Amor à venda. escrita por Nina Olli


Capítulo 18
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores! Nesse capítulo aparece um personagem novo e na nota final coloquei o ator que imaginei quando o escrevi, mas se sintam livres para imaginá-lo como quiserem. Como foi a passagem de ano de vocês? Espero que bem. Vocês assistiram o novo filme do Star Wars? O nosso Oscar Isaac (Vincent) está tão lindo nas telonas.... Aiaiaiai *-*



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"O casamento é realmente um negócio de manobra". (Jane Austen)

 Gil admirou a sua imagem no espelho e alisou o tecido do seu vestido. Preto. Discreto. Exatamente como Vincent havia sugerido.

Sorriu fraco, lembrando-se da semana agitada que tivera. Estava prestes a se encontrar com o chefe para o primeiro evento oficial ao lado dele. O primeiro como a sua noiva, a sua futura mulher. Sentiu uma leve vibração em suas pernas e expirou tentando afastar o nervosismo. Escutou a irmã se aproximar devagar, encostando a cabeça na porta do guarda-roupa.

— Eu preciso admitir… — Kerya disse, cruzando os braços. — Você realmente não é mais o meu bebê.

— Achei que isso tivesse ficado claro na semana passada. — Gil brincou, recordando-se de como tivera que impedir que a irmã agredisse Vincent quando ambos deram a notícia do noivado.

— Não pense que eu fiz ameaças suficientes para aquele seu... Aquele seu... Noivo lunático. — Kerya rosnou. — Mal posso esperar pelo domingo. — e a sua expressão tornou-se terrivelmente diabólica.

— Eu não marquei esse almoço para você ameaçar o Vincent novamente. — Gil a repreendeu. — Só quero que vocês se conheçam melhor.

Kerya fez uma careta. — Quem sabe assim eu consiga entender por que você está prestes a se casar com aquele...

"Lunático". 

Ambas falaram juntas, e Gil segurou a vontade de rir, tentando manter a expressão séria. Apesar daquela máscara rabugenta, Gil sabia muito bem o quanto Kerya estava emocionada com o noivado.

Dar a notícia para a irmã se mostrou uma tarefa bem mais simples do que ela imaginava. Não sabia dizer se era pela presença segura de Vincent ao seu lado, ou se simplesmente Kerya já teria percebido, de alguma maneira, o quão apaixonada a caçula estava. 

Era tão óbvio. O casamento não precisava ser verdadeiro para que a irmã notasse o quanto Gil estava envolvida.

Gil sabia que Vincent faria a sua encenação. Foi o que combinaram. Cada detalhe, cada gesto. Tudo ficou muito claro para ambos. Atuariam como um casal apaixonado, apenas para provar que aquele casamento não era um completo equívoco. Porém, a lembrança de ouvi-lo mentir tão naturalmente para a irmã fez com que uma onda de náuseas se instalasse em seu estômago.

Quão fácil era para Vincent fingir os seus sentimentos?

Ela seria capaz de entrar nesse jogo com a mesma neutralidade? A resposta estava estampada em sua imagem ansiosa no espelho. 

Não. Gil não poderia sair dessa história sem que fosse avassaladoramente machucada.

Entretanto, não havia como voltar atrás. As mentiras já haviam sido ditas, o depósito do dinheiro sido feito, e agora, Gil precisava vestir um sorriso amável que combinasse com aquele vestido discreto e austero, que a transformava em uma noiva perfeita.

— Eu e Vincent teremos muito assunto para conversar, de qualquer maneira. — Kerya murmurou. — Não só sobre o seu casamento. Você sabe que eu não me sinto confortável por dever tanto dinheiro ao seu noivo.

— E eu já te expliquei, Kerya. Vincent é o meu futuro marido, e insistiu em me ajudar. Não fazia sentido recusar. — Gil desviou o olhar da irmã

— Ainda assim, tentarei acelerar o processo junto ao Dr. Stan, vou pagar o seu noivo o quanto antes. Não quero que esse relacionamento comece com um peso desses. Amor e dinheiro não são boas combinações.

