Sons of Theolen escrita por Live Gabriela


Capítulo 22
Arlindo - O Ataque dos Drows




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As botas marrons de couro caminhavam sobre a grama verde e macia da Planície Roxa durante a manhã de céu aberto. Os cabelos louros balançavam com a brisa fria, o sol aquecia sua pele clara e hidratada enquanto o clérigo ouvia o canto dos pássaros que voavam rumo ao norte. Arlindo olhava tudo com desconfiança, apesar da bela paisagem capaz de encantar qualquer seguidor do deus da natureza, ele sabia que não havia nada de natural naquele cenário.

Atrás de Dorothy, ele guiava o grupo até a colina onde eles haviam ido na noite anterior. Ele sugeriu para a garota que eles fossem até aquele local para tentar descobrir algo sobre a misteriosa e poderosa criatura de cabeça de tigre, que parecia ter controle sobre os esqueletos daquele lugar e por isso fora batizada pelo clérigo de Necromante, que nada mais é do que alguém com habilidades de conjuração que tem domínio sobre magias que usam energia negativa e podem controlar ou até mesmo criar mortos-vivos.

Apesar das ressalvas da paladina sobre o perigo que poderia ser encontrá-lo novamente, ela concordou com o clérigo quando ele a lembrou que o rei havia lhe dito que Steve Leon havia ido ao norte para acabar com o mal da região, sendo assim, havia uma chance do paladino Escolhido de Theolen ter sido enviado para matar a criatura de cabeça de tigre.

— É ali. – disse Dorothy virando-se para trás e olhando para Charly, Nipples e Solomon enquanto apontava para uma colina há alguns metros a sua frente.

Arlindo olhou para o morro íngreme e suspirou sentido um pouco de sede. Puxou uma garrafa de sua mochila virando-a ao contrário em sua boca, e tomando nada mais do que duas gotas de cerveja. Ele já estava sentindo falta de sua bebida sagrada.

— Isso aí já não acabou não? – falou Charly – Joga fora.

— Hum... – resmungou o clérigo – Você não entende como é. – disse um tanto emburrado, fazendo com que Charly o olhasse com certa desaprovação.

Arlindo sabia que o garoto imaginava que ele estava ficando apenas com abstinência, mas era mais do que isso. Diferente do que todos pensavam o clérigo não bebia apenas por prazer, ele o fazia como um meio de cultuar sua divindade, afinal foi assim que aprendera há sete anos, quando conhecera uma seita de Obad-Hai que cultuava principalmente a liberdade e a natureza. Arlindo tinha apenas 17 anos naquela época e há pouco havia saído de sua casa, em uma pequena ilha do reino de Brand, e ido para Theolen. Na grande cidade do reino nortenho ele aprendeu muitas coisas sobre seu novo deus, e por viver anos visitando com frequência o bosque sagrado no sul da cidade, onde a seita se localizava, ele aprendeu a tomar a cerveja para cultuar o deus da natureza, entendendo que a bebida fazia com que ele libertasse seu verdadeiro eu e tirasse as inibições de seu ser. O fazendo ficar cada vez mais próximo do seu eu natural.

O clérigo então guardou a garrafa vazia em sua bolsa e olhou em volta reparando, agora com a claridade do sol, que há pouco mais de dez quilômetros distância havia uma floresta a esquerda que beirava toda a planície em que eles estavam.

— Hey, tetudo. – disse ele, chamando por Nipples. – Deixe-me ver o mapa.

— Oh, aqui está, meu senhor. – disse o serviçal suspirando descontente enquanto prontamente levava o pergaminho amarelado até Arlindo, que murmurou curioso ao ver o mapa.

— O que foi? – perguntou o Charly ao seu lado.

— Esse lugar é bem estranho, não acha? – falou o clérigo virando o mapa na direção do garoto – Olha isso, tem essa fenda gigantesca que a gente atravessou, depois uma planície pouco menor do que a Vermelha, que acredito ser onde a gente está agora, e logo em seguida já começa uma floresta enorme e pelo visto muito densa que vai em direção ao norte.

— Ah, é um pouco estranho sim, mas é que o território daqui não é normal. – respondeu o Charly – Dizem que aqui é cheio de magia...

— Como sabe disso? – perguntou Arlindo com uma das sobrancelhas erguidas.

— Eu li num livro sobre Thorrun.

— Leu num livro, é?

— É, quando meu pai foi embora de casa ele disse que viria pro Norte arranjar dinheiro, então eu pesquisei um pouco sobre aqui.

— Então você é tipo aquelas crianças especialistas estranhas?

— Criança especia--? Não. Eu só conheço uma história ou outra. – esclareceu Charly – Sei que essa fenda gigante foi feita ainda na Primeira Era, marcando o fim daqueles tempos e a exata divisa dos territórios de Theolen e Thorrun.

