Amor à venda. escrita por Nina Olli


Capítulo 19
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores! Espero que gostem desse capítulo... Reescrevi algumas vezes porque nunca achava que estava bom!!! Fico MUITO feliz com os comentários de vocês, então, me contem depois o que acharam, ok? Beijos. :***



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"É preciso acabar com esse medo de ser tocado lá no fundo. Ou é preciso que alguém me toque profundamente para acabar com isso". (Caio F. Abreu)

Vincent sabia que o mais sensato seria dar meia volta, entrar no carro e retornar a festa. Mas ao invés disso, lá estava ele, no elevador do prédio da sua assistente. Quando a noiva abriu a porta, revelou um cômodo pequeno e parcialmente organizado. Tirando a quantidade de caixas ainda espalhadas pelo local, não parecia tão ruim quanto ele imaginava.

Olhou ao redor, explorando o lugar. Um balcão separava o cômodo da sala com a cozinha, que era apertada, porém, bastante charmosa. Teve a impressão de que todo o lugar parecia minúsculo. 

Comparado a gigantesca cobertura que ele possuía, esse apartamento não passava de uma casinha de bonecas.

— Eu avisei da bagunça. — a voz doce de Gilan o tirou de seus pensamentos.

— Fico feliz que tenham encontrado um lugar perto do trabalho. — Vincent puxou assunto, andando em direção à janela e analisando a vista. — Na verdade, estou aliviado, não gosto da ideia de vê-la andando sozinha à noite.

— É uma cidade segura. — a jovem bateu com os ombros, enquanto ia em direção à geladeira. — Quer beber alguma coisa? Temos cerveja, água, um suco de... — ela olhou a embalagem e riu. — Aparentemente, de couve.

— Eu realmente vou recusar o suco de couve. — Vincent zombou fazendo uma careta de nojo. — Mas, aceito a cerveja.

— Kerya tem um gosto peculiar... — Gilan explicou sorrindo e lhe entregou uma lata de cerveja. — Ela gosta de comidas agridoces, sucos de vegetais e frutas cristalizadas.

— Você não deveria julgá-la, senhorita eu-gosto-de-canela-no-meu-café. — Gilan gargalhou e Vincent ficou em silêncio, apreciando aquele som invadir o ambiente.

Era mágico. E raro, pelo menos na sua presença.

A noiva sentou-se no sofá e fez um sinal indicando que Vincent se juntasse a ela. Ambos beberam as suas cervejas e se encararam um tanto desconfortáveis, como se procurassem por algum assunto que pudesse entretê-los daquele silêncio. Gilan batucou os dedos no colo e olhou pela janela. Vincent avistou um bonito porta-retratos num aparador ao lado do sofá.

Uma garotinha pálida e de intensos olhos azuis sorria abraçada a uma mulher de cabelos negros. Na outra ponta da foto, uma adolescente também pálida e com mechas roxas nos cabelos fazia um bico engraçado para a câmera.

A mulher mais velha parecia preocupantemente abatida. Estava magra, com vãos evidentes em suas bochechas e pequenas manchas na pele. Mas os olhos... Eram os mesmos da garotinha, duas safiras reluzentes, que pareciam iluminar aquele apartamento.

Lindos.

— É a minha mãe. Cassandra. Mas todos a chamavam de Cassy. — Gil explicou, segurando o porta-retratos e o fitando com nostalgia.

— O que aconteceu com ela?

— Leucemia. — a jovem revelou, abaixando o seu olhar e apertando os lábios. — Ela já estava bastante doente nessa época.

Um pesado esclarecimento o afetou. Gilan entendia exatamente o que ele sentia. A jovem havia vivido tudo isso, e quando ainda era uma criança. Vincent apertou o maxilar, engolindo em seco, e a imagem de uma garotinha pálida com enormes olhos azuis invadiu a sua mente. O quão difícil havia sido para ela? Agradeceu a existência de Kerya, e por ser uma irmã presente e dedicada. Sem dúvidas, ela merecia o mérito. Conseguiu seguir em frente, criando a caçula e se certificando de que não lhe faltasse nada.

