Sons of Theolen escrita por Live Gabriela


Capítulo 21
Solomon - Charles


Notas iniciais do capítulo

O texto em itálico ocorre no passado.



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Solomon abriu os olhos e viu o teto de pedra sobre sua cabeça. Olhou em volta ainda deitado e viu a luz da manhã entrando pela porta da pequena casa de pedra e batendo contra a estrutura retangular, que logo ele reconheceu como um túmulo, em que Dorothy estava apoiando as costas enquanto sentada ao chão.

O guerreiro respirou fundo e se sentou, notando o piso forrado com uma manta macia. Dorothy imediatamente olhou em sua direção e se aproximou.

— Bom dia! – disse ela sorrindo e agachando ao seu lado – Como está se sentindo?

— Onde está a Aparição? – perguntou ele se levantando e notando logo em seguida a falta de sua armadura e blusa.

— Não se preocupe, estamos longe da Aparição. – disse a garota olhando para cima – Mas você está se sentindo bem?

— Estou bem. Por que estou sem a armadura? – perguntou confuso.

— Ah, eu a tirei noite passada depois que você desmaiou. - respondeu ela se apoiando no túmulo para se levantar.

— O que? – ele perguntou estranhando a resposta da paladina.

— Era pra eu ver como você estava por baixo. – disse Dorothy corando ao notar o sentido ambíguo de suas frases – Quero dizer... E-eu só tava vendo se tava tudo bem. Se você estava machucado. – falou por fim.

— Han. – disse Solomon encerrando o assunto, já achando sua armadura perfeitamente dobrada e martelo colocados próximos à porta do mausoléu em que estava, possivelmente resultado dos sistemáticos procedimentos de organização do pequeno serviçal. – Por que estamos aqui? – perguntou pegando seus pertences enquanto notava o local mórbido em que estavam.

— Nós passamos a noite aqui, era o local mais seguro que tínhamos para nos proteger dos mortos-vivos. – esclareceu a paladina.

— Não estávamos longe da Aparição?! – questionou o guerreiro confuso.

— Nós estamos. É que nós fomos atacados por esqueletos ontem à noite. Eles surgiram algumas horas depois de sairmos da ponte, vieram de todos os lados, alguns até mesmo saíram do chão! Então nós começamos a correr, fugindo da batalha até que ficamos completamente cercados pelas criaturas.

— O que? – olhou um tanto espantado para a garota.

— É, foi bem desesperador. Nós lutamos por vários minutos contra os mortos, mas sempre surgiam mais e mais. Era como um terrível livro de terror. Arlindo conseguiu destruir alguns deles usando suas magias contra mortos-vivos e sua maça. E eu e Charly derrubamos mais alguns outros com nossas espadas, mas ainda assim, eles eram numerosos demais e alguns deles usavam armas e escudos, o que tornava o combate bem mais difícil. Por sorte nós conseguimos abrir a porta desse mausoléu e nos escondemos aqui antes que nossa desvantagem numérica e nosso cansaço e ferimentos fizessem com que fôssemos derrotados.

— O garoto estava lutando? – perguntou o guerreiro se exaltando.

— Sim, mas não se preocupe ele não teve nenhum ferimento muito grave. – disse Dorothy levantando as mãos tentando acalmá-lo.

— Onde eles estão?

— Lá fora. – respondeu ela.

— Os mortos foram embora, então? – perguntou Solomon, agora vestindo a regata branca que usava por baixo da armadura.

— Aparentemente sim, quando a manhã chegou nós paramos de ouvir barulhos e fomos checar o lado de fora, mas não havia mais nenhum esqueleto. Sem contar que todo o ambiente todo havia mudado. Você vai ver quando sair. – disse ela de modo amigável.

