Amor à venda. escrita por Nina Olli


Capítulo 15
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores! Isso não é uma miragem, eu realmente consegui postar na terça! o/
Espero que gostem... :)



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"Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeira companhia". (Friedrich Nietzsche)

— Houve um envolvimento dos gânglios linfáticos e as células se espalharam longe do tumor primário. — o médico apontou para os exames.

— Seja mais claro, por favor. — Vincent se mexeu impacientemente na cadeira.

— As células cancerígenas estão se espalhando e afetando os outros órgãos. — o médico suspirou. — Isso é chamado de metástase. A Sra. Parker precisa intensificar o tratamento.

— Ela não vai aceitar. — Vincent bufou exausto massageando as suas têmporas. — Realmente não pode operá-la?

— Não temos mais essa possibilidade. — o médico reforçou. — É importante que ela aceite esse novo recurso. Para que tenha uma expectativa maior.

— Quais as chances reais dela? 

— Remotas, infelizmente. — o médico colocou as mãos nos ombros de Vincent. — Mas a sua mãe não deve desistir sem antes tentar. A convença de seguir com os procedimentos. Faremos tudo ao nosso alcance. Existem coisas que nem mesmo a medicina consegue explicar.

Vincent saiu do consultório e andou pelo estacionamento do hospital se sentindo desorientado. Nada do que dissessem o ajudaria a sair daquele estado de letargia. Dinheiro e poder nunca lhe pareceram tão inúteis.

Como era possível que nenhuma solução estivesse ao seu alcance? Entrou no carro, e antes de colocar o cinto, suspirou profundo. Abriu o porta-luvas e procurou pelo pequeno papel amassado e segurou a lista que ele insistia em carregar para todos os lugares. Releu com atenção os desejos da mãe e encostou a testa no volante.

Não soube dizer por quanto tempo chorou, mas se permitiu demorar o tempo que fosse necessário. E antes que os soluços cessassem, tomou uma decisão. Assim que descesse daquele carro, realizaria os desejos da mãe. O máximo que pudesse. Talvez fosse a única coisa que, de fato, pudesse fazer por ela agora.

Jamais seria capaz de compensar os anos de total desatenção, mas ao menos, transformaria cada momento juntos em uma recordação extraordinária. E nunca mais se permitiria chorar por causa dessa maldita doença.

Assim que Vincent chegou à empresa, tentou em vão se concentrar em qualquer assunto que não fosse a reunião com o médico. Mas, nada parecia surtir efeito. As suas vistas estavam embaçadas e os seus pensamentos não o deixavam trabalhar em paz. 

Desistiu de lutar contra si mesmo e fechou os olhos, relaxando em sua cadeira. E despretensiosamente, se pegou pensando na assistente. Devido aos seus compromissos no hospital, não a via desde o dia anterior. A lembrança da jovem assustada e desamparada não parava de persegui-lo. 

De que maneira ele poderia ajudá-la? 

Vincent sentiu um estalo em sua mente e algo se formou como um quebra-cabeça. 

Saiu de seu escritório e andou devagar pelo corredor, parando em frente à uma pequena sala. Não tinha o costume de ir ao encontro de Gilan. Na verdade, ele não se lembrava se já estivera na sala dela antes. A porta estava entreaberta e ele se aproximou, permitindo-se espiá-la pela fresta.

A assistente havia prendido os cabelos de maneira bagunçada e mordia levemente a tampa de uma caneta. Seus olhos azuis estavam atentos, acompanhando as linhas do documento que lia. Ela fazia algumas anotações e murmurava palavras desconexas. 

A impressora apitou e a assistente deu um impulso, rodopiando com a cadeira até a máquina. Pegou os papéis, e em seguida, se arrastou para o outro lado da sala. Digitou com agilidade no teclado do computador e pouco tempo depois, levantou-se para programar o scanner. Tomou um gole rápido de café e deu um longo suspiro, e sentou-se novamente, teclando com ainda mais velocidade. 

