Sons of Theolen escrita por Live Gabriela


Capítulo 23
Rakshasa - Visitantes no Castelo


Notas iniciais do capítulo

Capítulo escrito em conjunto com Mateus de Fraga Rodarte :)



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— É isso o que procura? – perguntou o elfo de pele acobreada e cabelos negros enquanto abria um saquinho de couro com algumas pedras dentro.

Uma mão com a palma invertida e pelos brancos e laranjas abriu a boca do saco. Os olhos amarelos e fendados observaram atentamente as quatro pedras que havia ali dentro, quatro ônix negros.

— Isso é exatamente o que procuro. – Sorriu a criatura de cabeça de tigre enquanto o vento do bosque passava por seus pelos compridos e brancos da cabeça e imaginava os rituais que em breve faria com aquelas pedras.

— Ótimo. Sabe, foi bem difícil conseguir essas coisas para você. Eu levei dias até conseguir me aproximar do local sem suspeitas e logo os outros vão notar a falta desses ônix. Eu preciso do que me prometeu agora! – disse o elfo que não aparentava ter mais do que seus 80 anos.

— Muito bem. – disse o Necromante puxando do bolso de sua calça azul, um cubo translúcido esverdeado. – Apenas aperte e estará no lugar que imaginar.

O elfo balançou a cabeça positivamente sorrindo e esticou a mão para fazer a troca, mas logo se lembrou de algo importante.

— Espera um pouco, isso aí só teleporta uma pessoa, não é? – perguntou apontando para o objeto.

— Sim.

— Então eu preciso de dois! Nadia vai comigo! Não posso abandoná-la, os humanos já sabem que estamos juntos e vão nos caçar, nos prender e se duvidar vão nos matar também! – falou o jovem.

— Bem... Isso parece um problema, mas felizmente, ele pertence a você e não a mim. – falou o Necromante com sua voz rugida.

— O que?! Nós tínhamos um acordo! Se não me der outro cubo eu não vou te dar esses ônix! – ameaçou o elfo puxando o saco com as pedras para perto de si e sacando uma adaga da cintura.

O humanoide felino revirou os olhos impaciente e olhou para o céu. O sol já estava quase a pino, então ele puxou de seu bolso um pequeno objeto preto. O relógio hexagonal, mostrando os 24 números que marcavam as horas do dia, apontava seu único ponteiro para o número seis, indicando que era meio-dia, e ele deveria estar em sua casa naquele momento, mas graças ao atraso deselegante do elfo ele não estava.

—Anda! Você tem mais disso, não tem?! Me dá logo mais um! – disse o elfo exaltado.

— Arhg... – bufou o Necromante – Eu deveria ter imaginado... Mas era um acordo tão simples... Serei mais cuidadoso com essas coisas, afinal o que esperar de um elfo ignorante que ainda não alcançou a maioridade.

— O que? Estou falando sério! – afirmou o elfo – Me de outro cubo ou eu vou pegá-lo a força! Vamos lá, eu só quero partir desse lugar...

— Muito bem. – concordou com um rugido. – Já que quer tanto partir...

O elfo afoito deu um passo para trás e esticou a adaga na direção da criatura, com receio de que ele puxasse alguma arma, mas não foi uma arma que ele tirou de seu bolso e sim um pequeno pedaço de vidro, entalhado na forma de um cristal de oito faces. O elfo, confuso, envergou uma das sobrancelhas, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa um raio elétrico, saindo diretamente da ponta dos dedos da criatura a sua frente, o acertou no peito, fazendo com que seus órgãos internos queimassem e parassem de funcionar imediatamente. O corpo desfalecido do elfo caiu no chão e logo o Necromante abriu a mão deixando cair os farelos do vidro que havia se espatifado depois da magia ser feita, e se aproximou, pegando o pequeno saco de couro de suas mãos e checando o status dos ônix, que estavam intactos.

O humanoide guardou o saco com as pedras dentro de roupa, então as orelhas felinas captaram o som de alguém se movendo. O Necromante observou por entre as árvores e viu uma garota humana com cerca de quinze anos de idade escondida atrás de um tronco, tentando ao máximo conter o choro. A criatura de cabeça de tigre olhou para a garota morena e em seguida colocou o cubo alaranjado no chão, próximo ao cadáver.

— Ele negociou isso por você. Pegue e parta para um lugar seguro. – disse para ela e então tirou seu próprio cubo do bolso e o apertou, fazendo com que apenas alguns míseros segundos depois ele se encontrassem em um lugar totalmente diferente e distante de onde estava anteriormente...

