca gigante mesmo que seja amigo dela. (Naruto é daqueles que fala de uma forma impulsiva.) Fico nervoso ao ver o olhar que ele faz para mim, como se não fosse desistir de falar sobre o assunto, que foi a primeira coisa que passou em minha mente: distrair o idiota para que esqueça esse ocorrido. Bufo ao perceber que já passara cerca de três minutos que Naruto está me encarando com os braços cruzados esperando algum tipo de resposta minha. Merda, eu teria que falar com ele a sério, querendo ou não.

— Naruto, você se lembra de que época isso aconteceu? — pergunto em um tom cínico e ele assente de uma forma rápida sem se abalar. — Eu não estava no momento de ter relacionamentos. — falo e suspiro involuntariamente. — Além do mais, eu estava saindo da cidade com o meu irmão... Que sentido faria corresponder a Sakura? — pergunto.

Sakura não merecia nada disso. Na época, eu estava completamente arrasado e era uma péssima companhia para qualquer pessoa, até mesmo para o meu irmão que estava sofrendo junto comigo. Isso apenas faria ela sofrer mais, então cortar os laços foi o melhor a se fazer.

— Você poderia simplesmente não ter se mudado. — responde Naruto com a voz cansada, como se tivesse sem argumentos para me convencer.

Não o respondo. Na época, havia dito para Naruto que me mudei porque não aguentava ficar na casa que meus pais moraram um dia, mas isso não era de todo uma verdade. Meu irmão iria assumir a empresa do nosso pai na época e eu sabia que ele realmente não queria fazer isso sozinho, mesmo que a companhia fosse a minha, que naquele momento era uma merda. Não poderia simplesmente deixar a única pessoa que restara da minha família sozinha justamente nesse tempo. Naruto me avalia com uma expressão indecifrável e arregala os olhos por um momento e depois muda a expressão para uma estranhamente calma. Ele sempre me entendia melhor do que ninguém e isso sinceramente me assustava as vezes. Penso no que ele poderia ter descoberto com esse olhar.

— Tá, não vamos chorar pelo leite derramado dattebayo. — ele diz por fim.

Graças a Deus.

— Hm. — respondo para o loiro, sabendo que ele entenderia que eu concordo com o comentário. — Estou indo embora. — aviso e saio do apartamento de Naruto sem despedir direito dele.

Depois de sair da casa de Naruto, ando pelas ruas sem realmente pensar no que eu estava fazendo até notar no lugar em que eu havia chegado: o banco em que deixei Sakura quando me mudei. Cenas do dia invadem os meus pensamentos, me deixando com um sentimento ruim no peito.

“— Você está indo embora, não está? Por que você não me falou?!” Por que eu sabia que se você tivesse tempo, conseguiria me convencer a ficar, droga.

“— Eu vou dar o meu melhor... Por que eu gosto de você!” Aquilo havia me pegado de surpresa. Talvez, se ela tivesse me pressionado um pouco mais... Não, isso não poderia ter acontecido. Itachi precisava de mim... Mais do que tudo.

— Sasuke-kun? — escuto a voz de Sakura atrás de mim e assusto.

Só posso estar ficando louco... Olho para trás e vejo Sakura vestindo um vestido vermelho. E ele parecia com o vestido que ela havia usado naquele dia. Talvez fosse a mesma roupa, ou o mesmo modelo. O que diabos ela estava fazendo aqui?! Logo nesse lugar, logo agora, logo com essa roupa... Isso só pode ser algum tipo de ironia.

— Hm? — falo como se tivesse me perguntando o que ela queria, à minha maneira.

Ela dá um sorriso incrivelmente largo para mim, me deixando desconfortável e senta-se no banco, e faço o mesmo.

— Você ficou sabendo do Naruto e da Hinata? — ela me pergunta com um sorriso animado no rosto e assinto para ela. — E pensar que o Naruto ia arranjar alguém, lerdo do jeito que é... — comenta e depois começa a rir. — Mas ele merece. — ela acrescenta e olha para mim, esperando algum tipo de resposta.

Não falo nada. Sakura franze o cenho, como se achasse estranho eu estar mais calado que o normal e um silêncio desconfortável fica entre nós. Olho para ela, que fita suas próprias mãos bastante desconcertada pelo clima tenso.

— Sakura... — minha voz sai mais rouca do que eu poderia imaginar. — Por que você está aqui? — pergunto sem rodeios, nervoso pela resposta que ela poderia me dar.