Rodopiou mais uma vez com a cadeira e guardou algumas pastas em uma gaveta do outro lado da sala. Vincent soltou um meio sorriso. Aquilo era como uma dança. 

E Gilan parecia tão dedicada e tão encantadoramente natural, que ele poderia observá-la trabalhar por horas.

 Um barulho de ranger quebrou o silêncio. Vincent percebeu que havia encostado na porta e a movimentação fez com que os olhos de Gilan o fitassem. Ela levantou-se rapidamente, um tanto surpreendida, e ele, sem poder negar o flagra, entrou na sala de uma vez.

— Sr. Parker? O senhor precisa de algo?

— Eu gostaria de conversar com você. — Vincent se aproximou da mesa da assistente. — Como está se sentindo hoje? — ele perguntou educadamente.

— Melhor. — ela parecia de fato mais animada. — Minha irmã tem uma reunião hoje com o advogado e o banco, esperamos que sejam boas notícias.

— Vocês já encontraram algum lugar para ficar? — Vincent a fitou com interesse, batendo os dedos devagar na mesa.

— Ainda não. — ela murmurou sem graça. — Mas Kery está confiante que o empréstimo dela será aprovado. — a jovem sorriu, como se tentasse convencê-lo.

— Espero que sim. — Vincent prensou o maxilar e tomou coragem. — Você tem algum compromisso hoje à noite?

— Combinei de estar em casa cedo. Para saber as novidades do processo. Mas, se o senhor precisa que eu faça hora extra, eu ligo para a minha irmã e-

— Não é isso. — Vincent a interrompeu. — Não se trata de fazer hora extra. — ele fixou o olhar em um dos documentos na mesa da assistente e falou sem encará-la. — Vamos jantar juntos. — ele levantou o olhar. — Se você quiser, é claro.

— Claro. — ela o respondeu imediatamente. — O que o senhor gostaria de pedir?

— Eu não quero jantar aqui na empresa, Gilan. — ele sustentou uma expressão séria. — Estou te convidando para jantar em outro lugar.

— Que outro lugar? — a assistente o encarou com desconfiança.

— As pessoas costumam jantar em restaurantes. — ele zombou, mas se arrependeu em seguida ao notar o embaraço da jovem.

Vincent quase quis desistir daquela ideia absurda de encontrá-la fora da empresa. Mas não podia negar que estava estranhamente ansioso para ouvir a resposta de Gilan. 

Por que ela parecia tão hesitante? 

Vincent poderia apostar que quando Matthew a convidara para dançar ela aceitara de imediato. O pensamento fez com que ele cruzasse os braços e os apertasse discretamente.

— Tudo bem. — ela finalmente respondeu.

— Ótimo. Te encontro no estacionamento depois do expediente. 

xXx

As horas pareciam se arrastar lentamente e cada vez que Gil encontrava com o chefe pela empresa, sensações estranhas dançavam em seu ventre. Daqui a pouco jantariam juntos. Sozinhos.

Nunca havia sentido tanta ansiedade na vida.

Já não se preocupava em negar o que sentia por ele, porém, tinha receio de que estivesse se precipitando em suas expectativas.

Lembrou-se do chefe invadindo o banheiro feminino à sua procura, e agora, vindo até a sua sala apenas para conversar. 

Por Deus, ao menos um resquício de afeição e interesse ele devia sentir por ela. Era impossível que estivesse lendo o comportamento do chefe de maneira tão equivocada.

— Já está indo, Gil? — Sara a despertou de seus pensamentos.

— O que você acha dessa roupa? — Gil mudou drasticamente o assunto e girou o corpo para que a secretária analisasse o seu visual.

— É um terno de trabalho.  — Sara pendeu a cabeça para o lado. — Elegante, clássico e de muito bom gosto.

— Que com certeza não me faz desejável. — Gil bufou.

— Oh meu Deus! — Sara praticamente gritou. — Você tem um encontro?