Solomon concordou com a cabeça então começou a colocar sua não muito nova armadura escamada, cobrindo seus braços fortes, seu tronco e parte de suas coxas. Ele ainda se sentia um pouco mais fraco do que normalmente, mas considerava que podia ser apenas cansaço da luta do dia anterior. Por isso terminou de vestir a armadura colocando suas ombreiras, cinto e a tira de couro dobrado que possibilitava guardar o martelo nas costas e saiu do mausoléu normalmente.

O céu estava claro e nele havia poucas nuvens. O clima do lugar era agradável e a paisagem cativante. O chão era coberto por uma grama verde e macia, as árvores vívidas balançavam com a leve brisa do ar e os arbustos floridos abrigavam pequenos coelhos brancos que pulavam de um lado para o outro. Um lugar muito diferente da árida planície arroxeada vista pelo guerreiro enquanto fugia da aparição na noite anterior.

Solomon apertou os olhos escuros, se acostumando com a claridade e franziu o cenho ao se deparar com tal cenário. Ele avistou, sentados a sombra de uma arvore, Charly, Arlindo e Nipples, comendo suas rações. O serviçal ao ver o guerreiro de pé, levantou-se apressado foi em sua direção com uma mistura de alegria e preocupação no rosto.

— Oh, meu senhor. Como está se sentindo? Precisa de alguma coisa? – disse o pequeno homem roliço em suas roupas cor vinho.

— Hum. – respondeu Solomon com a postura rígida de sempre – Tem água?

— É claro, meu senhor. Aqui está. – disse Nipples lhe entregando uma ânfora que estava pendurada em seu cinto.

Solomon começou a saciar sua sede e enquanto o fazia acabou ouvindo Charly e Arlindo conversando:

— Eu não vou gastar minha magia com você. Você não precisa disso... – falou Arlindo.

— Mas é claro que eu preciso! Eu também fui afetado por aquele bicho!

— Não tanto, agora para de me encher. Amanhã você já vai estar como era.

— Mas... E se vocês precisarem da minha ajuda de novo, hein? – disse Charly convencido.

“De novo?”, pensou Solomon curioso enquanto parava de beber a água e devolvia a ânfora para o serviçal que o observava atentamente.

— Do que eles estão falando? – perguntou Solomon.

— Oh, meu senhor, acredito que o Sr. Charly queira que o Sr. Arlindo aplique a mesma magia que ele fez no senhor mais cedo, para curar feridas feitas pela Aparição. Mas aparentemente o Sr. Charly não precisa dessa magia tanto quanto o senhor precisava.

— Eles fizeram magia em mim? – zangou-se o guerreiro.

— Oh sim, para que fosse possível que você acordasse ainda hoje, meu senhor! – disse Nipples com cautela.

—Hum... – resmungou Solomon insatisfeito. – E por que o garoto quer a magia se não precisa?

— Bom, ele ainda foi ferido na luta contra a Aparição, meu senhor. Apesar de ter conseguido se defender bastante contra ela.

— Se defender? Eu me lembro dele fugir com você.

— Oh, sim. Nós de fato fugimos, corremos até quase chegarmos ao outro lado da ponte, mas quando o senhor caiu, o Sr Charly correu para socorrer a Senhorita Leon e o Sr. Arlindo.

— O que? Que tipo de idiotice ele fez?

— Ora, meu senhor, não sou dotado de conhecimentos de batalha ou da eloquência de um contador de histórias para fazer jus aos acontecimentos em minha fala, mas o Sr. Charly enfrentou a Aparição e ganhou tempo para que a Srta. Leon e o Sr. Arlindo o tirassem da ponte. Pelo que entendi o jovem Sr. Charly utilizou sua inteligência e rapidez para desviar dos golpes da foice da terrível Aparição e escapar da mesma com vida. Ao chegarmos à terra firme a criatura não mais nos atacou então corremos todos para um lugar seguro.

Solomon ergueu levemente uma das sobrancelhas ao ouvir que Charly havia lutado contra inimigo tão poderoso e saído em um estado melhor do que ele mesmo havia saído. Então olhou para o garoto que continuava a conversa com o clérigo.