Gil pediu que a mais velha ajeitasse os seus cabelos e prendesse apenas uma das laterais com a presilha, tentando distraí-la daquele assunto. Era vergonhoso encarar a irmã quando sabia que um dos principais motivos de sua relação com Vincent se resumia a exatamente isso: Dinheiro.

xXx

— Você já saiu para buscar a Gil? — a voz de Elaine ecoava no viva voz do celular enquanto Vincent dirigia.

— Estou a caminho. Se a senhora não me ligasse de cinco em cinco minutos eu já teria chegado. — Vincent soltou uma risada.

— Eu só estou preocupada com esse evento. — Elaine confessou. — Por favor, seja gentil com a sua noiva. — ela começou a gargalhar. — Eu adoro falar isso, sabia? Sua noiva.

— Já percebi. — Vincent sorriu ainda mais. — A senhora só a chama assim agora.

— Às vezes acho que é um sonho e que a qualquer momento eu irei acordar. — Elaine soluçou pesado.

— Já conversamos sobre as choradeiras. Ontem a senhora fez uma cena que deixou a Gilan totalmente desconfortável. — Vincent a repreendeu, mas a sua voz soou mais divertida do que severa.

— Quem disse que eu estou chorando? — Elaine disfarçou, mas a sua fungada a entregou. —  E faça o favor de se apressar? Não quero que a minha futura nora fique esperando.

"Eu tinha certeza! Vocês estão apaixonados".

Vincent lembrou-se das palavras da mãe assim que ambos contaram do noivado, e chocou-se com o fato de Elaine não ficar nem um pouco surpresa. A mãe até chegou a afirmar que só um cego não perceberia o quanto eles se gostavam. E naquele momento, a única coisa que queria era um buraco para se esconder, tamanho o seu constrangimento. Se a sua mãe soubesse que não existia nada romântico entre os dois.

Lembrou-se também da expressão serena e impassível de Gilan.

 Tinha que admitir, a encenação dela era muito mais convincente do que ele imaginava. Se tudo continuasse nesse ritmo, não teriam com o que se preocupar. Não seriam descobertos, e isso era tudo o que realmente importava.

Chegou em frente ao novo apartamento das irmãs Robert. Agora ambas moravam mais próximas da B&B Larsson e isso o deixou um pouco menos preocupado, uma vez que Gilan era teimosa demais para aceitar as suas caronas e ele não se sentia nada confortável em ver a sua futura esposa andando de metrô por aí.

Tocou o interfone e o porteiro autorizou a sua entrada. Aguardou alguns minutos no hall, antes que o elevador se abrisse, revelando a imagem de Gilan.

— Me desculpe por não convidá-lo para subir, mas tudo ainda está parcialmente empacotado. — ela começou a tagarelar. — Parece que caiu uma bomba lá dentro e está uma bagunça. — Vincent a fitou dos pés à cabeça. Queria dizer alguma coisa, mas as palavras não surgiram e ele apenas continuou ouvindo a assistente. — Você acha que fará frio? Eu acho que deveria pegar um casaco, mas aí eu teria que segurá-lo a noite toda. E será que irá chover? Talvez eu devesse buscar um guarda-chuva ou-

— Fique calma. — Vincent se aproximou e apertou os seus ombros. A jovem assentiu, parecendo levemente corada, e o tom tão atrativo em suas bochechas fez com que Vincent esticasse os dedos para tocá-la. Alisou aquele rosto macio sentindo-a oscilar levemente em reação. — Você está tão bonita. — a frase escapou, e apesar de não ser a primeira vez que ele a elogiava, era a primeira vez que sentia a necessidade de fazê-lo. — Vamos? — ele a soltou, andando com pressa até o carro. — Não podemos nos atrasar. 

O primeiro contato com o seu ambiente talvez não tenha sido dos mais agradáveis para Gilan. Os flashes das câmeras dos repórteres, que aguardavam na entrada do evento, faziam com que a sua noiva apertasse os olhos impulsivamente.

— Você está bem? — Vincent sussurrou, segurando a noiva pela cintura, a aproximando um pouco mais da lateral do seu corpo. A jovem assentiu, parecendo menos tensa e o envolveu com o braço. — Só mais algumas poses e vamos entrar. — Vincent sorriu para as câmeras.

É verdade que Baxter Larsson aceitará a fusão com a Abbott-Myers?” Um repórter gritou.

“A conta da Rise&Sun já foi atribuída?” Outro perguntou.