 

 

— Isso é incomum. – disse Yakoon, um drow careca de um metro e setenta de altura, ao observar os grandes portões de madeira que guardavam a entrada do imenso castelo à sua frente.

Yakoon havia vindo das terras de Brand, um reino muito distante dali, que era formado em sua grande maioria por ilhas e montanhas, além de uma grande península que era recortada por braços de mares. Em Brand, Yakoon trabalhava como militar e já havia invadido diversas cidades e castelos, dentre estes, cidades de gnomos, humanoides de baixa estatura muito conhecidos por suas aptidões técnicas e mágicas. Essas pequenas criaturas travessas viviam normalmente sob colinas e montanhas, fazendo de suas cidades subterrâneas, magníficas obras arquitetônicas. E mesmo com a experiência de já ter estado num lugar tão belo como as cidades desses pequenos humanoides, Yakoon ficou ainda mais impressionado ao chegar à Thorrun e nela admirar a imensidão das ruínas há muito feitas pelos antigos anões do norte.

Thorrun havia sido construída a duas Eras atrás e muito do que restava da grande civilização anã eram suas magníficas construções, como a que Yakoon estava no momento. O elfo negro havia ido ao local mais ao norte que alguém poderia ir, o Observatório. Uma estrutura colossal que ficava próxima à ponta norte da Escarpa de Thorrun e que abrigava em seu interior cidades inteiras abandonadas há muito tempo por seus donos originais. Era visível para o elfo negro que aquele lugar não poderia ter sido feito apenas com trabalho manual, mesmo que fossem de anões, os melhores nesse tipo de coisa. Não, ele sabia que o Observatório e todas as outras megaestruturas de Thorrun haviam sido moldados na terra e nas montanhas nortenhas graças à poderosa magia dos anões.

Isso o deixava, no mínimo, curioso já que em outras partes do mundo a magia raramente era associada a anões, isso devido a sua resistência natural a essa força mística e ao fato de que Moradia, o maior reino dessa raça, ficava no extremo sudoeste do mundo, onde a energia mágica não fluía bem. Thorrun, por outro lado, ficava em um ponto do planeta onde a força arcana fluía muito mais intensamente e havia sido construída por uma distante e extinta linhagem de anões viajantes que somaram suas distintas habilidades e conhecimentos com a eficiência de seus conjuradores para criar seu grandioso reino.

Yakoon olhou para o alto, vendo há metros e metros acima de sua cabeça grandes círculos vazados que atravessavam a estrutura do teto do gigantesco Observatório. Ele notou o sol a pino, vendo-o apenas pelo espaço recortado no centro do teto abobadado, e em seguida reparou como a luz que entrava naquele local era defletida por vários cristais espalhados pela imensa construção, estrategicamente colocados para refratar a luz em todas as direções e criar uma iluminação natural para todas as cidades que estavam dentro do Observatório, incluindo a em que Yakoon estava naquele momento junto de sua equipe.

— É um castelo bem grande... – disse Mayik, uma jovem clériga com uma trança embutida feita com seus cabelos claros em tom levemente azulado. – Tem certeza que aqui não é a capital do reino? – ela perguntou.

Então um grande estrondo ecoou da porta até as abandonas ruínas da cidade a volta do castelo. Em seguida o grupo de sete drows viu as portas se abrirem, revelando a criatura com cabeça de tigre, mãos invertidas e um estranho sorriso no rosto.

— Sim, minha convidada, por mais absurdo que pareça, as coisas na grande Montanha do Rei Anão são ainda maiores. – respondeu a criatura rugindo de forma quase simpática para a clériga.

Os drows estáticos, nada responderam. Já tinham visto vários tipos de seres vivos antes, mas mesmo com o preparo de seu treinamento e sua grande força de vontade, eles ainda ficaram surpresos e assustados com a criatura a sua frente.

— Hum... – miou o humanoide felino, colocando a mão invertida no queixo – Nunca viram alguém como eu?

— Você é um Rakshasa. – respondeu um dos drows depois de alguns segundos – Uma criatura vil e odiosa, dotado de poderes mágicos e com grande apreço por dor e sofrimento. – concluiu o elfo negro de braços fortes, fazendo com que seus companheiros o encarassem e em seguida se virassem para o Necromante.

— Está correto. – confirmou o Rakshasa sorrindo – Um pouco melodramático demais... Mas está correto. Agora, me acompanhem. – falou com sua voz urrada enquanto dava as costas aos elfos e adentrava em seu enorme castelo.

