Observei a capa do diário atentamente. Meus dedos passearam pela superfície lisa e marrom desgastada.

–Ela me mandou um diário velho. – Disse. –Que tipo de presente é esse?

Minha mãe mal me deu ouvidos, ela estava no telefone agendando provavelmente sua próxima sessão de manicure, dei de ombros, deixei o diário em cima da bancada impecavelmente lima da cozinha e me levantei.

Minha cabeça estava perfeitamente arrumada, tudo no lugar, minha mãe Jeanine odiava bagunça, e ela não tinha que se preocupar comigo, já que a única coisa que eu fazia era treinar minha andada, fazer poses para fotos no espelho e treinar maquiagens exóticas. Posso dizer que não tive uma infância como a das outras crianças, enquanto eles se sujavam e faziam desenhos com giz de cera, eu colecionava roupas bonitas.

Meu pai costumava ser meu herói, mas isso foi antes do acidente de carro.

Desde então tem sido eu e mamãe. Dimitri passa aqui a maior parte de seu tempo, somos melhores amigos para toda a vida – assim eu espero - e tenho que concordar que com ele passei vários momentos bons.

–Rose vamos! –Chamou minha mãe enquanto abria a porta. – Marquei uma cessão de manicure para depois do seu teste.

Rolei os olhos, isso era tão normal quanto beber leite pela manhã.

No meio do caminho meu celular começou a tocar escandalosamente dentro de minha bolsa.

–Nem pense em atender. –Repreendeu minha mãe. –Isso irá atrapalhar sua concentração Rosemarie.

–Preciso ver pelo menos quem é. –Digo enquanto saco o celular da bolsa.

O nome “Tasha” pisca na tela repetidas vezes, enquanto eu me sinto mais e mais culpada por ter que apertar um ignorar chamada.

Eu e Tasha somos amigas desde sempre, desde os primeiros anos da escola tem sido eu, ela e Dimitri contra o mundo e mais que todos ela apoiava os meus sonhos de ser modelo.

–Chegamos Rose.

Eu desci do carro rapidamente e arrumei meu cabelo, conferi a maquiagem e treinei o meu melhor sorriso. Respirei fundo.

A rua estava movimentada, a agência “Mark chic” parecia o destaque na rua que parecia tão meramente apagada. Havia um pequeno tumulto do lado de fora, percebi curiosa que algumas garotas não muito mais novas que eu, choravam nos ombros de quem pareciam ser suas mães. Imediatamente lancei um olhar para minha mãe.

–Você não está assustada, está Rose?

Minha mãe adorava me atordoar, e o olhar que ela me lançava agora tinha apenas um significado “Não se intimide, vença. ”

Cresci aprendendo a única mensagem que minha mãe nunca cansava de ensinar

“Existem dois lados, os dos vencedores e o dos perdedores, suas escolhas irão definir de que lado você ficará. ”

Infância um pouco medonha né? Tudo bem, eu superei!

Caminhamos até a recepção onde uma mulher alta de óculos modernos digitava rapidamente no teclado de seu computador. Seu rabo de cavalo ruivo balançava graciosamente enquanto ela mordia seu lábio nervosa.

Minha mãe pigarreou, mas a pobre recepcionista nem pareceu notar nossa presença enquanto digitava rapidamente. O rosto de minha mãe se tornou irritado, ela bateu a mão tão fortemente na mesa que a pobre recepcionista deu um pulo de sua cadeira com o tremendo susto que havia levado, não era para menos, até eu havia me assustado.

–Minha filha tem um teste marcado para hoje, exatamente para daqui a quinze minutos. –Disse minha mãe.

A recepcionista sorrio afetada.

–Sinto muito senhora, os testes foram cancelados.

O susto de minha mãe se assemelhou ao meu. Eu esperava por aquele teste a meses, ficara diversas vezes acordada na madrugada para ver o site daquela marca, eu simplesmente adorava aquela agencia.

Quando pequena, eu cheguei a fazer alguns anúncios publicitários, no entanto nada que poderia ser levado para frente, com 18 anos eu teria a minha chance, era nisso que eu acreditava avidamente.

–Você só pode estar brincando! – Surtei – Estou esperando por isso a meses! Eles não podem ter cancelado isso do nada.

A pobre recepcionista não estava preparada para minha fúria, creio dizer que nem eu mesma estava, mas fui consumida pela irritação precoce da situação.

–Eles escolheram outra garota para fazer a propaganda da marca de roupas. –Explicou a recepcionista. – Sinto muito, realmente.

Meu animo murchou, eu havia treinado tanto para isso e de repente alguém havia aparecido lá e sido muito melhor do que eu. A vontade de ter pele clara e cabelos loiros me dominou de inveja, a garota certamente deveria parecer uma boneca viva, com seus perfeitos olhos azuis, cabelos loiros e pele super branca, eles nunca que escolheriam alguém como eu.

–Pare de se culpar Rosemaire. –Ralhou minha mãe. –Tenho certeza que há algum engano.

Minha mãe queria tanto aquilo quanto eu, e ela simplesmente não conseguia aceitar o fato de que alguém mais bonita do que eu pudesse existir, era lisonjeiro da parte dela, mas eu tinha a plena certeza que isso era mentira.

Eu me virei pronta para sair daquela agencia com meu orgulho fortemente ferido, mas petrifiquei no instante em que a vi no meio de várias pessoas.

Tasha sorria cumprimentando diversas pessoas, seu cabelo cumprido castanho e levemente encaracolado balançado lindamente e exibindo um belíssimo brilho. Seu rosto petrificou quando a mesma me viu.

Eu me aproximei dela rapidamente.

–O que está fazendo aqui? –Eu perguntei.

Tasha sorriu, ela sempre fora tão boa comigo, certamente estava ali para me dar apoio.

–Vamos embora Rosemarie. – Minha mãe disse enquanto pegava o meu braço e me arrastava para fora.

–Mãe é a Tasha. –Eu disse como se fosse uma explicação lógica para eu estar ali parada.

Minha mãe olhou diretamente para Tasha, seus olhos soltando faíscas.

–Você quer contar, ou eu conto? –Ela perguntou rispidamente na direção de Tasha.

Então rapidamente eu entendi, na maioria das vezes eu era lerda procurando entender coisas, mas naquele momento tudo tinha feito sentido e eu rapidamente me lembrei de como eu havia conhecido Tasha: Nas passarelas.

–Você pegou a vaga. –Eu disse. –Por que não me contou que estava participando?

Tasha deu de ombros enquanto se aproximava de mim.

–Desculpe Rose, é a minha vida também e eu escolho para quem conto ou não.

–Pensei que fossemos amigas.

–E somos. –Ela disse. –Mas você quer ser modelo, e eu também, sempre existirá concorrência. Está chateada?

–Por que não me contou? Claro que sim!

–Mas Rose..

–Vamos embora mãe. –Eu disse enquanto me virava e seguia para rua.

Uma porta havia se fechado.

–Feliz aniversário! –Escutei ela gritando ao fundo.

“Que grande presente” – Pensei

Pessoas me encaram enquanto eu andei de volta para o carro, eu não me importei, se eu tivesse que parar seria para mandar todos ir a merda, então não fiz questão.