Amor à venda. escrita por Nina Olli


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores! Mais um capítulo que escrevi com muito carinho. :)



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“Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca”. (Martha Medeiros)

A jovem assistente exalava um perfume doce. Cereja. Uma fragrância que Vincent havia memorizado desde o dia da entrevista. 

Detestava perfumes doces, mas naquele caso, não era um cheiro que chegava a incomodar. Deu-se conta de que se aproximara demais do rosto da jovem, porém, não se moveu.

Analisou com interesse as feições da assistente. Não devia reparar nessas coisas, mas estava. Algo nela o deixava inquieto, o que era estranho, já que a jovem tinha um estilo que não lhe agradava em nada. Ela tinha bom gosto para se vestir, era verdade, mas apesar da aparência discreta, não havia nada de mais. A jovem era ordinariamente comum.

Mentira.

Havia os olhos. Esses círculos azuis que Vincent não era capaz de ignorar. Um olhar de alto mar. Cálido, perdido. Exposto.

Vincent afastou-se bruscamente, e em seguida, focou nos papéis espalhados pela mesa, arrependendo-se da excessiva aproximação de antes. Seria péssimo que a assistente começasse a fantasiar com ele, ela parecia ingênua demais e isso poderia lhe causar grandes problemas no futuro.

Não seria saudável se a jovem alimentasse qualquer coisa platônica por ele. Já estivera nessa situação algumas vezes, e aprendera a não se deixar envolver. E por mais que fosse cômodo seduzir uma colega de trabalho, Vincent não saberia misturar a sua vida pessoal com a profissional. Não mais. Uma vez já havia sido suficiente, e se dependesse dele, jamais voltaria a se repetir.

Vincent escutou a assistente bufar. Ergueu os seus olhos na direção da jovem e percebeu que o corpo dela permanecia rígido. Ela parecia desconfortável. E isso o encheu de culpa. Vincent não sabia ao certo como deveria tratá-la. Tão jovem e tão delicada. 

Sua vontade era agir de maneira um pouco mais agradável, só que parecia ter perdido a prática nisso. Temeu ter cometido um grande equívoco ao contratá-la, mas a sua intuição era certeira e insistia que a jovem seria perfeita para o cargo. Por enquanto, Vincent se contentaria com os meses de experiência para comprovar isso. E só por precaução, manteria uma distância segura da assistente... E dos seus expressivos olhos azuis.

— Pode sair. — ele murmurou. — Daqui vinte minutos eu te encontro no estacionamento.

xXx

Gil correu em direção a uma pequena sala que agora lhe pertencia, e ligou o seu computador. Ela mal conseguia respirar. 

O seu novo chefe, definitivamente, a intimidava até o último fio de cabelo. Estava mais do que óbvio que o Sr. Parker era um homem atraente e que isso a deixava vergonhosamente vulnerável na presença dele. Mas em contrapartida, o homem continha uma postura grosseira que o transformava em alguém que Gil mal conseguia suportar ficar ao lado. 

Era muito confuso, estranho e um pouco contraditório.

Gil respirou fundo, e então coletou todas as informações que pode da tal produtora, imprimiu tudo o que precisava saber e ainda teve a astúcia de chegar cinco minutos adiantados no estacionamento. Pouco tempo depois, o novo chefe surgiu acompanhado de Oliver.

— Segure. — o Sr. Parker entregou uma pasta para Gil. — Você tem quinze minutos para memorizar isso. — Gil o encarou com a expressão apavorada. — Talvez você tenha vinte minutos, se pegarmos algum trânsito.

Gil tentou, com dificuldade, abrir a porta traseira do carro. Ela segurava com as duas mãos uma porção significativa de arquivos. O chefe a encarou por alguns segundos e pareceu que abriria a porta para ajudá-la. Mas, ao invés disso, ele apenas deu a volta no veículo e entrou do lado do motorista. Ignorando Gil completamente.

— Entre logo, mulher! Meu Deus, que lerdeza. — o chefe berrou de dentro do carro.

— S-sim, senhor. — Gil tentava de forma desengonçada entrar no veículo. 