Os drows se entreolharam desconfiados de seu anfitrião e logo o seguiram enquanto combinavam de analisar todo o local com uma antiga comunicação não verbal, uma espécie de linguagem de sinais de sua raça que eles aprenderam ainda nos seus primeiros 100 anos de vida.

O grupo caminhou pelo castelo, passando por monumentais corredores que davam em ruínas de salas antigas e uma coleção de portas podres e emperradas. Yakoon reparou na rigidez e sobriedade da arquitetura anã, que mesmo empoeirada ainda era impressionante e muito diferente dos rebuscados e pequenos castelos gnomos.

Em algum tempo eles chegaram a uma grande sala de jantar, iluminada por cristais e lamparinas, com uma comprida mesa de madeira no centro sem nada em cima e uma pequena porta lateral. O Rakshasa sentou-se na cadeira da ponta da mesa e fez um gesto com as mãos para que os drows se aproximassem e se sentassem, e assim eles o fizeram.

— E então... – disse o Rakshasa – Quem são vocês e por que estão aqui?

— Me chamo Yakoon – disse o drow careca. – E viemos aqui porque nosso mestre nos mandou.

— Hum... Seu mestre? E por que ele mesmo não veio? – perguntou o homem de cabeça de tigre.

— Ele tinha coisas mais importantes para fazer. Além disso, não confiamos em você. Sabemos que há um bisbilhoteiro por aqui. – rebateu o elfo.

— E você acha que sou eu, certo? – instigou o Rakshasa com um sorriso no rosto e os olhos fixados em Yakoon – Afinal não há nenhuma criatura viva por aqui num raio de semanas de viagem. – mentiu.

— Ele disse que você tem nos observado, nos estudado como ratos! – exclamou.

— Ora, eu não diria isso, jovem drow. – urrou educadamente – Eu apenas fiquei curioso. Por anos não tive um grupo de visitantes tão grande quanto o de vocês, com exceção é claro dos moradores originais dessas terras frias e distantes.

— Os anões. – completou Yakoon.

— Vejo que está bem informado... – ponderou o Rakshasa – Devo supor que isso seja resultado de uma boa pesquisa sobre esse lugar. Os méritos são seus ou de seu mestre? – perguntou curioso.

— Isso não vem ao caso. – respondeu Yakoon com o semblante fechado – Nós queremos saber quem é você e o que quer.

— Oh, claro. – disse o Necromante se acomodando na cadeira – Entenda Sr. Yakoon, eu não teria problema nenhum em responder à sua pergunta, isto é, se de fato eu já a tivesse respondido da primeira vez.

— O que? – perguntou o drow confuso enquanto os outros se entreolhavam.

— Hum... Sinto muito se confundi vocês. – respondeu o Rakshasa – Vocês chegaram aqui assustados e vejo que ainda sentem grande desconfiança de mim, mas não devo dar atenção a isso, são apenas uma distração.

Os drows ainda mais confusos olharam para o líder de seu grupo esperando por sua reação, enquanto o combatente da equipe levava a mão discretamente até o cabo de sua arma.

— Não tenho tempo para lacaios. – continuou o humanoide felino – Eu devo negociar com seu líder, pois assim me foi narrado que virá a ser.

Yakoon sentiu certa impaciência e agressividade na fala do Rakshasa e discretamente, usando a língua de sinais, passou um comando para sua equipe antes que eles perdessem a oportunidade. Então rapidamente uma cortina de fogo foi lançada pelas mãos de dois drows na direção da criatura de cabeça de tigre, e dois raios verdes e ácidos foram evocados por dois conjuradores que também miravam em seu anfitrião. Mayik se levantou da cadeira e começou a entoar cânticos paralisantes enquanto o drow de braços fortes puxava sua maça estrela da cintura.

Assim que os ataques mágicos cessaram, Yakoon tirou sua lança das costas e pulou sobre a mesa. Depois de anos de experiência ele sabia que aquele era um ponto vantajoso, no qual ele poderia apontar sua arma diretamente para o rosto da criatura de feições felinas, isso se ele ainda estivesse vivo depois do ataque.

— Escute aqui criatura. – iniciou o drow – Você está em desvantagem. Renda-se agora e levaremos você até nosso mestre. Depois de ele conseguir o que quer, torça para que ele seja misericordioso com uma besta inferior como você.