— Hum... Então só agora estamos realmente em Thorrun? – perguntou o clérigo curioso.

— Aham. A Planície Vermelha ainda era Theolen, apesar de não ter nada lá porque é um deserto. – explicou o garoto.

— Odeio aquele lugar. – disse Arlindo fazendo uma careta ao se lembrar do terrível solo desértico da Planície Vermelha e de como aquele lugar o havia feito consumir todas as cervejas que carregava, para se refrescar do calor incessante do local, deixando-o sem nenhuma. – Não faz nem sentido ter um deserto ali... – resmungou.

— Talvez tenha ficado assim depois que o continente se separou. – ponderou Charly.

— E aqui virou um cemitério de noite e um adorável campo verde de dia? – questionou Arlindo.

Charly respondeu apenas erguendo os dois ombros e entortando a boca, mostrando que não fazia ideia da história daquele estranho lugar em que estava. Na verdade, pouquíssimas pessoas vivas sabiam que há milhares de anos, ainda na primeira Era do mundo, aquele lugar fora uma bela floresta, que devido à separação do continente e as centenas de batalhas que ocorreram ali entre os exércitos de Thorrun e de outros reinos que almejavam seu poder, fora totalmente desolada, transformando-se em um grande cemitério.

— Ele não está mais aqui. – disse Dorothy já no topo da colina, se referindo ao Necromante, enquanto abaixava o braço e abria os olhos após ter usado sua habilidade de encontrar auras malignas.

— Tem certeza? – perguntou o clérigo parando ao seu lado.

— Sim, eu com certeza reconheceria a aura dele se a sentisse de novo. – respondeu a paladina. – Mas eu continuo sentindo um grande mal vindo do chão. – disse franzindo o cenho.

— Talvez aqui seja um solo profano. – falou Arlindo.

— O que isso significa? – perguntou Solomon parando atrás deles.

— Quer dizer que alguém fez uma magia pra inserir energia negativa no chão, certo? – falou Dorothy olhando para o clérigo.

— Sim, normalmente esse tipo de conjuração é usado pra fortalecer mortos-vivos numa área por um período de tempo, que pensando bem, é curto demais para estar aqui até agora.

— Será que ele passou aqui recentemente? – perguntou a paladina.

— Hum... Não sei. – respondeu o clérigo pensativo. – Talvez a terra daqui tenha esse efeito por si só, sempre disseram que o Norte era amaldiçoado, talvez realmente seja. – concluiu.

— Então... – falou Charly observando no sopé da colina um buraco de cerca de três metros de comprimento e quase o mesmo de profundidade – O que é aquilo lá embaixo?

— Parece uma cova. – respondeu Dorothy notando dentro do buraco o que parecia ser um caixão de pedra quadrado.

— Oh céus... – disse Nipples preocupado.

— O que será que estava lá dentro? – perguntou Charly franzindo o cenho.

— Algo bem grande. – disse Arlindo.

— Acha que ele tirou alguma coisa morta dali de dentro pra... – Dorothy fez uma careta – Trabalhar pra ele?

— É possível... Você disse que ele era poderoso, isso significa que o ritual para criar um morto-vivo pode até ser caro para ele, mas com certeza não difícil.

— Hum... E não parecia que estava faltando dinheiro pra ele. – continuou a garota.

— É, eu vi que ele usava muitas joias. Eu diria até que de mau gosto, mas isso não vem ao caso. – concordou o clérigo. – O que importa é que ele pode usar o que quer que fosse a criatura dentro daquele caixão contra a gente.

— Não será um problema. – falou Solomon.

— Talvez não se for só um contra nós cinco, mas ele parece conseguir mandar em muitos esqueletos ao mesmo tempo. – disse Dorothy.

— É... Quanto a isso, eu estive pensando. Acho que é mais provável que ele estivesse comandando apenas os esqueletos que estavam mais próximos a ele do que todos que vimos ontem. – falou Arlindo.

— Por que diz isso? – perguntou a paladina.

— Bom, um necromante tem dois modos de controlar os mortos. O primeiro é criando os seus próprios, pegando um cadáver e dando vida a ele, gastando muito dinheiro e tempo. O segundo é controlando os mortos-vivos que já estão “vivos” – disse o clérigo fazendo aspas com os dedos – Para fazer isso ele pode tanto ser um conjurador arcano ou algum tipo de clérigo como eu, mas independente do que ele seja controlar essas criaturas não é fácil. E seria praticamente impossível que ele estivesse comandando todos aqueles esqueletos que nos atacaram ontem.

— Como pode ter certeza? – perguntou Solomon, descrente da teoria do clérigo.