Muitas perguntas, porém, Vincent continuava posando, sem respondê-las. 

“Quando será o casamento?”  Uma jornalista o afrontou de maneira mais direta e Vincent se viu obrigado a ser cordial para escapar dela.

— Em breve.

“É verdade que Matthew Green quebrou o contrato com a equipe de Amelia White por causa de sua noiva?” A mesma jornalista insistiu. E a expressão de Vincent tornou-se instantaneamente sombria. 

Se afastou da jornalista com indiferença e puxou Gilan pelo braço. 

— Vamos entrar. — ele ordenou, e a noiva apenas assentiu, parecendo um tanto zonza. — Isso é ridículo, não é? — ele tentou acalmá-la enquanto a guiava para o salão de festas.

— É como ser uma celebridade. — Gilan riu. — Eu confesso que não me interesso muito por essas colunas, mas isso deve vender muito bem.

— Infelizmente, vende. — Vincent virou-se para Gilan e a examinou com cuidado. — Está realmente bem?

— Mais cinco minutos ali e eu acho que nunca mais veria a luz do sol. — ela brincou.

— Acredite, isso é só a ponta do iceberg. — Vincent estendeu o braço para ela. — Preparada?

— Nem um pouco. — e entraram no salão.

xXx

Aparentemente, tudo ocorria como o planejado. Gil já havia sido apresentada para alguns dos nomes mais prestigiados do shopping home, e apesar do nervosismo que insistia em permanecer em seu corpo, ela não o demonstrou, conseguindo manter a sua postura impecável. Vez ou outra, Vincent era solicitado por alguns convidados, mas ele sempre se preocupava em confirmar se ela ficaria bem na sua ausência e isso era uma das coisas mais atenciosas que o chefe já fizera por ela. Tinha que se lembrar constantemente que aquilo fazia parte do combinado.

O cuidado. O carinho. A intimidade.

Tudo era encenação, mesmo que às vezes parecesse tão real. Em um dos momentos em que Vincent precisou se afastar, Gil aproveitou para surrupiar outra taça de champanhe do elegante bar do salão. Um pequeno grupo de engravatados discutiam a possível fusão da Abbott-Myers e os ouvidos de Gil se atentaram ao assunto.

— Abbott-Myers irá lucrar muito mais com essa fusão do que a B&B Larsson. — um dos homens comentou.

— Mas Larsson jamais concordaria com termos que não fossem vantajosos. — outro completou. O velho está aprontando alguma.

— O faturamento da B&B Larsson está tão bom assim? — o homem mais alto questionou.

— Teve um crescimento nominal de 29,8% sobre o ano anterior. Gil deixou escapar, se infiltrando na conversa.

Os engravatados olharam em direção a Gil e a examinaram com curiosidade. Ela se aproximou do grupo, timidamente.

— Foram mais de 150 milhões em faturamento. um dos homens revelou.

— Na realidade, foram 197,6 milhões. Gilan afirmou, tomando o último gole de sua taça.

— Isso é obsceno. um homem barbudo exclamou. Não me admira que Smith Abbott esteja cercando o velho Baxter de todas as maneiras. ele ofereceu outra taça de champanhe para Gil e ela aceitou de bom grado. A senhorita tem ideia de qual a porcentagem de crescimento que eles estão negociando?

“42,5 por cento” Eles repetiram juntos. E todos riram.

— E ainda dizem que estamos em tempos de crise. outro debochou.

— Abbott vem crescendo com muita força no mercado. o mais alto encarou Gil. Foram quantas aquisições no último semestre?

— Oito aquisições internas e vinte dois novos parceiros. Gil respondeu imediatamente. Eram dados que ela sabia de cor.

— Você está bem informada. o barbudo observou. A senhorita lidera alguma equipe?

— Não. ela deu um gole no champanhe. Sou a assistente.

— Deve ser muito boa, então. outro a elogiou.

— Posso garantir que sim. a voz grave de Vincent fez os seus pelos se arrepiarem e Gil se virou, apreciando vê-lo de terno. Suspirou um pouco mais forte do que pretendia e terminou a taça num gole único, sentindo a sua cabeça rodar levemente. Vincent tirou o objeto vazio de sua mão, pousando-o no balcão. Tão inteligente que não pude resistir e a pedi em casamento. Gil deixou escapar uma gargalhada irônica. Vincent soava como um cachorro marcando o seu território.

