Amor à venda. escrita por Nina Olli


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores! Antes de tudo, peço desculpas por não postar o capítulo da semana passada. Porém, na terça-feira eu tive um imprevisto e na quarta-feira o site Nyah! entrou em manutenção, retornando apenas no sábado ( e fins de semana são complicados para eu postar), portanto, segue hoje o capítulo quatro. Ficou bem maior do que eu imaginava, mas levem isso como um bônus pela ausência da semana passada. ^^" Boa leitura.



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“A vontade, se não quer, não cede. É como a chama ardente, que se eleva com mais força quanto mais se tenta abafá-la”. (Dante Alighieri)

— Hora extra de novo?

— Boa noite para você também, Kery. Chegou há muito tempo? — Gil ignorou o tom repreensivo da irmã.

— Eu costumo chegar num horário de pessoas normais. — Kerya ironizou, sentada no sofá enquanto pintava desajeitadamente as unhas do pé. — São quase nove horas da noite, Gil. Um pouco demais, não acha?

— Nós estamos em um momento crítico. 

— No mundo daquele lunático do seu chefe, todos os momentos são críticos. 

— Eu já sei disso. — Gil resmungou, esperançosa que a irmã mudasse de assunto.

— Se você já sabe, dê um jeito nisso, caramba! Você está abatida e exausta, e essas olheiras? Meu Deus, Gil, você precisa dormir melhor. O Sr. Parker é um cretino sem a menor noção. E você? Nunca foi de levar desaforo para casa, por que está aceitando trabalhar dessa maneira?

— Porque nós precisamos do dinheiro, Kerya! — Gil elevou um pouco a voz.

Kerya a encarou com benevolência e se aproximou da irmã.

— Dinheiro nenhum vale esse desgaste. — Kerya alisou os cabelos de Gil. — Você sabe que eu posso segurar a barra, além do mais, a minha promoção já está para sair.

— Eu não quero mais que você segure a barra, Kery. Eu tenho 23 anos, é um pouco humilhante não poder contribuir de verdade. — Gil retrucou com sinceridade. — Vi você sustentar a casa por todos esses anos e... Eu quero tanto ajudar. E eu já sei o que você vai dizer... — Gil revirou os olhos para a irmã. — ... Que foi para o meu bem, para que eu tivesse o melhor desempenho nos estudos e que conseguisse um emprego bem remunerado e blá, blá, blá... Pois bem, eu consegui um emprego bem remunerado. E agora preciso mantê-lo. Preciso aguentar algumas horas extras e engolir alguns sapos. Você não pode querer me proteger de tudo e de todos.

— Por que eu te criei tão bem? — Kerya fez uma careta. — Eu sei. Você está certa. E eu juro que confio na sua capacidade de escolha. Sei que você não assumiria nada que não fosse capaz de dar conta, mas eu não consigo evitar. Você é o meu bebê. — Gil arqueou uma das sobrancelhas e lançou um meio sorriso na direção da irmã. — E não faça essa cara cínica para mim, você pode ter oitenta anos que sempre será o meu bebê. — Kerya suspirou rendida. — Eu só quero que você fique bem.

— Eu prometo que vou me cuidar melhor. Mas, me deixe tomar as minhas decisões, combinado? — pediu Gil, envolvendo a irmã em um abraço apertado.

— É quase impossível que eu não me meta na sua vida, mas eu tentarei. — admitiu Kerya. — Não é fácil ser a melhor irmã do mundo, sabe?

— Eu sei, — disse Gil — eu tento todos os dias, mas você sempre me supera.

xXx

Dois meses.

Dois turbulentos meses desde o dia em que Gil pisara pela primeira vez na B&B Larsson Associados, e a sensação de euforia ainda permanecia nela.

Parecia irreal que finalmente conseguira entrar no casting de vendas, ganhando um salário generoso e tendo a oportunidade de aprender com os melhores do ramo. Não queria preocupar a irmã, mas a verdade era que Gil não tinha a menor intenção de diminuir o ritmo. E Deus, como se sentia feliz por isso.

Em pouco tempo, Gil se tornou imprescindível para as atividades da equipe. E foi o seu comprometimento com o projeto que fez com que Vincent Parker a elegesse como a sua favorita, a transformando na funcionária mais solicitada para as resoluções de problemas. 

Gil mal conseguia segurar a sua satisfação quando, vez ou outra, o Sr. Parker se referia a ela como a “Srta. Missão Impossível”, no tom mais elogioso de todos.