— Acreditem eu estudei isso, sei do que estou falando. – argumentou Arlindo.

— Não sabia que clérigos de Obad-Hai estudavam necromancia... – comentou Charly com sua curiosidade de costume.

— Éhnn... – murmurou Arlindo entortando levemente a cabeça para o lado.“Não estudam” pensou em seguida.

— Tá, mas se eles não estavam sob o comando dele, de quem estavam? E pra onde eles foram? – perguntou Dorothy.

— Eu não sei, talvez estivessem apenas vagando...? – propôs Arlindo.

— Hum... – suspirou Dorothy – Bom, de qualquer modo, nós temos que achar o Necromante e forçá-lo a nos contar tudo o que está tramando e se ele viu o Steve por aqui. – disse a garota.

— E se ele nos atacar? – perguntou Charly.

— É possível que ele não nos ataque, ontem ele apenas conversou comigo. – falou Dorothy.

— Hey, ele conversou, mas não esquece que logo em seguida nós fomos perseguidos por esqueletos. Ele podia não estar controlando todos, mas alguns daqueles seria possível... – alertou Arlindo – É bom estarmos preparados para qualquer coisa.

— Minha senhora, não quero interromper, mas... Se há um perigo real de sermos atacados de novo por aquelas terríveis criaturas esqueléticas, nós não deveríamos arranjar um abrigo? – disse Nipples.

— Podíamos ficar no mausoléu de novo. – sugeriu Charly, fazendo o serviçal franzir o cenho e suspirar por ter de suportar lugar tão imundo e mórbido.

— É uma boa ideia Nipples – concordou a paladina. – Mas se formos até o mausoléu de novo Charly, vamos perder tempo, pois poderíamos estar avançando quando na verdade estaríamos voltando o caminho.

— Oh, não seja por isso minha senhora. Nós podemos usar o mapa para tentar achar novos abrigos e... – falou Nipples até ser interrompido pelo clérigo.

— Ouviram isso? – perguntou Arlindo após ter escutado um barulho não muito distante dali.

Todos fizeram que não com a cabeça e começaram a olhar em volta. O clérigo então começou a prestar atenção nos arredores e Dorothy rapidamente estendeu a mão procurando pela aura de inimigos, mas ela nada encontrou, ao contrário de seu companheiro.

Há alguns metros de distância da colina, havia uma árvore próxima a uma pedra de um metro de altura. Agachada atrás da pedra estava uma drow que acabara de esbarrar uma garrafa de vidro na pedra, fazendo um som muito característico que Arlindo conhecia por ele mesmo já ter causado, ao apoiar garrafas de cerveja nas mesas de pedra do bosque sagrado onde sua seita de Obad-Hai ficava.

— Tem uma drow ali, atrás daquela pedra do lado da árvore. – informou o clérigo.

Drows são uma espécie de elfo de estatura mais baixa e corpo esguio. Eles possuem, além das orelhas pontudas, a pele negra em tons arroxeados, cabelos brancos e olhos vermelhos. Normalmente vivem no subterrâneo e por isso falam a língua daquele lugar. Eles são conhecidos por sua grande inimizade com os elfos que vivem na superfície, além é claro, de sua conduta vil e cruel.

— Eu não consigo sentir a aura dela. – disse Dorothy com a mão esticada – Ela está muito longe.

— Nós vamos até lá? – perguntou Charly.

— Deixa que eu vou falar com ela. – disse Arlindo.

— Por que você? – perguntou Dorothy franzindo o cenho.

Arlindo parou por um breve instante antes de responder. Ele já conhecera drows antes e sabia que em sua grande maioria eles eram pessoas más e Dorothy, além de não ser muito boa conversando com estranhos, mostrava ter certa intolerância para com criaturas malignas, o que poderia criar um grande problema que poderia ser evitado caso ele mesmo fosse falar com a elfa negra.

— Bem, você sabe que eu sou bom com as palavras e com as pessoas. – respondeu ele sorrindo maliciosamente para a paladina.

— Ahn... Ta bem – concordou a garota desconfiada – Fale com ela e veja o que descobre. Nós vamos atrás pra caso dê algo errado.

O clérigo sorriu balançando positivamente a cabeça e então avançou calmamente na direção da drow que o encarava a distância. Ele pode perceber que ela estava segurando discretamente uma besta leve, provavelmente preparada para atacá-lo caso ela se sentisse ameaçada. Arlindo então parou a cinco metros de distância de onde a drow estava, com as mãos levemente erguidas para cima. Dorothy e o resto da equipe pararam a nove.

— Olá! – disse Arlindo em volume mais alto e em seguida começou a se apresentar amigavelmente.

