Amor à venda. escrita por Nina Olli


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores! Quero agradecer as visualizações que eu tive. Nossa!!! Fiquei muito feliz com as duzentas visualizações. Segue mais um capítulo para vocês. Espero que gostem, assim como eu gostei de escrever.



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“Somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro”. (Sigmund Freud)

 

— Ele gargalhou? — Kerya perguntou intrigada.

Gil sentou-se em sua cama e abraçou um dos seus travesseiros. Com o olhar distraído, tentava digerir a entrevista e o seu inconveniente entrevistador. — No geral, as minhas respostas foram boas. Mas aquele homem... Ele simplesmente caiu na risada.

— Você tem certeza de que ele não tossiu?

— Eu sei distinguir uma risada de uma tosse. — Gil revirou os olhos e bufou. — Definitivamente, ele estava zombando de mim.

Algo incômodo pairava em seus pensamentos, e por mais difícil que fosse admitir, Gil sabia bem o que aquilo significava. Era a sua frustração que a estava matando e o orgulho chamuscado. Só de se lembrar daquele homem indelicado e de suas palavras descuidadas, não conseguia evitar esse insistente mau humor.

E apesar do pouco tempo que dividiram aquela sala, foi fácil para ela perceber o tipo de ser humano grosseiro e detestável que era Vincent Parker.

Pensando bem, talvez o melhor fosse não conseguir aquela vaga mesmo.

xXx 

— Da próxima vez, compartilhe a piada! — Oliver saiu da sala com a expressão rabugenta, acompanhado pela assistente de RH igualmente irritada.

Vincent fez menção de ir atrás dos colegas, mas desistiu. Estava exausto até mesmo para explicar-se. Se ambos soubessem que na verdade ele havia cogitado a candidata e até se agradado da personalidade franca dela, não estariam o condenando tão duramente. A verdade era, Vincent a escolheria, sem hesitar, dentre os duzentos currículos que tinha em suas mãos.

Lembrou-se da jovem. Ela parecia realmente contrariada, e mesmo assim, manteve a postura. E Vincent procurava justamente isso, um assistente paciente e diplomático, capaz de sobreviver ao campo de batalha que é a rotina de um líder de equipe. 

Se Gilan seria a opção adequada, só o tempo dirá, mas se a jovem teve a capacidade de fazê-lo despertar do tédio das entrevistas, poderia se tornar uma companhia estimulante no dia-a-dia.

Por isso, alguns dias mais tarde, Vincent finalmente informou a sua decisão ao RH e pediu que Sara, a secretária do departamento esportivo, informasse que a jovem fora a selecionada para a vaga da assistência de vendas, e que deveria ocupar o cargo na próxima semana.

Depois de mais um longo dia, Vincent guardou todos os seus pertences, pegou as chaves do carro e seguiu em direção ao estacionamento. Era de seu costume ficar na empresa até depois das oito da noite, motivo de grande aborrecimento entre as suas assistentes anteriores, mas dessa vez, ele havia excedido até mesmo os próprios limites. Passava das nove da noite de uma sexta-feira, e Vincent continuava ali, completamente solitário em suas criações.

Esperou distraidamente o elevador chegar ao décimo quarto andar e entrou. Apertou um dos botões e encarou desanimadamente os próprios sapatos. A porta estava prestes a se fechar quando Vincent escutou uma voz familiar chamá-lo.

Vince?

Levantou os seus olhos num sobressalto e tentou abrir o elevador novamente, mas já era tarde demais e seguiu descendo os andares. Vincent não viu o rosto da voz que o chamara, mas nem era necessário, sabia bem a quem pertencia.  E por menor sentido que fizesse, desejou poder apertar todos os botões de uma vez e regressar o elevador ao décimo quarto andar. 

Mas há tempos que Vincent já sabia que existem coisas irreversíveis. E continuou descendo.

xXx

— Vamos, Gil, levanta... Rápido! — Kerya puxou o cobertor bruscamente na tentativa de acordar a irmã.

— Meu Deus Kery, você não tem coração. — resmungou Gil, puxando de volta o cobertor.

— O que você mais deseja nesse mundo? Depois de conhecer os irmãos Winchester¹, é claro. — disse Kerya, balançando o telefone em suas mãos.