Sim, o chefe assumia uma postura rigorosa, sendo exigente ao extremo e grosseiro na maioria das vezes, mas ele possuía uma qualidade admirável: o homem sabia reconhecer os esforços de seus subordinados. E para Gil, isso funcionava como um combustível, inspirando-a e a motivando todos os dias.

Entretanto, ela sabia que Kerya jamais compreenderia os seus reais motivos, que obviamente, iam muito além do dinheiro. Depois de tantos anos vivendo na aba da irmã, Gil estava emocionada por saber que finalmente, em algum lugar do mundo, ela era uma pessoa útil.

— Bom dia, Gil. — Sara, a secretária, a cumprimentou. — Hoje será mais um daqueles.

— Nem me fale. Ontem saí daqui muito tarde, até levei uma bronca da minha irmã.

— Meu marido até já desistiu de brigar, sabe dos perigos de irritar uma mulher estressada. — brincou Sara.

— É um homem sábio o seu marido. — Gil piscou, se despedindo da secretária e entrando na sala do chefe.

Gil sempre chegava meia hora antes. Era um costume necessário. Aprendeu que ao antecipar as necessidades do Sr. Parker, as chances do humor dele ser ao menos tolerável cresciam consideravelmente. Não lhe custava nada sair um pouco antes de casa se isso fosse evitar que o chefe agisse como um carrasco lunático pelo resto do dia.

A sanidade da equipe agradece.

Organizou com todo o cuidado alguns documentos e relatórios na mesa dele, e ao lado do computador, deixou o valioso café. O estranho Americano-sem-açúcar-com-creme-de-avelã que provocava um verdadeiro milagre no chefe. E em questão de minutos, um homem de cabelos úmidos, perfume marcante e expressão concentrada entrou na sala.

— Gilan, confirma a minha presença no coquetel da Rise&Sun. — o chefe sentou-se na cadeira e tomou diversos goles do café sem nem ao menos respirar. Analisou com interesse os documentos que antes Gil havia organizado e ergueu as sobrancelhas. — São todos os pedidos que eu solicitei ontem? Já estão completos?

— Sim. E essas são as pesquisas que o senhor sugeriu, — ela apontou para os papéis. — e também o informe do field. Creio que não teremos nenhum problema durante a apresentação.

— Muito bom, Gilan, muito bom. — ele a olhou satisfeito. — E já temos alguma posição sobre o aluguel dos equipamentos?

— Já tenho a autorização. — Gil se aproximou do chefe, lhe mostrando uma pasta com alguns documentos. — Preciso que o senhor assine aqui, aqui e aqui.

O chefe suspirou enquanto assinava todas as vias. — Gilan, ficaremos trabalhando até tarde novamente, você já sabe, o de sempre... Preciso que deixe tudo preparado, pois não sairemos até resolvermos isso.

Gil passou feito um raio pelo corredor e pediu gentilmente que Sara ligasse para um restaurante e agendasse o almoço. Foi até a sua sala, buscou o seu laptop, algumas pastas e correu de novo em direção a sala do chefe. Distraiu-se por alguns minutos verificando os seus objetos e escutou o Sr. Parker berrando o seu nome. 

Deus, ele precisa mesmo fazer todo esse escândalo? E revirou os olhos antes de entrar.

Era sempre assim. O Sr. Parker parecia não conhecer as expressões “por favor” e “obrigado”.

Bom dia? Isso é algo que sequer ouviu sair da boca dele. Sempre que o chefe entrava na sala, já chegava despejando as ordens sem nem ao menos olhá-la nos olhos, quanto mais cumprimentá-la. Uma atitude rude, mal educada e que a irritava profundamente. 

De todo o sonho maravilhoso que ela vivia na B&B Larsson, a personalidade do Sr. Parker com certeza não fazia parte disso. Ele era o antagonista de tudo isso. O próprio pesadelo.

Gil respirou fundo, tentando afastar esses pensamentos antes que causasse uma cena, coisa que ela sonhava em fazer com uma certa frequência. Depois de algumas horas trabalhando, já passavam das seis da tarde e como Gil imaginava, o chefe não dava sinais de cansaço. Isso a desanimou. Não entendia como o Sr. Parker, diante de tantos afazeres, era capaz de manter uma aparência tão impecável.

Sempre o primeiro a chegar e o último a ir embora. E mesmo assim, ele demonstrava uma disposição de dar inveja a qualquer funcionário. Barba feita, bem vestido e um ar refrescante, como se acabasse de sair de um longo banho. Essa era a aparência diária de Vincent Parker. Ele simplesmente omitia qualquer sinal de abatimento.