A drow de lábios finos, batizada de Slyn, encarava o clérigo enquanto o ouvia a bajular e fazer perguntas sobre o local, até notar a humana que estava com ele estender a mão em sua direção. A elfa olhou para o lado e viu seu irmão Huln, escondido atrás da árvore à sua direita. Eles começaram então a se comunicar usando a linguagem de sinal que sua espécie desenvolvera.

— [Acho que eles vão nos atacar em breve.]– disse ela usando as mãos em seguida viu com sua visão periférica Solomon tirar seu martelo das costas.

— [Ela é a garota com a poderosa caixa que detectamos?] – perguntou Huln, também usando somente gestos para se comunicar.

— [Sim. Está em uma das mochilas, mas não consegui identificar qual.] – respondeu a drow.

Eles estavam se referindo à pequena caixa de madeira que Dorothy carregava consigo desde que saíra de Theolen. Uma drow sacerdotisa havia dito há cerca de três dias que eles encontrariam uma garota em meio aos mortos e que através dela eles encontrariam uma caixa de extremo poder, que poderia fazer com que o rumo da história mudasse caso eles a tivessem em mãos. Depois dessa previsão os batedores de Slyn e Huln vasculharam a Planície Roxa e observaram a equipe de Dorothy a uma distância segura, até agora.

— [Não se preocupe, nós vamos pegar.] – disse Huln – [Vou dar o sinal.].

Slyn fez um sutil sinal positivo com a cabeça, algo que não passou despercebido pelo clérigo que há algum tempo a estava analisando e já tinha quase certeza, pelos olhares rápidos que a elfa negra dava para o lado, que ela não estava sozinha.

— ... então, se você puder me dar algo pra beber, eu vou ficar realmente agradecido, este sol está impiedoso... – continuou o clérigo com sua enrolação, enquanto discretamente colocava a mão para dentro de sua bolsa mágica e segurava, ainda dentro dela, sua besta leve pronta para atirar.

Huln, ainda escondido e despercebido por todos, menos Arlindo, assoviou como um pássaro, fazendo com que o clérigo subitamente tirasse a besta da mochila e apontasse na direção da árvore. Dorothy ao ver isso puxou seu arco e flecha e atirou na direção da drow da qual ela havia há pouco sentido a aura maligna, mas a elfa negra já estava preparada e se escondeu completamente atrás da pedra, pegando cobertura com a mesma.

— Ela não está sozinha! – disse Arlindo mirando no drow escondido, enquanto dava alguns passos para o lado para atirar nele.

Charly então olhou em volta e viu uma árvore próxima, correu para trás dela com Nipples e puxou o arco curto, que havia achado na carroça do Ogro, das costas. Solomon com seu martelo já em mãos avançou na direção dos drows, mas antes que os alcançasse um virote de besta, vindo detrás da árvore, acertou seu ombro. Ao atirar em Solomon, Huln revelou sua posição para Dorothy, que aproveitou a oportunidade e puxou a flecha até perto da bochecha, soltando-a logo em seguida e acertando o peito dele.

Arlindo viu Slyn sorrateiramente erguer sua besta para acertar na paladina, mas antes que ela disparasse ele usou sua própria besta, perfurando o braço da drow com um tiro. A elfa negra então começou a gritar em uma língua usada por criaturas subterrâneas pedindo por ajuda. Sem entender ou se importar com o que a drow falava, Solomon pulou em cima da pedra que a estava protegendo e então desceu uma martelada em sua direção, mas Slyn era rápida e conseguiu, mesmo que por muito pouco, desviar do golpe do guerreiro.

Huln ergueu sua besta e com raiva a mirou na direção da humana que o havia atingido. Dorothy se movimentou para o lado e conseguiu desviar do tiro, em seguida puxou outra flecha de seu arco e a atirou na direção de seu adversário, que rapidamente se escondeu atrás da árvore, evitando o disparo.

Charly, que não estava diretamente envolvido no confronto, teve tempo de observar o que estava acontecendo e entender a situação. Ele sabia que mais inimigos chegariam então se preparou para enfrentá-los e em cerca de apenas alguns instantes ele viu um grupo de seis drows saírem de seus esconderijos entre as colinas, árvores e pedras que haviam na planície.

— Nipples, continue escondido aqui. Eu vou até aquela árvore. – disse o garoto apontando para a árvore que estava na direção em que os drows estavam vindo.

— Oh, meu senhor! Tem certeza de que isso é seguro? – perguntou o serviçal preocupado.

— Estou muito longe deles aqui, dali eu consigo uma mira melhor. – respondeu – Mas não se preocupe, se eles chegarem muito perto eu saio de lá.