Ainda sonolenta, Gil encarou os olhos divertidos de Kerya. Ao se dar conta, pulou da cama numa velocidade impressionante. 

— Não me diga que a B&B Larsson...? — ela tomou o telefone das mãos da irmã, respirou fundo e então, atendeu. – Bom dia. Sim, é ela. Sim, é claro. Eu posso, sem problemas, eu que agradeço.

Gil desligou o telefone e perambulou pelo quarto com uma expressão séria, sem dizer nenhuma palavra à irmã.

— Pelo amor de Deus, garota! O que eles queriam? — perguntou Kerya, impaciente.

— Quem? — Gil franziu a testa. — Ah sim, você está falando da B&B Larsson, não é? Eles querem apenas...— e envolveu a irmã em um desajeitado abraço. — … Que eu me apresente na segunda-feira! A vaga é minha, Kery!

As irmãs gritaram e pularam freneticamente. Se isso não era um milagre, Gil não saberia do que nomear. Após dias intermináveis de espera, já havia perdido todas as suas esperanças. Conformou-se em aceitar que o seu desaforado entrevistador não cogitaria sequer deixá-la sob o período de experiência.

Mas a sua sorte havia virado. E apesar de todos os desagradáveis acontecimentos, lá estava ela, era a escolhida dentre tantos candidatos. Ambicionava uma ascensão em sua carreira e tinha a maravilhosa sensação de que trabalhar na B&B Larsson mudaria a sua vida por completo. Foi em direção a mesa de cabeceira que ficava ao lado de sua cama e abraçou com força um delicado porta-retratos.

Obrigada mamãe, nós conseguimos.

xXx

Gil sentou-se na sala de espera do departamento esportivo e aguardou pacientemente. A simpática secretária não se cansava de distribuir sorrisos e gentilezas, uma postura que Gil achou curiosa, mas que lhe dava a agradável impressão de que a sua presença por ali era muito bem-vinda. 

— Gilan Robert? — chamou a secretária finalmente, apontando para uma grande e elegante porta de aço. — Entre, por favor.

Gil avistou o homem da entrevista conversando ao telefone e imediatamente sentiu os seus ombros apreensivos. O desaforado parecia ainda mais intimidante do que ela se recordava. 

Um inconveniente frio na barriga insistia em incomodá-la, não era exatamente essa reação que Gil planejava sentir quando reencontrasse o tal entrevistador, mas foi inevitável.

O homem era uma boa visão, bastante boa, para ser honesta.

As suas mãos começaram a suar assim que a secretária fechou a porta, a deixando sozinha na companhia do futuro chefe. Gil não queria parecer grosseira e interromper o telefonema, então, apenas procurou por um lugar em que pudesse aguardar discretamente e seus olhos avistaram uma poltrona no canto esquerdo da sala. 

Aproximou-se do móvel, e quando se preparava para sentar, o homem fez um sinal negativo com as mãos. 

O gesto do futuro chefe a confundiu por alguns segundos, deixando Gil bastante indecisa se sentava ou não na bendita poltrona. Então, apenas ficou imóvel... Com as suas costas curvadas e as nádegas empinadas.

O seu cérebro não conseguia mandar uma mensagem rápida para que ela se movesse e saísse daquela posição. Gil parecia estar sentada numa cadeira invisível, e essa não era exatamente uma visão elegante ou profissional naquele momento.

O homem a encarou de forma intrigada, e em seguida, desligou o telefone.

— O que é isso? O corcunda de Notre-Dame? — o seu futuro chefe a questionou, erguendo a sobrancelha.

— E-eu... — Gil se ajeitou imediatamente. E antes de responder, foi interrompida pela aproximação repentina do homem.

Ele ficou muito próximo ao seu rosto, analisando-a intimamente e Gil revirou os olhos, disfarçando, desejando que um buraco se abrisse no chão para que ela pudesse se esconder.

— Não importa. — ele concluiu de forma ríspida. — Venha aqui e segure isso, isso e isso. — o homem despejou inúmeras pastas e papéis nos braços de Gil. — Me siga e anote. Rápido. Não estou vendo a sua maldita caneta.

— S-sim, s-senhor. — Gil pegou uma caneta em sua bolsa de forma desengonçada, rezando para que não derrubasse nenhuma das pastas que carregava.