Oliver balançou a cabeça negativamente, parecendo se divertir com a situação, e então a ajudou, abrindo finalmente a porta.

Chegaram em frente a um prédio luxuoso e Gil sentiu-se desconfortavelmente mal vestida. O chefe, ao menos, poderia tê-la informado que iriam comparecer a um lugar tão elegante. 

A sala de espera era maior que todo o seu apartamento e tinha um cheiro agradável de flores do campo. O chão era revestido com mármore branco e Gil conseguia ver o seu reflexo tão nitidamente quanto num espelho.

Uau.

Sentiu-se como uma estrela de cinema, sentada naquelas imensas poltronas que praticamente engoliam o seu pequeno corpo. 

E então, eles aguardaram.

Não demorou muito para que um homem alto, de cabelos longos e desalinhados surgisse na sala de espera. Ele parecia jovem, e estava vestido de maneira muito simples, usando jeans e um colete marrom, como se não se importasse com a formalidade do lugar.

Gil relaxou os ombros. Com um sorriso simpático e animado, o moço cumprimentou o seu chefe e Oliver. Gil se curvou numa discreta reverência, a qual o jovem prontamente retribuiu, ele parecia genuinamente curioso com a presença dela por ali.

Quando percebeu que o moço a olhava detalhadamente, Gil girou os olhos num ato de timidez e encarou o teto. Os quatro seguiram para a sala do jovem produtor e sentaram-se em volta de uma grande mesa de reunião. O Sr. Parker finalmente fez as apresentações.

— Matthew, essa é a minha nova assistente... — o chefe hesitou. —... Gilda.

— Muito prazer, senhorita...? — respondeu o produtor, encarando Gil novamente.

— Robert, é Gilan Robert, na verdade. — Gil colocou bastante ênfase em seu nome.

O produtor soltou uma risada. — Você precisa aprender a memorizar os nomes das pessoas, Vincent. Muito prazer, Gilan. Sou Matthew Green, mas me chame apenas de Matt, por favor.

O Sr. Parker revirou os olhos de forma irritada, e fez um sinal com as mãos para que Gil começasse a apresentação imediatamente. 

Depois de pouco mais de uma hora, e após todas as propostas serem discutidas, o jovem produtor não parecia muito convencido com tudo o que ouvira. 

De acordo com Oliver, essa produtora já tinha uma equipe para esse projeto e o seu novo chefe não parecia nada satisfeito com isso. 

Ela já havia escutado muitos elogios às habilidades de Matthew Green, e era nítido que o Sr. Parker apostava todas as suas fichas nessa parceria.

— Vincent,— disse Matt. — essa última transmissão foi um verdadeiro sucesso e eu sou o primeiro a indicá-los a inúmeras produtoras de minha confiança. Porém... — o produtor suspirou. — Eu não posso assinar esse projeto com vocês. A especialidade dessa marca é o público feminino, e é com essa vertente que produzimos e ganhamos mais. Veja bem, iríamos perder muito se justamente nesse momento, eu deixasse de auxiliar a equipe da Moda Mulher.

— Não me venha com essa conversa fiada, Matthew. — o seu chefe bufou. — Você sabe que irei te entregar um produto esgotado novamente.

— As transmissões da B&B Larsson nos trouxeram muitas contas grandes e notáveis. Mas a maioria delas não vem do ramo esportivo e você sabe muito bem disso, Vincent. — murmurou Matt. 

— Com licença, Sr. Parker. — Gil interrompeu de forma tímida. Ela não havia planejado nada diferente do que já havia sido oferecido, mas observou algumas cláusulas no contrato da Rise&Sun que lhe deram uma eficiente ideia. — Poderia me esclarecer esse item aqui? A equipe vencedora terá total acesso à marca nova, entretanto, poderá prover também dos advindos da antiga marca Rise&Sun, correto?

— Exato. — respondeu o chefe, parecendo intrigado com a interrupção de Gil.

— Sr. Matt, — a voz de Gil, felizmente, saiu decidida. — sei que oferecemos 20% na participação das transmissões, mas vamos seguir exatamente igual a proposta da Moda Mulher, com apenas 15% nos resultados.

