Amor à venda. escrita por Nina Olli


Capítulo 17
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores! Algumas pessoas me perguntaram quantos capítulos a fic terá, e bom... Se tudo sair como eu quero, serão cerca de 35 capítulos! E eu continuarei postando toda a semana, o meu trabalho não me deixa postar mais vezes, infelizmente! Beijo.



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"A mentira é muita vezes tão involuntária como a respiração". (Machado de Assis)

Após o Sr. Parker deixar a sua sala acompanhado da mãe, a única coisa que Gil conseguia pensar era em se livrar da tensão que o chefe lhe causava.

Resolveu caminhar pelos jardins no exterior da empresa e sentou-se em um banco de concreto, aproveitando a brisa fresca do dia. Sabia que não conseguiria evitar a presença do chefe para sempre. Aquela situação, mais cedo ou mais tarde, deveria ser resolvida, porém, decidiu adiar o assunto mais um pouco.

Já de volta ao interior da B&B Larsson, Gil estava prestes a cruzar um corredor quando escutou a voz inconfundível de Elaine. Ela nunca teve a intenção de ouvir aquela conversa, mas também não fez o menor esforço para se afastar. Então, Gil se escorou na parede e começou a acompanhar o assunto.

— Eu não passarei os meus últimos dias na cama de um hospital! — a voz de Elaine parecia um tanto alterada.

— Não seja imprudente! — o chefe falou ainda mais alto. — A senhora quer morrer sem nem ao menos lutar? — o estalo de um tapa fez eco no corredor.

Gil cobriu a boca com as mãos para abafar um gemido. Elaine respirava ofegante, enquanto o Sr. Parker massageava o seu rosto, que continha marcas bem contornadas de dedos em sua pele. 

Ambos se encaravam com intensidade e permaneceram assim por longos segundos.

— Não fale comigo como se eu fosse uma covarde. — Elaine quebrou o silêncio. — Eu tentei muito mais do que você imagina, mas agora... — ela tomou um longo fôlego. — Agora eu vou viver o resto da minha vida em paz.

O Sr. Parker puxou a mãe pelos pulsos e a abraçou, apertando o seu rosto contra o pescoço de Elaine.

— Eu não posso perdê-la. — Gil escutou o chefe murmurar. 

— Você nunca vai me perder. — Elaine acariciou as costas do filho. — Eu quero aproveitar o meu tempo estando lúcida. Não quero que nenhum tratamento me faça perder a identidade.

— E eu não quero que a senhora sofra. — ele se afastou e fitou os olhos da mãe.— Eu só quero uma maldita cura!

— E eu só quero vê-lo feliz, meu amor. — Elaine o abraçou novamente. — Não existe nada que eu deseje mais nesse mundo do que aproveitar cada minuto ao lado do meu único filho. Não me obrigue a abrir mão disso.

Gil se afastou com cautela, sentindo o seu peito pressionado. 

Respirou fundo e voltou para o corredor do décimo quarto andar, presenciar aquilo havia sido invasivo demais. Cogitou desistir de tudo e sumir daquele lugar. Procurar um novo emprego, se afastar para sempre do chefe e de toda essa carga emocional que o cercava.

Mas ela não poderia. Estava envolvida demais com toda a história de Elaine para que decidisse dar as costas para tudo agora.

Por isso, no dia seguinte, quando entrou na sala do Sr. Parker, não tinha certeza nenhuma do que deveria fazer. Mas, ao encarar o chefe, Gil teve um estalo em seu coração.

E os últimos acontecimentos rodaram em sua mente como flashes de um filme. 

A perda do seu dinheiro. O jantar com Vincent. O seu reflexo borrado na vitrine. A sua irmã, destruída e ajoelhada no chão.