O olhar de Gilan finalmente se encontrou com o seu e Vincent pode ler aquilo que vinha se perguntando há dias. O que fizera a noiva, de fato, aceitar toda essa mentira? A resposta estava ali. Ela aceitou por Kerya. Gilan faria qualquer coisa pela irmã. E fez. Mesmo que isso significasse se unir a uma pessoa intratável feito ele.

— Sinto muito. — Vincent se esforçou em dizer, embora a sua voz não passasse de um fino ruído.

— Ela está sempre comigo. — Gilan sorriu fraco. — Parece bobagem, eu sei. Mas eu realmente a sinto. Ela me cerca, me acalma e me acompanha em todos os momentos importantes da minha vida. — a jovem balançou a cabeça. — Você vai pensar que eu sou maluca.

— De jeito algum. — e sua voz finalmente saiu audível. — O que você disse me deu... — Vincent hesitou, procurando pela palavra certa. — Esperança.

Gilan sorriu como se compreendesse o tipo de sentimento que Vincent se referia. A possível ausência de Elaine era um assunto insuportável para ele no momento. E Vincent preferia enterrá-lo no local mais inerte de seus pensamentos. Porém, diante dele havia uma pessoa que conhecia essa perda. Que conhecia esse vazio. E de uma certa forma, aquelas palavras o acolheram, como se ele pudesse, um dia, ser capaz de suportar essa falta.

Observou a assistente colocar o porta-retratos de volta no lugar e decidiu mudar aquele clima melancólico que ficou no ambiente.

— Vocês estão gostando daqui? — tentou puxar um assunto qualquer.

— O bairro é ótimo. Perto do meu trabalho, como você sabe, e Kerya adorou a vista. — Gilan respondeu.

— Parece um pouco pequeno para vocês duas. — ele observou.

— De fato, aqui é menor do que o nosso antigo apartamento. — Gilan admitiu. — Mas foi o preço mais em conta que encontramos.

— O dinheiro não foi suficiente? — Vincent tentou soar o mais desinteressado possível, mas acabou falhando.

— Kerya quis economizar. — Gilan sentou-se com a postura ereta, como se estivesse prestes a fazer alguma negociação. — Pretendemos pagá-lo o mais breve possível.

— Eu já disse que não preciso desse dinheiro. — e o seu tom de voz saiu impaciente.

— E nós temos um contrato que deixa bem claro que esse dinheiro foi apenas um empréstimo. — Gilan retrucou inflexível.

— Não vamos falar disso agora. Esse assunto me aborrece. — Vincent franziu a testa, tentando dissipar a sua irritação. — E a sua irmã?

— Não está. — Gilan apertou as próprias mãos, parecendo ansiosa. — Saiu com o namorado.

— E ela namora há muito tempo? — Vincent tentou prolongar o assunto antes que caíssem de novo naquele silêncio incômodo.

— Namorar foi uma forma de dizer. — Gilan bufou, soltando um meio sorriso. — Digamos que a minha irmã não acredita em relações duradouras.

— Isso soa como uma desculpa para evitar compromissos. — Vincent observou.

— E disso o senhor entende, não é? — Vincent se preparava para repreender a maneira formal que Gilan se referiu à ele, quando a jovem soltou outra gargalhada. Deus! Como ele nunca havia percebido o quão deslumbrante a sua risada era? — Eu acho que não deveria ter adicionado essa cerveja na minha cota de bebidas dessa noite. — ela ergueu e balançou a lata já vazia de maneira adoravelmente descoordenada.

— Eu gosto dessa sua versão bêbada. — Gilan pareceu confusa com aquele comentário. — Prefiro você sorrindo do que discutindo comigo.

— Então nós temos um grande problema aqui. Discutir com o senhor é a coisa que mais me diverte. — a jovem o provocou, soltando um soluço em seguida.

Gilan entrelaçou os dedos entre os seus longos cabelos e os bagunçou com delicadeza, jogando-os para o lado. Ela aproximou o corpo alguns centímetros na direção de Vincent e um tom rubro surgiu em seu rosto, se misturando sedutoramente com a sua pele clara. Vincent fixou o seu olhar nos lábios da assistente e a jovem os umedeceu numa movimentação totalmente hipnotizante.