— Mas isso não lhe dará nenhuma vantagem, senhorita, eu já disse que --... — Matt não foi capaz de concluir a sua frase, uma vez que Gil desencadeou a falar.

— A Moda Mulher trabalha com dezenas de outras marcas de moda-praia. E nenhuma delas aceitaria que fossem desprestigiadas com uma marca de transmissão exclusiva no casting. Se a Moda Mulher tentar isso eles perderiam outras contas, outras possibilidades, ou seja, ceder a uma exclusividade seria um tiro no pé. — Gil sentiu os olhos do novo chefe em sua direção e isso provocou um comichão por todo o seu corpo, mas não queria pensar se a sua intromissão seria represada. O Sr. Parker havia lhe dado uma missão, e se fosse demitida, que ao menos fosse tentando. — Porém, é do seu conhecimento que a nossa equipe não trabalha com nenhuma marca do segmento moda-praia, portanto, garantir a exclusividade da transmissão à sua produtora é algo de cunho simples para nós, uma pequena revisão contratual e vocês terão o maior retorno da área em suas mãos.

Matt engoliu em seco. — Uma exclusiva... E mais os 15% nas transmissões esportivas, correto?

— Sim. — respondeu Gil. — E a certeza de que serão representados por especialistas do segmento. Pois, sejamos francos, o único motivo para a sua produtora apoiar a outra equipe é pelo seu interesse no ramo de moda feminina. Então, deixemos a nova marca esportiva da Rise&Sun para quem entende realmente do assunto, ou seja, nós.

Matt soltou uma gargalhada e relaxou o corpo na cadeira. — A sua assistente é realmente uma boa negociadora, Vincent. Traga o contrato com as novas cláusulas, assinaremos e devolveremos até o final da tarde. E se for de sua vontade, Srta. Robert, aceito também que me envie o seu currículo.

— Quantas facadas você ainda pretende me dar pelas costas, Matthew? — o seu novo chefe reclamou, e Gil não pode deixar de sorrir.

xXx

— Como foi que nós não pensamos nisso? — comemorou Oliver, abrindo uma garrafa de champanhe animadamente. — Estávamos tão focados na nova marca esportiva que nem cogitamos o que fazer com o restante da Rise&Sun. Meu Deus, a megera vai enlouquecer. Eu queria ser uma mosca para ver a cara dela.

Sem tirar os olhos da sua nova assistente, Vincent bebeu um gole do champanhe. Não tinha certeza se a jovem entendia a importância do seu feito. Matthew Green era o melhor produtor do ramo, e as chances de vitória trabalhando ao lado dele praticamente dobraram. E devia isso à ela. E ainda assim, a jovem não esboçava reação.

Vincent sentiu novamente o incômodo da culpa. A assistente estava deslocada, é claro. E ele não havia feito nenhum esforço para que ela sentisse o mínimo de segurança por ali. Vincent não esperava que fossem amigos, ou qualquer coisa do tipo, mas não podia ignorar essa enorme empatia pela jovem, ela era inteligente... Uma qualidade que apreciava bastante nas pessoas com quem trabalhava.

— Ei, garota... — Vincent fez um sinal para que a assistente se aproximasse. — Tome, beba.

A jovem aceitou a taça e após um gole, Vincent percebeu que ela relaxou os ombros. Isso o fez sorrir. A sua intuição não estava errada, pois a garota, de fato, tinha futuro. E seria um grande trunfo na sua equipe. Vincent se aproximou da assistente.

— De agora em diante você é o meu braço direito, o meu braço esquerdo, a minha consciência... Tudo. Você compreendeu? — murmurou, segurando delicadamente a ponta do queixo da jovem, obrigando-a a olhá-lo. — E se a senhorita pensar, nem que seja por um segundo, em mandar o seu currículo para aquele traidor do Matthew Green, eu mesmo te sequestro daquela produtora. — Vincent sorriu abertamente e a soltou. — Você foi realmente espetacular hoje. Parabéns pelo contrato... Gilan.

E brindaram.

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem até aqui. Até a próxima semana. o/



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