Gil lia com atenção alguns documentos quando escutou um fino gemido. Ao encarar o chefe, o flagrou apoiando a testa em uma das mãos e com a outra, segurando firme o abdômen. O gemido ficou mais alto e a expressão do Sr. Parker se converteu em um intenso desconforto.

— Está tudo bem, Sr. Parker? — Gil aproximou-se preocupado.

— O remédio. — ele murmurou. — Ali, na gaveta.

Gil correu em direção à gaveta e pegou os comprimidos que o chefe costumava tomar em suas crises de gastrite. — Tome. Vou buscar água.

— Não precisa. — ele  segurou com firmeza o pulso de Gil. — Fique aqui comigo.

O chefe engoliu o remédio e abaixou a cabeça. O rosto dele estava muito vermelho e Gil sentiu pelo toque em seu pulso, que a pele dele ardia. Ela se aproximou devagar e colocou a sua mão com cuidado na testa do Sr. Parker.

— O senhor parece febril. Isso é normal? — perguntou Gil, tentando disfarçar a sua aflição.

— Sim. — ele pigarreou, apertando os olhos em seguida. — Merda! Que gastrite maldita.

Gil ficou imóvel. O chefe segurava o seu pulso com uma força desnecessária e isso deixou uma sensação de formigamento por todo o seu braço. Ela sentia uma enorme compaixão pelo sofrimento do Sr. Parker, entretanto, a dor em seu pulso começava a incomodá-la de verdade, mas antes que se movesse, o chefe amenizou o toque até finalmente soltá-la. E Gil não pode controlar o ímpeto de massagear o local que ardia.

— O senhor está melhor? — perguntou Gil, ainda alisando o seu pulso.

— Sim. — o chefe respondeu, olhando fixamente os movimentos de Gil. — Eu a machuquei, Gilan? Acho que perdi a noção da minha força.

— O senhor não deveria beber tanto café. — Gil desconversou. — A sua gastrite é muito séria. Isso pode ser perigoso.

— Eu sei. Mas é difícil parar. — o chefe continuava encarando os movimentos de Gil. E então, ele se levantou e se aproximou alguns passos.

— Está tarde. Devíamos ir. — Gil olhou para os lados, disfarçando o nervosismo ao ver o Sr. Parker se aproximar.

Ela sentiu novamente os dedos dele puxando o seu pulso, só que dessa vez, de uma maneira muito mais delicada do que antes.

— Eu não quis machucá-la. — o Sr. Parker alisou com cuidado a pele vermelha de Gil, e num movimento inesperado encostou os seus lábios, beijando suavemente o seu pulso.

Gil se surpreendeu com aquilo. O toque da boca de Vincent em sua pele dolorida foi surpreendentemente agradável. Era como se um analgésico percorresse o seu corpo, a deixando relaxada e enfraquecida. O seu coração acelerou de tal forma, que as batidas poderiam ser ouvidas por qualquer um que entrasse naquela sala. 

Respirou pausadamente na tentativa de controlar a sua agitação. O que diabos o Sr. Parker estava fazendo?

O chefe parecia não se dar conta da inconveniência do gesto, pois qualquer pessoa que os vissem poderia confundir aquele beijo com algum tipo de assédio, e isso seria muito grave para ambos. Eles não desfrutavam de uma relação exatamente amigável para que o Sr. Parker surgisse beijando-a sem mais nem menos. 

Gil o observou por alguns segundos, como se esperasse por alguma outra ação inapropriada, mas o homem não insinuou absolutamente nada que pudesse ser ofensivo. Pelo contrário, ele apenas lhe devolveu um sorriso amistoso enquanto se afastava calmamente.

xXx

Vincent não conseguia assimilar mais nenhuma informação e já enxergava as letras dos relatórios todas embaçadas. E o mais grave, temia que uma nova crise de gastrite acontecesse. Já bastasse que a assistente tivesse presenciado uma vez, não iria submeter a jovem a testemunhar outra cena deprimente daquela.

A presença de Gilan naquele horário o enchia de arrependimento. Vincent tinha ciência do quanto estava errado. Era obsceno que fizesse alguém trabalhar por tantas horas seguidas, mas não podia evitar, quando se dava conta, o dia já havia passado e já era noite. Ele sentiu os seus músculos doerem, precisava com urgência de sua cama e guardou os seus pertences rapidamente. 