Se qualquer som surgisse no ambiente, Vincent não seria capaz de escutá-lo, pois as batidas em seu peito pareciam estourar dentro de sua cabeça. Ele encarou os olhos da assistente e notou que ela o contemplava fixamente. Concentrada. Atenta. Como se tivesse perdido alguma coisa por ali.

Oh. Oh.

De repente, achou uma péssima ideia ter aceitado aquele convite. Não deveria estar ali. E tudo ficou completamente óbvio enquanto encarava aqueles olhos azuis febris: Gilan estava tentando uma aproximação. Uma aproximação perigosa demais.

E no estado em que a jovem se encontrava, Vincent sabia muito bem que a ressaca moral seria infinitamente maior do que todos os champanhes que ela havia tomado. Com o máximo de cavalheirismo, ele se afastou até a ponta do sofá procurando as melhores palavras para se despedir. Precisava sumir dali, antes que alguma coisa verdadeiramente inapropriada acontecesse.

— Obrigado pela conversa. — ele ergueu a lata em suas mãos. — E pela cerveja. Mas, já está tarde.

— Claro. — Gilan respondeu sem graça, como se tivesse sido arrancada de algum tipo de transe e aquilo o deixou com uma sensação horrível. — Eu o acompanho. — a voz da jovem não revelava nada, mas ele a sentiu um tanto retraída.

Gilan insistiu em acompanhá-lo até o carro e Vincent achou aquilo totalmente desnecessário, uma vez que a lembrança da jovem no sofá minutos atrás ainda o perturbava. Já no exterior do prédio, Vincent reparou em uma minúscula luz vermelha piscando do outro lado da rua. A movimentação, aparentemente, vinha de dentro de um carro insufilmado que estava apenas há alguns metros de distância.

Revirou os olhos, já sabendo que se tratava de jornalistas insistentes atrás de alguma foto idiota. Ele definitivamente não devia ter carregado Gilan pelo salão pendurada em suas costas. Por um momento, pensou em ir até o carro e confrontar o profissional que os havia seguido. Bufou irritado e vislumbrou a figura confusa de Gilan. 

A jovem apertou os lábios parecendo tão frustrada. Ela com certeza estava chateada. E Deus o perdoe, encantadoramente irresistível.

Merda!

Não conseguiu mais desviar o seu olhar dela. De suas sobrancelhas franzidas, de suas quase imperceptíveis sardas nas bochechas, do arco pigmentado que envolvia o seu olhar azul e principalmente, de seus lábios. Fixou a sua atenção naquela boca bonita que exibia um tom de pele rosado e úmido.

— Tem um fotógrafo naquele carro... — Vincent sussurrou, se aproximando de Gilan. — E eu vou te beijar.

Cerveja. 

Cereja. 

Uma mistura problemática. Entretanto, era esse o aroma que dançava em sua boca agora, e nada do que ele provara antes parecia ter sido tão harmonioso quanto a junção daqueles dois sabores.

No momento em que Vincent puxou o corpo da assistente para beijá-la, todo o controle que ele supunha ter se perdeu como areia entre os dedos. O corpo dela encaixou ao dele de uma forma assustadoramente precisa. Cada pedaço. Cada centímetro.

Perfeito.

Deslizou uma das mãos até a cintura da jovem, forçando-a a se aproximar de forma passional e quase sufocante. Os seus lábios se prenderam com ainda mais intensidade, aumentando a provocação entre eles até as suas línguas se tocarem. Aquele contato tão íntimo despertou choques pelo corpo de Vincent e quando um gemido escapou dos lábios da assistente, ele sentiu-se enlouquecidamente entorpecido. Era o som mais maravilhoso que já escutara na vida.

Num impulso irracional, ele agarrou a nuca da assistente, envolvendo os dedos em seus cabelos e tornando a fricção de suas bocas algo quase agressivo. Deu dois passos para trás, sem se desfazer do beijo, e a encostou na parede com brutalidade, apertando-a até senti-la mexer o seu corpo abaixo de si. A jovem cravou as unhas em suas costas e o acariciou com uma necessidade deliciosa, traçando alguns pontos com o calor de seus arranhões.