— Então essa é a sua noiva, Parker? o barbudo parecia se divertir. É o grande assunto do momento.

— Logo imaginei que a garota tinha que ser impressionante para te convencer a cometer essa loucura. o mais alto observou, deixando Gil corada, incerta se aquilo era mesmo um elogio. 

— Tenho que concordar com você, Carl. Vincent a envolveu com os seus braços. Um típico gesto de posse. Embora, impressionante é um adjetivo insuficiente para Gilan. — ele a segurou entrelaçando os seus dedos e a puxou levemente. — Quero te apresentar à uma pessoa. — sussurrou em seu ouvido, e ela assentiu. — Se me permitem, vou sequestrar um pouco a minha noiva.

— Se um dia desses quiser conhecer o meu Iate Club, você será muito bem vinda, Gilan. — Carl lhe entregou um cartão.

— Pensarei sobre isso, obrigada pelo convite. — ela segurou o cartão e o guardou na sua pequena bolsa de mão.

— Parabéns pela noiva, Parker. — Carl cumprimentou. — Você, com certeza não a merece. — ele zombou.

— A vida é mesmo injusta, não é, Carl? — Vincent retrucou antes de se despedirem e se afastarem do grupo. — Tenha muito cuidado com certas pessoas, Gilan. — ele a alertou. — Alguns desses homens têm como passatempo seduzir jovens funcionárias.

— Acho que não devo me preocupar, uma vez que o meu noivo está sempre na minha cola. — ela debochou, lançando uma piscadela.

— Foi isso que pareceu? — Vincent a confrontou. — Que eu a estava vigiando?

— E não estava? — ela o desafiou, se aproximando perigosamente do rosto do noivo.

— Acredito que você já bebeu demais. — ele colocou uma mecha solta de cabelo atrás de sua orelha. 

Gil até poderia ficar feliz com aquela aproximação, mas cada vez que Vincent a tratava com delicadeza, uma emoção furiosa acendia em seu corpo. Era tudo mentira. Uma junção de atos premeditados que a confundiam e a machucavam. 

— Infelizmente, eu preciso te apresentar a uma pessoa. — o chefe a informou.

— Quem? — Gil questionou, um pouco preocupada com o tom de Vincent.

— Harold Mars.  O ex noivo de Amelia. — ele revelou. 

— O homem que ela supostamente-? — Gil perguntou sem ao menos conseguir finalizar e Vincent confirmou positivamente. 

— Ele era diretor da B&B Larsson, hoje está na Starprise Mtm.

— E por que eu devo conhecer esse homem? — Gil empacou o passo. — Eu não quero.

— Não faça uma cena. É necessário.

— Necessário? — ela o encarou desconfiada.

— Harold é uma pessoa útil para mim. — Vincent bateu com os ombros, como se isso fosse motivo suficiente.

— Por que você precisa estar com pessoas que te fazem mal? — Gil murmurou.

— Porque faz parte do jogo, Gilan. — o noivo retrucou secamente. — E eu preciso que você coopere comigo, estamos entendidos?

Quando Gil colocou os olhos em Harold Mars, se surpreendeu com o homem que via. Era alto e atlético, e apesar dos cabelos grisalhos, aparentava ser muito mais novo do que a idade indicava. 

O sorriso que lançou em direção a Gil demonstrou firmeza. E os seus olhos, pequenos e simpáticos, continham um tom de verde escuro hipnotizante. Harold Mars não se parecia em nada com a imagem grotesca que Gil havia idealizado. Infelizmente.

— Essa é a minha noiva, Gilan Robert. — Vincent os apresentou. Harold estendeu a sua mão e Gil retribuiu, sentindo os lábios dele tocarem delicadamente a sua pele. Era um gesto que consideraria cafona, mas naquele momento, pareceu simplesmente adorável que ele lhe beijasse a mão.

— Parker, você é um homem de muito bom gosto. A Srta. Robert é lindíssima. — Harold a elogiou com a sua voz suave.

— Eu agradeço o elogio, embora acredito que o senhor só esteja sendo gentil. — ela retrucou, sem saber ao certo o motivo. Talvez porque o fato de aceitar aquele galanteio pudesse aborrecer Vincent. 

