O dia estava negro.

Não literalmente, apenas figurativamente. Tudo onde eu olhava estava negro, o sol da manhã, os passarinhos na rua e até mesmo as pessoas pareciam sem cor e vida. Minha mãe havia comentado algo pela manhã enquanto tomava café a respeito deu escolher melhor minhas amizades, eu fingi concordar, mas na realidade nem prestar atenção em estava prestando. O suco estava sem gosto, o pão estava amargo e tudo parecia melancolicamente triste.

–Você está horrível. –Comentou Dimitri assim que coloquei o primeiro pé dentro da escola.

–Muito obrigada camarada. –Respondi. –É exatamente desse tipo de incentivo que eu preciso.

Dimitri era dois anos mais velho do que eu. No momento eu estava pronta para encerrar a etapa “ensino médio” da minha vida, Dimitri já estava na faculdade, cursando educação física – o sonho dele- para ser mais exata.

–Você falou com Tasha? –Ela perguntou

Mas é claro que ele já sabia da história toda.

– Sim. –Respondi. – Acho que ela poderia ao menos ter me avisado.

Na verdade, eu estava morrendo de raiva dela, por diversos motivos que eu poderia enumerar com a maior facilidade do mundo.

Ela mentiu.

Ela roubou o teste que era para ser meu.

Ela ganhou o teste.

Ela nem sequer cogitou a hipótese de me contar.

Pois é, que amizade linda, né?

–Ela não tem culpa Roza.

–De que lado você está? –Eu perguntei rispidamente.

–Do seu é claro. –Ele não demorou a contestar. –Só acho que vocês duas deveriam conversar.

Eu rolo os olhos para suas palavras e continuo andando.

Levantei meus olhos decidida a encarar somente minha frente, no entanto, me arrependi instantaneamente quando me deparei com eles. Lá estavam a personificação de beleza e graciosidade, o novo casalzinho da escola.

Lissa Dragomir era a garota mais popular de toda a escola, linda, magra, pele clara e cabelos loiros, sem levar em conta seus belíssimos olhos jade que pareciam brilhar incessantemente. De certa forma ela era irritante, no exato momento estava abraçada com MEU FUTURO MARIDO.

Christian Ozera era a personificação de PRINCIPE ENCANTADO, ele era maravilhosamente lindo e educado, nós costumávamos fazer dupla na aula de química, e eu meio que acabei tendo uma queda por ele – ou uma grande paixonite-. Eu pisquei algumas vezes tentando absorver a informação, eles estavam namorando? Como assim? Como ela pode?

–Sinto muito Rose.

Virei minha cabeça na direção de Tasha, uma face triste se alojava de forma dramática, e eu não sabia ao certo se o “Sinto muito” era pelo teste de ontem ou pelo Christian.

–Vou superar. –Disse dando de ombros, mas na verdade, eu queria chorar.

Respire fundo.

Não me obriguei a sorrir, andei pelo casal e passei reto, sem felicitações – eu deixaria isso para seus bajuladores de plantão – no momento eu só queria sentar.

–Rose espera! – Disse Dimitri.

–Me deixa Dimitri, você não tem aula agora?

Eu continuei andando rapidamente tentando passar despercebida por todas aquelas pessoas, até que o braço de Dimitri me parou bruscamente.

–Qual o seu problema? –Ele perguntou rispidamente.

Eu o encarei furiosa pela pergunta.

–Qual O SEU, problema? –O questionei.

E então Dimitri fez algo que eu nunca esperaria que ele fizesse: Ele me beijou.

Meu coração se acelerou descompensada mente, mas preferi acreditar que a adrenalina era culpada por isso. Seus lábios quentes dançaram no meu de forma estranha, uma agitação repentina tomou conta de mim antes que eu o empurrasse para trás.

–O que você está fazendo? –Eu perguntei já perdendo o controle

–Eu gosto de você Rose! –Ele disse.

Era engraçado ver Dimitri perder o controle quando ele quase não o fazia, fiquei assustada por suas palavras me abalarem tanto, completamente pasma por sua revelação.

–Como assim? –Perguntei

Me senti uma idiota por não entender antes, Dimitri, Meu Dimitri, nutria sentimentos diferentes de amizade por mim. Eu dei alguns passos para trás surpresa demais para contestar.

–Você gosta de mim? Como isso é possível? –Eu questiono. –Somos amigos, isso não pode acontecer...

–Mas aconteceu Rose, e você tem que saber que isso me afeta mais que tudo, eu estou apaixonado por você.

Eu não sabia o que fazer, então corri.

Eu não era boa correndo, na verdade, eu nunca fui. Acho que correr se baseia na sua vontade de velocidade, de repente eu só queria que as coisas passassem mais devagar e que muitas delas não tivessem acontecido.

Dimitri não me seguiu.

Eu poderia oficialmente considerar que meu décimo oitavo aniversário havia sido o pior de toda a minha vida. Eu havia perdido o teste de modelo, o garoto dos meus sonhos começou a namorar com a Barbie da escola e meu melhor amigo está apaixonado por mim, mas hey! Eu ainda tenho dignidade né?

Não consegui segurar as lágrimas até entrar no quarto, desabei enquanto abria o portão. Por que as coisas nunca podem dar certo? Por que tudo sempre tem que dar errado? Se meu pai estivesse aqui, ele logo falaria algo como: Tenha paciência pequena lutadora. Mas tudo o que eu não tinha agora era paciência, eu queria que tudo mudasse, eu queria que toda a minha vida mudasse.

Não tinha ninguém casa, então bati a porta com a toda a força que consegui, como se parte de minha raiva fosse sumir de repente, engano meu. Meus gritos ecoaram a minha frustração por toda a casa, tenho certeza que os vizinhos pensariam que eu estava doida, ou sendo atacada, e então depois que toda a raiva passou e depois que eu cansei de chutar portas e paredes, a tristeza me abateu. Eu chorei, não sei se por minutos ou horas, eu peguei meu celular dentro da bolsa e disquei o número de minha mãe, nesse exato instante eu precisava ouvir sua voz, mas ela não atendeu, sustentei a chamada até a caixa postal e então desliguei.

O chão estava gelado sobre minha pele quente, me apoiei sobre a cama para levantar, mas o lençol em que eu segurava escorregou fazendo-me voltar ao chão duramente, e então algo caiu em meu colo, o diário que eu havia ganhado de aniversário.

–Que grande droga. –Chinguei. – Um diário velho.

Encarei o diário por mais alguns instantes antes de decidir abri-lo, suas páginas estavam completamente brancas, sem nenhum indicio de sujeira ou algo do tipo de mofo, peguei uma caneta na gaveta da cabeceira e decidi começar a escrever.

“Otário Diário,

Minha vida está uma droga, minha melhor amiga pegou meu papel em uma agencia de modelos, meu namorado dos sonhos está namorando com a Barbie da escola e descobri recentemente que meu MELHOR amigo está apaixonado por MIM! Seria muito bom se alguma coisa desse certo em minha vida para variar, não acha? Por exemplo: meu sonho de ser modelo se tornar realidade, Christian finalmente ser meu namorado, e meu melhor amigo encontrar alguém que goste dele. Mas claro, contos de fadas não são reais, e eu continuo sendo a garota otária enrolada em seu papel de trouxa. “

Esfreguei meu rosto controlando as lágrimas e joguei o diário longe de meu alcance, do que adiantava escrever um destino que nunca iria acontecer?