Amor à venda. escrita por Nina Olli
Notas iniciais do capítulo
Olá leitores! Como prometido, a segunda parte. Tentei colocar uma imagem para testar essa opção do Nyah, se alguém não conseguir visualizar, me avisem. :) Espero que gostem!!!
"Em teu abraço eu abraço o que existe : a areia, o tempo, a árvore da chuva. E tudo vive para que eu viva". (Pablo Neruda)
Durante todo o jantar, Vincent não conseguia parar de pensar naquela maldita lista de desejos. Elaine era uma mulher de vontades modestas. Não precisava de muito para que a mãe ficasse feliz, e comprovou isso nos dias em que estiveram mais próximos.
Um simples telefonema já era o suficiente para satisfazê-la. E sentiu-se um cretino por isso. Nesses anos todos, dera pouca atenção à mãe e talvez agora fosse tarde demais para tentar recompensá-la.
— Isso aqui está uma delícia! — Elaine saboreava o seu jantar.
— Aceita mais um pouco de vinho? — Vincent ofereceu.
— De jeito nenhum, já abusei demais. E Deus me livre de levar mais uma bronca do meu médico. — Elaine gargalhou e o som de sua risada fez com que Vincent sorrisse também. Elaine estendeu o braço e tocou o rosto do filho. — Como você fica bonito sorrindo, meu amor.
Vincent franziu o cenho e olhou para os lados.
— Quando você tiver um filho assim, com um sorriso desses... — Elaine acariciou o rosto de Vincent com o polegar. — Você irá me entender.
Elaine terminou a sua taça de vinho e limpou cuidadosamente a boca com o guardanapo, em seguida, se levantou até a direção do banheiro.
Vincent observou a mãe se afastar e retirou do bolso o papel amassado que antes escondera. Fitou cada frase com atenção e uma ótima ideia lhe ocorreu. Eufórico, ele avistou o garçom e fez um sinal com a mão para chamá-lo.
— Esse lugar é simplesmente deslumbrante. — Elaine retornou à mesa. — Você realmente sabe como gastar o seu dinheiro. Costuma vir aqui com frequência?
— Costumava. — a voz de Vincent soou mais deprimida do que ele planejara.
— Entendi. Não precisamos falar disso. — Elaine lhe lançou um olhar compreensivo. — Eu adorei o jantar, muito obrigada por hoje, meu querido.
— Eu tenho mais uma surpresa.
— Oh, assim ficarei mal acostumada.
— Eu espero que sim. — Vincent levantou-se e estendeu a sua mão para Elaine. — Venha, vamos dançar.
xXx
Chegaram ao salão do terceiro andar e Vincent sorriu satisfeito ao flagrar a expressão maravilhada da mãe, queria lhe proporcionar uma noite agradável.
Ele balançou a cabeça positivamente e o garçom sussurrou algo para um dos integrantes da banda. Vincent segurou as mãos da mãe e a guiou até o centro do salão. Quando a música começou, Elaine travou o seu passo no primeiro verso.
“Why do birds suddenly appear / Every time you are near?”
— Essa música. — Elaine encarou o filho com surpresa, e a sua voz parecia emocionada.
— A senhora gosta dessa música? — Vincent dissimulou, e aproximou-se da mãe abraçando-a ternamente. — Vamos dançá-la, então.
Elaine encostou a cabeça no ombro do filho e em movimentos leves, para que não fizesse muito esforço, seguiu a canção. Vincent respirou o perfume da mãe, procurando memorizar cada detalhe.
A luz do salão era amena e dava uma sensação de conforto. Os casais ao redor eram de diversas idades e cada um deles vivia uma história diferente. Vincent soltou o ar lentamente. Para ele, aquilo não era apenas uma dança. Era um momento que jamais esqueceria.
— Eu te amo. — E era tão difícil dizer isso, principalmente para a sua mãe.
— Eu também. — Elaine respondeu de maneira simples. — Muito. Sempre. Não importa onde eu estiver.
Vincent respirou fundo antes de falar.
— A senhora não tem medo?
— De morrer? — Elaine permaneceu com a cabeça apoiada no ombro do filho. — Medo não. Só acho uma pena ter que morrer quando existem tantas coisas que eu ainda não conheci.
— A senhora ainda pode realizar muitas coisas. — Vincent se afastou para que pudesse fitá-la. — E eu estou aqui para garantir isso.
— Você já me deu a maior realização, meu querido. Você me fez mãe. — Elaine limpou o canto dos olhos, secando a ponta de uma lágrima. E antes que a música terminasse, ela afastou-se dos braços do filho.