— Como assim eu não fiz nada? Você não sabe o que está falando! Já está bêbado! – exclamou Charly para Arlindo.

— Quem me dera... Meu estoque acabou ontem à noite – respondeu o clérigo cabisbaixo – Mas mesmo que eu estivesse bêbado, isso não mudaria o fato de você não ter derrotado a Aparição.

— Eu salvei a gente!

— Mas não derrotou ninguém. – implicou Arlindo com um sorriso no rosto.

— Claro que sim. Aquela coisa queria nos matar, eu impedi que isso acontecesse. Isso é derrotar um inimigo.

— Não!

— Ah, você é tão chato e teimoso quanto uma mula... – disse Charly revirando os olhos e cruzando os braços.

— Você me chamou de mula?! MULA?! – exclamou o clérigo indignado enquanto o garoto dava uma leve risada.

Risada que fez Solomon se lembrar de tempos felizes que já pareciam distantes demais para o guerreiro.

— Tudo bem? – perguntou Dorothy parando ao seu lado.

Solomon fez sinal positivo com a cabeça e foi em direção aos outros companheiros de sua equipe para pegar sua tigela de ração.

— Se sentindo melhor? – perguntou Arlindo erguendo as sobrancelhas, claramente esperando por um agradecimento.

Solomon ignorou o clérigo, pegou sua comida e se afastou indo na direção de outra árvore onde se sentou e começou a comer sozinho, deixando Arlindo boquiaberto.

— Eu salvo a vida do sujeito e ele nem ao menos me agradece... Que rude – comentou Arlindo balançando negativamente a cabeça.

— Você não salvou a vida dele. Eu salvei! – exclamou Charly enquanto Arlindo revirava os olhos e dava um pequeno tapa no ar, em gesto para que o garoto parasse de lhe perturbar.

Solomon ouviu aquilo e apertou a colher que usava para comer, a entortando levemente enquanto olhava bravo para o chão. Dorothy que ainda prestava atenção no guerreiro viu sua reação à fala de Charly e se aproximou, sentando-se ao seu lado.

— Estou bem – disse ele de forma seca, já se adiantando a pergunta que achava que a paladina faria e em seguida comendo uma colher de ração.

— Eu não ia perguntar isso agora... - disse ela abraçando as pernas - Eu só queria saber o porquê de você ser contra Charly nos ajudar em combate. Eu sei que ele é jovem e inexperiente, mas com o treinamento adequado ele pode nos ajudar muito.

Solomon ficou quieto e encarou o garoto por alguns segundos.

— Por que se preocupa tanto com ele? – perguntou Dorothy fazendo com que rapidamente o guerreiro voltasse seu olhar zangado para ela.

— Isso não é da sua conta. – ele respondeu áspero.

— Talvez não seja... Mas eu sei que você guarda algo dentro de si e se isso está te machucando quero que saiba que você não precisa lidar com isso sozinho – falou a paladina olhando profundamente em seus olhos, despertando em Solomon lembranças dolorosas dos piores dias de sua vida...

.

Solomon acordou e esfregou os olhos. Viu a claridade entrando pelas frestas da janela de madeira então se levantou e a abriu. Olhou para fora do quarto modesto da taverna-estalagem e viu a cidade baixa, parte mais popular da cidade de Theolen. Ele podia até mesmo ver os grandes muros da cidade, subindo por metros e metros no ar, fazendo uma grande sombra que cobria pelo menos dois bairros ali próximos.

O guerreiro então se vestiu, colocando uma camiseta simples de cor clara, calças escuras, botas e um cinto onde pendurava uma espada. Ele saiu do quarto e trancou a porta atrás de si, guardou a chave no bolso do lugar que ele chamava de lar e desceu às escadas que levavam ao salão da taverna.

— Solomon. – cumprimentou o anão taverneiro de cabelos desgrenhados com grandes entradas e barba escura.