Gil levantou o seu olhar e deixou que as palavras simplesmente escapassem de sua boca. Eu aceito. E Gil sabia que aquela frase, apesar de pequena, significava muito. Sabia que estava entrando em uma mentira sem volta e que iria brincar com os sentimentos de muitas pessoas, incluindo os próprios. 

E sabia também, que muito mais do que ajudar o chefe com o seu plano insano, ela estava aceitando se vender. Constatar isso lhe pareceu degradante. Mas era a sua realidade. Gil estava vendendo não só o seu tempo e a sua presença encenada. Ela estava colocando um preço no sentimento que nutria pelo Sr. Parker e na sua incapacidade de se afastar daquele homem. 

Ela estava colocando o seu amor à venda.

E o pior de tudo era que Gil queria estar ao lado dele, mesmo que fosse apenas por um contrato, mesmo com uma porção de cláusulas os rodeando. Ela precisava fazer isso. Não pela irmã, não por Elaine e muito menos pelo chefe. Mas por ela mesma. 

Gil queria ser a sua mulher. E apesar de saber que haveria um termo de separação de corpos, ainda sim, ela precisou aceitar.

Ela quis.

E lá na frente, tinha consciência de que não poderia responsabilizar mais ninguém que não fosse ela mesma.

 Com essa pequena frase, tudo mudaria entre eles. Ela não seria apenas a sua assistente e o chefe não seria mais o terrível Sr. Parker. A partir de agora, eles estariam oficialmente noivos. E ele seria apenas Vincent. O seu futuro marido.

— Eu aceito me casar com você, Vincent. sua voz soou mais calma do que ela de fato estava.

— Você realmente fará isso por mim? a respiração dele se tornou eufórica e o chefe fez menção de tocá-la, mas Gil sabiamente se afastou.

— Não. ela estendeu o braço, o repelindo. Eu espero que fique claro que estou aceitando essa proposta apenas por dois motivos. Por Elaine e por causa do dinheiro. ela mentiu. Embora, sobre Elaine... Eu temo que a magoarei muito mais do que a farei feliz.

— Eu te garanto que ela ficará feliz. — Vincent se aproximou e a olhou com um fervor que a fez estremecer. 

— De qualquer maneira, eu gostaria de falar das cláusulas do nosso casame-- ela balançou a cabeça negativamente. Do nosso contrato. Gil sentou-se na cadeira da sala de Vincent e o chefe se afastou, sentando-se em uma poltrona no centro da sala.

— Venha até aqui. o chefe a chamou numa entonação que Gil quase se recusou a obedecê-lo. Vincent tinha um jeito autoritário de falar que a irritava como ninguém. Mas por fim, ela sentou-se em uma poltrona de frente para ele. Como eu havia comentado, gostaria que fosse um casamento simples, se possível, apenas no civil. ele continuou, com o profissionalismo que Gil já estava habituada ver nas reuniões. Teremos alguns compromissos com a imprensa, e obviamente, precisaremos esclarecer para a equipe que a nossa relação, apesar de ter se transformado em algo pessoal, não influenciará no nosso trabalho.

Gil assentiu. Eu concordo... Com quase tudo. ela se ajeitou na poltrona, mantendo a postura firme. Eu quero uma festa de casamento. Não precisa ser grandiosa, mas eu quero.

— É do tipo que aprecia as tradições românticas? Vincent zombou com humor, mas o sorriso em seu rosto não durou, pois Gil não estava receptiva.

— Vincent... ela o chamou pelo primeiro nome novamente. Eu terei que mentir para a minha irmã, e Kerya é a pessoa que mais me conhece no mundo. Ela jamais acreditaria que eu simplesmente optei por um casamento no civil.

— Você não me respondeu. ele tamborilou os dedos no braço da poltrona.

— Tradições românticas? Isso não vem ao caso. ela desviou o olhar.

— Eu apenas gostaria de saber. Vincent insistiu. O chefe a olhava com tanto interesse que mal a deixava se concentrar no que deviam, de fato, discutir.