Porém, o noivo não demonstrou nenhuma alteração em sua fisionomia.

— Não seja modesta. — Harold insistiu. — Ainda não vi nenhuma mulher mais bonita que a senhorita nesse salão.

— Talvez o senhor devesse circular um pouco mais. — Gil retrucou de novo.

Harold gargalhou. E aquilo não foi um riso comedido ou calculado. Pelo contrário. O homem realmente apertou os olhos e gargalhou com vontade. Irritantemente cativante.

— Como queira, senhorita. Talvez eu realmente precise dar mais algumas voltas por aí para validar a minha opinião. — Harold brincou.

— Será em vão. Gilan é realmente a mais bonita. — Vincent afirmou, e Gil sentiu a mão do noivo apertá-la.

— Quando será o casamento? — Harold perguntou, analisando com curiosidade os noivos.

— Daqui há duas semanas. — Vincent respondeu.

— Tão cedo? — Harold pareceu levemente surpreendido. — Mas devo confessar que compreendo a pressa. Como dizem, o amor não sabe esperar.

— Alguns são impulsivos por luxúria e outros por amor, não concorda? — Gil despejou, sentindo o olhar contrariado de Vincent em sua direção.

— A senhorita tem toda razão. — Harold balbuciou de maneira charmosa. — O tempo é irrelevante quando há um sentimento genuíno, seja amor… Ou luxúria.

— Mas às vezes as pessoas são sedutoramente persuadidas para a luxúria. — Gil continuou aquele jogo de palavras e Vincent apertou a sua mão com ainda mais força.

— Essas pessoas, senhorita, são muito fracas para o amor. — Harold a fitou, fazendo Gil estremecer com a intensidade do seu olhar. — O que aparentemente, não é o caso de vocês. — ele completou, com um sorriso exageradamente gentil.

— Se me permite, Harold... — Vincent desconversou, com a voz surpreendentemente calma. — Preciso de um momento a sós com a minha noiva.

— Fique à vontade. E sobre aquele assunto... Conte com a Starprise para ajudá-lo, Vincent. — Harold informou, e pousou os seus olhos em Gil. — Foi um enorme prazer em conhecê-la, senhorita Robert. Espero que nos encontremos mais vezes.

— Obrigada. — E eu espero nunca mais te encontrar. Gil pensou, enquanto sustentava um sorriso ensaiado.

Depois de se afastarem a uma distância segura de Harold Mars, toda a tranquilidade que Vincent antes demonstrava desapareceu drasticamente.

— Você perdeu completamente a razão? — Vincent quase rosnou. — Pode me explicar o que foi aquilo?

— Aquilo foi você me forçando a socializar com alguém que eu não queria. — Gil cruzou os braços, aborrecida.

— Deus do céu! Você é uma garota muito geniosa. — Vincent passou os dedos pelos cabelos, parecendo procurar uma maneira de extravasar a sua frustração. — Eu deixei bem claro que Harold tem uma grande utilidade para mim, qual o problema em ser minimamente cordial?

— Acredite, eu me esforcei. Se eu tivesse dito tudo o que eu pensei você ficaria chocado. — Gil admitiu.

— Nós temos um combinado e eu espero que você não estrague as coisas. — a forma que Vincent falou com ela a ofendeu, e só serviu para resgatá-la da ilusão que havia criado quando um Vincent muito amável apareceu para buscá-la em sua casa.

Esse a sua frente era o verdadeiro Sr. Parker. Um homem que usava as pessoas para a sua própria conveniência.

Quais sentimentos passeavam por Vincent ao defrontar a presença de Harold? O que acontecia, de fato, dentro do coração do noivo? Será que ele não percebia o absurdo que era se colocar naquela posição? O quão ferido ele estava para se sujeitar a esses jogos? Será que um dia, Vincent seria capaz de superar o ressentimento que Amelia deixou em sua vida?

— Eu não pude evitar, aquele homem, ele... Ele olha de um jeito que me- — Gil queria dizer enoja. Mas isso seria uma meia verdade. De maneira nenhuma a imagem dele a enojava como deveria. E esse pensamento a fez hesitar um pouco.