Nipples fez sinal positivo com a cabeça enquanto o garoto corria para a esquerda. Arlindo notou Charly passando atrás dele e olhou para a direção em que ele estava indo, reparando o grupo de drows se aproximando. “Saco”, pensou então logo voltou sua atenção para Slyn e Huln, que eram um problema mais urgente. O clérigo apoiou sua besta nas mãos e disparou novamente, mas agora contra Huln, acertando suas costas desprotegidas.

— Tem mais vindo! – gritou Arlindo alertando seus companheiros de equipe.

Slyn sorriu por ouviu que logo teria reforço, ela largou sua besta no chão e tirou seu sabre prateado da bainha. Viu então o martelo de Solomon vir em sua direção e o parou com seu sabre, revidando em seguida com uma estocada no tronco do guerreiro, mas a armadura de Solomon era muito grossa e ela não conseguiu atravessá-la com sua lâmina. Slyn arregalou os olhos surpresa e então sentiu o impacto e a dor de uma flecha perfurando seu braço direito. Dorothy a havia atingido.

—[HUMANOS MALDITOS!] – gritou ela em subterrâneo.

Huln, após tomar um tiro do clérigo, mirou sua besta contra ele e disparou acertando sua perna de raspão, fazendo um corte superficial, porém doloroso. Arlindo rapidamente recarregou sua besta e revidou o tiro, acertando agora a árvore na qual o drow pegou cobertura. Huln começou a olhar em volta, viu que todos com exceção de Solomon carregavam uma mochila e as chances de ele conseguir tomar alguma de um deles era muito baixa. Ele começou a se retirar do local, mas antes de ir embora viu algo que o chamou atenção...

— Eles estão vindo! – gritou Charly ao notar que os novos inimigos já estavam perto o suficiente para usarem suas armas à distância.

Arlindo viu o drow fugir e então olhou para Charly, que estava mirando seu arco curto em um dos inimigos. O clérigo então foi para trás da pedra, onde Slyn estava escondida inicialmente, para se proteger melhor. “Tá, ficar exposto assim não é nada bom, hora de usar alguma magia” pensou ele puxando de seu cinto uma ânfora com água e a jogando em volta de si, conjurando sua magia de proteção que fazia com que a água se transformasse numa espessa névoa que o rodeava e protegia de ataques próximos, já que deixava sua posição incerta para os inimigos. Ao terminar de conjurar sua magia Arlindo notou algo fora do comum, a névoa não o estava rodeando, como acontecera quando ele usou contra Liminha, ela estava cobrindo apenas a parte da frente do seu corpo, deixando suas costas expostas.

“O que é isso agora?” pensou o clérigo confuso, mas ele já tinha uma noção da resposta. Já que estava sem cerveja há algum tempo, sua adoração à Obad-Hai havia sido comprometida fazendo com que suas magias também fossem. Ele não podia fazer nada sobre aquilo naquele momento, então apenas preparou sua besta para atacar os drows que se aproximavam.

Enquanto isso, Solomon erguia seu martelo e impiedosamente o acertava no braço de Slyn, que após o golpe, caiu no chão gritando. Ela, ainda caída, tentou acertar seu sabre na perna de Solomon, mas ele desviou do golpe e pisou no braço ferido da elfa negra, fazendo com que ela não pudesse mais atacá-lo. O guerreiro então ergueu seu martelo para um ultimo golpe, mas Dorothy acabou matando a drow com um tiro preciso em seu peito.

Ao ver sua inimiga sendo derrotada, Dorothy virou seu arco para os outros drows e atirou contra eles, mas não acertou em nenhum. Diferente de Charly que atingiu dois elfos com suas flechas e logo em seguida se escondeu atrás da árvore, não sendo percebido pelos inimigos.

Arlindo viu os drows se espalhando e alguns deles começaram a se aproximar, ele abaixou atrás da pedra e atirou contra um deles, que prendia seu cabelo branco em três rabos de cavalo. O drow desviou do tiro do clérigo e correu em sua direção enquanto outros dois o acompanhavam com bestas nas mãos. Eles atiraram contra Arlindo, mas por ter uma névoa na frente dele, eles não conseguiram enxergar a exata posição do humano de cabelos louros e erraram seus disparos.

Solomon avançou em direção à batalha e logo um drow atirou em sua direção. O guerreiro sentiu o impacto do virote em seu ombro esquerdo, mas ele não havia o perfurado, então correu em uma investida contra o besteiro e acertou uma martelada precisa em seu peito, o fazendo cambalear para trás. O drow largou sua besta e puxou da cintura uma espada longa, como a de Dorothy, e a golpeou contra Solomon, fazendo um pequeno corte em sua perna.