— Saber exatamente o quê? ela perguntou, um tanto ríspida.

— Do que você gosta. ele sorriu confiante. Como você quer que seja esse casamento?

— Esse casamento jamais será como eu quero.

— E por que não? Vincent perguntou com uma expressão ofendida. Eu posso fazer a cerimônia dos seus sonhos.

— Não será. ela retrucou com firmeza. Acredite, não será.

— Eu tenho dinheiro, Gilan. ele aproximou o corpo, sentando-se na ponta da poltrona. E posso pagar o luxo que você quiser. Então por que não fazer como você sempre sonhou?

— Porque eu não estou me casando por amor, Vincent.

Eles ficaram em silêncio por alguns segundos.

— Eu compreendo. o chefe relaxou o corpo na poltrona e abaixou o olhar. E sinto muito que isso seja um sofrimento para você. apesar do tom de voz amargo, ele pareceu sincero.

— Eu não estou sofrendo. Gil mentiu novamente. Só fui realista. ela umedeceu os lábios e soltou um leve suspiro. Podemos continuar?

O chefe fez um sinal com a mão, para que Gil prosseguisse.

Eu gostaria de saber qual o tipo de liberdade que terei em sua casa?

— Todas. Vincent respondeu imediatamente. Você poderá fazer o que quiser. A casa será sua.

— Ótimo. Gil apertou as mãos, tentando impedir que o chefe notasse o quanto estavam trêmulas. E enquanto estivermos noivos, e posteriormente, casados... Gil não completou a frase.

— Apenas diga o que você quer, Gilan. ele a encorajou com suavidade.

— Eu gostaria que o senhor não levasse nenhuma mulher para a casa. Gil abaixou o olhar.

Estava receosa com aquele pedido, mas ela não poderia suportar vê-lo com outras mulheres. É claro, Gil sabia que Vincent mantinha alguns encontros casuais, mesmo que esporadicamente, afinal, sendo a sua assistente, seria quase impossível não percebê-los. Mas vivendo uma rotina ao seu lado, estando sob o mesmo teto, ela não conseguiria aceitar. 

— Eu jamais faria isso. ele franziu a testa, e parecia mais surpreso do que indignado. Eu nunca levei mulheres para o meu apartamento. E mesmo que o nosso casamento seja apenas um contrato, eu pretendo me manter totalmente fiel à você.

— D-desde que eu não veja, não fará diferença. Gil balbuciou ridiculamente.

— Suponho que você diz isso porque também deseja manter as suas relações amorosas. Vincent perguntou num tom que Gil não conseguiu identificar.

— Prefiro não falar desse assunto. ela foi enfática, não queria discutir a sua vida amorosa justamente com Vincent. O que ela diria?

Não pretendo manter relação nenhuma porque estou completamente apaixonada por você. 

— Eu gostaria que você não se relacionasse com ninguém enquanto estivermos juntos, Gilan. Gil soltou uma risada debochada, mas a feição de Vincent permaneceu impassível. Ele realmente falava sério? O seu coração tolo acelerou diante daquele pedido.

— Isso faz diferença para o senhor? ela perguntou nervosa.

— Senhor? ele sorriu, e pequenas rugas se formaram nos cantos de seus olhos. Achei que agora eu era apenas Vincent.

— Força do hábito. Gil odiava o quão exaltado o seu corpo reagia ao vê-lo sorrir.

— E sim. Faz diferença. o chefe confirmou. Não quero que boatos se espalhem. e Gil sentiu uma tristeza imensa ao ouvir aquele pedido.

Claro. Vincent já havia sofrido demais com a sua relação anterior e a última coisa que ele precisava era ouvir fofocas sobre supostas infidelidades de sua futura esposa.

— De acordo. ela conseguiu dizer. E eu tenho mais um pedido. Vincent assentiu, a encorajando. Quero que trate melhor as pessoas.