S-sim, s-senhor... — o homem zombou, imitando a voz de Gil. — Não me lembro de ler no seu currículo que você era gaga. — Gil até ia retrucar, mas ele a cortou abruptamente.— Anote logo. O seu horário é às oito da manhã, mas sugiro que você chegue às sete e quarenta e cinco. Às oito eu quero na minha mesa as atas das reuniões diárias, os relatórios, que eventualmente irei te solicitar e um Americano grande, sem açúcar, com avelã. E acredite, esse café é o mais importante. Sem ele, o meu humor consegue ser muito pior.

Isso é possível? Pensou Gil, enquanto escrevia o mais rápido que conseguia. De repente, o novo chefe saiu em disparada para fora da sala, andando apressadamente, o que tornou a tarefa de anotar ainda mais difícil.

— Nós frequentamos três reuniões diárias, com uma média de duas horas de duração cada uma, os horários não são fixos, portanto, você receberá uma escala prévia todas as manhãs. E deve seguir cada segundo dela, eu fui claro? — o homem se virou bruscamente e Gil sentiu a respiração quente dele tocando em seu rosto.

Gil ficou tão vermelha que mal conseguiu assimilar as informações. Forçou a sua concentração apenas em tomar nota de tudo o que ele pedia, e se por um acaso respirar não fosse automático, ela já teria caído dura ali mesmo.

Não foi difícil compreender a felicidade da secretária ao vê-la. 

Sem uma assistente ao lado, o homem provavelmente estava usufruindo do trabalho daquela pobre mulher.

— Sara, me traga a escala da... Gi... Gilma. — disse o chefe, se direcionando para a secretária. — E todos os documentos pendentes para que ela tome conhecimento. 

A secretária prontamente empilhou todos os papéis nas mãos de Gil e lhe devolveu um olhar de cumplicidade, Gil poderia jurar que escutou a mulher lhe desejar “Boa sorte”.

Um medo repentino tomou conta de seus pensamentos. E se não conseguisse suprir as expectativas? Havia dito na entrevista baboseiras sobre inovação e o futuro, mas para ser honesta, não tinha nem mesmo a confiança de que sobreviveria ao primeiro dia.

— Se você se atrasar, não é necessário que volte. Eu não tolero atrasos. Estamos entendidos, Gilsa? — ameaçou Vincent.

— Sim, senhor. E na verdade, o meu nome é Gi-- — Gil foi interrompida pela voz de um outro homem, que cumprimentou amigavelmente o seu novo chefe.

— Parker. Consegui uma brecha para nos encontrarmos com a produtora. Mas já aviso, Matt está irredutível em fechar o contrato com a megera. Isso não é nada bom para nós. — o moreno simpático da entrevista lamentou.

— Deixe o Matthew comigo, Luhan. — o seu novo chefe respondeu com impaciência. — E cadê a lista de materiais que eu pedi para o seu time, por que não chegou ainda?

— Ei garota, eu sou o Oliver, seja bem-vinda! — o outro homem finalmente a notou. — Não fique apavorada, Parker é uma ótima pessoa quando não está trabalhando. Infelizmente, você terá que trabalhar bastante com ele. 

— Obrigada, Sr. Luhan...— Gil tentou disfarçar a sua expressão aflita. — Eu me lembro do senhor na entrevista.

— Por que você parou de anotar? — Gil foi novamente interrompida pelo seu novo chefe. — Quero você concentrada apenas em mim, Gisel.

Enquanto seguia os passos acelerados do seu novo chefe, Gil acenou a cabeça para Oliver em sinal de despedida. E pela expressão relaxada do chefe de pesquisas, logo deduziu que essa rispidez era a forma habitual do Sr. Parker trabalhar, e que a sua única saída seria adaptar-se a esse temperamento do líder de equipe.

E isso fez com que a sua insegurança aumentasse.

Tentou não pensar muito no assunto, já conseguira o mais difícil, entrar na B&B Larsson, e não seria esse homem insuportável que a tiraria de lá.