— O que foi? — Vincent a observou com atenção, e então, se afastou alguns passos, parecendo mal-humorado. — Harold a impressionou, não foi?

— Não! — ela exclamou. — Sr. Mars é atraente, claro. Mas isso não significa absolutamente nada.

— Eu já escutei essa história antes.

— Vou fingir que não ouvi isso. — Gil pegou com rapidez uma taça de champanhe em uma bandeja que passou por eles.

— Pouco me importa o que você pense dele, — Vincent grunhiu. — só me interessa que você seja simpática com todos que eu lhe apresentar, eu fui claro?

— Tão claro como a porcaria desse champanhe. — ela tomou a bebida de uma vez e empurrou a taça vazia bruscamente contra o peito de Vincent, obrigando-o a segurar o objeto. 

Gil virou as costas o deixando para trás, mas o noivo a seguiu, apertando o seu braço com discrição.

— Não dê as costas para mim. — ele murmurou raivoso.

— Solte o meu braço, Vincent. — ela exigiu, usando o seu melhor tom ameaçador. — Eu não estou blefando, solte-me agora.

— Qual o seu problema com Harold Mars? — a voz de Vincent se alterou de maneira quase imperceptível. — Ele não tem nada a ver com você. Se for por minha causa, não se incomode. Apenas sorria. Foi para isso que eu te trouxe aqui.

— Vai à merda, Vincent. — Gil soltou-se e saiu em disparada para o outro lado do salão, sem se importar com a expressão inconformada do noivo.

xXx

Socar a cara de Vincent. Era isso que Gil queria fazer. 

Encostou-se em uma pilastra no jardim externo do salão e bebericou outra taça. A noite poderia ter dois finais: Gil enforcando o arrogante do noivo na frente dos convidados ou vomitando no banheiro, bêbada e deprimida. Pela quantidade de champanhe que o seu corpo já havia consumido, restaria facilmente a segunda opção.

Sentiu-se a criatura mais tola da terra ao se preocupar com os sentimentos de Vincent, quando claramente, desde o começo, o noivo só pretendia usá-la para atrair a atenção de Harold. 

— Se você beber mais um gole, eu juro que te coloco nos meus ombros e a carrego para fora dessa festa. — Gil deu um salto quando a voz de Vincent a ameaçou. — Me dê essa taça agora. — o noivo ordenou e Gil a entregou.

— Você é o que? — Gil soluçou. — Um homem das cavernas?

— Não me provoque. — ele se aproximou. — Você está bêbada ou ainda consegue conversar? Gostaria que conhecesse mais uma pessoa.

— Você irá me apresentar para mais alguém que odeia? Que tal se eu conhecesse Amelia de uma vez? Podíamos fazer compras juntas. O que acha? — Gil soltou um leve soluço e tapou a boca, rindo ainda mais.

— Ok. Você está bêbada. — Vincent revirou os olhos. — Queria que conhecesse a outra acionista, a irmã de Larsson, Brianna. — ele analisou os olhos semicerrados de Gil. — Vamos deixar para uma próxima vez, não é mesmo? — ele encostou a palma da mão nas costas dela na intenção de guiá-la até a saída, mas ela se desvencilhou do toque.

— Não ponha as mãos em mim. — Gil começou a se coçar. — Suas mãos estão quentes. E me pinicam. — Gil falava um tanto enrolado, enquanto dava dois passos para trás. E sem ser capaz de se equilibrar, tropeçou.

Vincent a segurou antes que ela se espatifasse no chão. 

— Eu avisei para não me provocar, agora não adianta reclamar. — ele abaixou-se até os joelhos de Gil e a encaixou em seus ombros, erguendo o seu corpo com facilidade.

— Me solta! — Gil começou a golpear as costas de Vincent, tentando forçá-lo a colocá-la no chão. — Meus Deus! Isso é tão vergonhoso.

— Tivesse pensado nisso antes de encher a cara de champanhe. — Vincent atravessou o salão com Gil pendurada em seus ombros. E enquanto andava, sustentava um sorriso calmo e cumprimentava algumas pessoas que eram atraídas pela cena curiosa.  — Até mais! Vejo você depois. Essa é a minha noiva. — e apontou para a bunda empinada de Gil. E então, Vincent parou o passo. — Brianna. — ele a cumprimentou com seriedade, e Gil tentou virar o rosto para ver com quem ele conversava. — Me perdoe, mas, como pode ver, é melhor nos falarmos depois.