— Thorbard. – respondeu o guerreiro – Algo pra mim?

— Danke está te esperando. – disse o anão de braços cruzado fazendo um movimento com a cabeça para que ele olhasse para trás.

Solomon se virou e foi na direção da mesa em que estava sentado um anão de 1,40m de altura com cabelos negros e compridos, barba longa com duas tranças laterais se conectando e um bigode também trançado. Sua pele era num tom bronzeado, seus olhos pequenos e negros e seu nariz grande e largo. Ele vestia roupas simples num tom esverdeado e carregava nas costas um grande machado de ferro.

Solomon conhecera aquele sujeito há alguns anos. Eles já haviam trabalhado juntos como mercenários contratados para o exército e como Danke tinha contatos lá dentro, muitas vezes conseguia trabalhos para Solomon.

— Levou tempo o suficiente para descer até aqui. – disse o anão sentado levemente de lado com um dos braços apoiados no espaldar da cadeira.

— Sinto muito, não sabia que havia um idoso me esperando. – debochou Solomon, se referindo aos 245 anos de Danke.

— Vou te mostrar quem é o idoso, seu troll careca! – falou o anão se levantando sorrindo e cumprimentando Solomon com a mão.

O guerreiro deu risada então logo os dois se sentaram e começaram a conversar:

— E então, como está indo? – perguntou o anão com um sorriso no rosto.

— Bem. E você?

— Ah... Eu estou mais do que bem. Essa nova regência está me gerando muito dinheiro! Eu até comprei uns encantamentos pro meu machado.

Solomon olhou para as inscrições prateadas na arma de seu amigo com certo desprezo. Ele nunca havia entendido direito a magia e não confiava nela. Enquanto muitos a viam como facilitadora, Solomon apenas sentia desconfiança, afinal já vira muitos conjuradores em ação. Alguns poderosos e outros que perderam suas vidas porque suas magias não foram suficientes para salvá-los, mas os piores com certeza eram aqueles que não conseguiam controlá-la e causavam a morte de inocentes, e algumas vezes, deles mesmos tentando fazer conjurações perigosas.

— Ahrg... Não me olhe assim. – disse Danke – É útil e você sabe disso.

— Se você diz... disse o guerreiro cruzando os braços.

— Hum... E você, tem conseguido muitos trabalhos? Porque se estiver interessado conheço uma nobre precisando de um segurança pra viagem.

— É por isso que veio? – perguntou Solomon, e Danke o respondeu afirmativamente com a cabeça – Bom obrigado pela oferta, mas não. Eu consegui uma boa quantidade de dinheiro nesses últimos meses, então resolvi parar por um tempo.

— Já está se aposentando? Você tem o que? Trinta anos? – Solomon sorriu levemente concordando com o anão – Há, quem é o idoso agora?! – debochou Danke se recostando na cadeira. – E seu irmão? Tá por aí?

— Não. Saiu em missão há alguns dias.

— Pro rei?

— Sim.

— Hum, ele realmente está desesperado atrás de novos homens. disse passando a mão na barba, ajeitando-a sobre o peito Mas se eu fosse ele com certeza renovaria minhas fileiras também. Tem muitos por ai que não gostam de ter um regicida no poder.

— É... Eu disse pro Charlie não ir. Ele não está pronto para batalhas, apenas para algumas missões de reconhecimentos, recarregamento de suprimentos, essas coisas. Além disso, não precisamos do dinheiro e a missão dele estava relacionada a essas novas investidas contra Brand. – Solomon suspirou – Mas ele disse que havia assinado um contrato que o cobrava duas semanas de serviço.

— Ah, missões perigosas essas... E eu ouvi sobre esses novos contratos, não há mais acordos feitos à base da honra e da palavra, o rei exige registros escritos de tudo o que acontece pra manter o controle. Esse Hammel é bem diferente do rei Campbell, não?! Ele nunca tomaria essa posição violenta e expansionista para o reino.