— O que tem de errado com a maneira que eu as trato? Gil fez uma careta reprovadora e Vincent pareceu entender. Ok, está certo, mas o que isso influencia em nosso casamento?

— Tudo. Eu não quero me casar com um babaca.

— Isso doeu. ele fez um gesto como se tivesse sido atingido no peito. E tratá-las melhor significa o que exatamente?

Gil pensou um pouco. Cumprimentá-las. Desejar um bom dia, perguntar se a pessoa está bem. Olhá-las nos olhos. Pedir por favor, dizer obrigado. Essas coisas que eu tenho certeza que Elaine te ensinou, apesar de parecer que você as esqueceu. o chefe revirou os olhos e Gil continuou. Evitar gritar seria um avanço também, mas não vou exigir tanto. Acho que o senhor enfartaria se passasse um dia inteiro sem berrar com alguém.

— Você. ele a corrigiu. Continue me chamando de você.

— Você. ela repetiu assentindo, enquanto ambos se encaravam.

Uma pequena cerimônia, ele finalmente falou. um pacto de fidelidade e uma mudança de comportamento. Existe mais alguma coisa que você queira, Gilan?

— Sim. Vincent se ajeitou na poltrona aguardando o seu próximo pedido. O dinheiro. Gil encarou os próprios pés, envergonhada. Eu precisarei dele imediatamente.

— Claro, agora mesmo eu faço a transferência para você. ele afirmou, e aquela frase fez com que Gil se sentisse tão suja, que por um momento, quis desistir.

— Quando o Dr. Stan conseguir encontrar a quadrilha nós devolveremos cada centavo para o senhor... Digo... para você. Gil soltou a frase sem nem ao menos respirar, como se aquilo amenizasse o fato de aceitar o dinheiro.

— Esse dinheiro é pelo favor que você está me fazendo, Gilan. Eu não espero que você o devolva.

— Por favor, Vincent, não me humilhe ainda mais. ela murmurou, abraçando o seu próprio corpo. É muito difícil aceitar esse dinheiro. Me deixe pagá-lo.

— Mas isso não é justo. ele insistiu. Se for assim, você não ganhará nada com esse casamento.

— Eu não ganharei nada? ela sorriu irônica. Você se esqueceu que no momento nem ao menos temos onde morar?

— Certo. Discutiremos isso depois. 

— Não, discutiremos agora. Eu quero que conste no contrato que esse dinheiro é apenas um empréstimo. ela exigiu, e se aproximou da mesa do chefe.

— Meu Deus! ele passou a mão pelos cabelos, parecendo bastante contrariado. Como você é teimosa. Eu não preciso da porcaria desse dinheiro!

— Essas são as minhas exigências, Vincent. respondeu simplesmente. Deixarei que você reflita sobre elas. Gil fez menção de sair da sala, mas sentiu a mão firme do chefe apertar o seu braço, fazendo com que o encarasse.

Perto demais.

— Não. ele murmurou. Eu não tenho nada para refletir, eu aceito tudo o que você quiser. agora ele segurava em seus dois braços, deslizando as suas mãos dos ombros até os pulsos de Gil, enquanto a alisava com as pontas dos dedos.

— Vincent? a voz de Gil quase não saiu.

— Obrigado. ele encostou a sua testa na testa de Gil e sussurrou, soltando uma rajada de ar quente diretamente na pele dela. Eu nunca conseguirei te agradecer o suficiente por tudo isso. Obrigado por aceitar a minha proposta. Vincent se afastou abruptamente e entrelaçou os seus dedos nos dedos de Gil. Venha. ele a puxou até a porta. Precisamos contar para Elaine... Precisamos contar para todos que iremos nos casar.

E Gil correu pelos corredores, sendo guiada por aquele homem que dentro de poucas semanas, se tornaria o seu marido.

 


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Notas finais do capítulo

Até a próxima semana... E um FELIZ NATAL!!! :)



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