Sem muita emoção, despediu-se da assistente. Mas para o seu próprio azar, quando estava prestes a sair, teve o impulso de virar-se e observá-la mais uma vez. A jovem organizava cuidadosamente a mesa e conferia algumas anotações. Muito serena e concentrada, não demonstrava nenhum sinal de aborrecimento. 

Porém, Vincent não ignorou as marcas escuras abaixo dos olhos dela. E ficou instantaneamente irritado, desejando que a jovem fosse mais cuidadosa consigo mesma. Desde o começo a achava muito frágil para o cargo e seria um incômodo se ela ficasse doente, já que isso atrapalharia consideravelmente o ritmo dos preparativos da transmissão.

— Te espero no estacionamento. — ele ordenou secamente.

— Não entendi. — a jovem parecia confusa.

— Qual parte você não entendeu? Eu vou te levar para a sua casa. — Vincent retrucou sem paciência.

— Isso não é necessário. —  a jovem murmurou. — Eu chamarei um táxi.

Vincent suspirou longo, apertando suas têmporas com os dedos. 

— Vamos pular essa parte? Você vai rejeitar e eu vou insistir. E no final das contas, eu acabarei te dando essa maldita carona. Só vamos embora logo. — Vincent segurou nas mãos da jovem e a arrastou pelos corredores em direção ao elevador.

Os dedos da assistente estavam gélidos e tremiam um pouco. 

Vincent não quis olhar para trás, mas ouvia a respiração ofegante da jovem. E isso o aborreceu. Afinal, por que ela parecia tão apavorada? Não era como se ele a estivesse assediando ou algo assim. O pensamento o preocupou. Era possível que a assistente interpretasse as suas atitudes dessa maneira? Vincent realmente não tinha a menor intenção de ofendê-la.

Deu-se conta então, do absurdo que fora aquele beijo de minutos atrás. Era uma mania idiota que sua mãe tinha. Uma bobagem infantil de beijar o machucado que Vincent não entendia porque simplesmente havia usado com Gilan. Reagiu como se eles tivessem alguma porcaria de intimidade e isso cheirava a problema.

Atrás de si, ainda escutava a jovem respirando com dificuldade e ele teve a esperança de que talvez Gilan estivesse nervosa apenas porque sentia uma quedinha sem importância por ele — o que seria pouco provável, considerando a forma rude que ele sempre a tratou. 

Mas devido à situação atual, acharia infinitamente melhor que a jovem só estivesse tímida, em vez de imaginar que ele fosse algum tipo de maldito assediador. Por isso, assim que chegaram à porta do elevador, Vincent soltou os dedos da assistente, e jurou para si mesmo, que jamais, em hipótese alguma, voltaria a tocá-la novamente.

xXx

O elevador finalmente abriu as portas e Gil relaxou quando o Sr. Parker a soltou.

O chefe não era amável. O chefe apenas precisava da sua companhia para o trabalho. Era bruto, egoísta e mal-educado. Não havia um único motivo que a estimulasse. E ainda sim, por que o seu corpo enviava reações tão absurdas quando ele se aproximava?

Ele é um profissional e você também. Pensou, como se recitasse um mantra que ela mesma precisasse acreditar. Chegando ao estacionamento, o chefe abriu a porta do carro para ela num sinal incomum de gentileza.

— Entre. — ele ordenou.

Assim que se acomodou no carro, fixou o olhar em suas próprias mãos, evitando qualquer contato visual com o chefe. Mas, era capaz de ouvi-lo e vê-lo com o canto dos olhos. O chefe suspirando, o chefe afrouxando a gravata, o chefe mexendo no rádio, o chefe batendo os dedos no volante, o chefe... 

…O chefe olhando para ela.

— Você consegue, não consegue? — o Sr. Parker perguntou. — Eu preciso que você esteja bem, Gilan. Para que a transmissão saia perfeitamente, entende?

— Todos estão se esforçando muito nesse projeto. Eu tenho certeza que será um sucesso, Sr. Parker. — Gil tentou soar confiante.

— Eu nunca falho no trabalho, Gilan. — o Sr. Parker retrucou com arrogância. — Mas você é muito jovem, deve ter uma vida social agitada e eu tenho consciência de que estou exigindo demais e-

— Pode confiar que estou cem por cento focada. — ela o interrompeu. — E prometo que não irei decepcioná-lo, Sr. Parker. — E Gil sorriu.

xXx

Vincent não estava acostumado a vê-la sorrir. Na realidade, sorrir era o que Gilan menos fazia. Pelo menos, para ele. Ela sorria para Oliver, para Sara, para os membros da equipe, e sorria até mesmo para o entediante do Matthew.