— A senhora está sentindo alguma dor? — ele a encarou com preocupação.
— Eu estou ótima. É só... — ela encarou o salão como se procurasse por algo. — Me dê um minuto para que essa velha chorona se recomponha, eu não demoro.
Vincent assentiu e viu a mãe se afastar. Andou pelo salão enquanto a banda continuava a canção. E então, os seus olhos fixaram-se em um casal e ele imediatamente reconheceu o homem que conduzia a dança. Era Matthew Green. E a mulher que dançava com o produtor estava de costas, mas apesar de não vê-la, a sua silhueta era levemente familiar.
Semicerrou os olhos e os observou por mais alguns segundos, quando de repente, a moça rodopiou.
“Just like me, they long to be close to you...”
E Vincent pode ver o sorriso de Gilan iluminar o ambiente.
Cada. Maldito. Canto. Daquele. Lugar.
A sua assistente dançava com Matthew Green e eles estavam muito próximos. Desde quando eles eram amigos? Ou seriam mais do que isso? Sem perceber, começou a andar aceleradamente, se aproximando cada vez mais do casal.
Um gosto amargo desceu pela sua garganta e a dor dilacerante em seu estômago fez com que ele hesitasse. Apertou o abdômen com força e retomou a velocidade dos passos. Não deixaria que uma crise de gastrite o impedisse justamente agora.
Não. Agora não.
A música acabou, e com isso, os seus batimentos aceleraram ainda mais. Gilan sorria. Sorria para o produtor de uma maneira que ele jamais havia visto antes. Ela tocou nos braços de Matthew e naquele mesmo instante Vincent os alcançou.
Ali estava ele. De frente para o jovem casal, que de tão entretidos sequer notaram a sua presença.
— Será que eu posso participar dessa conversa tão animada? — tentou sorrir despretensiosamente, torcendo para que tivesse conseguido.
Nenhum dos dois pareceu apreciar a sua intromissão, e Gilan até mesmo o encarou com uma expressão aterrorizada. Sentindo um incômodo ainda pior em seu estômago, Vincent fechou os seus punhos com força e continuou a falar.
— Agora que eu cheguei o assunto acabou? — perguntou com uma ironia desnecessária.
— De maneira alguma, Vincent. — Matthew respondeu tão calmamente que quase fez Vincent rosnar. — Era apenas uma piada interna. — e o produtor piscou para Gilan.
Vincent cerrou ainda mais os pulsos. A assistente não disse uma só palavra e nem sequer lhe dirigiu o olhar. Gilan estava irritada com ele? Irritada por ter sido interrompida nesse encontro sem graça?
Francamente, qualquer babaca poderia levá-la a um restaurante.
— Precisamos conversar. — ele ordenou com a voz enérgica.
— Agora? — Gilan franziu o cenho tentando entender o que acontecia.
— Sim. Agora. — Vincent segurou em suas mãos e a puxou para perto de si. — Nos dê licença, Matthew.
Vincent atravessou o salão segurando o pulso da assistente. Sentia a pulsação dela tão alterada quanto a sua.
— Sr. Parker, para aonde nós estamos indo? — Gilan perguntou ofegante.
Vincent continuou a arrastando pelo salão, e então, chegaram até a escada caracol.
Desceram alguns degraus antes de Vincent travar o passo repentinamente. Ele soltou o pulso da jovem, mas não a olhou. Fixou a sua atenção nas luzes da cidade refletidas na redoma de vidro que revestia a escada.
A assistente parecia confusa com aquela situação. Mas Vincent não tinha o quê dizer. Deu-se conta de que agira por impulso, e agora que já estavam longe do salão, não conseguia pensar em nada para quebrar aquele silêncio constrangedor.
— A minha mãe... — ele disse finalmente, encarando a jovem.
— Aconteceu algo com Elaine? Ela está bem? — Gilan ficou imediatamente agitada com a simples menção à Elaine e Vincent sentiu-se agradecido por isso.
— Ela já teve alta e está ótima. — ele respondeu, escondendo um meio sorriso. — Foi uma cirurgia simples. Inclusive, ela está aqui.
— Aqui? — Gilan olhou em direção ao terceiro andar. — Ela ficou no salão? Eu gostaria tanto de vê-la. — a assistente se afastou, mas Vincent a segurou novamente, impedindo que ela voltasse ao encontro de Matthew.
— Fique aqui, Gilan.
— O que está acontecendo, Sr. Parker?