Charly mirou seu arco na direção do oponente de Solomon e atirou contra ele, mas na tentativa de não acertar o aliado com a flecha, o garoto acabou atirando longe demais. Enquanto isso Dorothy também atirava, mas infelizmente ela estava tendo dificuldades em acertar os esguios e espertos elfos e depois de errar três flechas seguidas ela decidiu guardar o arco e puxar sua confiável espada e seu escudo.

A lâmina do sabre passou ao lado clérigo, batendo na pedra ao seu lado. Arlindo subitamente largou sua besta e, ao se ver em combate com três drows ,pôs a mão sobre o bordado do símbolo de Obad-Hai em sua roupa, iniciando a conjuração de outra magia de proteção. Essa criava um pequeno campo de proteção divina que fazia com que fosse muito mais difícil acertá-lo, o que seria de grande ajuda naquele momento, se sua conjuração não fosse interrompida por um virote em sua nádega direita.

— Ah! – gritou o clérigo – Qual é o seu problema, cara?! – perguntou indignado para o drow que tinha uma cicatriz horizontal sobre o nariz e estava alguns metros atrás dele segurando uma besta em suas mãos.

— [O que foi? O traseiro está doendo, princesa?] – debochou o besteiro, sem que Arlindo entendesse o que ele dizia.

Arlindo se virou para seu inimigo, trazendo consigo sua névoa protetora, e puxou sua maça da cintura. Enquanto isso os dois outros drows se aproximaram, um deles trocou a besta por uma espada curta e o outro, o dos rabos de cavalo, usou seu sabre para estocar e acertar o braço do clérigo. Dorothy então foi até atrás do que usava uma espada curta, que já estava levemente ferido por uma flecha no ombro disparada por Charly, e fez um corte em suas costas, chamando a atenção do inimigo para si. Ele virou para a paladina e desferiu um golpe na direção dela, mas a garota ergueu o escudo e se protegeu da lâmina da espada.

Solomon há alguns metros dali lutava agora contra dois drows. Ele se defendia das lâminas afiadas das armas de seus adversários com as técnicas tradicionais de combate, usando seu martelo para desviar as armas e sua armadura para resistir aos golpes que o acertavam. Conseguia subjugar as defesas inimigas com sua grande força e seus golpes precisos e destrutivos. E apesar da desvantagem numérica, o guerreiro ia bem, mas as coisas começaram a ir ainda melhor quando Charly acertou um de seus inimigos, o enfraquecendo momentaneamente e o deixando sujeito a uma poderosa martelada do guerreiro. Solomon olhou rapidamente na direção do garoto e viu em seu rosto uma expressão de determinação. O Guerreiro Renegado voltou-se então para seus oponentes, os atacando com ferocidade enquanto Charly o ajudava a distância.

— De onde... Eles... Vieram?! –perguntou Dorothy enquanto movimentava sua espada e a batia contra a lâmina da espada curta de seu oponente.

— Eu não sei! – gritou Arlindo usando sua maça para defender o golpe que o drow com três rabos de cavalo lhe desferia.

— O que a drow te disse? – perguntou ela, agora batendo seu escudo na cara do drow com quem lutava e em seguida tentando o acertar com a espada enquanto ele desviava de seus golpes.

— Nada! – respondeu o clérigo empurrando o sabre de seu oponente para trás e acertando uma pancada com maça em seu braço – Eu me apresentei, mas ela não falou nada.

Dorothy então vociferou contra o drow e cravou a espada em sua barriga fazendo o elfo negro gritar de dor e acertá-la com um corte no antebraço antes de cair morto no chão. A paladina apertou os lábios então se virou para o drow contra quem Arlindo estava lutando, mas não antes de erguer seu escudo e se proteger de um virote do besteiro com a cicatriz.

O elfo com os três rabos de cavalo ergueu seu sabre defendendo-se da espada da garota e deu um curto passo para trás, desviando da maça do clérigo em seguida. Então levou seu sabre à frente do corpo, preparado para se defender de ataques, e começou a conjurar uma magia usando a língua selvagem, conhecida como sendo o idioma silvestre. Arlindo logo identificou as palavras, por também falar esse idioma na maioria de suas conjurações, e alertou Dorothy:

— Pule para trás! Ou ficará presa! – alarmou dando um pulo para cima da pedra ao seu lado.

— O que? – perguntou Dorothy confusa.

Então, subitamente, a grama do chão abaixo começou a crescer e enroscar nas pernas da paladina, prendendo-a ao solo. O drow sorriu maleficamente e seu companheiro que estava ali perto aproveitou a oportunidade para atirar novamente na garota, que mesmo sem conseguir se mover do lugar se defendeu do virote de besta com seu escudo.

Arlindo sem poder se aproximar de Dorothy, devido à área afetada pela magia, pulou de cima da pedra para perto do besteiro, lhe acertando uma pancada forte acima do peito, rachando sua clavícula.