Gil se aproximou da secretária e tapou a boca dela. 

— Fala baixo. E sim. Eu tenho um encontro, aparentemente. Mas, não queria ir vestida assim. — e apontou para si.

— Acho que posso te ajudar com isso. — Sara arrastou Gil pelo corredor até chegarem ao elevador.

— Para aonde estamos indo? — Gil questionou.

— Num lugar em que você poderá escolher o vestido que quiser. — Sara piscou. — O departamento da Moda Mulher.

— O quê? — o rosto de Gil ficou pálido. — Não, Sara, não devemos. E se nos pegarem? —  E se a megera me pegar? O pensamento a fez hesitar.

A última pessoa que gostaria de encontrar antes de um jantar com o Sr. Parker, seria Amelia White. 

— Não se preocupe, eu conheço todos por aqui. — Sara saiu do elevador e a puxou.

Elas foram em direção à uma recepção, onde uma senhora elegante e de cabelos brancos se preparava para ir embora.

— Gretta! — Sara saudou e abraçou a velha mulher.

A senhora retribuiu o abraço. — Sara! Nunca mais apareceu para tomar café comigo.

— Me perdoe Gretta, mas essa conta da Rise&Sun está me enlouquecendo. — Sara bufou.

— Oh como eu sei, a Srta. White está transformando isso aqui no próprio inferno. — Gretta sussurrou. 

— E falando na megera... Ela está por aí? — Sara sussurrou de volta.

— Ela já foi. — Gretta parecia um tanto aliviada com esse fato. E Gil também ficou, sendo capaz de finalmente relaxar os ombros. 

— Que sorte a nossa! Precisamos da sua ajuda, Gretta. Essa mocinha aqui... — Sara apontou para Gil. — Tem um encontro hoje à noite, mas não tem tempo de ir até em casa se trocar.

— Mas não podemos deixá-la ir sem um vestido apropriado, não é? — Gretta piscou. — E saltos, para andar segura de si. — e a senhora as guiou para uma grande sala.

Quando as luzes se acenderam, Gil mal conseguiu falar. O salão era espaçoso e repleto de araras com roupas de todas as marcas que pudesse se lembrar. 

Gucci, Burberry, Calvin Klein, Prada. E muitas outras.

Uma infinidade de acessórios também estavam disponíveis em elegantes mancebos e prateleiras. Bolsas, chapéus, cachecóis, cintos. 

Havia também um sofisticado escaparate que cobria toda a extensão da parede e nele era possível admirar um número exorbitante de pares de sapatos.

Que lugar extravagante! 

— Incrível! — foi só o que Gil conseguiu dizer.

— Eu sei. — Gretta suspirou. — Que saudade dos meus tempos de menina, quem me dera voltar atrás para usar algum desses. — a senhora alisou um Dolce & Gabbana. — Mas já que não temos tamanho grande, vamos procurar algo para você. — Gretta analisou o corpo de Gil. — Você deve usar um dois, no máximo um quatro. Correto?

— Normalmente eu uso tamanho dois. — Gil respondeu tímida.

— Você tem alguma preferência por cor? Ou modelo? — Gretta continuou. 

Gil pensou um pouco.

— Gostaria que fosse azul. — e corou imediatamente, sabendo o motivo de escolher justamente essa cor.

— Ótima escolha. — Gretta foi em direção à uma arara de tons azuis. — Combinarão com os seus olhos. Tente esse aqui.

Gil experimentou diversos vestidos e muitos deles a fizeram esquecer que era apenas uma garota sem graça com experiência zero em relacionamentos. Não havia como se sentir insegura usando marcas tão poderosas. Porém, se tratava de um jantar informal e ela optou por um vestido curto e retrô da Lhuillier

Mesmo simples, ela podia sentir no tecido e no caimento em seu corpo, que um bom vestido tinha o poder de mudar a postura de qualquer pessoa. Nos pés, calçava um discreto Manolo Blahnik preto e se impressionou com a elegância que via no espelho. Ela se sentia, pela primeira vez, verdadeiramente atraente.