O Sr. Parker sentou-se em volta de uma grande mesa na sala de reunião e Gil acomodou-se ao lado do novo chefe. Sem muita delonga, algumas pessoas foram chegando, e curiosamente, todos se mostraram tão desconfortáveis quanto ela na presença do líder de equipe. Isso a relaxou um pouco. Não parecia a única, afinal, a achá-lo excessivo e extravagante.

— Em três segundos eu vou fechar essa maldita porta! — o seu chefe ameaçou.

De supetão, várias pessoas entraram na sala no último segundo e sentaram-se ofegantes em volta da grande mesa. Gil sentiu uma vontade descontrolada de rir, chegava a beirar o ridículo todo o terrorismo que o líder de equipe provocava.

Giny, feche a porta imediatamente. Ninguém mais entra. — o seu novo chefe ordenou.

— Sim senhor, mas na verdade, o meu nome é Gilan...

— NÃO ME INTERESSA SE VOCÊ É A RAINHA ELIZABETH, feche a porcaria da porta! — ele gritou de repente, assustando todos os presentes na sala.

Gil fechou a porta, e em seguida, retomou o seu lugar. 

Fixou o seu olhar para baixo e os seus pensamentos se afastaram por alguns momentos. A sua vontade era de se levantar, agarrar o novo chefe pelo colarinho e lhe dizer umas boas verdades. 

A humilhação de precisar pagar as contas é muito alta. 

E de repente, como num passe de mágica, o novo chefe desencadeou-se a distribuir as tarefas. E o homem parecia uma pessoa completamente diferente.

Ele revisava os relatórios, discutia as ideias que eram apresentadas e ouvia cada membro da equipe com muita atenção e interesse. Gil pode então perceber, que apesar da grande confusão que ele causava, era justamente durante as reuniões que o Sr. Parker tinha uma autoridade real.

O homem mostrava domínio dos problemas que aconteciam e conhecia todos os itens importantes, todos os pontos fortes e pontos fracos de cada um. E o mais impressionante, sabia de cor todos os produtos, os seus códigos e as suas características.

Pela primeira vez desde que botou os pés naquele lugar, Gil teve um lampejo de satisfação por conquistar o trabalho que sempre sonhara. E isso encheu de confiança o seu espírito.

Estava maravilhada com o universo que aos poucos descobria. E mesmo que fosse uma pessoa insuportável, o chefe era, também, incontestavelmente brilhante. 

— Meu Deus, eu estou faminto. E ainda temos a reunião com a produtora. — reclamou Oliver. — Podemos almoçar antes?

— De jeito nenhum. Nós almoçaremos comemorando o contrato com a produtora. — Gil escutou o seu chefe comentar enquanto organizava as suas anotações.

— Eu gostaria de ter o seu otimismo, mas não creio que seremos capazes de superar a oferta da megera dessa vez. — respondeu Oliver, desanimado.

Gisele... Eu preciso que você nos acompanhe na reunião com a produtora. 

Demorou alguns segundos para que Gil entendesse que o chefe a chamara, nessa altura do dia, já havia desistido de corrigi-lo. Pelo jeito, teria que acostumar-se com os seus novos nomes, que muito provavelmente, seriam bem mais bonitos do que Gilan.

Alguns minutos após a reunião, todos saíram um por um da sala. Entretanto, o Sr. Parker se manteve estático. Virou-se de costas para Gil e permaneceu em silêncio, concentrando-se apenas na paisagem da enorme janela de vidro.

Gil sentiu-se inquieta, não sabia se saia com os outros ou se aguardava por mais alguma ordem do chefe. Ela fixou o seu olhar no teto e distraiu-se com uma pequena mancha amarelada. Quando os seus olhos voltaram à atenção ao Sr. Parker, lá estava ele novamente.

Perto demais.

Tão perto, que Gil podia sentir o cheiro do perfume dele inebriar o seu espaço pessoal. 

— É o seguinte, garota... — o seu novo chefe finalmente quebrou o silêncio. — Ou você faz um milagre espetacular nessa reunião, ou estamos todos fodidos.
 


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Notas finais do capítulo

Obrigada queridos leitores, até a próxima semana! o/


¹ Sam Winchester e Dean Winchester, interpretados respectivamente por Jared Padalecki e Jensen Ackles, da série de televisão norte-americana Supernatural, criada por Eric Kripke e produzida pela Warner Bros. Television.



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