— Eu não ligo pro que Hammel faz, contanto que não atrapalhe minha vida ou do meu irmão.

— Com quantos anos ele está mesmo? – perguntou Danke.

— Dezesseis.

— Ah então não se preocupe. Provavelmente não enviarão ele pro campo de batalha. Ele é novo demais pra isso... - disse o anão mexendo os ombros enquanto balançava a cabeça negativamente.

Infelizmente Danke estava errado. No dia seguinte Solomon foi convocado por um oficial real a aparecer nas fortificações próximas ao castelo. Ele foi sem pressa, na verdade chegou três horas atrasado ao local, achando que deveria resolver algum tipo de papelada nova por ter saído um dia antes do serviço quando estava prestando trabalho para o exercito da cidade, mas não foi por isso que lhe chamaram.

Solomon foi enviado até um grande salão com dezenas de cadeiras enfileiradas horizontalmente. Nas laterais desse cômodo havia mesas embutidas nas paredes com garrafas de cervejas, vinhos e alguns petiscos que aparentemente haviam sobrado do evento que houvera ali.

Um elfo e um humano estavam no final do cômodo sobre um pequeno palco com algumas caixas de madeira empilhadas ao fundo, então se viraram para Solomon assim que o viram entrar.

— Por que me chamaram aqui? – perguntou o guerreiro adentrando o recinto.

— Sinto muito, mas você é...? –perguntou o elfo de pele acobreada e cabelos presos num rabo de cavalo baixo.

— Solomon Hahn.

— Ah... Sim. Sr. Hahn, o senhor está um tanto atrasado, mas isso não vem ao caso, não é mesmo?! – falou o elfo descendo do pequeno palco enquanto estendia a mão e cumprimentava Solomon – Me chamo Laucian. Por favor, sente-se e fique à vontade. – disse deslizando horizontalmente a mão pelo ar.

Solomon suspirou e se sentou em uma das cadeiras mais próximas ao palco, de onde o humano de pernas compridas e tronco arredondado foi até uma das várias caixas que ali estavam empilhadas e começou a vasculhá-la.

— E então... O que querem de mim? – perguntou Solomon.

— Nós não queremos nada de você, Sr. Hahn. Apenas o chamamos para lhe dar uma notícia. – disse Laucian e Solomon logo franziu o cenho – Nós recebemos informações da trágica perda da equipe 28 do batalhão 912 na tarde passada. Um grupo de jovens guerreiros foi derrotado quando tentaram a invasão primária do vilarejo da Pedra de Sangue do território de Brand. Esse vilarejo é um lugar de grande mineração de Hematita, pedra focalizadora de muita magia arcana e curativa. Algo muito interessante para o nosso reino. - informou segurando as mãos à frente do peito.

— O que está dizendo? – perguntou Solomon sério com o coração acelerado e o punho cerrado enquanto reclinava o tronco para frente.

— O batalhão 912 foi encarregado da tomada desse lugar, enviando a princípio uma pequena equipe de invasão e reconhecimento, composta por alguns batedores. - falou abaixando os braços e deixando as mãos abertas.

— Vá direto ao ponto. – ordenou o guerreiro impaciente.

O elfo suspirou e fez sinal para que seu colega se aproximasse. Esse logo o fez, carregando em suas mãos um martelo com a cabeça quadrada e uma das laterais modelada numa ponta afiada. Solomon reconhecera aquele martelo, era o mesmo que havia comprado para seu irmão há pouco mais de um ano.

— Os conjuradores protetores da cidade cercaram a equipe 28 antes de conseguirem reforços do batalhão, modelando o cenário para que eles não escapassem. Eles atacaram usando magias à distância e assim derrotaram a equipe... Nós sentimos muito, mas seu irmão, Charles Hahn, não sobreviveu à batalha.