— Você está tão linda que eu poderia chorar. — Sara fingiu limpar uma lágrima no canto dos olhos. — Se esse homem não se apaixonar por você agora, eu mudo de nome. — Gil sentiu o seu estômago revirar de ansiedade.

— Mas ainda não terminamos. — então, Gretta abriu várias gavetas e Gil se deparou com uma coleção assustadora de cosméticos. — Claro, só poderemos usar as amostras, mas temos muitas opções por aqui. Sente-se, eu farei uma maquiagem bem leve.

— Eu nem sei como agradecê-las. — Gil murmurou, segurando a emoção. — Nunca me senti tão bonita.

— Porque é uma tola. — Sara zombou. — Você é de longe a garota mais linda de todo o departamento.

— Até parece. — Gil girou os olhos. — Se eu ao menos me vestisse melhor.

— Você só precisa comprar roupas mais alegres. — Sara ponderou. — Mas, eu te entendo... Quem tem vontade de usar cores felizes trabalhando ao lado do Sr. Parker? Eu acho que trabalhar de luto seria o mais apropriado.

Gil não conseguiu segurar a gargalhada diante dessa ironia. O que Sara diria se soubesse que todo esse plano de transformação acontecia justamente por causa de um encontro com o temido Sr. Parker? Provavelmente a secretária cairia dura no chão, uma vez que ela mesma estava a ponto de desfalecer de tanto nervosismo.

Agradeceu pela ajuda das duas colegas e admirou-se mais uma vez em frente ao espelho. Gretta fechou o salão e as três seguiram até o elevador.

Sara iniciou uma conversa animada com a senhora sobre os belos modelos da nova campanha de roupas masculinas e Gil sentiu uma incômoda presença atrás de si. Um arrepio em suas costas fez com que ela virasse para o corredor. Mas não havia ninguém. Gretta apagou as luzes e as três entraram no elevador.

E Gil deixou o departamento da Moda Mulher com a impressão de ter escutado o som de saltos batendo no assoalho.

xXx

Fazia apenas alguns minutos que Gil aguardava o chefe. Mas estava tão apreensiva, que cada segundo esperando parecia uma eternidade. Escutou o elevador do estacionamento apitar e um elefante começou a dançar em seu estômago.

É só um jantar. Tentou se acalmar.

O Sr Parker saiu do elevador com as mãos nos bolsos e andou até ela, ainda encarando o chão. Quando os olhos do chefe se levantaram, Gil se pegou prendendo a respiração. Ele parecia perplexo e aquilo fez com que ela sorrisse por dentro.

Foi uma boa reação. E ela gostou disso.

Os olhos do chefe passearam por cada parte do seu corpo e Gil se segurou para não desviar o olhar. O Sr. Parker se aproximou devagar e sorriu nervoso.

— Que roupa é essa? — ele parecia confuso. — Você já estava usando isso hoje de manhã?

— É lógico que não. — Gil murmurou, sentindo-se realmente decepcionada com aquele comentário. — Obviamente, eu me troquei.

— Não era necessário. — o chefe desviou o olhar e andou até o carro. — Pensei em levá-la em um lugar menos formal. — ele a encarou novamente. — Mas já que você está vestida assim, acho que podemos jantar no The Mansion.

Gil tentou disfarçar o seu aborrecimento. Ela se adiantou e abriu a porta do automóvel, entrando sem sequer encará-lo.

"Já que você está vestida assim", não era exatamente a observação que ela esperava ouvir. O chefe entrou no carro, mas não ligou o motor e Gil sentiu o olhar dele secando o seu rosto.

— Você está usando batom? — ele riu anasalado.

— Sr. Parker, eu me arrumei porque pensei que iríamos jantar em algum desses lugares chiques que o senhor costuma frequentar, dá para não fazer um grande alarde sobre isso? — Gil ficou visivelmente irritada.