Isso o aborreceu um pouco. A sua posição era, naturalmente, intimidadora. E não costumava sair pela empresa distribuindo gentilezas. Na verdade, o seu talento em fazer as pessoas chorarem parecia ser muito mais efetivo.

Encarou novamente a jovem. A confiança que ela demonstrava às vezes o surpreendia. Era uma moça muito nova na idade, e apesar do recato e das roupas sérias para parecer mais velha, a sua aparência ainda era a de uma menina.

O rosto delicado e pequeno. Os movimentos incertos e o olhar curioso. Tudo muito diferente do que ele estava habituado a lidar. 

Porém, quando a assistente se expressava, o seu discurso parecia sempre experiente.

Vincent reparou que desde que entrou no carro, a assistente não lhe devolvera o olhar uma única vez. Será que a jovem estava satisfeita? Será que ela continuaria na empresa mesmo depois do projeto? Quis perguntar, mas se conteve. Não faria bem ao seu humor se, por um acaso, a jovem não desse a resposta que ele gostaria de ouvir.

Batucou o volante com os dedos. Pensou em falar do bônus salarial que ganhariam, e que faria todo aquele esforço valer à pena. 

Ou que o currículo dela se sobressairia caso quisesse seguir novos desafios. Mas, o que poderia dizer para Gilan? 

Justo para ela que já o conhecia tão bem? A jovem sabia que ele era o chefe mais cretino de todos, que exigia resultados absurdos e agia feito um lunático. 

Não fazia sentido forçar uma falsa simpatia com ela.

Vincent avistou uma farmácia vinte e quatro horas e num movimento brusco, deu meia volta com o carro, estacionando em frente ao estabelecimento.

— Eu já volto. — disse para jovem antes de descer.

xXx

Gil relaxou os ombros assim que o chefe entrou na farmácia. O carro tinha um cheiro marcante de sabonete caro e sândalo, tão característicos do Sr. Parker e Gil respirou a fragrância sentindo-se muito próxima a ele. Observou cada detalhe do veículo, e mesmo sabendo que seria uma ousadia imensa, abriu discretamente o porta-luvas. Ela não conteve a curiosidade de conhecer esse pequeno pedaço da intimidade do chefe.

Tinha alguns papéis da B&B Larsson e muitos recibos de compras. “Cerveja, cerveja, noddles, comida congelada”. Gil achou deprimente que ele se alimentasse tão mal. Mas imaginou que era algo normal entre os homens solteiros. Então, reparou num chaveiro jogado no fundo do porta-luvas. Segurou o objeto com cuidado e leu as palavras “Para Sempre” e um pequeno coração grafado. Analisou o chaveiro por longos minutos, mas não tinha pistas ou alguma história que pudesse ser revelada. Contentou-se com a sua curiosidade. 

Quando percebeu que o chefe já retornava ao carro, Gil rapidamente colocou o chaveiro no lugar e fechou o porta-luvas.

— Isso é para você. — o Sr. Parker lhe entregou uma pequena sacola.

— Para mim? — Gil abriu a sacola e desejou que o chefe não reparasse em suas mãos trêmulas. Ao analisar os medicamentos, o encarou com uma expressão confusa.

O chefe demonstrou os medicamentos um a um. — Esse é para dor muscular, ajuda a relaxar e garanto que o seu sono será infinitamente melhor. Isso é Ômega 3, é muito importante suplementar. Vai te ajudar na concentração. Aqui é apenas vitamina C, tome todas as manhãs, ajuda na imunidade evitando os resfriados. E esse é um calmante para a pele, ele ajuda nas... — o Sr. Parker apontou para a pele debaixo dos olhos de Gil. — ... Olheiras.

Gil não sabia de que maneira deveria reagir. Abriu um grande sorriso, sentindo um misto de timidez e gratidão. — Obrigada. Eu prometo que usarei tudo isso, Sr. Parker.

— Quando você está acostumado a dormir somente quatro horas diárias, precisa aprender algumas coisas. — o chefe comentou, soando um tanto melancólico. — Eu quero que você se cuide e que esteja pronta para recomeçar amanhã. Estamos combinados?

— Sim. — Gil respondeu, incapaz de controlar outro sorriso.

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada novamente por lerem até aqui. Até mais. o/



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