Mais.

Vincent não queria raciocinar. Apenas repetia para si mesmo que precisava de mais. E Gilan correspondia a ele de maneira receptiva, se mexendo com vontade e desprendimento. Tudo muito descoordenado mas cheio de urgência. 

Tão bom. Tão fodidamente bom.

Então, ela roçou os seios na altura de seu tórax, e ele rosnou. Literalmente rosnou feito um maldito animal. Deus! Isso não era apenas um beijo. Era uma entrega total. Uma vontade reprimida. Qualquer coisa. Menos apenas um beijo.

Vincent precisou tomar uma lufada de ar e reclamou internamente por ter que afastar os seus lábios dos dela. Decidido em não perder o contato, ele desceu a sua boca até o pescoço da jovem e quase praguejou ao sentir aquele cheiro tão excitante de cereja. Definitivamente, esse se tornou o seu perfume favorito.

O seu nariz passeou pela pele do pescoço dela, deixando um rastro de arrepio a cada respirada quente que ele soltava. E então, a lambeu. Mordeu. Chupou. Não saberia descrever as ações exatas, nem ao menos sabia o que estava fazendo.

Só um pouco mais.

Traçou a delicada mandíbula da jovem com beijos suaves, até finalmente retornar ao seu desejado objetivo. Mordiscou aquele lábio curvado a fazendo soltar outro gemido. De novo aquele som que o deixou tão desorientado. Ele não resistiu e também gemeu, ou melhor, grunhiu. Alto. Gutural. Um som rouco que logo foi calado por outro beijo, dessa vez, ainda mais intenso que o primeiro, se isso fosse humanamente possível.

Vincent chupou a língua da jovem, a sentindo se contorcer ainda mais abaixo de si. Deus! Queria erguê-la, prensá-la contra a parede e apertar as suas coxas. Queria que ela o envolvesse com as pernas para que pudessem se esfregar com mais facilidade. Faria qualquer coisa para aliviar essa necessidade. Qualquer coisa. Precisava desesperadamente dela.

— Será que eles já nos fotografaram? — a jovem murmurou entre os lábios de Vincent.

— Eu não sei. — Vincent chupou o lábio inferior dela, lançando alguns pequenos beijos no canto. — Eu acho melhor garantirmos mais uma foto. — disse abafado, antes de tomar a boca dela novamente.

Suas mãos passearam por todo o corpo da assistente. Vincent não saberia escolher o ponto que o agradava mais. Costas. Cintura. Quadris. Coxas. Gilan queimava. Ardia. Era o calor mais estimulante que ele já sentira. Tudo nela o deixava instigado. Já tivera muitas mulheres naquela mesma posição, mas nenhuma que o fizesse perder as suas restrições. Naquele momento, ele não era nada. Naquele momento, ele seria exatamente o que ela pedisse que ele fosse. Ele faria qualquer coisa por ela.

O pensamento o aterrorizou.

Gilan Robert era a sua assistente. Uma jovem de vinte e três anos com toda a vida pela frente. Uma funcionária obstinada e perseverante, de personalidade forte, língua afiada e futuro promissor. Uma jovem que merecia alguém muito melhor do que ele.

Pensou em sua gargalhada. Radiante

Pensou em sua amizade com Elaine. Pura

Pensou em Gilan rodopiando nos braços de Matthew. Feliz.

Aquela garota que o tocava era a última pessoa que Vincent pretendia decepcionar. 

Com muito esforço, segurou o delicado rosto da assistente com as duas mãos e cessou devagar o contato entre os seus lábios. Encostou a sua testa na testa da jovem, tentando recuperar o fôlego daquele frenesi que há alguns segundos compartilharam.

A respiração dela estava quente e descompassada. E aquele som quase o fez desistir da ideia de se afastar. Deus! Como queria congelar aquele momento. Mas não iria. E jamais poderia.

— Acredito que já tenha sido o suficiente. — e então, a soltou abruptamente, dando-lhe as costas e entrando no carro sem sequer olhar para trás.

Você é um desgraçado, Vincent Parker. Um desgraçado.

 


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Notas finais do capítulo

Até semana que vem... o/



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