— Nada. Só preciso falar sobre a minha mãe. — Vincent fitou os enormes olhos da jovem. Eles sempre foram tão brilhantes assim ou era por causa da luz? — Podemos conversar em outro lugar?
— Outro lugar? — Gilan franziu o cenho. — Tudo bem, mas... Eu preciso avisar o Matt e a minha irmã que eu-
— Não! — e a voz de Vincent saiu mais alta do que ele esperava.
— Como? — a jovem perguntou ainda mais confusa. — Sr. Parker, o assunto é grave?
— Eu posso jantar com vocês?
Eu posso jantar com vocês? Deus! Que tipo de pergunta foi essa? Isso sequer fazia sentido, ele ainda precisava levar Elaine para casa.
— O senhor quer jantar comigo e com os meus amigos? — Gilan parecia tão apavorada que Vincent quase se sentiu ofendido. — Olha… Eu realmente preciso avisar a minha irmã. Eu encontro com o senhor no primeiro andar, pode ser?
— Confirmado.
Assim que Gilan se afastou, Vincent ponderou melhor. Ele havia agido feito um completo maluco. Não existia nenhuma razão para que ele ficasse ali e jantasse ao lado de pessoas que ele mal conhecia. Até porque ele tinha acabado de jantar.
O mal estar que sentiu ao flagrar Matthew com Gilan também não tinha o menor cabimento. Ambos eram jovens e ótimas pessoas.
Faziam um belo par.
E pelo pouco que conhecia de Matthew, ele não seria uma má companhia para a assistente. Ele era um rapaz equilibrado, educado e íntegro. Um pouco sorridente demais, mas ainda sim, um bom partido. Decidiu ir atrás de Gilan e apenas se despedir.
Apenas se despedir. Sim. Ele faria isso. Diria adeus ao jovem casal e sairia dali.
xXx
Gil subiu até o bar sem compreender o que acabara de acontecer. Primeiro, o Sr. Parker interrompeu a sua conversa com Matt, em seguida, a arrastou para fora do salão sem dizer nada que fizesse sentido. Será que depois de tanto trabalho, o chefe havia enlouquecido de vez?
Quando chegou ao segundo andar, avistou Matt e Henri na máquina de música. O produtor lhe deu um aceno com a cabeça e Gil entendeu que estava tudo bem entre eles, apesar da rude intromissão do Sr. Parker. Sentou-se ao lado da irmã e a atualizou dos recentes acontecimentos.
— O SR. PARKER QUER JANTAR COM A GENTE? — Kerya praticamente gritou.
— Fala baixo. — Gil procurou Matt e o amigo musculoso da irmã com os olhos, e por sorte, eles continuavam entretidos com a Jukebox.
— Que coincidência terrível. E Agora? — Kerya resmungou.
— Ele é o meu chefe. Não consegui me esquivar.
— Eu bem que te avisei que dizer o nome daquele lunático traria azar... — Kerya fez uma careta que desapareceu em segundos quando fitou o homem que se aproximava da mesa delas. Gil se virou para ver quem era.
— Boa noite. — o Sr. Parker cumprimentou cheio de boas maneiras, coisa que Gil sabia que ele não tinha.
— Kery, esse é o líder da equipe, Vincent Parker. Essa é a minha irmã, Kerya. — Gil disse com a mesma simpatia forçada do chefe.
— M-Muito prazer. — a voz de Kerya quase não saiu. — Aceita uma cerveja?
— Claro, mas não se incomode. Eu mesmo busco para as senhoritas, só um momento.
Quando o chefe se afastou, Kerya cruzou os braços e olhou severamente para Gil.
— O que foi? — Gil perguntou.
— Você nunca me disse que o Sr. Parker era assim.
— Assim como?
— Inacreditavelmente gostoso. — Kerya levantou uma das sobrancelhas. — E pelo amor de Deus, se você me falar que nunca percebeu esse homem, eu desisto de você, Gilan.
— Ele é o meu chefe, caramba. — As bochechas de Gil ficaram rosadas.
— Mas da forma que você o descrevia eu jurava que ele tinha no mínimo uns sessenta anos.
— A idade mental é mais ou menos essa mesmo.
— Mas a bunda, definitivamente, não é. — Kerya mordeu os lábios observando Vincent.
— Você é louca! — Gil não conseguiu segurar a gargalhada.
— Do quê vocês estão rindo? — Henri, o musculoso, perguntou.
— Gilan estava elogiando a bunda do Sr. Parker. — Kerya despejou.
— Kerya! — Gil olhou com certo desespero para Matt que apenas sorriu amigavelmente. — Eu não disse isso. É sério. Eu não disse.