— Isso é pela minha bela nádega ferida! – gritou, enquanto o besteiro gemia de dor.

O drow então usou sua besta para revidar o golpe, tentando acertar Arlindo com a estrutura de madeira de sua arma, mas graças à névoa que ainda rodeava o clérigo ele não foi capaz de feri-lo. Arlindo segurou sua maça com as duas mãos e a bateu contra o drow que usou sua besta para interceptar o golpe, em seguida repetiu o movimento, acertando agora o braço do elfo, fazendo-o fechar seus olhos vermelhos com o impacto.

— Arhg... Como eu me livro disso?! – gritou Dorothy pedindo pela ajuda de Arlindo, enquanto passava sua espada por entre a grama que a prendia e crescia de volta logo depois de ser cortada.

— Eu... Já vou! – gritou Arlindo, agora golpeando o drow com quem lutava com mais força para poder socorrer Dorothy.

— [Não, você não vai!] – falou o besteiro na língua subterrânea enquanto se defendia dos ataques do clérigo com sua besta e em seguida o acertava no queixo com um soco.

Dorothy começou a respirar mais rápido enquanto os galhos da árvore, a que ela estava próxima, começavam a se dobrar e prender seus braços próximos ao corpo a deixando cada vez mais presa. O drow com três rabos de cavalo deu alguns passos para trás, se afastando um pouco mais da área onde havia feito a magia, então guardou seu sabre e tirou das costas um arco longo.

— [Você não tem saída, garotinha.] – falou diabolicamente em subterrâneo enquanto puxava a flecha no arco e a atirava contra Dorothy, perfurando sua barriga.

— Dorothy! – gritou Arlindo ao ver a garota levar a flechada.

O drow besteiro deu risada e abriu a boca mostrando a língua, então bateu sua arma contra o clérigo que por muito pouco conseguiu bloquear o golpe com sua maça e em seguida revidou acertando o peito do drow que caiu no chão desequilibrado.

Arlindo se afastou de seu inimigo depois de jogar sua besta para longe e subiu de volta na pedra. Ele estalou o pescoço e começou a mexer as mãos em círculo e gesticular também com os dedos e os braços. “Vamos lá, vamos lá” pensou e começou a conjurar uma magia cujo efeito era desfazer outras magias. Claro, não era fácil, além de muita concentração Arlindo ainda precisava fazer com que sua energia divina fosse mais poderosa do que a energia da magia que ele queria anular. Infelizmente, o clérigo não estava com todo o poder que costumava ter, estava enfraquecido pela falta do álcool e por isso não conseguiu dissipar a magia que prendia Dorothy.

— [Você não é forte o bastante para quebrar minha magia, humano.] – disse o drow dos rabos de cavalo enquanto puxava o fio do arco junto da flecha, pronto para atirar novamente na paladina. – [Diga adeus a sua amiguinha...].

— [Vocês todos vão morrer!] – gritou o besteiro se arrastando até sua arma e se levantando em seguida, já mirando no clérigo.

Arlindo olhou para os dois drows preocupado, ainda sem entender uma palavra do que diziam, e fechou os olhos por um breve instante. “Obad-Hai, por favor... Eu sei que não fiz minha parte hoje, mas eu juro que assim que achar cerveja eu irei fazer uma adoração que você nunca viu antes... Só me ajuda nessa...” pensou então ouviu o som do disparo de uma flecha e em seguida de um corpo caindo.

O clérigo abriu rapidamente os olhos e olhou da direção da paladina, mas ela ainda estava de pé. Viu então o besteiro da cicatriz caído no chão enquanto, há alguns metros, Charly ofegante abaixava levemente seu arco e já puxava outra flecha de sua aljava.

O drow dos rabos de cavalo, ao ver seu companheiro cair, virou seu arco na direção do garoto, mas antes que pudesse disparar um martelo veio voando em sua direção e o acertou forte o suficiente para que ele erguesse o arco e soltasse a flecha para cima, acertando o nada.

Arlindo sorriu brevemente então aproveitou o momento de distração do inimigo para saltar de cima da pedra em que estava em cair em cima dele, deixando-o no chão sem sua arma.

— [Saia de cima de mim, humano! Ou vai se arrepender!] – esbravejou o drow, em sua língua, tentando empurrar Arlindo para o lado, sem sucesso.

Solomon então se aproximou para pegar seu martelo de volta, mas antes que caísse na armadilha mágica do drow Arlindo gritou:

— Não chega perto ou vai ficar que nem ela! – alertou, fazendo com que o guerreiro parasse imediatamente para observar o chão atentamente.

— Se não posso avançar como vai derrubar ele? – perguntou Solomon.