Aquelas palavras ecoaram na cabeça de Solomon e o consumiram por dentro. Ele mal podia acreditar no que havia escutado. “Não pode ser verdade, não pode ser...” repetia para si mesmo enquanto olhava fixamente para o chão. Mas ao segurar o martelo frio ele sentiu que aquilo tudo era real.

Os dois funcionários do local se aproximaram enquanto ele se levantava e ia em direção ao canto direito da sala. Eles lhe ofereceram palavras reconfortantes que Solomon não conseguiu ouvir de tão aturdido que estava. Ele apenas viu o elfo tocar em seu braço.

— Deixem-me em paz. – pediu Solomon.

— Sr. Hahn, nós faremos isso, mas temos que pedir que assine--

Solomon o interrompeu pegando uma garrafa vazia e jogando com força contra o chão.

— Saiam! – gritou como uma besta ferida.

Os dois homens rapidamente saíram do ambiente e Solomon, tomado pela fúria da perda, começou a socar a parede a sua frente e a destruir as cadeiras a sua volta jogando-as para longe de si. Em alguns minutos ele destruiu metade do salão com as próprias mãos, mas sua dor parecia não parar, não importando o quanto ele extravasasse sua raiva. Ele recorreu então às bebidas que haviam sobrado no salão, e em algum tempo elas o deixaram levemente mais calmo, porém mais inconsequente.

Duas horas se passaram até que ele resolveu se levantar do chão e sair do meio das garrafas que o rodeavam. Com alguma dificuldade, por estar um pouco tonto da bebida, ele seguiu para fora do edifício militar. Sua mente estava nublada, seu juízo alterado e sua sede por vingança aguçada. Ele passara todo o tempo dentro do salão pensando o porquê daquilo ter acontecido.

Pensou nos malditos conjuradores e na cidade mágica, na estúpida missão de invadir o território de outro reino, no terrível contrato que forçara seu irmão a lutar, nas ordens de um rei que só pensava em vencer.

Solomon estava decidido a enfrentar o responsável por aquilo. Ele não sabia exatamente o que iria fazer, mas sentia a necessidade de encarar o homem. Por isso ele caminhou em direção ao castelo com o martelo em mãos, atrás do rei de Theolen.

Em alguns minutos ele passou pela segurança dos portões, derrubando quatro guardas que protegiam a entrada. Em seguida ele seguiu pelo jardim, onde alarmes soaram como buzinas altas enquanto feixes de luzes apareciam das luminárias do local e miravam em Solomon. Dois conjuradores arcanos correram e começaram a lançar magias em forma de raios na direção do guerreiro que graças a seus reflexos rápidos e seu fôlego incansável escapou delas e pegou cobertura contra as mesmas ao entrar no salão principal e fechar as grandes portas enquanto lutava contra três guardas.

Depois disso ele seguiu correndo para dentro do castelo e a cada cômodo que passava encontrava mais guardas. Ele lutou e derrotou um total de dezesseis pessoas lá dentro, e por mais que a vitória sobre esses inimigos fosse boa, por estar sem armadura ele se feriu gravemente durante todo o percurso até a sala do trono, onde por acaso, ele não encontrou o rei.

Solomon então foi em direção ao escritório real, subindo as escadas que levavam para o segundo andar e passando por um corredor comprido. Ao ver a porta da sala do rei o guerreiro segurou o martelo com as duas mãos e começou a golpeá-la incansavelmente enquanto esbravejava. Ao ponto que depois de cinco golpes ele fez um buraco na porta de madeira o que o permitiu ver Hammel sentado atrás de sua grande mesa fechando rapidamente a gaveta de sua escrivaninha e olhando desconfiado para ele.

Solomon ouviu os passos de novos guardas se aproximando então começou a bater ainda mais depressa e com mais força na porta para chegar ao outro lado. Enquanto ele gritava enfurecido e lágrimas acompanhavam o suor de seu rosto, o novo rei de Theolen apenas o observava em silêncio, levemente surpreendido.