Ela ergue a sobrancelha, como se estivesse levemente surpresa com a minha pergunta, e depois olha para o céu com um sorriso meio triste. Fica assim por alguns segundos e começo a me perguntar se realmente fora uma boa ideia falar isso para ela, logo nesse lugar.

— Sabe... — ela começa, ainda olhando para o céu com o mesmo sorriso triste. — Esse lugar me traz umas lembranças... — ela se vira para mim, com uma expressão neutra. — Você se lembra daquele dia?

Eu sei que ela sabia que eu sabia que dia que ela estava mencionando.

— Sim. — digo após alguns segundos ponderando se deveria responder a essa pergunta.

— Sasuke-kun... — ela sussurra com a voz magoada. — Você tinha ficado com tanta raiva de mim? Naquele dia? — ela respira fundo, como se estivesse reunindo coragem. — Você não olhou para mim, não me respondeu e disse que eu não era sua amiga...

A cada palavra que sai da boca de Sakura, sinto a mágoa aumentar no timbre de sua voz. Olho para ela completamente tenso, porque não sei o que fazer em situações como essa e também sinto uma culpa incrivelmente grande por deixar ela com essa voz tão triste. Não falo nada, embora continue encarando ela. Não poderia simplesmente contar sobre a situação do meu irmão – nenhum Uchiha gostaria de ser dedurado para os outros que estava emocionalmente instável e carente por companhia. Talvez fosse melhor assim, talvez Sakura desista de mim – eu não a merecia – e encontrasse alguém melhor, mesmo que ao pensar nela com outra pessoa me fizesse ficar completamente estressado.

— Sasuke-kun. — Sakura volta a falar, mexendo nos cabelos rosas com a mão trêmula, mas seu rosto está com uma expressão decidida. — Eu não me importo que você seja uma pessoa que não fale muito. Na verdade, eu até gosto disso... — ela confessa e desvio o olhar para qualquer coisa para não sorrir com a sua afirmação. — Mas nesse momento eu realmente preciso de uma resposta. Isso fica martelando todo dia na minha cabeça, droga! — a sua voz sai mais embargada que o normal.

Olho para ela e sinto uma dor enorme no peito ao ver que lágrimas estão saindo de seu olho. Sakura sempre foi uma garota que chora muito, mas isso não fazia com que eu me sentisse melhor, afinal, eu sou o motivo da sua tristeza e não consigo aceitar isso. Continuo a fitá-la e ela desvia o seu rosto, como se não quisesse que eu a visse chorando.

— Sakura... — sussurro o nome dela. — Olhe para mim.

Mas ela não olha, me deixando sem escolha a não ser pegar o seu rosto com as minhas mãos para que fique de cara a cara comigo. Faço isso, porém ela continua encarando o chão e chorando.

— Sakura. — a minha voz não sai rude, fria ou grossa como sempre sai.

Ela sai pateticamente de um tom de desespero, como se eu tivesse implorando para que ela parasse com isso. (E eu realmente estou, mas ninguém precisa saber algo vergonhoso assim.) Ela finalmente olha para os meus olhos ainda chorando, e passo o meu polegar levemente no seu rosto limpando as lágrimas que teimavam em sair no rosto de Sakura, enquanto continuo a encarando preocupado.

— Sasuke-kun...

Ela sussurra enquanto olha para mim com aqueles grandes olhos verdes que no momento estão brilhando por causa das lágrimas, que até alguns segundos atrás, estavam caindo em seu rosto. Acaricio o seu rosto com a mesma mão que limpei suas lágrimas e escuto ela suspirar. Fecho os olhos e respiro fundo tentando continuar com o autocontrole, mas isso só piora a minha situação ao sentir o cheiro dela. Nunca gostei de doces, mas aquele cheiro me atraia e ainda atrai muito e ao abrir os olhos percebo o quão perto estou dela. E Sakura ainda está me encarando, com aqueles olhos. Caralho. Bufo ao perceber que não iria conseguir mais me segurar, e percebo a expressão de confusão aparecer no rosto dela.

— Sasuke-ku — mas colo os meus lábios no dela, impedindo que ela terminasse a sua fala.

Por algum milésimo de segundo sinto Sakura ficar estática pelo que havia acontecido mas logo ela se recupera, deixando seus lábios entreabertos para que dê passagem a minha língua e a beijo com uma intensidade grande.