— Você está muito bonita. — ele a elogiou com a naturalidade de quem fala do clima.

— Obrigada. — Gil tentou responder da mesma forma, mas sentiu todo o seu corpo esquentar. Estava corada, com certeza.

Um pequeno elogio e ela voltava à estaca zero, ridiculamente envolvida por ele. Estar apaixonada era, de fato, deprimente.

Quando chegaram ao tal restaurante, Gil agradeceu mentalmente por toda aquela transformação. O lugar não se chamava The Mansion à toa. Era um antigo casarão preservado e muito refinado, decorado com mármore branco e detalhes em dourados. Um estabelecimento digno da realeza.

O maître os guiou até uma elegante mesa, estrategicamente localizada na área mais reservada do salão.  E pela excessiva simpatia dos funcionários, Gil pode perceber que o Sr. Parker era um cliente conhecido por ali. E quando começou a ler as opções do menu quase quis gritar. Os preços eram exorbitantes, até mesmo para a prepotência do chefe. Como ousaria escolher qualquer coisa daquele cardápio que não fosse água... da torneira? 

Aparentemente, o Sr. Parker leu os seus pensamentos, pois logo em seguida tratou de acalmá-la.

— Você é minha convidada, Gilan. Pode escolher o que quiser.

— Eu não sei muito bem o que pedir. — ela folheou o menu.

— Posso te sugerir algo? — o chefe perguntou e Gil assentiu aliviada por não precisar escolher entre aqueles itens caros. — Por favor, nós gostaríamos de um creme defumado com ervas para entrada, e para o principal... — ele olhou mais uma vez o cardápio. — Vieiras salteadas com cogumelos e um risoto de açafrão ao vinho branco. O que acha?

— Parece ótimo. — ela concordou, confiando no bom gosto dele.

— O que gostariam de beber, sir? — o garçom perguntou.

— Uma Coca-Cola, por favor. — Gil respondeu sem pensar e notou o olhar zombador do Sr. Parker.

— Uma Coca-Cola? Num restaurante francês? — ele gargalhou e o garçom soltou um fino sorriso. — Nós temos Coca-Cola por aqui? — ele perguntou.

— Podemos providenciar, sir. — o garçom afirmou.

— Então, traga duas. — ele entregou o menu com um sorriso divertido no rosto. — Só não garanto que irá harmonizar com a nossa comida. — e piscou para Gil, gargalhando ainda mais e fazendo com que ela ficasse sem reação.

Como era possível que um sorriso causasse isso nela? Era tão fascinante poder estar em frente a ele, admirando livremente cada detalhe daquele rosto. Gil poderia facilmente se acostumar com esses momentos.

Assim que a bebida chegou, o Sr. Parker começou a olhar para todos os lados, parecendo até mesmo um pouco ansioso.

— Gilan, eu gostaria de te mostrar uma coisa. — ele cortou o silêncio, e retirou um pequeno papel do bolso.

— O que é isso? — o Sr. Parker fez um sinal para que Gil lesse e ela correu os olhos pelas linhas do papel. — Quantos desejos lindos, são de Elaine? — ela perguntou um tanto emocionada e o chefe assentiu.  

— E eu quero realizá-los, Gilan. — ele fixou o seu olhar no rosto dela. — Ao menos tentar.

— Isso é muito bonito, Sr. Parker. — Gil sentiu uma torrente de alegria em seu peito. Essa era a parte do chefe que ela mais gostava, o quanto ele honestamente se preocupava com os sentimentos da mãe.

— Você estaria disposta a me ajudar? 

— Quando o assunto for Elaine, o senhor sabe que sempre poderá contar comigo. — e ela estava sendo sincera. Não hesitaria em fazer qualquer coisa para ajudar a mãe de Vincent.

— E eu a agradeço muito por isso. — ele sorriu verdadeiramente. — Gostaria da sua ajuda para realizar esses desejos.