— Não precisamos estar perto pra isso. – disse Charly soltando uma flecha que perfurou profundamente a coxa do drow caído.

O elfo negro começou a esbravejar em subterrâneo enquanto tentava ao máximo se soltar de Arlindo.

— Ah, cala essa boca... – disse o clérigo, então segurou ainda mais firme os braços do drow contra o chão e o acertou com uma cabeçada na testa, fazendo-o desmaiar imediatamente. – Au... – disse colocando a mão na própria testa – Espero que isso não deixe uma marca. – revirou os olhou piscando levemente tonto enquanto levantava.

— Agora que você já acabou aí, será que pode me soltar, por favor? – pediu Dorothy.

— Não dá, se eu for aí vou ficar preso também, mas não se preocupe o efeito não vai durar muito mais... – falou o clérigo ofegante olhando para os três drows caídos a sua volta enquanto Solomon e Charly se aproximaram, evitando a área afetada pela magia do drow.

— Você está bem aí? – perguntou Charly para Dorothy.

— Sim. Não está machucando, só me segurando. – ela respondeu e o garoto sorriu. – Vocês estão bem? – perguntou a paladina.

— Sim, eu fiquei longe deles só atirando com o arco. Eles nem me viram direito. – respondeu Charly.

— E vocês dois? – perguntou Dorothy, agora olhando para Solomon e Arlindo.

— Estou bem. – respondeu Solomon tirando o virote de besta do ombro sem sentir nenhum incômodo por esse ferimento ou pelo corte na perna.

— Eu poderia estar melhor... – falou Arlindo olhando para seus ferimentos e em seguida olhando para trás, fitando o virote que perfurava uma de suas nádegas.

— Eles atiraram na sua bunda? – perguntou Charly dando risada.

— Pare de rir, não tem graça nenhuma. Isso é um legítimo ferimento de batalha! – justificou o clérigo enquanto cuidadosamente puxava o virote – ...deuses... – gemeu com a dor e então parou um instante, respirando fundo.

“Ohn... Por quê?!” lamentou o clérigo olhando para seu ferimento. “Vai levar várias sessões de cura para minha pele voltar ao normal! Isso se eu tiver sorte e não virar uma cicatriz! Credo...”, pensou então sentiu um arrepio subir sua espinha. “Melhor consertar isso logo”, pensou e puxou, aos poucos, o virote de sua nádega, fazendo várias caretas no processo que renderam a Charly algumas boas risadas.

Após esse momento a grama que prendia a Dorothy voltou ao seu tamanho normal e os galhos da árvore a soltaram e voltaram para o lugar, libertando enfim a paladina.

— Hey, você disse que estava bem... – disse Charly ao ver uma flecha fincada na barriga da garota.

— Eu estou, não está doendo muito. Mal atravessou minha armadura. – disse ela puxando rapidamente a flecha do corpo. – Acabaram? Não tem mais nenhum de pé?

— Não, derrubamos todos. – falou Solomon.

Charly então parou um instante e começou a olhar em volta, pensativo.

— Tá faltando dois. – disse o garoto.

— Como assim? – perguntou Dorothy.

— Tinham dois aqui quando nós chegamos, depois chegaram mais seis. Isso dá oito drows, mas só tem seis caídos aqui. – respondeu Charly.

— Estão escondidos? – perguntou Solomon, já ficando em posição de ataque e observando tudo à sua volta.

Arlindo, depois de estancar seu ferimento, começou a olhar em volta, assim como todos os outros procurando pelos inimigos restantes, então notou uma pequena adaga caída na grama, próxima dali. Ele apontou na direção da arma e Charly foi até ela enquanto ele usava uma magia de cura em si mesmo e cogitava ir atrás de uma pedra ver como ficou o resultado de sua cicatrização mágica.

— O que é isso? Algum deles deixou cair? – perguntou Dorothy olhando de longe.

— Não, essa adaga não é dos drows. É do Nipples. – respondeu Charly, que rapidamente se virou para trás e reparou que o pequeno homem não estava atrás da árvore onde havia se escondido inicialmente. – Onde ele está? – perguntou preocupado.

— Ah não... – lamentou a paladina olhando para a vasta planície esverdeada a sua frente enquanto via um pequeno talher caído no chão refletindo a luz do sol – Eu acho que eles pegaram o Nipples...


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Notas finais do capítulo

E Sons of Theolen está de volta o/
Leitores queridos, desculpa a demora pra postar capítulo novo (estive ajustando os nove primeiros capítulos), mas aqui está o clérigo lindo pra vocês ^^
Então me contem como vocês estão, se se divertiram nesse capítulo. O que gostaram, o que não gostaram, etc. Já sabem o processo... Estarei esperando seus reviews lindos, hein hahaha ;)
Até o maaaais :3