Vincent se afastou e Gil pode ver o rosto da elegante mulher que os olhava com um misto de espanto e... Desprezo. Gil fez uma nota mental para pesquisar sobre aquela mulher depois.

— Hora do show! — Vincent resmungou antes de passar correndo pelos fotógrafos.

“Vincent Parker?” um fotógrafo apontou.

“É o Parker” outro saiu correndo.

“Por favor Vincent, uma declaração”

“Estão antecipando a lua de mel?”

“Não conseguiu esperar até o casamento, Vincent?” Um jornalista zombou.

Gil tapou o rosto com as mãos tentando evitar que fosse fotografada e alguns segundos depois, sentiu o cheiro agradável do interior do veículo de Vincent. O noivo a colocou no banco do passageiro e ajeitou o seu cinto de segurança, em seguida, ele se desvencilhou dos jornalistas e entrou pelo lado do motorista acelerando o carro.

— A sua bunda estará na coluna social amanhã. — ele disse, sem o menor sinal de arrependimento.

— A culpa é sua por ser um lunático filho da puta! — Gil praguejou.

Vincent a encarou perplexo, com um quase sorriso nos lábios. 

— Me mandou ir à merda e agora xinga a minha pobre mãe? Cadê a mulher doce que eu pedi em casamento?

— Que Elaine me perdoe. — Gil murmurou para o nada. — Céus! Que vergonha. — ela colocou uma mão na testa, abaixando a cabeça. — Não foi assim que eu imaginei essa noite.

— Eu serei o maior prejudicado. — Vincent afirmou, mantendo o seu olhar fixo no trânsito.

— Então por que você fez isso, Vincent?

— Não sei. — ele disse, ainda sem encará-la. E então, bufou. — Você é tão teimosa que me deixa maluco.

Um silêncio prolongado se instalou no carro.

— Você tem razão. — Gil murmurou.

— Eu tenho razões em muitas coisas. — ele sorriu com arrogância e Gil revirou os olhos. — Sobre o que exatamente? — ele quis saber.

— Harold Mars. Você tem razão. Ele não tem nada a ver comigo. — ela admitiu rendida. — E eu não deveria tê-lo tratado daquela maneira.

— Não se preocupe, ele gostou de você. E procurará uma forma de encontrá-la novamente. — Gil reparou nas mãos de Vincent apertando o volante.

— Por mais que ele seja atraente, eu jamais-- — Vincent colocou a mão no joelho de Gil, a surpreendendo.

— Eu sei. — ele disse, e Gil se esforçou para controlar a sua respiração. Vincent pigarreou e retirou a sua mão devagar. — Eu a apresentei sabendo que ele ficaria no mínimo curioso. Eu não deveria ter te usado dessa maneira. 

— Eu aceitei tudo isso quando assinei aquele contrato, não foi?

Vincent a encarou novamente. — Eu não a quero perto dele. Eu achei que pudesse lidar com isso, mas...

— Mas?

— Eu não quero que você faça coisas que te aborreçam. — Vincent acelerou o carro, e Gil notou um pouco de ansiedade naquele gesto. — Queria te proporcionar uma noite agradável, mas acabei te usando para conseguir uma informação de Harold.

— Eu sei que você só está fazendo o que precisa e que nenhuma dessas pessoas te importam. — ela constatou.

— Você me importa. — Vincent estacionou o carro em frente ao prédio de Gil, e ela foi incapaz de desviar o seu olhar do noivo. 

— Gostaria de subir? — Gil ficou tão ansiosa para mudar de assunto que a pergunta simplesmente escapou de sua boca

— Não está tudo empacotado?

— Tem razão. Está mesmo uma bagunça, eu nem tive tempo de guardar as minhas-

— Subir seria legal. — Vincent a interrompeu. — Se você não se importar.

— Sim. Claro. Eu... Eu adoraria. — Gil abriu a porta, desceu do carro e pensou na merda gigantesca que tinha acabado de fazer.


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Notas finais do capítulo

Até semana que vem! o/

Harold Mars - Daniel Day-Lewis (Eu tenho um crush real por ele).



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