— Você o matou! Você o matou, Hammel!!! Você – o – matou!!! – gritou Solomon com os olhos vermelhos e molhados enquanto deixava o buraco na porta ainda maior. – Seu assassino! Você vai pagar por isso!

Hammel se levantou de sua cadeira e saiu de trás de sua mesa indo em direção a ele, Solomon então em um impulso de raiva bateu seu martelo horizontalmente e derrubou a porta do rei, fazendo-a cair para dentro da sala, mas antes que pudesse fazer qualquer outro movimento Solomon sentiu seu corpo travar. Ele olhou para trás mexendo apenas os olhos e viu um destaque de mais de quinze homens se aproximando enquanto cinco deles estendiam as mãos em sua direção e conjuravam magias.

O guerreiro não pode resistir a tal poder e em alguns segundo desmaiou sob o efeito de uma magia de sono. Ele ainda pôde ouvir antes de apagar totalmente, as palavras distorcidas de Hammel sobre ele quando um dos guardas perguntou o que deveriam fazer com o prisioneiro.

“Apenas tirem-no da minha vista. Não tenho tempo pra esse tipo de coisa.”

Nesse dia Solomon foi jogado para fora do castelo e ganhou seu título de Guerreiro Renegado. Ele nunca mais tocou os pés naquele lugar e tampouco trabalhou novamente para a coroa. Sua fama cresceu, sua arma se tornou o martelo e ele viveu sozinho desde então.

.

Solomon olhou para Dorothy sentada ao seu lado com uma expressão um tanto preocupada no rosto e em seguida olhou para Charly ao longe e disse para a paladina:

— Ele me lembra de meu irmão.

Dorothy rapidamente se virou para ele surpresa por ter conseguido uma resposta, algo que ela realmente não esperava.

— O nome dele era Charles – continuou o guerreiro – Ele tinha 16 anos.

Dorothy abriu levemente a boca, enquanto olhava fixamente para o guerreiro. Pelo jeito que ele falava ela já conseguia imaginar o resto da história.

— Já faz um ano e sete meses desde que aqueles malditos conjuradores o cercaram e ... - Solomon parou de falar, apertando os lábios em silêncio.

— Eu sinto muito... – disse Dorothy depois de uma pausa, enquanto soltava as pernas e se impulsionava com os braços contra o chão para mais perto do guerreiro.

Solomon balançou a cabeça negativamente e voltou a falar:

— Esse martelo... – disse Solomon pegando a arma de trás das costas – É a única coisa que me restou dele. – Ele suspirou então se lembrou do dia em que saíra com seu irmão para comprar aquele martelo.

 

"– Por que diabos você quer um martelo? – perguntou Solomon com uma das sobrancelhas erguidas.

— Você está brincando? Se for pra começar a lutar e virar um guerreiro eu tenho que impor respeito nas pessoas. Um martelo faz bem isso, além disso, já viu quão legal é alguém lutando com um desses?! – respondeu o garoto alto de corpo atlético, pele acobreada, rosto quadrado e cabelos castanhos e lisos cortados até altura da nuca. Seus olhos castanhos e pequenos brilhavam enquanto ele segurava o martelo com as duas mãos e sentia seu peso em frente à loja de armas."

 

— É um bom martelo. – disse Dorothy olhando para a arma nas mãos de Solomon enquanto colocava sua mão sobre suas costas e encostava a cabeça sobre seu ombro.

— Sim, é um bom martelo... – falou o guerreiro com os olhos vermelhos enquanto observava seu reflexo borrado e imaginava o rosto de seu irmão no lugar.


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Notas finais do capítulo

Olá leitores queridos!
Sons of Theolen voltou do pequeno hiato das festas de fim de ano e está aqui agora com um capítulo revelador do Solomon, pra começar o ano respondendo às perguntas que vocês tinham com relação à esse personagem hahahaha
Bom, espero que tenham gostado! Então comentem, favoritem, acompanhem e contem pros seus amigos! ;D