— Me diga como e eu farei o possível.

O Sr. Parker intensificou o seu olhar. — Case-se comigo.

— O que? — Gil praticamente gritou. Por um momento, pensou que estivesse delirando.

— Seja a minha esposa, Gilan. Aceite se casar comigo.

— Do que o senhor está falando? — ela tossiu e virou um gole de Coca para tentar se acalmar.

O chefe apontou para o papel que Gil colocara em cima da mesa. 

— Minha mãe deseja assistir ao meu casamento.

— Eu não sei se estou compreendendo essa conversa. — Gil não sabia como conseguiu formular uma frase completa. Suas pernas tremiam tanto que ela agradeceu ao fato de já estar sentada.

— Eu não quero me casar. Eu nem ao menos quero um relacionamento. — Vincent apoiou os cotovelos sobre a mesa e entrelaçou os dedos. — Simplesmente, não combina comigo. Mas eu sei o quanto a minha mãe sofreu quando Amelia foi embora. Elas eram muito próximas. E desde então, Elaine vive obcecada para que eu me apaixone novamente e forme uma família. — ele revirou os olhos.

— Ela apenas se preocupa com o senhor. 

— Eu sei. Mas isso não irá acontecer. Eu sou, e continuarei sendo, apaixonado por Amelia. E não acredito que isso um dia irá mudar. 

O chefe afirmou aquilo com uma convicção que a fez estremecer de desconforto. Gil olhou para os lados buscando uma maneira de desaparecer daquele lugar. Ouvir aquelas palavras de maneira tão franca destroçaram os seus recém assumidos sentimentos.

Gil sabia que a história dos dois era inacabada, uma relação mal resolvida, e como ele mesmo havia confirmado, não superada. Mas, ainda sim, pensou que talvez a aproximação que tivera com o chefe fosse suficiente para que Vincent abrisse o caminho para outras possibilidades. 

Pensou, como uma tola, que talvez pudesse conquistar um espaço no coração dele, mesmo que estivesse ferido e desacreditado.

Gil tentou tomar mais um gole da bebida, mas as suas mãos não se mexiam O seu corpo sequer respondia às suas vontades, ela estava totalmente paralisada.

— Quando você me contou da sua situação com o apartamento, — o chefe continuou. — eu não consegui parar de pensar nisso. Você se tornou uma pessoa muito importante para Elaine. E eu passei a noite em claro buscando uma solução que pudesse te ajudar. — ele a olhou com ternura. — Eu preciso de uma esposa. Você precisa do dinheiro. Talvez, pudéssemos fazer uma troca de favores.

— Sr. Parker... — ela murmurou, sentindo a sua garganta arranhar. — Foi por isso que o senhor me convidou para esse jantar?

— Claro que sim. — ele respondeu. E Gil fechou os olhos, aquela confirmação a atingiu de uma maneira insuportável. — E eu já pensei em tudo. Você não precisará se preocupar com nada, Gilan. Nós faremos um contrato. E colocaremos todas as cláusulas.

— Cláusulas? — Gil franziu a testa e sentiu um gosto amargo subir pela boca.

— Exatamente. — ele confirmou, como se aquilo fosse óbvio. — Adicionaremos as nossas exigências. Como por exemplo, eu pretendo que seja um casamento simples, apenas no civil de preferência. Você precisará me acompanhar em alguns eventos, para que eu a apresente como a minha noiva. Teremos que posar para algumas colunas sociais. — cada palavra do chefe a deixava mais e mais sufocada. Gil queria apenas que ele se calasse. — Deixaremos explícito no contrato que a nossa união será com separação de corpos, para que você se sinta mais segura. E obviamente, você terá o seu próprio quarto em minha casa quando-

— Não diga mais nada, por favor. — Gil implorou com a voz fraca. Sentia-se tão tonta que temia desmaiar ali mesmo.