Após terminar sua intimidação, Yakoon percebeu que, com exceção das mangas da blusa que estavam queimadas, o Rakshasa estava totalmente intacto. O elfo arregalou os olhos vermelhos e então viu o sorriso da criatura a sua frente, que em apenas alguns instantes desapareceu completamente no ar.

Yakoon começou a olhar em volta tentando descobrir onde estava o Necromante, foi então que Mayik, utilizando sua incrível audição élfica apontou para um canto da sala.

— Ele está invisível naquele canto! – gritou a drow.

— Rápido, peguem-no antes que fuja! Ele pode ter informações preciosas para o mestre. – disse Yakoon avançando cuidadosamente com sua lança na mão na direção da parede em que Mayik apontou.

O drow com a maça seguiu seu líder, assim como Mayik. Os outros quatro ficaram atentos a barulhos suspeitos e um deles, ao se assustar com um ruído lançou um raio na direção que acreditava estar eu inimigo. Infelizmente para os drows, ele apenas acertou a parede, fazendo uma fenda nela.

Alguns segundos de terror e silêncio perduraram naquela sala. Eles não conseguiam descobrir onde estava o Rakshasa, enquanto ele observava a todos como um predador observando suas presas.

Até que em um momento Mayik ouviu algo. Para não chamar a atenção do inimigo ela começou a falar usando apenas sinais, dizendo a Yakoon que havia escutado um barulho vindo do corredor principal, o som de algo grande e pesado.

Yakoon apontou sua lança na direção da porta e fez sinal para que todos avançassem em direção a ela. Os drows então cuidadosamente caminharam até a porta alta do salão, mas antes de chegar lá, uma grande bola de fogo apareceu carbonizando instantaneamente três dos quatro drows que lançaram magias contra o Rakshasa.

Mayik soltou um grito ao se assustar com o calor, a luz e a morte que rapidamente surgiram naquela sala, enquanto o drow ao seu lado segurava firmemente a maça estrela e olhava para os lados procurando o inimigo:

— Onde ele está? ONDE ELE ESTÁ?! – gritou ele desesperadamente.

— Acalme-se e se recomponha. – ordenou Yakoon que logo alterou seu curso e resolveu ir para a porta lateral, vendo que deveria sair rapidamente do salão já que era totalmente inviável lutar contra um oponente tão poderoso que ele nem sequer poderia ver.

A clériga e o drow mais forte o seguiram e viram um de seus companheiros ainda vivo, porém gravemente queimado, devido à bola de fogo. O conjurador pensou em pedir ajuda aos seus companheiros, mas sabia que não iria adiantar em nada. Ele era fraco e apenas os atrasaria, então puxou um pequeno vidro de sua bolsa tira colo e bebeu o líquido incolor que brilhou ao lhe descer a garganta, fazendo com que algumas de suas queimaduras cicatrizassem e ele fosse capaz de se mover novamente.

Yakoon chegou até a porta lateral do salão e logo notou que ela estava trancada, comandando então para que o drow com a maça quebrasse a maçaneta para eles saírem de lá. Mas antes que pudessem abrir caminho para ir embora daquele lugar, a porta principal foi aberta.

Um autômato de quase dois metros e meio de altura feito de pedaços de carne, que claramente pertenciam a diferentes corpos, montados e costurados numa única criatura com cheiro de terra e carniça adentrou o recinto. Seus braços tinham tamanhos diferentes e seu corpo era forte e assimétrico.

Mayik levou a mão ao pescoço, segurando seu símbolo sagrado em forma de aranha e o drow mais forte parou de bater na fechadura da porta e olhou para seu líder esperando alguma ordem. Naquele momento Yakoon já sabia que a porta que eles estavam tentando abrir estava magicamente fechada e que eles estavam sem tempo para poder quebrar a magia. Foi aí que notou a voz do Rakshasa, falando baixinho para a criatura de carne “cuidar” de seus convidados.

Yakoon rapidamente puxou um arco longo das costas e graças a sua incrível audição somada a suas habilidades há muito desenvolvidas de rastrear seus inimigos ele descobriu a posição exata do Necromante. O elfo negro atirou sua flecha contra o inimigo, o acertando em cheio, mas ele não viu sangue escorrer da criatura, ao invés disso viu a ponta de sua flecha dobrar e amassar levemente enquanto era arrancada do peito do Rakshasa, que agora aparecera visível para os drows.