— Então, Vincent resolveu mesmo ficar por aqui? — Matt sentou-se confortavelmente na cadeira. — Isso sim é inesperado.
— Acha que eu não saio para beber, Matthew? — o Sr. Parker surgiu de repente, carregando três cervejas com as suas mãos ridiculamente enormes.
— Em todos esses anos que trabalho com você, nunca o vi socializando com ninguém. — Matt observou.
— Talvez você apenas não faça parte do meu círculo de amizades.
— Claro. Talvez. — Matt fitou Gil, e em seguida, apertou a mão dela com ternura. — Fiquei feliz em saber que a Gil continua conosco.
— Sim. Ela continua. — o chefe seguiu com olhos atentos os movimentos das mãos de Matt. — Continua comigo. Trabalhando para mim.
— Claro. Você entendeu o que eu quis dizer. — Matt revirou os olhos mas afastou-se de Gil.
Kerya começou a se abanar freneticamente. — Está quente demais aqui dentro, não acham? Henri, venha comigo buscar mais gelo. — e arrastou o seu ficante até o bar.
Gil lançou um olhar furioso para a irmã e não achou nada nobre da parte dela a abandonar no meio daquele fogo cruzado. Agora, Gil se via entre Vincent Parker e Matthew Green, sem a menor ideia de como sustentar qualquer assunto. A sua vontade era de se transformar numa linda borboleta e sair voando pela janela.
— Vocês estão em algum tipo de relacionamento? — Gil quase engasgou com a cerveja. Não conseguia acreditar que o Sr. Parker havia feito mesmo aquela pergunta.
— É claro que não, Sr. Parker! Nós apenas-
— Isso não é assunto seu, Parker. — Matt a interrompeu.
— Eu só estou curioso, Matthew. — o chefe retrucou com ironia. — Vocês fazem um belo par. Vocês combinam.
— Eu dispenso os seus comentários, Sr. Parker. — Gil retrucou. Não iria ficar ali escutando o chefe insinuar coisas sobre Matt.
— Nós estamos na porcaria de um bar, Gilan, você não precisa me chamar de Sr. Parker. Me chame de Vincent. — o chefe retrucou com a voz divertida, embora o seu olhar parecesse mais sombrio do que nunca.
— Se o senhor não se importar, eu prefiro manter a formalidade.
— Na verdade, eu me importo. Apenas me chame de Vincent. — o chefe insistiu, e o seu tom autoritário fez o sangue de Gil ferver.
— Eu não quero chamá-lo de Vincent! Eu só quero passar uma noite agradável com os meus amigos sem que o senhor fique me dando ordens, é pedir muito?
Levantou-se furiosa, pegou a sua bolsa e sem olhar para ninguém, desceu as escadas.
xXx
Mal alcançara o primeiro andar quando sentiu uma mão segurando-a, fazendo com que todo o seu corpo se virasse para a direção oposta. Gil tentou, em vão, se livrar da força que a impedia de continuar descendo as escadas.
— Eu a ofendi? — o Sr. Parker respirava ofegantemente.
— É a forma como o senhor fala que me ofende. — Gil despejou, se arrependendo logo em seguida da sua grosseria. — Me solte, por favor.
— Foi pelo comentário que eu fiz do produtor? — o chefe atendeu o seu pedido e a soltou. — Foi por que eu interrompi o beijo de vocês?
— Beijo? Que beijo?
— Se não é por isso. O que eu te fiz?
Quer que eu implore para você ficar, Gilan?
— Nada, Sr. Parker. O senhor não me fez nada. — ela se afastou mais uma vez, determinada a deixá-lo para trás.
Então, sem que esperasse, o chefe entrelaçou os braços em volta do pescoço dela e a puxou com força, friccionando o seu abdômen nas costas de Gil, e em seguida, repousando o queixo nos ombros dela.
Tentando esconder a sua inquietação, Gil tocou suavemente nos dedos do Sr. Parker. A intenção era forçá-lo a soltá-la, mas ele a apertou ainda mais forte contra o seu corpo e uma respiração quente soprou em seu ouvido.
— Me desculpe. — o chefe murmurou. — Eu nunca quis te ofender. Nem agora e nem quando te demiti. — a barba dele roçou em seu rosto. — Eu realmente, de verdade, gosto de você. — Gil travou a respiração. Era possível que estivesse escutando com clareza? — Eu gosto de você, Gilan. Eu gosto muito de você.
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Muito obrigada por lerem... Até a próxima. o/