— Gilan! Você está se sentindo bem? — o chefe segurou em suas mãos e pareceu aflito com isso. Gil imaginou o quão geladas deveriam estar.

Ela se soltou do toque dele com rispidez. — Talvez seja melhor que uma profissional faça esse tipo de trabalho para o senhor, se quiser eu posso sugerir alguns sites de acompanhantes. — ela despejou, com um rancor excruciante na voz.

— Pelo amor de Deus, Gilan! — o Sr. Parker arregalou os olhos. — Não é nada disso. Eu jamais iria ofendê-la dessa maneira.

— Mas ofendeu. — os seus olhos marejaram ridiculamente e Gil sentiu raiva por permitir que ele a visse assim. — Contrate uma profissional para esse serviço, Sr. Parker, eu sou apenas uma assistente.

— Céus! Não diga um absurdo desses! — ele se desesperou, parecendo até mesmo raivoso.

— Absurdo? — Gil sorriu com ironia. — O senhor está me propondo um contrato imoral, um teatro para enganar a sua própria mãe, no qual praticamente sugere um casamento de encenação em troca de me pagar por isso e sou eu quem digo absurdos?

— Eu te fiz essa proposta porque você é a única pessoa em quem eu confio. — ele revelou, com uma honestidade tão grande que por um instante Gil vacilou. — Eu jamais colocaria qualquer mulher na vida de Elaine. Ela gosta de você, e eu... Também.

— Por favor, pare de dizer que gosta de mim. — Gil não queria ouvir. Era humilhante demais, tudo. Aquela cena toda. 

— Gilan, apenas me escute. — o chefe inclinou o seu corpo para frente e sussurrou. — Eu sei que você precisa desse dinheiro, e é por isso-

— Não ouse falar de dinheiro comigo! — Gil ergueu a voz e lançou um olhar congelante. Levantou-se e juntou os seus pertences.

— Gilan, por favor, sente-se. — o Sr. Parker murmurou, olhando para os lados. — Ao menos jante comigo.

— Obrigada, Sr. Parker, mas eu perdi o apetite. — e o deixou sozinho no restaurante.

Assim que passou pelos portões do The Mansion, Gil começou a correr o mais rápido que podia. Olhou para trás e viu o chefe desesperado à sua procura.

Ela virou a esquina e se escondeu numa lacuna entre duas lojas que já estavam fechadas. Ficou alguns minutos escorada naquela parede gelada, sentindo o seu peito subir e descer com a sua respiração ofegante.

Eu sou, e continuarei sendo, apaixonado por Amelia. 

 Uma onda de refluxo subiu a sua garganta. Gil virou-se para o lado, apoiando uma das mãos na parede e foi incapaz de segurar a golfada que se seguiu. Vomitou por alguns minutos até começar a tossir. Sem forças para continuar de pé, abaixou-se ao lado do seu próprio vômito e começou a chorar.

As lágrimas caíam sem controle e Gil as limpava com fúria, esfregando os seus olhos como se quisesse que elas secassem imediatamente. Tapou o rosto com as duas mãos e o seu choro, mesmo abafado, pareceu ainda mais violento, até se transformar em sons constrangedores. Era desesperador, ela mal controlava os tremores e o volume da sua voz.

Chorou até o seu corpo se dar por satisfeito e soluçou repetidas vezes, se forçando a voltar ao seu estado normal. Levantou-se devagar, apoiando-se na parede e tentou caminhar. 

Os saltos começaram a apertar os seus pés e ela os tirou, seguindo descalça pelas ruas da cidade. Passou em frente a uma vitrine e analisou o reflexo embaçado que a afrontava. Viu a imagem de uma mulher destruída, cuja única coisa realmente boa era um caro e extravagante vestido, que ironicamente, nem sequer lhe pertencia.

 


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Notas finais do capítulo

É um sentimento horrível quando nos decepcionamos com alguém, não é? Mas não odeiem o Vincent, ele tem muito o quê aprender ainda. Até semana que vem... o/



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