Yakoon puxou outra flecha da aljava em sua cintura e logo apontou para o Necromante, mas ao ver o constructo de carne de aproximar do drow caído ele atirou na criatura, ganhando tempo para que o conjurador levantasse a mão e lançasse rapidamente um raio de puro fogo na direção do monstro. O raio alaranjado acertou no peito da criatura, mas em nada lhe afetou, então o constructo de carne caminhou até o drow caído e ergueu sua perna curta, larga e musculosa, descendo-a logo depois sobre a cabeça do conjurador arcano, esmagando seu rosto e matando-o em seguida.

Mayik assustada começou a entoar o cântico paralisante que normalmente parava qualquer que fosse seu inimigo, mas foi interrompida pelo drow careca.

— Magias não adiantam contra esse tipo de criatura. – disse Yakoon se afastando da clériga e dando a volta na grande mesa no centro da sala – É um golem, é praticamente imune a magias.

— Não deve ser imune a pancadas... – disse o drow forte segurando sua maça estrela com as duas mãos.

A clériga então rapidamente puxou seu sabre da cintura e junto de seu companheiro com a maça correu para atacar o golem. Yakoon puxou então duas flechas e atirou contra a criatura, acertando suas costas e deixando vazar um líquido preto e gosmento do ferimento.

Enquanto isso o Rakshasa ia em direção à saída. Ele olhou para trás a tempo de ver um drow ser arremessado de um canto a outro do recinto e Mayik ser pressionada pelo peito contra a parede pelas mãos do monstro de carne, mas não viu o que aconteceu à clériga, resolveu não assistir a sua iminente morte, mas pode imaginar como ocorrera já que ele ouviu o barulho estalado de ossos quebrando e os gritos da elfa negra alguns segundos depois.

Afastando-se da carnificina, o Rakshasa caminhou pelos vastos corredores de seu castelo, pensando sobre como aquela matança sem sentido seria totalmente inadequada caso ela não obedecesse ao curso do que lhe fora indicado, pois ao contrário do que os drows imaginavam, ele não sentia prazer em tal brutalidade. Ele era um homem de sonhos e ambições e tinha um objetivo naquele lugar, mas há meses via cada vez mais drows aparecendo por ali, algo que não o agradava já que considerava que essa raça de elfos era apenas um bando de fanáticos fundamentalistas extremamente apegados à fé.

Fé.

Aquela palavra dava arrepios no Rakshasa. Uma atitude hipócrita, já que ele confiava cegamente em seu informante que lhe dizia o rumo que as coisas deveriam tomar, mas justificável, pois fé lhe lembrava dos deuses e ele os odiava por tudo que haviam lhe tomado, pela dor da perda que lhe causaram. Ele os odiava com todas as suas forças, mesmo que isso não tenha sempre sido assim...

O Necromante então puxou de debaixo de seu manto uma pequena bola de cristal que ele não costumava usar muito, afinal tinha um método melhor de observar as pessoas, e viu através dela, um rastro de sangue, seis corpos de elfos e seu golem de carne com as duas pernas cortadas, caído no chão. Ao contrário de seus convidados, o monstro ainda estava vivo, se é que se pode dizer que ele possuía vida dentro de si.

“Muito bem...”, pensou passando uma das garras sobre o orbe mágico. “Agora devo apenas aguardar pelo líder” concluiu, sabendo que o drow que havia fugido iria relatar o acontecimento, atraindo a atenção de seu mestre para ele.

Satisfeito, o humanoide felino continuou seu caminho, passando por uma porta gigantesca de metal. Ela tocou a porta ativando um encantamento que a fez abrir sutilmente e então ouviu um ronco de dentro da sala que fora um dia uma torre. Ele parou guardado o orbe mágico em suas vestes e em seguida olhou para dentro da porta, observando o salão colossal de uma torre quebrada, repleta de tesouros abandonados pelos anões há muito tempo. Deitado sobre uma gigantesca gema esverdeada, era possível ver a enorme criatura de couro negro e cheiro ácido que estava ali dentro.

O Rakshasa olhou seu velho amigo adormecido enquanto ele movia levemente as imensas asas que brotavam de suas costas e esticava suas garras afiadas, quase como se estivesse tendo sonhos. “Não devo acordá-lo agora” pensou o Necromante enquanto via a enorme cabeça de aspecto esquelético com os olhos fechados e chifres voltados para frente. “Agora devo criar vida” concluiu seguindo pelo corredor em direção ao seu laboratório enquanto tirava do bolso um ônix negro e o imaginava no lugar dos olhos da criatura desmorta que há pouco havia descoberto na Planície Roxa.


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Notas finais do capítulo

Uhhh, um capítulo do Necromante!
E então o que acharam? Comentem aqui :3